IX Coloquio Internacional de Geocrítica

LOS PROBLEMAS DEL MUNDO ACTUAL
SOLUCIONES Y ALTERNATIVAS DESDE LA GEOGRAFÍA
Y LAS CIENCIAS SOCIALES

Porto Alegre, 28 de mayo - 1 de junio de 2007
Universidade Federal do Rio Grande do Sul

 

 

CIBERESPAÇO, MIGRAÇÃO DIGITAL E ACESSO LIVRE À INTERNET:

O CASO DAS REDES "WI-FI" MUNICIPAIS BRASILEIRAS

 

Hindenburgo Francisco Pires

Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Departamento de Geografia

www.cibergeo.org/artigos

 


Ciberespaço, Migração Digital e Acesso Livre à Internet: O caso das Redes "Wi-Fi" Municipais Brasileiras (Resumo)

 

Este trabalho representa um novo campo de estudo vinculado ao projeto de pesquisa “Estruturas Virtuais de Acumulação e Ciberespaço”, financiado pela Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro - FAPERJ. Esta pesquisa é uma continuidade de estudos dedicados a conceber uma teoria geográfica sobre as redes técnicas, o uso das tecnologias de informação e comunicação (TIC), a consolidação de estruturas virtuais de acumulação e a emergência de um novo espaço social de comunicação, o ciberespaço. Assim, esta pesquisa possui os seguintes objetivos: examinar a territorialidade dos usos e dos acessos à Internet a partir da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD 2005; analisar o impacto das TIC na proliferação das redes "Wi-Fi ou Wireless Fidelity" municipais Brasileiras; demonstrar porque a expansão das redes "Wi-Fi" nos municípios de Piraí, no Estado do Rio de Janeiro, e de Sud Mennucci, no Estado de São Paulo, são experiências locais que favorecem a promoção de soluções e alternativas de políticas sociais de inclusão digital.

 

Palavras Chaves: Ciberespaço, Estruturas Virtuais de Acumulação, Migração Digital, Inclusão Digital, Internet, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, Redes "Wi-Fi", Geografia.


Cyberspace, Digital Migration and Free Access to the Internet: The case of "Wi-Fi" nets in the Brazilian municipalities (Abstract)

 

This work represents a new field of study and is part of the research project “Virtual Structures of Accumulation and Cyberspace”, financed by the Carlos Chagas Filho Foundation for Research Aid of the state of Rio de Janeiro – FAPERJ. This research is a continuity of dedicated studies to conceive a geographic theory on the technical nets, the use of the information technologies and communication (ITC), the consolidation of virtual structures of accumulation and the emergency of a new social space of communication, cyberspace. Thus, this research possess the following objectives: to examine the territoriality of the uses and the accesses to the Internet from the National Research per Sample of Domiciles - PNAD 2005; to analyze the impact of the ITC in the proliferation of the “Wi-Fi or Wireless Fidelity" nets in the Brazilian Municipalities; to demonstrate because the expansion of the "Wi-Fi" nets in the municipalities of Piraí, in the State of Rio De Janeiro, and of Sud Mennucci, in the State of São Paulo, these local experiences help in the promotion of solutions and alternatives of social politics of digital inclusion.

 

Key Words: Cyberspace, Virtual Structures of Accumulation, Digital Migration, Digital Inclusion, Internet, National Research per Sample of Domiciles ,“Wi-Fi” Nets, Geography.



Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, Usos e dos Acessos à Internet no Brasil

 

No final do mês de março, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE e o Comitê Gestor da Internet no Brasil – CGI.br divulgaram a Pesquisa nacional por amostra de domicílios – PNAD 2005, em que apresentam os indicadores sobre “Acesso à Internet e posse de telefone móvel celular para uso pessoal 2005”.

 

A PNAD representa uma das mais importantes pesquisas domiciliar do Brasil, dela se podem extrair dados e informações que revelam o retrato dos hábitos e do cotidiano dos brasileiros. O estudo do acesso à Internet e a posse de telefone móvel merece atenção dos especialistas da área de Geografia, devido à envergadura geográfica dos dados levantados e principalmente devido as peculiaridades das informações sob vários aspectos tratados, ou seja: conexão, freqüência, finalidade, local, ao uso e não-uso, e também pelos conteúdos relativos à telefonia móvel (celular). Todos estes dados foram levantados considerando os usuários segundo gênero, escolaridade, renda e faixa etária.

 

Bastante noticiada pela mídia brasileira, a PNAD parecia nos fornecer dados e indicadores que revelariam uma modificação da avaliação (Rating) dos processos de migração digital e inclusão digital do Brasil.

 

Entretanto, quando analisamos os dados detalhadamente, perdemos aquele otimismo expresso através da grande imprensa, quando constatamos que esses dados revelam a dificuldade que a atual política de governo de inclusão digital encontra para superar, alterar e reduzir o quadro atual de disparidades territoriais, proporcionadas pela divisão digital que estamos submetidos.

 

Quando foi divulgado o resultado da PNAD, o IBGE destacou, em seu Sítio, na Internet[1], que “32,1 milhões de usuários acessaram a Internet no Brasil” em 2005. A pergunta que fica como se deu esse crescimento do acesso à Internet tão grande em apenas três meses? Cabe ao leitor-pesquisador inferir e emitir seu próprio julgamento, a partir da investigação minuciosa dos dados apresentados pela PNAD e a forma como eles foram apresentados.

 

De acordo com o IBGE, o acesso à Internet entre as grandes regiões brasileiras, nos últimos três meses de 2005, evidencia a seguinte ordem de classificação: em primeiro lugar, com 54,48% do acesso à Internet está a região sudeste; em segundo lugar vem à região Sul, com 18,15% dos acessos; em terceiro lugar está a região Nordeste, com 15,30%; em quarto lugar está a região Centro-Oeste, com 7,82% e, em quinto e último lugar vem à região Norte, com 4,25% dos acessos à rede. (Cf. Tabela 1 e Gráfico 1).

 

 

 

 

Os números sobre o acesso à Internet, realmente são surpreendentes. Aparentemente os dados apresentados revelariam um potencial de mercado extraordinário para o e-commerce no Brasil, uma vez que se confundiu o total de acesso com o total de usuário (PIRES, 2005b), já que o IBGE apresenta uma tabela em relação ao número de usuários.

 

Com esse equívoco, esses os números sobre o acesso à Internet pulverizam a possibilidade de uma reflexão mais profunda sobre a Geografia da Internet (PIRES, 2004c), porque o acesso é referente ao quantitativo de algumas pessoas que utilizaram com freqüência ou eventualmente e não revela de modo mais exato o quadro atual da divisão digital e o retrato da exclusão digital no território, já que não foram apresentados os dados com o número de usuários por região.

 

Entretanto, quando examinamos os dados fornecidos pela PNAD sobre os usuários que utilizaram a Internet pelo menos uma vez por dia em 2005, encontramos elementos que nos aproxima melhor da realidade, no que tange à territorialidade da distribuição dos usos e dos acessos à Internet no Brasil. No tocante a esses dados o que se evidencia é uma concentração da freqüência dos acessos nas regiões Sudeste e Sul, que apresentam juntas 76,77% dos usuários que utilizam a Internet pelo menos uma vez por dia; as regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste respondem por 23,23% dos usuários que utilizam a Internet pelo menos uma vez por dia.

 

Analisando comparativamente o número de usuários que utilizam a Internet pelo menos uma vez por dia, em relação à população brasileira distribuída segundo as grandes regiões brasileiras, pode-se afirmar que apenas 5,86% ou 8,9 milhões de pessoas das regiões Sudeste e Sul acessaram à Internet pelo menos uma vez por dia; já com relação às regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste, só 1,77% ou 2,7 milhões de pessoas pertencentes a estas regiões utilizaram ou acessaram à Internet pelo menos uma vez por dia. Estes dados são alarmantes e não dá para escondê-los, porque revela a exclusão digital da grande maioria da população nas regiões metropolitanas do Brasil. (Cf. Tabela 2 e Gráficos 2 e 3)

 

 

 

 

 

 

 

Um levantamento efetuado nas grandes regiões brasileiras, sobre os dados referentes às formas de conexão à Internet através do acesso discado ou do acesso efetuado por banda larga, em domicílio onde o usuário reside, revelou que o acesso discado ainda representa 57,4% da forma de conexão adotada pela maioria dos domicílios levantados pela PNAD em 2005. A região sudeste se destaca com 67,1% das conexões efetuadas por acesso discado. Com relação à forma de conexão somente através do acesso a banda larga demonstrou que apenas 1,33% da população brasileira, ou 2.040.834 de usuários utilizaram esta forma de conexão. Novamente a região sudeste se destacou com 53,1% das conexões efetuadas com acesso por banda larga (Cf. Tabela 3 e Gráficos 4 e 5).

 

 

 

 

 

 

 

Os dados da PNAD fornecidos pelo IBGE em 2005, sobre o número de usuários por domicílios que utilizaram a Internet pelo menos uma vez por dia nas regiões metropolitanas brasileiras, revelaram que este número equivaleu nestas regiões há apenas 3,5% da população brasileira, ou seja, 5,3 milhões de usuários. As regiões metropolitanas do sudeste (São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte), respondiam por 76% dos usuários que utilizaram a Internet pelo menos uma vez por dia; as regiões metropolitanas do Sul por 16% (Curitiba e Porto Alegre) e as regiões metropolitanas do Norte e Nordeste por 8% (Belém, Fortaleza e Recife) (Cf. Gráfico 6).

 

 

 

 

Ora, o que se pode apreender com tudo isso é que mesmo com todo o avanço e crescimento alcançados pela expansão dos serviços de Internet no Brasil, dos 5.564 municípios do território nacional, apenas 2.560 possuem provedor de Internet, ou seja, só 46% possui este serviço (Cf. PNAD, 2005). Apesar do enorme potencial que estes municípios possuem para oferecer serviços de Internet à sua população, segundo a wnews, só 6,7% dos domicílios dessas municipalidades têm acesso à banda larga[2].

 

Quando analisamos a representação topológica do backbone da rede Internet no território brasileiro fornecida pela Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP), e a área de cobertura dos serviços de Internet de banda larga fornecida pelo Atlas Brasileiro de Telecomunicações de 2006, organizado pelo Grupo Editorial Converge, verificamos que a extensão da estrutura de engenharia do território em rede no Brasil ainda é muito pequena e restrita às áreas das grandes metrópoles. Segundo dados fornecidos pelo Atlas Brasileiro de Telecomunicações de 2006, 21 provedores de backbone afirmaram possuir 1.965.950 km de rede instalada no Brasil[3].

 

Um polígono representando as quatro maiores regiões metropolitanas brasileiras (São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Brasília) concentra a maior densidade e velocidade de conexões em rede (Fig. 1: Backbone da RNP, 2007).

 

Segundo a RNP, no Brasil “... há 27 pontos de presença (PoPs) instalados em todas as capitais do país, interligando mais de 300 instituições de ensino e pesquisa e algumas iniciativas de redes regionais – principalmente redes estaduais e redes metropolitanas de ensino e pesquisa. Em 2005, a capacidade de comunicação entre os PoPs começou a ser ampliada com o uso de tecnologia óptica (WDM) em alguns enlaces, o que elevou a capacidades destes a 10 Gbps”[4].

 

No entanto ainda esses 27 pontos de presença (PoPs) não estão socializando o potencial de acesso com os domicílios, cujos usuários nas regiões metropolitanas brasileiras, são obrigados a pagar um provedor privado ocasionando a exclusão digital, uma vez que, segundo CGI.br, 16, 7% da população já possuem computadores em seus domicílios, mas apenas 3,6% têm acesso à Internet(PIRES, 2005a)[5].

 

Felizmente já começaram iniciativas municipais que estão conseguindo reverter esse quadro de exclusão.

 

 

Figura 1: Backbone da RNP, 2007

Fonte: RNP, 2007. In: http://www.rnp.br/backbone/

 

 

Soluções e Alternativas Políticas de Inclusão Digital: As experiências locais de implantação   das redes "Wi-Fi" nos municípios de Piraí, no Estado do Rio de Janeiro, e de Sud Mennucci, no Estado de São Paulo

 

Muito antes da mídia noticiar que a Google passou a oferecer acesso gratuito à internet sem fio (wireless) a 72 mil moradores de Mountain View, no Vale do Silício na Califórnia, os municípios de Piraí, no Estado do Rio de Janeiro, e de Sud Mennucci, no Estado de São Paulo foram pioneiros na implantação de uma infra-estrutura de fibra ótica para transmissão de dados em alta velocidade e no suporte a tecnologias sem fio "Wi-Fi"[6], portanto, sete anos antes da Agência Nacional de Telecomunicações criar o programa nacional de acesso à comunicação em alta velocidade para todos os municípios brasileiros[7].

 

A promoção de redes "Wi-Fi" gratuitas nestas duas municipalidades representa um marco e um exemplo em termos de solução e alternativa de política pública para reduzir os problemas vinculados à democratização do acesso pela maioria da população à rede mundial de computadores, a Internet.

 

A implantação de redes "Wi-Fi" no município de Piraí, no Estado do Rio de Janeiro: Uma solução para o desenvolvimento local

 

Fundado em 1837 e antigo produtor de café, no início do século XIX, o município de Piraí fica localizado na região Sul do Estado do Rio de Janeiro, às margens da Rodovia Presidente Dutra, há 89 km da capital (PIRES, 2004a). Sua população, em 2006, foi estimada em pouco mais de 24.363 mil habitantes (Fig. 2: Mapa de Piraí).

 

 

Figura 2: Mapa de Piraí

Fonte: Wikipedia, 2006, In: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Pira%C3%AD>

 

 

Piraí ganhou gradualmente notoriedade como município digital[8], a partir de 1997, quando foi elaborado, com apoio da UnB, um Plano Diretor de Informática voltado à democratização do acesso às novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), com o propósito de gerar oportunidades de desenvolvimento econômico e social[9].

 

Em 2003, a inserção de Piraí em projetos de educação a distância do Estado, organizados pelo Consórcio CEDERJ, ajudou a alavancar os indicadores sociais e contribuiu para elevar a composição de capital humano do município, permitindo pela primeira vez que a população tivesse oportunidade de se graduar em cursos de Instituições de Ensino Superior, sem precisar se deslocar para outros municípios.

 

As características geográficas do município de Piraí influenciaram no processo de implantação da infra-estrutura de suas redes técnicas. O município de Piraí possui uma área de 506,71 km², subdividida em quatro distritos: Piraí-Sede, Vila Monumento, Arrozal e Santanésia. A dificuldade principal, na fase inicial de implantação de tecnologia baseada em rede sem fio, se deveu ao elevado custo que esta tecnologia exigia para sua instalação em uma área separada por vales e montanhas. Estas peculiaridades morfológicas induziram a construção, numa fase posterior, de uma solução mista de baixo custo concebida para ser operacionalizada por meio de um sistema híbrido, baseada em rede com conexão a cabo com suporte wireless. A inauguração desse Sistema Híbrido com Suporte em Wireless (SHSW) e da Rede de Transmissão de Dados e Multimídia em Banda Larga da Internet ocorreu em 2004.

 

Segundo a Prefeitura de Piraí, o SHSW que cobre todo o município de Piraí, abrange atualmente

 

“(...) 39 edifícios públicos com 144 computadores, mais 20 estabelecimentos de ensino com Internet rápida, num total de 6.300 alunos e 188 computadores (33 alunos por computador)”.

O acesso à rede SHSW também contempla 20 edifícios com 66 computadores, cobrindo quatro bibliotecas, uma Casa da Criança, uma APAE, uma Creche, quatro Telecentros e nove Quiosques. Isso representa um universo de 398 computadores à disposição não só dos alunos, mas de toda a comunidade.

Os nossos Telecentros já atendem 220 pessoas por dia (alunos, donas de casa, professores e universitários), para fins como receitas, contas bancárias, pesquisas e entretenimento”[10].

 

A experiência e o exemplo de Piraí ajudou a consolidar a idéia da criação dos Projetos Infovia-RJ e Município Digital no Estado do Rio de Janeiro.

 

Implementado pelo PRODERJ, o Projeto Infovia-RJ tem por objetivos:

·      a implantação de uma infra-estrutura de comunicação para o acesso à Internet de alta velocidade;

·      a interligação de instituições estaduais e entidades da sociedade civil;

·      e a viabilização de políticas de inclusão e de governança digital.

 

O Projeto Município Digital tem como meta a integração dos 92 municípios fluminenses, a partir da formação dos corredores digitais que serão interligados por meio de tecnologias de rede sem fio. Esta integração possibilitará a formação de uma estrutura virtual de acumulação (PIRES, 2006).

 

O modelo de Piraí inspirou as municipalidades de Rio das Flores e Mangaratiba a introduzirem o Sistema SHSW, em suas repartições e escolas públicas. Os municípios de Valença, Vassouras, Rio Claro e Barra do Piraí, pretendem unir esforços para implementar, a baixo custo, o primeiro grande corredor digital do Estado ou uma nova reterritorialização (LEMOS, 2007)[11].

 

Os investimentos na implantação da infra-estrutura de comunicação e na formação de capital humano contribuíram para potencializar a formação de uma estrutura social de acumulação (KOTZ; MCDONOUGH & REICH, 1994), que gerou um conjunto diferenciado de condições de fatores, que servem de atrativo às empresas interessadas em se instalar na região e ajudam a transformar a região do Médio Paraíba em uma “região ganhadora” (PIRES, 2004c; BENKO & LIPIETZ, 1994). O município Piraí que antes teve que enfrentar o desemprego e a evasão de empresas, como foi o caso da privatização da Light[12], agora negocia e discute as pré-condições para instalação de empresas que pretendem se localizar no seu território como ocorreu com a Cervejaria Cintra, Micro Star e o grupo Schweitzer Mauduit.

 

A implantação de redes "Wi-Fi" no município de Sud Mennucci, no Estado de São Paulo: Uma alternativa para o desenvolvimento de políticas públicas de inclusão digital

 

Fundado em 1948, fruto da emancipação do município de Bacuri e da homenagem ao jornalista Sud Menucci, o município de Sud Menucci fica localizado na região Noroeste do Estado do São Paulo, há 600 km da capital. Sua população, em 2006, foi estimada em pouco mais de 7.500 habitantes (Fig.3: Mapa de Sud Menucci).

 

 

Figura 3: Mapa de Sud Menucci

Fonte: Wikipedia, 2006, In:

<http://pt.wikipedia.org/wiki/Sud_Mennucci_%28S%C3%A3o_Paulo%29>

 

 

Em 2002, o pequeno município de Sud Menucci resolveu sair do isolamento em que se encontrava em termos de comunicação e investir R$ 3.200 mensais para manter um link com a Telefônica. Assim investiu-se R$ 17.000,00 para a instalação de uma antena de rádio que permitiu a distribuição do acesso à rede sem fio “wi-fi” para que seus moradores tivessem acesso à Internet através de banda larga[13].

 

O custo para a instalação de uma antena para a recepção do sinal de Internet, fornecido pela Prefeitura, varia de R$300 a R$500 para cada morador que utiliza o serviço a custo zero. Das cerca de 2.000 casas do município, apenas 107 estão conectadas ao servidor da prefeitura. Mas, qualquer morador que possui um computador com uma placa wireless pode acessar livremente a Internet em alta velocidade e gratuitamente. A freqüência e a área de abrangência do sinal emitido pela Prefeitura de Sud Menucci se estende para outras regiões e pode ser captada também por municípios circunvizinhos.

 

Devido a esse fácil acesso, a popularização do uso da Internet alterou os hábitos e os costumes da população de Sud Menucci. Hoje a grande maioria dos moradores prefere fazer compras e transações bancárias utilizando a Internet, e praticamente abandonou a tradicional telefonia discada optando pela telefonia que utiliza a tecnologia de voz sobre IP que não tem custos[14].

 

Com o processo de convergência tecnológica em breve a telefonia móvel estará utilizando também os serviços públicos disponibilizados na rede sem fio e na Internet (LEMOS & VALENTIM, 2006), o que facilitará ainda mais a comunicação e a migração digital.

 

 

Conclusões

 

Como foi demonstrado acima a partir de uma nova leitura dos dados fornecidos pela PNAD, o acesso à Internet ainda é um grande problema no Brasil, embora a maneira como foram apresentados os dados possam suscitar outros tipos de interpretação que não corresponde à realidade já apresentada por outras instituições de pesquisa e empresas de “net ratings”.

 

A partir de uma outra leitura dos dados apresentados nessa pesquisa, pode-se concluir que a grande dificuldade por parte do poder público está em encontrar alternativas e soluções que possam, em termos de políticas públicas, modificar o impasse gerado pelo grande número de usuários que nunca utilizaram ou acessaram a Internet no Brasil em pleno século XXI.

 

Apesar do número extraordinário de clientes de celulares no Brasil (87,470 milhões)[15], a maioria da população ainda está muito longe da era da conexão.

 

É necessário o desenvolvimento de estratégias para um melhor aproveitamento da capacidade dos pontos de presença (PoPs), instalados em todas as capitais do país, que propicie a migração digital e a expansão de novos pontos de presença para as regiões menos favorecidas (Norte e Nordeste).

 

É necessário também cultivar e disseminar, no território, o legado deixado por experiências locais que favorecem a promoção de soluções e alternativas de políticas sociais de inclusão digital, como foram os casos dos municípios de Piraí, no Estado do Rio de Janeiro, e de Sud Mennucci, no Estado de São Paulo.

 

 

Notas


[1] Segundo informações fornecidas oficialmente pelo setor de Comunicação Social em 23 de março de 2007, no artigo “Pnad 2005 - Acesso à Internet: IBGE contou 32,1 milhões de usuários da Internet no país” in: http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_impressao.php?id_noticia=846 ou em http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/acessoainternet/internet.pdf

[2] Ver o artigo "Apenas 18% dos domicílios da região sudeste têm acesso à Internet" in: http://wnews.uol.com.br/site/noticias/materia.php?id_secao=4&id_conteudo=7423.

[3] Atlas Brasileiro de Telecomunicações de 2006, p. 64.

[4] Conferir o Sítio da RNP in: http://www.rnp.br/backbone/index.php

[5] Segunto o artigo: "CGI.br divulga indicadores inéditos sobre a internet no país", In:

http://www.nic.br/imprensa/releases/2005/rl-2005-07.htm  

[6] Segunto o Globo Online, em 16/08/2006, “Google monta rede sem fio gratuita em cidade dos EUA”, In: http://oglobo.globo.com/tecnologia/mat/2006/08/16/285293194.asp

[7] Sadao, Edson: “Piraí: Município Digital”, p. 21, In: http://inovando.fgvsp.br/conteudo/documentos/20experiencias2004/3Pirai-Municipio_Digital.pdf  

[8] Conferir  “Sant'Anna do Pirahy e sua História (Antiga cidade do Café): Estudo sócio-econômico”, In:

http://www.brevescafe.oi.com.br/pi_dados_tec.htm

[9] Sadao, Edson: “Piraí: Município Digital”, p. In: http://inovando.fgvsp.br/conteudo/documentos/20experiencias2004/3Pirai-Municipio_Digital.pdf  

[10] Ver artigo publicado pela Prefeitura de Piraí: “Tecnologia”, In: http://www.agencia1.com.br/piraidigital/page/tecnologia.asp

[11] Ver artigo publicado pela revista digital IDGNOW: “Rio investe R$ 8 milhões em acesso à internet” , em 16 de janeiro de 2006, In:

http://idgnow.uol.com.br/internet/2006/01/16/idgnoticia.2006-02-06.6614911022/IDGNoticia_view

[12] Ler artigo por Souza, Sheila dos Santos Valle: “O município que deu a volta por cima: Programa de Desenvolvimento Local de Piraí”, publicado Fundação Getúlio Vargas de São Paulo, In:

http://inovando.fgvsp.br/conteudo/documentos/historias2001/Desenvolvimento%20Local.pdf

“(...) a privatização da Light havia causado a demissão de cerca de 1200 trabalhadores. Além de ser uma das principais fontes de emprego do município e de oferecer habitação para os funcionários, a empresa de energia elétrica era proprietária de uma grande extensão de terras.

A prefeitura tentou negociar uma parceria em que parte das terras seria cedida para a construção de casas populares e para a implantação de um condomínio industrial. Como a empresa recusou a proposta, a administração municipal partiu para o confronto: primeiro, com a aprovação de leis que classificavam as terras como áreas urbanas, sujeitas à cobrança de Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU). Depois, a prefeitura ainda obteve uma vitória judicial contra a Light: até então, a companhia informava a geração de energia de suas usinas localizadas em Piraí como sendo no Rio de Janeiro, que ficava com os impostos.

A ação rendeu o equivalente a R$ 12 milhões em indenizações (dos quais mais de R$ 8 milhões foram pagos em terras) e um aumento de 60% na arrecadação”.

[13] Ler artigo Gaspari, Elio: “Uma história brasileira de sucesso”, publicado pelo Jornal Folha de São Paulo, em 30 de janeiro de 2005, In: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc3001200526.htm  

[14] Conferir o artigo Canônico, Marco Aurélio: “Acesso à internet muda hábitos de cidade de 7.500 habitantes no interior de SP”, publicado pelo Jornal Folha de São Paulo, em 6 de fevereiro de 2005, In: http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u93212.shtml

“(...) as mudanças de comportamento graças ao advento da internet de alta velocidade gratuita já atingem muito mais pessoas do que apenas as que têm conexão em casa. Elizabeth Mesquita, coordenadora da biblioteca municipal, único lugar que possui computadores acessíveis a toda a população, explica que, desde que eles foram instalados, a freqüência aumentou em 50%”.

Muitos usuários utilizaram o acesso da biblioteca para se inscrever no Prouni (Programa Universidade para Todos), que concede bolsas em instituições particulares de ensino superior a alunos de baixa renda, mas o aumento da freqüência se refletiu também no crescimento da retirada de livros - de uma média de 10 por dia para 25 por dia.”

[15] Segundo o artigo de Valenti, Graziella: "Número de celulares cresce 31% no Brasil- País encerrou janeiro com 87,470 milhões de clientes", publicado em 15 de fevereiro de 2006, In:

http://www.estadao.com.br/tecnologia/noticias/2006/fev/15/76.htm?RSS

 

 

Bibliografia

 

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PIRES, Hindenburgo Francisco. Redes de Comunicação. Rio de Janeiro, TV - Futura, Programa Globo Ciência, 2004c.

 

PIRES, Hindenburgo. A produção morfológica do ciberespaço e a apropriação dos fluxos  informacionais no Brasil, In: Revista Scripta Nova -REVISTA ELECTRÓNICA DE GEOGRAFÍA Y CIENCIAS SOCIALES, Universidad de Barcelona, Santiago de Chile, 2005a. <http://www.ub.es/geocrit/sn/sn-194-19.htm>

 

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Sítios pesquisados

 

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http://wnews.uol.com.br/site/noticias/materia.php?id_secao=4&id_conteudo=7423

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