IX Coloquio Internacional de Geocrítica

LOS PROBLEMAS DEL MUNDO ACTUAL.
SOLUCIONES Y ALTERNATIVAS DESDE LA GEOGRAFÍA
Y LAS CIENCIAS SOCIALES

Porto Alegre, 28 de mayo  - 1 de junio de 2007.
Universidade Federal do Rio Grande do Sul

 

DINÂMICA E ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO METROPOLITANO DE NATAL/RN:
UMA LEITURA A PARTIR DO SETOR TERCIÁRIO
*

 

Anieres Barbosa da Silva

Departamento de Geografia

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

anieres@uol.com.br

 

Rita de Cássia da Conceição Gomes

Departamento de Geografia

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Pesquisadora do CNPq

ricassia@ufrnet.br

 

 


 

Dinâmica e organização do espaço metropolitano de Natal/RN: uma leitura a partir do setor terciário (Resumo):

 

O estudo analisa a dinâmica e a organização do espaço metropolitano da cidade do Natal (RN), a partir do setor terciário que, nos últimos tempos, tem se apresentado prenhe de dinamicidade e, por isso, um importante fator de expansão espacial. Durante décadas, as atividades terciárias estavam concentradas em áreas tradicionais de Natal: bairros da Ribeira, da Cidade Alta e do Alecrim, passando a ocorrer na década de 1980 uma descentralização dessas atividades o que promoveu uma reorganização do espaço. Dois eventos foram marcantes nesse processo: a chegada do Hipermercado Bompreço e a construção da Via Costeira / Parque das Dunas. Nos anos de 1990 a construção do Natal Shopping, também vai redimensionar o uso e ocupação do espaço, contribuindo, assim, para um intenso processo de expansão urbana, emergindo então, via conurbação e transbordamento o processo de metropolização.

 

Palavras-chave: terciário – organização espacial – metropolização

 


 

Dynamics and organization of the metropolitan space of Natal (Brazil): a reading from the tertiary sector (Abstract):

 

The study it analyzes the dynamics and the organization of the metropolitan space of the city of Natal (RN), from the tertiary sector that, in the last times, if have presented pregnant of dynamism and, therefore, an important factor of space expansion. During decades, the tertiary activities were concentrated in traditional areas of Natal: quarters of the Ribeira, the Cidade Alta and the Alecrim, starting to occur in the decade of 1980 a decentralization of these activities what it promoted a reorganization of the space. Two events had been important in this process: the arrival of the Hipermercado Bompreço and the construction of the Coastal Way/Park of Dunes. In the years of 1990 the construction of the Natal Shopping, also it goes to modify the use and occupation of the space, contributing, thus, for an intense process of urban expansion, emerging then, saw conurbação and overflow the metropolização process.

 

Key Word: tertiary - space organization - metropolization

 


 

 

A urbanização brasileira ocorreu de forma mais intensa a partir da segunda metade dos anos de 1940 quando a população do país começou a se concentrar muito mais no espaço citadino do que no espaço rural, provocando, assim, um rápido crescimento populacional na maioria dos municípios brasileiros. Foi nesse contexto que emergiu o processo de metropolização de várias cidades, especialmente das capitais dos estados, as quais expandiram o seu território em direção a municípios próximos, com os quais chegam, por vezes, a se confundir.

 

Ao estudar a urbanização brasileira, Santos (1993, p.75) ressalta duas situações que caracterizam as regiões metropolitanas brasileiras: a presença de mais de um município, com um município núcleo, representando uma área bem maior que as demais e que, em geral, lhes dá o nome; e o envolvimento de municípios da Região Metropolitana em programas especiais, levados adiante por organismos regionais, especialmente criados com a utilização de normas e de recursos oriundos, sobretudo, do governo federal. Embora as idéias não sejam totalmente aplicadas à Região Metropolitana de Natal – RMN, é possível visualizarmos nessa região, algumas expressões que caracterizam essa realidade.

 

Sendo assim, as discussões que encaminhamos a seguir tem por objetivo a construção de uma análise do espaço metropolitano de Natal, tendo por referência o setor terciário, pois consideramos que esse setor da economia tem se apresentado de forma dinâmica e, portanto, como um importante fator no processo de organização espacial. Além desse aspecto, entendemos ser importante uma análise espacial que priorize os estudos da economia terciária, não somente pelo seu importante papel na reprodução econômica, mas principalmente como forma de suprir as lacunas ora existente sobre a questão.

 

 

Para compreender a Região Metropolitana de Natal

 

Fundada em 1599, a cidade do Natal se apresentou, durante muitos anos, como um espaço portador de atributos tão somente administrativos, dada a quase inexistência de atividades econômicas capazes de garantir a essa cidade condições de centro comercial e, muito menos industrial, uma vez que, regionalmente, essas condições foram assumidas pelas cidades de Recife em Pernambuco e de Campina Grande no estado da Paraíba.

 

Ocupando uma área de 2.522,8 km2, a Região Metropolitana de Natal (RMN) é formada pelos municípios de Natal, Parnamirim, Extremoz, Macaíba, São Gonçalo do Amarante e Ceará Mirim, Nísia Floresta e São José de Mipibu e Monte Alegre, como poder ser visualizado na figura 01.

 

 

Figura 01 – Região Metropolitana de Natal (RN)

 

 

È nessa região que se localizam as principais áreas industriais do Estado: o Distrito Industrial, situado na Zona Norte de Natal, Centro Industrial Avançado localizado no município de Macaíba e o Distrito Industrial de Parnamirim. A Região Metropolitana de Natal é também o espaço de maior dinamismo do terciário, isto é, comércio e serviços. É importante destacar que nas últimas décadas, as atividades terciárias, sobretudo em Natal, tiveram um intenso processo de crescimento, em razão do desenvolvimento da atividade turística, que é uma das mais importantes atividades econômicas do Rio Grande do Norte e da centralidade exercida por Natal, não apenas no âmbito regional, mas em todo território do Rio Grande do Norte.

 

No que concerne aos aspectos demográficos, a Grande Natal, como é conhecida a Região Metropolitana, se destaca ainda por concentrar 38,53% da população total do Rio Grande do Norte que é de 2.771.538 habitantes. Segundo dados do censo demográfico de 2000, residem na RMN 1.067.933 habitantes na RMN, sendo 64,9% na cidade do Natal. (Tabela 01)

 

 

 

Tabela 01 – Região Metropolitana de Natal: população por municípios,

situação de Ddmicílios e densidade demográfica

 

 

MUNICÌPIOS

População

Absoluta

População urbana

População Rural

% da pop. na RMN

D.D

Absoluta

%

Absoluta

%

Ceará Mirim

62.424

30.839

49,4

31.585

50,6

5,7

85,5

Extremoz

19.572

13.418

68,5

6.154

31,5

1,7

144,6

Macaiba

54.883

36.041

65,6

18.842

34,3

5,0

111,5

Natal

712.317

712.317

100

-

-

64,9

4.192,5

Nísia Floresta

19.040

8.638

45,3

10.402

54,7

1,7

60,5

Parnamirim

124.690

109.139

87,5

15.551

12,5

11,4

984,9

São Gonçalo do Amarante

69.435

9.798

14,1

59.637

85,2

6,4

265,3

São José de Mipibu

34.912

15.602

44,6

19.310

55, 4

3,2

118,6

TOTAL

1.097.273

935.792

85,28

161.481

14,72

100,0

44,2

Fonte: Censo demográfico do IBGE /2000.

 

A análise da tabela nos permite fazer algumas inferências que, a nosso ver, são necessárias à compreensão da dinâmica e da organização do espaço metropolitano de Natal. A primeira delas diz respeito à elevada concentração populacional na capital, e no município de Parnamirim. Sob o aspecto urbano, esse fato gera uma acentuada diferença entre os municípios que fazem parte da RMN, principalmente visto que 50% deles ainda possuem uma população rural superior à população urbana.

 

Mesmo sendo um dos municípios de menor dimensão territorial (169,9 km2), Natal concentra  em seu espaço urbano 64,9 % da população que habita a RMN, justificando, portanto, a sua alta densidade demográfica. Contrapondo-se a essa realidade têm-se as baixas densidades presentes em outros municípios, como, por exemplo, Nísia Floresta e Ceará Mirim. Esses dados trazem à tona questões fundamentais do ponto de vista político-administrativo, revelando a necessidade de implementação de políticas que contemplem as diversas demandas específicas dos municípios que formam a Região Metropolitana de Natal. Isto porque temos o entendimento de que essas demandas estão atreladas às características regionais, como a predominância das atividades agrícolas na maioria dos municípios que a compõe.

 

Outro aspecto importante para o entendimento da organização espacial da RMN diz respeito à sua base econômica acentuadamente diversificada, em decorrência da heterogeneidade do ponto de vista produtivo, apresentada pelos municípios a ela pertencente.

 

Como foi assinalado anteriormente, há ainda municípios que apresentam maiores concentrações populacionais na zona rural, sugerindo uma predominância das atividades primárias sobre as secundárias e terciárias. Como exemplo, pode ser citado o município de Ceará Mirim, que se destaca pela produção de cana-de-açúcar, pois concentram 28,72% da produção do Estado, e de outros produtos agrícolas como a banana e o coco. Além disso, cabe acrescentar que nas duas últimas décadas esse município vem se apresentando como um espaço de grande potencial turístico do Rio Grande do Norte, graças às suas belas praias e paisagens naturais, além de seu patrimônio histórico representado por belas formas arquitetônicas que remontam a história da ocupação e do poderio dos senhores de engenhos, expressando, assim, um outro momento de nossa história. Segundo Silva (1999) essa história ainda está impressa na paisagem como rugosidades, em que casas-grandes, chaminés e bueiros de velhos engenhos mostram em suas ruínas resquícios de uma arquitetura suntuosa que ficou marcada no tempo e no espaço.

 

Além de Ceará Mirim, outros municípios se destacam economicamente pela sua produção agrícola é o caso de Macaíba, com a produção de laranja, mandioca, castanha de caju e manga; São Gonçalo do Amarante, com os cultivos de manga e abacaxi; Extremoz, com a produção de banana e São José de Mipibu que se destaca pelo cultivo da cana-de-açúcar e por se constituir, atualmente, num dos principais produtores de mamão voltados para o mercado externo. Esse município também se destaca pelo cultivo de produtos tradicionais, abastecendo os demais centros urbanos da Região Metropolitana, principalmente a cidade do Natal. Os demais municípios apresentam uma agricultura do tipo tradicional voltada basicamente para a subsistência e venda do excedente para o mercado local. No contexto das atividades tradicionais também se destaca a pecuária no município de Macaíba, no qual se encontra uma das mais importantes bacias leiteiras do Estado. Essas atividades conferem à parcela considerável dos municípios pertencentes à região metropolitana de Natal, um caráter mais rural que urbano.

 

No quadro da economia da Região Metropolitana de Natal também merece destaque a indústria têxtil. Sua expansão, notável crescimento, crise e retomada da produção com ótimos resultados, a colocaram, ao longo de quatro décadas, como a atividade econômica de melhor desempenho do setor secundário no espaço metropolitano de Natal. Isto porque, essa atividade sempre foi de muita importância, tendo uma participação significativa no cenário brasileiro, principalmente no que concerne à oferta de mercado de trabalho. Em estudo realizado sobre a Economia e urbanização do Rio Grande Norte, Clementino (1995) assinala que, em 1980, a indústria de confecção de roupas e agasalhos do vestuário masculino, que tem como principal área de concentração a Região Metropolitana de Natal, detinha 8,03% em relação ao Brasil. Por sua vez, a indústria de fiação e de tecelagem contribuiu com de 11,09% de toda a produção nacional.

 

No entanto, com a crise internacional que afetou o setor têxtil teve como conseqüência uma inevitável queda de produção e da oferta de empregos provocada pelo fechamento de inúmeras fábricas, pela reestruturação produtiva e pela crise do algodão. Para se ter uma idéia desse problema socioeconômico, a indústria têxtil na RMN empregava formalmente 19.396 pessoas em 1989, o que representava 52% da mão-de-obra ocupada na atividade industrial.  No ano de 1996, esse percentual reduziu-se para 42% (IPEA/RAIS). Nos últimos tempos, porém, verifica-se uma forte recuperação do setor têxtil na RMN, embora não suficiente para vir a ser uma determinante na sua dinâmica e organização espacial..

 

Por fim, é importante ressaltar a referência numérica de população utilizada pelo IBGE para classificar as cidades como grande, média e pequena. Considerando essa forma de classificação, 50% das cidades que fazem parte da Grande Natal são pequenas cidades, ou seja, teoricamente, são cidades que possuem dinamismo espacial limitado, prevalecendo determinações rurais marcadas por um tempo lento se considerado o processo de reprodução do capital. Esses centros caracterizam bem o que Milton Santos denominou de centros locais. Isto é, aquelas cidades que atendem, tão somente às demandas básicas do município. Para esse autor,  “o fenômeno da cidade local acha-se, pois, ligado às transformações do modelo de consumo no mundo, sob o impacto da modernização tecnológica, da mesma forma que, as metrópoles são o resultado de novos modelos de produção.” (Santos, 1979, p.71)

 

Esse quadro de referência pode ser explicativo para a forma e o conteúdo da dinâmica e organização do espaço metropolitano de Natal que pode ser pensada segundo em fases distintas. Essas fases são marcadas por processos espaciais que podem ser explicitados por meio das atividades administrativas, pela construção e instalação de equipamentos institucionais e pelas atividades terciárias em processo de expansão.

 

Na primeira etapa de sua história a cidade do Natal teve tão-somente um papel administrativo na medida em que concentrou todas as atividades políticas e administrativas do estado. É somente no início do século XX que Natal passou a ter um papel mais relevante como centro urbano, em virtude de ter sediado uma base americana no período da II Guerra Mundial. Mesmo diante dos avanços urbanistas que ocorreram nesse período, é somente na década de 1970 que emerge um novo período no processo de construção do espaço urbano, marcado por atividades modernas que vão redefinir a organização do espaço metropolitano.

 

Na década de 1970, acontecimentos importantes marcaram a dinâmica espacial e organização do atual espaço da metrópole. Foram eles: a construção do Campus Universitário, a instalação do Laboratório do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais; a instalação do Centro de lançamentos de foguetes de Barreira do Inferno; a presença de instituições como o CATRE, para a formação de pilotos e, ainda, a transferência do Comando do III Distrito Naval do Recife para Natal em 1975. Tais acontecimentos deram uma nova dinâmica no desenvolvimento da cidade do Natal e se constituíram em referências importantes no processo de formação da RMN.

 

Consolidando esse dinamismo, o crescimento da atividade turística, a partir de 1980, impulsiona a expansão do setor de serviços. Nesse período, dois fatos importantes são responsáveis pela dinâmica do setor terciário na atual região metropolitana: a construção do Hiper Bompreço e a implementação do Projeto Via Costeira/Parque das Dunas.

 

O Hiper Bompreço inaugura uma nova era no setor terciário metropolitano, em especial de comércio na cidade do Natal, caracterizada pela presença de supermercados, lojas de departamento e prestação de serviços. No entorno do Hiper Bompreço estabeleceu-se uma nova dinâmica terciária que imprimiu uma nova organização espacial na metrópole, na medida em que outros empreendimentos comerciais passaram a fazer parte do cenário paisagístico da cidade e imprimiram uma reorganização espacial, devido à nova estruturação que passou a vigorar. É nesse novo contexto que a proposta do Shopping Center passa a ser disseminada em toda cidade, mesmo ela não seja pautada pelas formas e pelos padrões arquitetônicos disseminados nas grandes cidades brasileiras. Entretanto, a inauguração do Natal Shopping, em 1994, possibilitou uma significativa mudança na configuração urbana, tendo em vista que no seu entorno foi surgindo uma nova dinâmica espacial.

 

Paralelo ao processo de reorganização espacial promovido pela instalação do Hiper, a construção da Via Costeira, outro grande empreendimento espacial, permitiu a expansão e o dinamismo da atividade turística no espaço metropolitano de Natal. Por isso, também consideramos o turismo como outro fator importante no processo de organização espacial, pois é a partir de seu dinamismo que verificamos um amplo crescimento da cidade na direção sul, consolidando um processo de transbordamento/conurbação, processo esse promovido, principalmente pela dinamicidade das atividades terciárias que passam a ser desenvolvidas.

 

Diante dessa nova dinâmica espacial, destacamos que a cidade do Natal já não pode ser mais pensada/estudada apenas na sua singularidade na direção norte, como se fazia no passado, quando a criação do Distrito Industrial era o principal fator responsável pela ocupação da Zona Norte da cidade. A partir do início da década de 1990, essa porção espacial também passa por um processo reorganização espacial articulada à atividade turística e, sobretudo, à dinâmica do setor terciário que foi impulsionado pela construção da BR 101, eixo viário de acesso às praias do litoral norte, criando, portanto, uma nova opção de desenvolvimento turístico.

 

Nesse contexto, a própria indústria se redefine, de modo que a indústria de bebidas  e de alimentos vão impulsionar a economia metropolitana, dando a essa  um caráter moderno.

 

A modernização da economia e da Cidade

 

Enquanto a indústria têxtil e de confecções viam-se às voltas com a crise, outros setores da economia foram emergindo dentro do espaço metropolitano. Ao contrário do que ocorreu com a indústria têxtil, as indústrias de produtos alimentares e de bebidas aumentaram a oferta de trabalho. Em 1989, os setores de alimentos e de bebidas foram responsáveis por 27% do emprego formal da atividade industrial. Esse percentual passou para 36% em 1996, expressando, assim, um crescimento de 9% em apenas sete anos. (IPEA/RAIS).

 

Também tem sido de grande importância para a dinâmica da economia da RMN o setor da construção civil. A dinâmica desse setor é mais visível e mais significativa nos municípios de Natal e Parnamirim, nos quais os diversos conjuntos habitacionais e os equipamentos viários, construídos nas últimas décadas, contribuíram de forma decisiva para a expansão urbana de Natal. Como resultante dessa expansão, ocorreu um processo de conurbação entre aquelas cidades, além de uma maior intensidade dos fluxos de mercadorias, pessoas e capitais.

 

A exploração de petróleo e a fruticultura irrigada, embora não ocorra no território metropolitano, não podem ser negligenciada enquanto processos produtivos importantes para a expansão e desenvolvimento da RMN. Isto porque, como já salientamos a centralidade de Natal não se manifesta apenas no âmbito espacial da metrópole e sim em todo território estadual. Assim sendo, os setores administrativos dessas atividades se localizam em Natal, sendo importantes postos de empregos para uma população de elevado nível de qualificação, além de dinamizar outros setores como o do desenvolvimento tecnológico e científico.

 

Outro setor que apresentou bastante dinamismo após a crise do setor têxtil foi o terciário, em virtude do desenvolvimento do setor de serviços e do incremento de atividades comerciais modernizadas.

 

As bases para um novo momento das atividades comerciais na região metropolitana, e particularmente na cidade do Natal, surgiram, como já assinalamos, com a construção do Hiper Bompreço. Esse empreendimento de caráter privado deu início a um processo de modernização do setor de comércio e, por conseguinte, da cidade que, por sua vez, até então, se expandia devido à construção de conjuntos habitacionais.

Este tipo de comércio trouxe certamente para Natal um novo padrão de empreendimentos comerciais, cuja característica fundamental era a centralização de atividades e de serviços. Tratava-se, numa palavra, de uma nova concepção espacial do setor terciário, que permitia ao usuário dispor de múltiplas atividades e produtos. Essa nova concepção caracterizava-se pelo modo concentrado na oferta dos serviços, pela preocupação com o conforto do consumidor (gôndolas que distribuíam os produtos de modo organizado, grande número de caixas, o contato direto do cliente com o produto, amplos espaços para estacionamento) e pela publicidade que ressaltava a economia de tempo, comodidade e segurança.

 

Outro aspecto importante que podemos relacionar à implantação desse novo tipo de estabelecimento comercial diz respeito à nova dinâmica que o fluxo de pessoas causava, exigindo melhores definições dos equipamentos urbanos, como a abertura e ampliação de avenidas e passarelas. Essa nova ordem comercial produziu e reproduziu relações comerciais não somente entre Natal e os demais municípios que compões a RMN, mas também, com outras partes do interior do Estado, cujas modestas economias, com a exceção possível de Mossoró, não conseguem oferecer alternativas modernizadoras o que nos permite afirmar ser a atividade comercial bastante concentrada em Natal.

 

No contexto da espacialização da atividade terciária, convém destacar que o desenvolvimento do setor industrial, promovido pela implantação do Distrito Industrial e a expansão dos serviços articulada principalmente à atividade turística, promoveram o crescimento urbano de  Natal no sentido Norte/Sul, fazendo emergir um gradativo processo de desconcentração das atividades comerciais. Como uma natural conseqüência da modernização, e do crescimento urbano verificou-se o surgimento de espaços mais amplos e com melhor infra-estrutura para o atendimento de outros serviços, .surgindo, assim, territorialidades demarcadas por alguns setores específicos. È o caso, por exemplo, do setor de saúde que tem se concentrado fortemente nos bairros de Petrópolis e Tirol. Embora se registre uma expansão para outros espaços da cidade, nesses bairros é grande a quantidade de hospitais, clínicas médicas, sedes administrativas de planos de saúde, laboratórios de análises clínicas e consultórios odontológicos.

 

Como já ressaltamos anteriormente, a dinâmica do setor terciário promoveu uma redefinição na ocupação dos espaços para fins de atividades comerciais e de serviços, bem como impôs uma nova organização viária da cidade do Natal. Nesse sentido, o espaço começou a se estruturar a partir de grandes eixos viários que, por sua vez, se constituíram em áreas de forte concentração de atividades terciárias o que favoreceu a articulação de Natal com as demais cidades metropolitanas.

 

A temporalidade desses eixos viários remonta à década de 1970. Portanto, paralelo ao surto de crescimento da atividade terciária em Natal. A desconcentração que nos referimos anteriormente está associada à intensa expansão urbana vivenciada pela cidade do Natal, principalmente nas últimas décadas do século XX. A partir desse período, o comércio e os serviços passaram a se desenvolver em diversas partes da cidade, fato que até então ocorria de maneira muito tímida, uma vez que as áreas tradicionais de comércio, no caso os bairros da Ribeira, do Alecrim e da cidade Alta, ainda comandavam a dinâmica espacial do setor terciário em Natal.

 

Para Gomes; Silva; e Silva. (2001, p.294) essa desconcentração provocou uma nova espacialização do terciário e, por conseguinte, uma nova organização do espaço metropolitano. Nesse processo de (re)espacializaão do terciário, as atividades de comércio e de serviços passaram a ocupar, as longas avenidas, denominadas por esses autores de “vias expressas de circulação”que cortam a cidade nos diversos sentidos, sendo essas vias que estabelece a lógica da configuração espacial, ao mesmo tempo que garante maior solidez à expansão e desenvolvimento do capital.

 

Segundo esses autores as vias expressas de circulação são eixos articuladores de território, porque favorecem o fluxo de população e de mercadorias entre os municípios que compõem a RMNATAL. Por isso as “vias expressas de circulação”, se constituem, na atualidade, o espaço preferencial da atividade terciária. São consideradas pelos autores, como “vias expressas de circulação as seguintes avenidas: Hermes da Fonseca/ Salgado Filho; Prudente de Morais; Engenheiro Roberto Freire, Tomaz Landim, Airton Sena; Jaguarari; Bernardo Vieira e a Coronel Estevam, também conhecida como Avenida 9

 

Embora possamos perceber adaptações das áreas tradicionais, essas nova espacialidade fez emergir novas territorialidades, demarcadas explicitamente pela concentração, de determinados áreas, de tipos de atividades terciárias: em áreas específicas da cidade como os bairros de Petrópolis e do Tirol, já caracterizados anteriormente, e a Avenida Engenheiro Roberto Freire, onde se encontram restaurantes, pequenos shoppings, serviços de lazer, pousadas, lojas de artesanato, etc em face da relação dessa via com a atividade turística.

 

Sobre essa importante atividade econômica, convém destacar, inicialmente que o Rio Grande do Norte se integrou à Política Nacional de Turismo por meio do BNB e da SUDENE, nos anos de 1980. Para que o turismo fosse consolidado e dinamizado na RMN, principalmente em Natal, dois projetos turísticos foram fundamentais: o Projeto Parque das Dunas Via Costeira, implementado na década de 1980, e o Programa de Ação para o Desenvolvimento do Turismo no Nordeste (Prodetur), que iniciou suas atividades no território potiguar nos anos de 1990, com a implementação de dois projetos turístico: o Rota do Sol e o Pólo Costa das Dunas. Esses projetos são marcos significativos, pois, a partir daí foi criada uma infra-estrutura hoteleira que possibilitou o desenvolvimento e a expansão do turismo, principalmente a partir dos anos 1980, com a implantação da Via Costeira (estrada que interliga as praias urbanas), concentrando importante infra-estrutura hoteleira, que se tornou possível receber fluxos crescentes de turistas em Natal. Por isso temos o entendimento de que a atividade turística e sua expansão podem ser consideradas como um elemento definidor no processo de modernização dos setores de comercio e serviços e com evidentes reflexos nas atividades financeiras e do setor imobiliário.

 

Apesar da importância econômica para a RMA, o setor também revela desafios a serem superados, como por exemplo a expansão do setor informal. As razões para o crescimento da informalidade estão ligadas diretamente à conjuntura econômica adotada pelo Estado. Nesse sentido, a reestruturação produtiva tem sido apontada como um dos fatores responsáveis pela precarização do emprego. Nos últimos anos, temos presenciado uma deterioração do mercado de trabalho e um grande contingente populacional deixa de ter acesso ao mercado de trabalho permanente, fazendo com que muitos trabalhadores exerçam atividades ocasionais como forma de sobrevivência, mesmo que elas sejam de baixa remuneração.

 

A importância econômica de Natal no âmbito da Região Metropolitana de Natal lhes confere a condição de núcleo central da região. No contexto da atividade turística Natal é  portal de entrada para o visitante conhecer todo o litoral potiguar que se estende por mais de 400kms, com lindas praias, lagoas, dunas, coqueirais e salinas. Já no contexto do setor de serviços, Natal têm uma posição destacada desde o período da Segunda Guerra Mundial, como foi destacado ao longo do texto. Além disso, deve ser considerado que é em Natal que está concentrada a estrutura administrativa federal e estadual.

 

Por último ressaltamos que o destaque central da RMN se faz pelo segmento de prestação de serviços educacionais e de produção de ciência e tecnologia, tanto públicas quanto privados, vez que o espaço metropolitano de Natal abriga Universidades Federal, estaduais e particulares além do Centro Federal de Tecnologia, os laboratórios do INPE, o Centro de Lançamento de Foguetes da Barreira do Inferno, laboratórios da EMBRAPA e da EMPARN e a Escola Agrícola de Jundiaí. Assim, a RMN pode ser vista como importante centro estadual de produção de conhecimento e consolidando a posição de Natal na formação de recursos humanos qualificados no estado.

 

 

Para não concluir

 

Diante do exposto não seria errôneo afirmar que a dinâmica e a organização do espaço metropolitano de Natal encontra-se, na atualidade articulado de forma direta à organização e espacialidade do setor terciário, embora não possa ser negada a importância do setor industrial, particularmente do Distrito Industrial da Zona Norte que provocou a expansão urbana de Natal, ainda que subsidiada por uma forte política habitacional expressa na construção de diversos conjuntos habitacionais, forma marcante da paisagem urbana da Zona Norte de Natal.

 

No contexto espacial da Região Metropolitana, Natal assume uma importância de grande expressão por todos os aspectos já mencionados e ainda por ser o lugar em que se consegue manter maiores percentuais da de ocupação da População Economicamente Ativa -  PEA, seguida  apenas por  Parnamirim.

 

Assim sendo, é marcante a centralidade exercida pela cidade do Natal, uma vez que, as demais cidades que compõe a região metropolitana apresentam um setor terciário com grandes fragilidades, em especial o caráter informal, sendo, portanto de baixa capacidade empregatícia, bem como de oferta diversificada de serviços e produtos.

 

Sendo assim, a convergência para Natal não apenas de pessoas, mas também de investimentos, principalmente para a dinamização do setor turístico reforça, cada vez mais, a centralidade de Natal. Ao mesmo tempo essa dinâmica econômica vai estruturando e organizando o espaço metropolitano, marcado não por uma hierarquia urbana, mas pela existência de uma centralidade e por centros locais.

 

Para não sermos apologéticos a essa centralidade, ressaltamos que a cidade do Natal também centraliza problemas socioespaciais, que numa análise mais sistematizadas podem ser apontados como reflexo dessa própria dinâmica econômica, uma vez que, o capitalismo se reproduz de forma desigual e combinada. Desse modo, são vários os problemas que emergem no espaço, tornando-se urgente a implementação de políticas públicas e ações que envolvam o conjunto da sociedade, no sentido da construção de um espaço em que a promoção social seja perseguida e  a inclusão social das populações excluídas seja efetivada. Somente assim, o espaço metropolitano poderá ser um espaço saudável e provedor da cidadania.

 

 

 

     

 



Nota:

 

* Os autores são pesquisadores da Base de Pesquisa em Estudos Urbanos e Regionais.

 

 

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_______. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. 4ª edição. 1ª reimpressão. São Paulo: Editora da USP, 2004b.

_______A urbanização brasileira. São Paulo, HUCITEC, 1993, 157 p.

______. Espaço e Sociedade. São Paulo: Petrópolis/RJ: Vozes, 1979.

 


 

 

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