Biblio 3W
REVISTA BIBLIOGRÁFICA DE GEOGRAFÍA Y CIENCIAS SOCIALES
Universidad de Barcelona 
ISSN: 1138-9796. Depósito Legal: B. 21.742-98 
Vol. XIV, nº 837, 30 de agosto de 2009

[Serie  documental de Geo Crítica. Cuadernos Críticos de Geografía Humana]


A GAZETA DOS CAMINHOS DE FERRO E A PROMOÇÃO DO TURISMO EM PORTUGAL (1888-1940)


Elói de Figueiredo Ribeiro[1]
CIDEHUS – Universidade de Évora


A Gazeta dos Caminhos de Ferro e a Promoção do Turismo em Portugal (1888-1940) (Resumo)

Tendo como objecto de estudo a Gazeta dos Caminhos de Ferro pretende-se fazer uma abordagem ao desenvolvimento do turismo em Portugal no período que decorreu entre 1888 e 1940. O levantamento dos vários artigos publicados na Gazeta e as iniciativas dos seus editores para incentivar as viagens turísticas permitem perceber o papel relevante que esta publicação teve no desenvolvimento do turismo em Portugal. Sendo uma publicação dedicada ao caminho-de-ferro a Gazeta traduz a importância que este meio de transporte teve no desenvolvimento do turismo e a forma como o turismo foi utilizado para promover o tráfego ferroviário. A Gazeta atingia diversos públicos e as várias rubricas sobre viagens contribuíram para incentivar nos seus leitores o gosto pelas viagens. O seu estudo permite ainda fazer uma aproximação à forma como evoluiu o conceito de turismo e ao modo como se foram diversificando os locais escolhidos para as viagens de lazer.

Palavras chave: caminhos-de-ferro, turismo, viagens


La Gazeta dos Caminhos de Ferro y la promoción del turismo en Portugal (1888-1940) (Resumen)

A partir del estudio de la Gazeta dos Caminhos de Ferro (“Gaceta de los Ferrocarriles”), se aborda el desarrollo del turismo en Portugal durante el período 1888 a 1940. El inventario y lectura de varios artículos publicados en la Gazeta y el estudio de las iniciativas de sus editores para estimular los viajes turísticos, permiten comprender el destacado papel que esta publicación ha tenido en el desarrollo del turismo en Portugal. Tratándose de una revista dedicada al ferrocarril, la Gazeta refleja la importancia que este medio de transporte ha tenido en el desarrollo del turismo y en el modo como éste ha sido utilizado para promover el tráfico ferroviario. La Gazeta llegó a públicos diversos y los distintos artículos y noticias sobre viajes contribuyeron a fomentar en sus lectores el gusto de viajar. Su estudio permite, además, una aproximación a la evolución del concepto de turismo y a la forma como se han ido diversificando los lugares elegidos para viajes de placer.

Palabras clave: ferrocarriles, turismo, viajes


“A Gazeta dos Caminhos de Ferro” and Portugal Tourism Promotion (1888-1940) (Abstract)

Besides the “Gazeta dos Caminhos de Ferro” being the main subject of this study, there is also the intention to refer the development of tourism in Portugal in the period that goes from 1888 to 1940. The important role played by tourism to its publication becomes obvious and we also understand all the initiatives that had to be taken to assure its promotion. Since it’s a publication dedicated to the railways, “Gazeta” also conveys the important contribution the means of transport (railway) had to the development of tourism and how tourism had been used to promote railway traffic.“Gazeta” managed to reach a huge variety of readers and encouraged them to acquire a desire to travel. Furthermore, studying this revue makes it possible to understand not only how the concept of “tourism” evolved, but also how there were more placed available for tourists to visit and spend their leisure time.

Key words: Railways, tourism, trips


Parece ser ponto assente que o turismo é um dos sectores de maior importância para a economia de vários países, nos quais se engloba Portugal, como o indicam os números dos que nos visitam, o peso desta rubrica na balança de pagamentos e os postos de trabalho directos ou indirectos que daí advêm, isto sem falar nas profundas alterações no desenvolvimento urbano e por vezes no (des)ordenamento do território[2]. Com efeito, "o fenómeno turístico assumiu tais proporções no acanhado contexto português, que já não é possível ao moderno historiador ignorar o facto"[3].

Os aspectos acima referidos justificam o interesse que este sector de actividade deve merecer também por parte dos historiadores portugueses[4], como já acontece noutros países. Nos últimos anos o estudo sobre o turismo e os guias de viagens tem sido objecto de um interesse crescente que se traduziu na publicação de várias obras e na inclusão deste tema em diversos encontros internacionais[5]. A história do turismo tem sido analisada em função de aspectos como aspectos: a tecnologia, que analisa as infra-estruturas que permitiram o desenvolvimento desta actividade ; a política que analisa o papel dos poderes públicos no desenvolvimento do turismo ; a economia que se debruça sobre o papel do turismo na economia; e as representações da indústria do turismo na opinião pública[6]. O estudo das instituições promotoras do turismo e dos guias de guias de viagens têm sido aspectos que têm interessado os historiadores[7].

Catherine Bertho Lavenir em La Rue et le Stylo – comment nous sommes devenus touriste, apresenta o nascimento e a história do turismo em França e na introdução começa por colocar a questão: Porque partimos? É que, de facto, a prática do turismo não é uma necessidade imperativa do ser humano. Segundo a autora, “Partir c’est une industrie. Les voyages changent comme changent les techniques”[8]  e estas mudanças ocorrem em três momentos distintos marcados pelas transformações técnicas, sendo o primeiro o tempo das diligências e do caminho-de-ferro, tempo também dos relatos de viagens onde se propunham itinerários e o que observar, dirigidos a uma classe burguesa.

É no século XIX que a viagem turística, por um lado, e a vilegiatura por outro, têm um desenvolvimento sem precedentes. A estada balnear e a viagem organizada representam logo uma indústria cheia de vitalidade onde se inventam, entre companhias de caminho de ferro e grandes hotéis, novos prazeres para as classes dirigentes, em que se aliam mudanças técnicas, como a evolução da rede dos caminhos-de-ferro, novas estratégias de promoção hoteleira e uma evolução dos costumes. Como forma de divulgação destas transformações surgem as gravuras, os cartazes e os jornais especializados que vão informando dos novos lugares de vilegiatura, de que forma se deve empregar o tempo e o que é desejável e realizável.

A partir da década de 1840 o caminho-de-ferro facilita a democratização da viagem " el ferrocarril fue un medio de transporte democrático: en primeira clase no se llegaba al destino antes que en quarta."[9]. 

O alargamento da rede de caminhos-de-ferro trouxe consigo uma alteração importante em termos do turismo. Por um lado, porque tornou acessível a um maior número de pessoas as viagens de lazer, e, por outro, porque os locais que passaram a ser considerados como destino dos turistas foram determinados pela própria rede de caminhos-de-ferro.

A rede ferroviária opera uma verdadeira selecção das cidades balneárias. Por um lado pelo facto importante de ter ou não uma ligação ferroviária com os grandes centros urbanos e, por outro, pelo tempo gasto no percurso entre estes e as referidas estâncias balneárias.

As companhias de caminho de ferro francesas, como aliás se verificou também noutros países, na sua oferta comercial puseram à disposição dos utentes comboios e tarifas especiais, como é o caso dos comboios de passeio e os bilhetes a preços reduzidos que permitiam a homens de negócios e gestores irem ao Domingo visitar os seus familiares estabelecidos nas estâncias de banhos de mar. Para os utentes mais desafogados existia o comboio amarelo, conhecido como “comboio dos maridos”, que saia de Paris ao fim da tarde de sábado e regressava segunda-feira de manhã. Outra iniciativa foi o “train de plaisir” que aos fins-de-semana assegurava as ligações de Paris com a costa da Normandia. Existiam também diferentes tarifas para diversas clientelas, tendo em conta o poder económico de cada uma delas. As tarifas para as praias frequentadas pelos estratos sociais mais elevados, as da Normandia, eram mais elevadas  do que as tarifas para as praias da Bretanha, “praias de família”, onde se instalavam sobretudo funcionários públicos[10].

Nos finais do século XIX surgiram os primeiros cartazes ilustrados dos caminhos-de-ferro,  que divulgavam a vida balnear. A partir desta altura, o cartaz vai fazer parte da estratégia utilizada pelos caminhos-de-ferro para promover as suas viagens, vindo a sofrer alterações nos temas apresentados consoante a evolução das estratégias publicitárias. As Companhias de Caminhos de ferro procuraram também incentivar as viagens de comboio através da publicação de guias de viagens.

Pelas ligações que se estabeleceram entre as viagens de comboio e o turismo muitas das publicações que se debruçaram sobre os caminhos de ferro publicaram também notícias sobre viagens, excursionismo e outros aspectos relacionados com o desenvolvimento do turismo e foram, ao mesmo tempo, veículos de incentivo à viagem de lazer ou recreio.

Neste trabalho, pretende-se, partir de um estudo de caso, A Gazeta dos Caminhos de Ferro, elaborar um estudo sobre a promoção turística relacionada com os caminhos de ferro no período que decorreu entre 1888 e 1940, comparando sempre que possível a realidade portuguesa com a emergência e evolução do turismo a nível europeu, enquanto indicador da mudança social verificada nas sociedades europeias entre meados do século XIX e as primeiras décadas do século XX.

Procedeu-se assim ao levantamento e análise sistemática de todos os artigos publicados na Gazeta dos Caminhos de Ferro que estivessem ligados com o tema turismo procurando-se perceber a forma como ao longo do tempo evoluiu a ideia de turismo e quais foram as iniciativas de promoção do turismo que aí foram apresentadas.

As balizas cronológicas 1888-1940 justificam-se pelas seguintes razões: a opção pela primeira data prende-se com o início da publicação da Gazeta dos Caminhos-de-ferro; a escolha da segunda data deve-se ao facto de ser o ano da Exposição do Mundo Português, momento culminante de todo um período de iniciativas da propaganda ideológica do Estado Novo em que o turismo esteve de forma directa ou indirectamente representado.

O período em análise permite verificar a forma como o turismo foi encarado num período de mudanças tecnológicas, sociais e políticas. Politicamente este período é marcado pela Monarquia Constitucional, 1ª República e Estado Novo, em termos sociais verifica-se um maior dinamismo do mundo urbano, com o crescimento da cultura urbana das cidades no século XIX, a nível técnico o desenvolvimento dos caminhos de ferro permitem novas condições para a realização de viagens.


Contexto da criação da Gazeta dos Caminhos de Ferro de Portugal e Hespanha

Quando no dia 15 de Março de 1888 saiu o primeiro número da Gazeta dos Caminhos de Ferro de Portugal e Hespanha, já “há 46 annos que a França [tinha] o seu Journal des Chemins de Fer, sempre florescente em prosperidade; havia 29 annos[11] que a Hespanha tinha a sua Gaceta de los Caminos de Hierro”[12]. Não é por acaso que estas são as duas publicações referidas pela gazeta portuguesa no seu primeiro número. A referência ao Journal des Chemins de Fer justificava-se por esta ter sido a primeira revista sobre os caminhos-de-ferro publicada em França, país que nesta área era uma referência para Portugal. Por um lado, porque vários engenheiros portugueses ligados aos caminhos-de-ferro, tinham completado a sua formação na Escola de Pontes e Calçadas de Paris [13], nomeadamente vários dos engenheiros que foram consultores desta revista, e, por outro, porque alguns grupos financeiros franceses tinham interesses Companhia Real dos Caminhos de Ferro Portugueses. A referência à publicação espanhola justificava-se porque, para além da sua importância como periódico especializado no país vizinho, a Gaceta de los Caminos de Hierro esteve na origem da gazeta portuguesa.

Em 1884, o proprietário e director desta revista, o economista D. Francisco Javier de Bona, convidou Leonildo Mendonça e Costa para ser em Portugal, redactor e representante da Gaceta[14] - "A proposta foi aceite pondo da nossa parte como condição a gazeta [continuar a] denominar-se de España y Portugal e que seriam dados amplos poderes para tratar dos interesses das linhas de ferro portuguesas”[15].

Este convite surgiu na sequência dos artigos que Mendonça e Costa publicara nos jornais portugueses Diário de Notícias, Jornal do Comércio e Comércio do Porto[16]. Em 1883, Mendonça e Costa, na altura empregado principal do Tráfego da Companhia Real,  tinha sido convidado pelo Diário de Notícias para se encarregar da nova secção sobre caminhos-de-ferro que foi incluída neste jornal. Semelhante convite foi posteriormente feito pelos jornais Jornal de Comércio e Comércio do Porto para as secções de igual âmbito que também passaram a fazer parte destes jornais.

Os sucessivos convites endereçados a Mendonça e Costa para colaborar em diversos jornais portugueses explicam-se pelos seus conhecimentos na área dos caminhos-de-ferro, proporcionados pela sua actividade profissional como funcionário da Companhia Real dos Caminhos de Ferro Portugueses, para cujos escritórios tinha entrado em 1874, e pelo facto de o seu percurso ascensional na empresa, que lhe permitiu passar de Praticante de Estação a Inspector Chefe da Repartição do Tráfego, lhe ter, certamente, facilitado o conhecimento do meio ferroviário e os contactos com os engenheiros das várias companhias[17].

Quatro anos mais tarde (1888) Mendonça e Costa anunciava a publicação de uma revista portuguesa - Gazeta dos Caminhos de Ferro, com o subtítulo de Portugal e Hespanha,  da qual era o proprietário e director. No primeiro número Mendonça e Costa justificava o surgimento da publicação da seguinte forma: “o aumento que a nossa viação ferroviária vae adquirindo exigia bem que o seu órgão na imprensa lhe consagrasse maior espaço, e facto identico que se dá no paiz visinho não permittia que isso se conseguisse n'uma só publicação”[18]. A revista espanhola manteve o título de Hespanha e Portugal.. Como referiu o director da revista portuguesa, “Assim cada paiz tem a sua folha desta especialidade, e ao mesmo tempo uma parte na do paiz visinho, para dar maior latitude á defesa dos seus interesses”[19].


Características e objectivos

Ao criar a Gazeta dos Caminhos de Ferro[20], Mendonça e Costa, o promotor desta iniciativa, pretendia que esta fosse o órgão representativo dos Caminhos de Ferro Portugueses e não apenas da Companhia Real dos Caminhos de Ferro Portugueses, a cujos aos quadros pertencia, publicando "tudo o que diga respeito às linhas ferreas portuguesas, segundo for resolvido nas repartições publicas"[21]. Correspondendo a estes objectivos a revista incluiu desde o primeiro número legislação, relatórios das empresas, estatística das linhas e outros assuntos que diziam respeito aos caminhos-de-ferro. Em anexo, eram publicados horários, mapas da rede ferroviária, tarifas, balanços e mapas estatísticos do tráfego dos caminhos-de-ferro portugueses.

O âmbito da publicação não se limitava aos assuntos ligados aos caminhos-de-ferro e desde o início se inserem artigos que de alguma forma se encontram ligados aos transportes e às comunicações. Logo no seu primeiro número a revista inclui um artigo sobre o Porto de Lisboa e outro sobre correios e telégrafos.

O âmbito mais lato da revista fica claro em editoriais de números posteriores: "Pelo que respeita à nossa folha, o seu campo de acção, na aparência limitado, estende-se em variadas ramificações a todas as questões que interessam ao desenvolvimento industrial e comercial do paiz, e para esse fim vamos dando cabimento aos assumptos d´esta natureza, procurando levar tambem aos nossos leitores o conhecimento das modernas descobertas scientificas e industriaes da actualidade"[22].

No início do século XX a difusão de outros meios de transporte transparece nesta publicação. Assim, em 1899 decidem tratar "tambem do ciclismo, em nova secção que tem perfeito cabimento n´esta gazeta, visto que se trata de um meio de transporte"[23] e em 1908 o aumento da circulação de automóveis leva ao surgimento de uma nova secção sobre o tema” [24].

A gazeta pretendia ser "um jornal technico, bem informado e sério, que possa hombrear com as publicações estrangeiras de egual indole. (...) acompanharemos o mundo scientifico nos seus progressos, divulgando os mais interessantes."[25], e para poder garantir estas suas pretensões “ [convidou] para a sua colaboração os mais distintos engenheiros no paiz”[26].

Apesar do carácter técnico assumido por esta publicação, Mendonça e Costa achava que a mesma podia interessar a um público mais lato, pois “ao mesmo tempo que interessa ao engenheiro, ao technico, ao financeiro, tem valor para o commerciante porque lhe distribui as proprias tarifas officiaes, e lhe facilita a sua comprehensão, necessaria ao seu negocio; e a par da sua leitura ser util ao grande industrial, não o é menos ao funccionario da via férrea, porque lhe dá muitas noções de sã doutrina que lhe aproveitam ao desempenho do seu serviço. E’assim que entre os nossos subscriptores contamos, a um tempo, pessoas das mais elevadas e das mais modestas posições sociaes”[27].

Em 1898 o título desta publicação passou a ser Gazeta dos Caminhos de Ferro desaparecendo a indicação de Portugal e Hespanha, provavelmente porque os temas tratados não se restringiam apenas à realidade ferroviária destes dois países.

A diversidade dos temas tratados pela Gazeta e as várias informações úteis que  incluía devem ter contribuído para que a mesma tivesse um número significativo de leitores, muitos dos quais assinantes. No entanto, quanto aos subscriptores não dispomos de elementos que permitam fazer uma análise qualitativa nem tão pouco quantitativa, já que sobre os mesmos não existem registos, o que em conjunto com a inexistência de dados sobre a tiragem da revista não permite obter valores rigorosos quanto à sua divulgação. O que podemos afirmar de concreto quanto à divulgação da Gazeta dos Caminhos de Ferro é que esta aumentou substancialmente quando, em 1910, passou a ser distribuída, para consulta e leitura, em todas as estações dos caminhos-de-ferro[28]. Facto realçado pelos editores da revista - “Por acordo com todas as administrações, a nossa Gazeta passou a ser fornecida a todas as estações de todas as linhas portuguezas,  para aí ser facultada ao publico (...).  Este meio de publicidade assegura ao nosso jornal algumas dezenas de milhares de leitores, podendo, assim, ella, sem vaidade, considerar-se a revista de maior vulgarização do paiz”[29].

No início de cada ano a Gazeta colocava à venda um volume encadernado com a compilação dos números publicados durante o ano anterior. A partir do ano de 1893 esses volumes passaram a ter um índice geral (do ano) de artigos ordenado alfabeticamente.

Ao analisar o índice de artigos e secções do volume do ano 1893, verifica-se que, para além dos assuntos ligados directamente ligados ao caminho-de-ferro, existem os itens: "Notas de viagens; Situações dos fundos portugueses nas bolsas de Lisboa, Londres e Paris; Publicações recebidas e mercados de metais". Para além destes, surgiam com alguma regularidade artigos sobre patentes de invenção, exposições e congressos[30].

Ao longo de todo o período analisado um dos assuntos mais em destaque na Gazeta foi o turismo. Desde o seu primeiro número que se apela à viagem em rubricas como: "Notas de viagem, Viagens em terra alheia, Propaganda de Portugal, Viagens no paíz, Excursões no paíz, P ágina artística, P áginas de turismo, Portugal turístico[31], Portugal paíz de turismo, Crónicas de viagem" e, em vários artigos soltos, cuja denominação continha as palavras viagem ou turismo, hotelaria, excursionismo. Ainda num apelo à viagem foram publicados artigos sobre as linhas de caminho de ferro com interesse turístico, descrevendo paisagens, monumentos ou aspectos etnográficos[32]. Na Gazeta foram também retratadas estâncias termais e balneares, o que correspondia ao interesse crescente que estes locais tinham para os turistas[33]. O conteúdo de alguns artigos estava relacionado com os aspectos legais[34], defesa do turismo nacional[35] e ainda com iniciativas no âmbito deste sector.

A alteração dos cabeçalhos da revista ao longo dos anos traduz as várias secções da mesma e a importância dos temas que são tratados. Durante o primeiro ano, os subtítulos mencionados no cabeçalho da revista são: Navegação, Comércio, Correio, Portos e Minas. No segundo ano da publicação desaparecem os subtítulos e só em 1908, no seu 21º ano de publicação, surge novamente um subtítulo, desta vez relacionado com as novas secções da revista: Electricidade e Automobilismo[36]. Nesta altura a Gazeta passa a designar-se Gazeta dos Caminhos de Ferro, Electricidade e Automobilismo. Mendonça e Costa justifica esta alteração pela importância e interesse que tinham na época o automobilismo e a electricidade e pelo facto de não existirem publicações especializadas sobre esses sectores. Contudo, no ano seguinte a direcção da revista decide acabar com a secção de electricidade devido à complexidade do assunto e à evolução constante deste sector e o título volta à designação anterior[37].

Em 1931 a revista tem mencionado no cabeçalho da sua folha de rosto Revista Quinzenal De Transportes, Electricidade, Finanças, Telefonia, Aviação, Navegação E Turismo[38]. Em 1935 altera para Comércio E Transportes - Economia E Finanças -Electricidade E Telefonia - Obras Públicas - Navegação E Aviação - Agricultura E Minas –Engenharia - Indústria E Turismo,  que ainda mantém em 1940.

A alteração dos subtítulos traduz claramente o desenvolvimento de novas áreas de transporte, com o automobilismo, a navegação e a aviação[39] e das telecomunicações, como é o caso da telefonia.

Desde o seu início que a Gazeta dos Caminhos de Ferro incluía publicidade, inicialmente nas páginas finais. Tratava-se de uma publicidade diversificada relacionada sobretudo com as Companhias de caminho de ferro, fabricantes de locomotivas e de material circulante, e, como não podia deixar de ser com as viagens. Daí que surgissem anúncios às publicações que podiam interessar aos viajantes e aos turistas, como Revista Insular e de Turismo, Manual do Viajante em Portugal, Guia Oficial dos Caminhos de Ferro e a Agenda do Viajante, e publicidade de hotéis, estâncias, termais. Eram também publicitados os Vapores a sair do porto de Lisboa, (o nome dos navios, destino e data de saída), as companhias de navegação e as agências de viagens. A nível do comércio a publicidade abrangia vários ramos comerciais e industriais, assim como Bancos e Companhias Seguradoras e alguns profissionais livres (advogados e médicos). O recurso a publicidade permitia contrabalançar os preços de edição da revista.

A qualidade da publicação foi reconhecida a nível nacional e internacional, tendo obtido várias distinções em exposições em Portugal e no estrangeiro: Grande Diploma de Honra na Exposição Industrial de Lisboa -1888; medalha de bronze na Exposição de Antuérpia-1894; medalhas de prata na Exposição Universal de Bruxelas e na Exposição Industrial do Porto -1897; medalha de ouro na Exposição de Pilsen e medalha de bronze na Feira Mundial de S. Luís, nos Estados Unidos – 1904; medalha de prata na Exposição de Liége- 1905; medalha de prata na Exposição Nacional Comemorativa do 1º Centenário da Abertura dos Portos ao Comércio Internacional, Rio de Janeiro-1908 e Grande Diploma de Honra na Exposição de Barcelona -1930.


A promoção turística na Gazeta

Itinerários e viagens propostos

 Desde o primeiro número da Gazeta dos Caminhos de Ferro que, como se disse, se pode encontrar um espaço sobre viagens, que, no entanto, agrupa duas tipologias diferentes. Por um lado encontram-se os relatos ou descrições de viagens já realizadas, como é o caso das “Notas de Viagem”, “Crónicas de Viagem”, “Cartas de Viagem” e “Instantâneos de Viagem”. Por outro, surgem propostas de viagens a realizar no país e no estrangeiro. Refira-se, entre outras, “Viagens e Transportes”, “Excursões no País”, “Passeios no País”, “Viagens no País”, “Viagens caseiras”, “Viagens em terra alheia”.

 Do primeiro tipo de artigos destacam-se as “Notas de Viagem”[40] escritas por Mendonça e Costa, resultado das suas viagens efectuadas um pouco por todo o mundo, algumas delas resultantes da sua habitual presença nos Congressos Internacionais dos Caminhos de Ferro, presença também aproveitada mais tarde por Carlos d’Ornellas para redigir as “Crónicas de Viagem”. Mendonça e Costa considerava que estas descrições “destinad[a]s a servirem de guia de viagem, especialmente a dar apontamentos desconhecidos dos viajantes”[41]. Estas descrições eram acompanhadas, por vezes, do cálculo das despesas[42] e assumiam alguma importância, dado que no final do século XIX os guias sobre Portugal era ainda escassos e não existiam traduções dos guias de viagens que se publicavam no estrangeiro, nem guias ou outras publicações que apresentassem cálculos de despesas, nem agências de viagem, nos moldes em que hoje as conhecemos[43], que pudessem fornecer todos esses elementos. Esses relatos, os que se reportavam às viagens no estrangeiro, focavam sobretudo, as localidades e o seu urbanismo, arquitectura, vida cultural, costumes, gastronomia, desenvolvimento tecnológico (com destaque para os aspectos ligados ao caminho de ferro), património histórico, equipamentos hoteleiros e de restauração e um ou outro apontamento da sua história. Realçavam igualmente a beleza das paisagens, as estâncias termais, as praias e o exótico de algumas regiões menos conhecidas.

Apesar do cuidado que Mendonça e Costa tinha em transmitir informações que pudessem ser úteis aos futuros viajantes, não propunha destinos de referência ou itinerários que considerasse mais adequados. Mendonça e Costa viajava pelos mais variados locais, situados no país ou no estrangeiro, tentando conhecer o maior número possível de regiões no sentido de enriquecer a sua cultura geral. A sua proposta subentende-se ser, essencialmente, viajar, viajar muito, o mais possível e abrangendo a maior diversidade de destinos.

A par da rubrica “Notas de Viagem”, a rubrica “Viagens e Transportes” foi, no âmbito das viagens, a que permaneceu mais tempo na Gazeta. Iniciou-se em 1910 e em 1940, ano limite deste trabalho, ainda estava presente na revista. Para além de informações sobre o transporte de mercadorias, tarifários e equipamentos, é nesta rubrica que é dada toda a informação sobre as iniciativas promocionais dos caminhos-de-ferro, sobretudo as da Companhia Real[44]. A informação nela contida reporta-se a: viagens circulatórias, viagens de recreio, feiras, festas, romarias, touradas, exposições, congressos, tudo isto em Portugal e Espanha[45] e ainda sobre temporadas de banhos, praias, banhos de mar e águas termais, águas minerais, consultas[46] e alguns artigos referentes aos assuntos acima referidos Enquanto que a rubrica "Notas de Viagem" tratava de relatos de viagens, aqui promovem-se acontecimentos de interesse turístico, intitulados quer com a designação do acontecimento, como por exemplo "Festas da Cidade em Santarém", quer designando a localidade, "Em Évora". Nestes itens, antes da informação referente à promoção dos bilhetes de comboio e tendo em vista atrair o visitante, era dado um ou outro apontamento apologético sobre o acontecimento ou sobre o local da sua realização, Também aqui não se privilegiam destinos e as sugestões são inúmeras dizendo respeito a todo o país. Relativamente a Espanha, as sugestões prendem-se com critérios de proximidade, como por exemplo Badajoz, Cáceres, Sevilha e Salamanca.

Encontram-se, com alguma frequência, informações de excursões organizadas por agências estrangeiras como são o caso da agência parisiense Voyages Economique, com itinerários definidos a partir de Paris para diversos destinos em França e outros países, com especial destaque para Itália[47], acontecendo por vezes a organização de viagens estar relacionada com a ocorrência de congressos e exposições, ou o caso das viagens de recreio organizadas pela agência Lubin a Espanha, França, Gibraltar, Tânger e Portugal[48].

Para além das rubricas acima referidas, foram surgindo ao longo da publicação da Gazeta diversos artigos sobre destinos nacionais de interesse turístico relacionados com as diferentes motivações que levavam a encetar uma “viagem de recreio, de instrução ou de hygiene”[49]. Estas viagens de hygiene reportavam-se às deslocações que muitas pessoas efectuavam para retemperar a saúde, em direcção às diversaslocalidades de aguas, estações de verão e praias de banhos que temos no nosso paiz”[50]. Os locais que de alguma forma aparecem referidos na Gazeta são os seguintes: Termas de Monte Real, Termas de S. Pedro do Sul, Águas de Moura, Águas de Pedras Salgadas, Águas de Vidago, Caldas de Vizela, Caldas de Monchique, Caldas de Aregos, Bussaco, Luso, Curia e as praias da Vieira de Leiria, Figueira da Foz, das Maçãs, da Rocha da Quarteira e Costa do Sol (de Algés a Cascais). Outros lugares, que se destacavam pela sua beleza e ou património cultural, como o Marão, Sintra-Colares, Setúbal, Faro, Vila Real de Santo António, o Monte Estoril, os Castelos de Portugal e, com alguma frequência, os arquipélagos da Madeira e dos Açores, estavam relacionados com as chamadas viagens de recreio ou de instrução.

Em 1890, os destinos propostos para umas férias de verão, viajando através caminhos de ferro, com tarifas reduzidas, eram: Caldas da Rainha, S. Martinho, Valado, Figueira da Foz, Banhos da Amieira, Luso, Aveiro, Estarreja, Espinho, Granja, Porto, Braga, Barcelos, Póvoa de Varzim, Viana do Castelo, Caldas d’Aregos, Vila Praia de Âncora, Caminha, Valença, Moledo e Régua[51]

A secção Thermas, Campos e Praias[52], iniciou-se em Maio de 1894, altura em que se refere, “Encetamos hoje esta nova secção do nosso jornal, na qual iremos, dando durante a epoca propria, a descripção, acompanhada de ilustrações, das localidades de águas, estações de verão e praias de banhos que temos no nosso paiz e pódem ser escolhidas por quem deseja, na epoca que vae  entrando, retemperar a saude com o uso de aguas minerais, a aspiração de ar puro ou a immersão do corpo nas ondas do oceano”. Até Setembro desse ano, em cada número da revista, era apresentado um artigo nos moldes acima referidos, com os seguintes títulos: Torres Vedras e os Banhos dos Cucos, As Caldas de Felgueira, as Caldas da Amieira, Caldelas, Caldas da Fadagosa,  As Caldas da Rainha,  Praia de Espinho e  Cascaes[53].          

Em 1933, surgiu a rubrica “Portugal Grande País de Turismo” onde Augusto Cunha escreveu sobre os locais de interesse turístico Cúria, Bussaco, Praia da Vieira, Estoril, Marão, Vila Real de Santo António e Faro, dedicando um artigo a cada um destes locais.

Em 1 de Janeiro de 1936 a Gazeta deu inicio a uma nova rubrica denominada Portugal Turístico, que constava de duas páginas contíguas, onde só se publicavam fotografias de diversos locais de Norte a Sul do país e ilhas adjacentes, com o intuito de dar a conhecer e promover, em termos turísticos, esses locais. Esta rubrica, presente em todos os números, mantinha-se ainda em 1940[54].

Com o objectivo de ajudar os assinantes da revista, esta dispunha de um “consultório” para que estes pudessem fazer consultas sobre possíveis viagens. As questões colocadas pelos assinantes e as respectivas respostas eram depois reproduzidas na Gazeta. O sucesso que esta rubrica teve entre os leitores levou os redactores a escreverem o seguinte “Decididamente temos que abrir secção e installar banca de consultas, porque as primeiras não só agradaram aos interessados como despertaram em outros leitores o desejo de viajar, e veem bater-nos á porta e pedir informes”[55]

As viagens e os itinerários propostos na Gazeta estavam directamente relacionados, por um lado, com as redes de caminhos-de-ferro existentes, e, por outro com a necessidade de serem o mais diversificados possíveis tendo em conta que os caminhos-de-ferro eram um meio de transporte de massas. O condicionalismo de os locais escolhidos serem acessíveis por caminho-de-ferro, excluiu desta iniciativa as colónias.

Os territórios insulares (Açores e Madeira) também foram a partir de 1925, promovidos na Gazeta, situação a que não deve ser alheio o facto de Carlos d´Ornelas ser açoriano e ter entrado ao serviço da Gazeta ainda no tempo de Mendonça e Costa e ter, após a morte deste último, desempenhado um papel cada vez mais preponderante na revista. A partir de 1930 Carlos d’Ornelas passou a partilhar oficialmente o cargo de director com José Fernando de Sousa, o que na prática já vinha acontecendo há algum tempo. Outro factor que deve ter contribuído para a presença dos Açores e Madeira foi o facto de Carlos d’Ornelas ter sido director da publicação Revista Insular e de Turismo, bem como correspondente de jornais açorianos.

Outra iniciativa de incentivo às viagens promovida pela Gazeta surgiu em 1932 organizada pela Companhia Portuguesa dos Caminhos de Ferro, era a dos comboios mistério[56]. Tinham a particularidade de omitirem os seus itinerários, constituindo estes uma surpresa. Era nesse “mistério” que residia o grande atractivo da iniciativa. Aqui existia uma proposta de viagem, mas não uma proposta de itinerário.

 Em 1940, as comemorações levadas a cabo pelo Estado Novo, que tiveram como ponto alto a Exposição do Mundo Português, mereceram por parte da Gazeta uma  ampla divulgação, como ficou patente em diversos editoriais, artigos, divulgação dos programas de actividades e da planta do recinto,  gravuras de figuras da História de Portugal e ainda inúmeras fotografias do espaço e dos actos oficiais. Esta divulgação que tinha como objectivo incentivar nacionais e estrangeiros a visitar a Exposição, deixa transparecer como a Gazeta se encontrava dentro do espírito que presidiu a estas comemorações. 

A divulgação das viagens de lazer e recreio promovidas pelas Companhias de Caminho de ferro

Os Caminhos-de-ferro Portugueses criaram várias tarifas especiais no intuito de, através de preços reduzidos, promoverem o gosto pelas viagens e assim o aumento do número de passageiros a circularem pelas linhas-férreas. Estas tarifas existiam em várias modalidades. Os bilhetes de temporada de banhos de mar e águas minerais, que tinham carácter sazonal de Julho a Outubro, consistiam em bilhetes de ida e volta, válidos por sessenta dias. Analisada a tabela de 1889, verifica-se a seguinte particularidade: existem duas tabelas de preços, uma para “Homens” e outra para “Senhoras e creanças”, nas três classes existentes: 1ª, 2ª e 3ª, não sendo por isso os bilhetes de homens válidos para senhoras e vice-versa e não existindo também meios bilhetes.       

Outra iniciativa dos caminhos-de-ferro (Companhia Real) anunciada nas páginas da Gazeta com o título “A Paris por 5 libras”, foi a realização de viagens económicas, em 2ª classe, a essa cidade francesa quando da Exposição de Paris de 1889[57]. Para além da divulgação desta promoção, a Gazeta também informava os aspectos considerados úteis para quem fosse de visita à exposição[58].

Outro incentivo para viajar através do caminho-de-ferro eram as viagens circulatórias que surgem por iniciativa da Companhia Real dos Caminhos de Ferro Portugueses em 1889, apresentando três itinerários nacionais. Em 1891 surgem as "Viagens Circulatórias em Portugal e Hespanha" com dois itinerários: um, com a duração de sessenta dias para um percurso de 2 424 quilómetros e outro, de oitenta dias para um percurso de 3 635 quilómetros. Qualquer deles tinha o início e fim em Lisboa, contemplando itinerários entre cidades portuguesas e espanholas, de que Madrid fazia parte, e no percurso mais longo, a cidade de Barcelona. Este modelo de viagem resultava de um serviço combinado entre a Companhia Real dos Caminhos-de-ferro Portugueses e várias companhias espanholas[59].

Os “Bilhetes de Família” [60], com tabelas específicas para dois, três ou quatro elementos e tinha como destino os locais de maior interesse turístico, foi outra iniciativa da Companhia Real dos Caminhos de Ferro que surgiu em 1894.

 A partir de 1889 na tabela intitulada “Temporada de Banhos e Aguas Thermaes”  passa a constar o subtítulo “Tarifa temporaria para bilhetes simples por preços muito reduzidos de Hespanha para Portugal ou vice-versa”[61], que refere vários itinerários de Espanha para Portugal, o que demonstra que os viajantes a quem as tabelas se destinavam não eram somente os portugueses mas também os espanhóis, que assim eram incentivados a beneficiar dessas tarifas especiais.

Em 1895 a direcção dos Caminhos de Ferro do Sul, estabeleceu bilhetes de ida e volta, de serviços de banhos, entre Lisboa, Barreiro, Setúbal e as vilas e cidades alentejanas servidas por esta companhia e as localidades algarvias de Messines, Albufeira, Loulé e Faro.    

Para além das já mencionadas tarifas especiais para as praias ("Temporadas de banhos do mar e águas mineraes"), existiam bilhetes de ida e volta entre Lisboa e as praias de Pedrouços a Cascais e entre Lisboa e Figueira da Foz, esta última anunciada da seguinte forma “Bilhetes baratos – no dia 23 realiza-se, como adiante annunciamos, um comboio rápido especial entre Lisboa e Figueira, chegando a esta cidade no dia 24, a hora dos excursionistas poderem assistir aos banhos n’aquellas concorridas praias, e regressando à noite a Lisboa.”[62] e ainda bilhetes de ida e volta, de Lisboa para diversas localidades de Portugal e Espanha em ocasiões de feiras, festas, romarias, touradas[63] ou comemorações, como aconteceu no Centenário Antonino[64].

 Em 1890 foi divulgada na Gazeta, a tarifa especial nº 2 da Companhia Real dos Caminhos de Ferro Portuguezes, que consistia em bilhetes de ida e volta a preço reduzido, destinada a grupos colegiais e seus professores[65]. Esta tarifa permitia aos seus destinatários, viajar a preços reduzidos para algumas localidades durante as férias escolares, fins de semana e feriados. Os bilhetes eram de 2ª ou 3ª classe, de Lisboa para qualquer dos seguintes destinos: Olivais, Sacavém, Alhandra, Vila Franca, Sintra, Mafra, Santarém, Torres Vedras, Pavalvo, Barquinha, Abrantes, Caldas da Rainha, Valado, Figueira da Foz, Coimbra, Pampilhosa, Aveiro, Gaia e Porto. Ou então, do Porto para as seguintes localidades: Granja, Espinho, Aveiro, Pampilhosa, Coimbra, Figueira da Foz, Pavalvo, Santarém, Valado, Caldas da Rainha, Torres Vedras, Mafra, Sintra, Abrantes, Barquinha e Lisboa. Sobre esta tarifa, em artigo publicado no nº 54 de 16 de Março de 1890, surgiu o seguinte comentário “O que é para lastimar é que esta tarifa, uma das mais uteis porque tem por fim immediato, promover a instrucção e a hygiene da mocidade, quasi que, até hoje não tenha sido aproveitada, (…)”[66].

Após a inauguração da linha da Beira Baixa, em 1891, a companhia que a explorava, a Companhia Real dos Caminhos de Ferro Portugueses decidiu organizar comboios especiais com bilhetes de ida e volta por preços reduzidos, para visitar as cidades de Castelo Branco e Covilhã[67].

 Em 1892 as várias companhias de caminho de ferro existentes no país - Companhia Real dos Caminhos de Ferro Portugueses, Caminhos de Ferro do Sul e Sueste, Caminhos de Ferro Minho e Douro, Companhia de Caminhos de Ferro da Beira Alta, Companhia de Caminhos de Ferro do Porto à Póvoa e Famalicão, Companhia Nacional dos Caminhos de Ferro e Companhia das Docas do Porto e Caminhos de Ferro Peninsulares - , apresentaram uma tarifa combinada de bilhetes de excursão em que os itinerários eram escolhidos pelos passageiros sendo o preço baseado na quilometragem efectuada.

No mesmo ano, a Gazeta publicitava assim as viagens circulatórias na Europa: “Estando chegado o tempo em que se effectuam as excursões ao estrangeiro prevenimos os nossos assignantes de que unicamente por intermedio da Gazeta dos Caminhos de Ferro podem obter em Portugal bilhetes circulatórios na Europa, por preços muito reduzidos[68].

Eram também publicitadas viagens circulatórias no país vizinho organizadas pelas companhias de caminhos de ferro espanholas[69] bem como excursões organizadas pela agência das Voyages Economiques de Paris[70].

Em 1894 os caminhos de ferro levavam a efeito excursões a algumas localidades, sobretudo às cidades com património cultural reconhecido, como era o caso de Leiria (com deslocação à Batalha), Tomar, Coimbra, Porto, Alcobaça e ainda, viagens de recreio, como as realizadas pela companhia da Beira Alta, com partida da Figueira da Foz passando pelo Luso e com destino ao Buçaco, em serviço de comboio especial. Com a designação de Viagens de Recreio, a Companhia Real organizava também viagens de ida e volta com destino à Figueira da Foz [71].

A partir de pelo menos 1896 as Companhias apoiavam também as excursões organizadas por associações de cariz popular que se organizavam de modo a reunir um elevado número de excursionistas que assim “obtêm por preços módicos comboios especiaes para digressões no paiz, sempre instrutivas, hygienicas e agradáveis”[72]. Como exemplo de associações que organizaram as referidas excursões, podemos referir os Bombeiros de Lisboa, a Academia dos Estudos Livres, benemérita associação de instrução popular que promovia passeios a monumentos históricos, a Associação União do Beato, a Sociedade dos Operários da Fábrica de Louça de Sacavém e a Academia do Comando Geral de Artilharia. Estas excursões realizavam-se aos domingos, nos meses de Julho e Agosto. Caldas da Rainha, Figueira da Foz, Porto, Sintra e Santarém foram alguns dos seus destinos. Grupos de 20 ou mais passageiros de 3ª classe, -Viagens de Recreio em grupo de excursionistas, ou de musicos formando philarmonicas ou tunas era outra das tarifa especial com redução de preços que surgiu no verão de 1907 para grupos de passageiros nas condições nelas referidas[73].

Ainda no mesmo ano são divulgados na gazeta[74] os bilhetes quilométricos para viagens em Espanha, resultado da combinação da Gazeta com as linhas espanholas, sendo a sua venda em Portugal efectuada nos escritórios da revista. Estes bilhetes permitiam viajar a baixo custo pelas linhas espanholas aderentes ao acordo, indistintamente e sem prévia marcação de itinerário.

Em 1909 surge outra tarifa especial, a dos "Bilhetes de Excursão"[75] para viagens em Portugal e em que os passageiros podiam escolher os itinerários. Tratava-se de um serviço combinado resultante de acordo estabelecido entre as várias companhias nacionais[76]. Em Setembro deste mesmo ano entrou em vigor uma tarifa internacional para  excursões em grupo e em comboios especiais, entre França e Portugal: de Paris e Bordéus para Lisboa e Porto e vice-versa. Esta tarifa resultou de um acordo entre as companhias portuguesas, francesas e espanholas.

 Em Março de 1910, na rubrica "Viagens e Transportes" são divulgadas excursões das diversas companhias de caminho de ferro às regiões do Minho e Douro, às localidades de Mirandela e Bragança e ao litoral algarvio, (…) tão apreciavel nesta epoca em que a pujança da sua vegetação se manifesta e os encantos do seu clima nos acariciam”[77]. Estas rubricas continham, por vezes, para além da divulgação das excursões, um pequeno apontamento apologético como é exemplo a transcrição anterior. As excursões permitiam dar a conhecer aos que nela participavam algumas das regiões mais afastadas da capital. Em artigo da mesma rubrica, nas vésperas do 5 de Outubro, refere-se o êxito comercial de uma excursão às Beiras organizada pela Companhia Real dado o (…) muito elevado número de excursionistas que se aproveitaram dos bilhetes, podendo-se calcular bastante avultada a receita que a Companhia terá auferido.

É assim que se anima o publico ao excursionismo e que os caminhos-de-ferro podem obter magnificas receitas.”[78]. Neste artigo é ainda valorizado e dado a conhecer o património histórico e natural, destacando os pontos de maior interesse turístico, bem como algumas possíveis actividades para os sportman.

Ainda referente às tarifas de excursões e dentro da mesma rubrica, numa revista de Novembro do mesmo ano, podemos ler “O accentuado desenvolvimento que o excurcionismo tem, de anno para anno, tomado no nosso paiz, deve-se sem duvida alguma, á creação das tarifas que as differentes administrações de Caminhos de ferro teem posto em vigor para os grupos numerosos e comboios especiais a preços reduzidos, (…).[79]

Em 1911 a Gazeta dá-nos conta de um projecto de tarifa reduzida da Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses[80] que envolvia companhias francesas, espanholas e a portuguesa da Beira Alta, que consistia em bilhetes colectivos de ida e volta para famílias, tendo como ponto de partida Paris e como destinos as cidades do Porto e de Lisboa[81].

 Nem só as tarifas internacionais que envolviam empresas portuguesas eram divulgadas. Na Gazeta eram também divulgadas também as tarifas de empresas estrangeiras, com percursos diversos tendo como ponto de partida Paris e destinos como Argélia, Espanha, Itália e Suiça, com indicação dos preços dos bilhetes e itinerários[82].

São muito referenciadas na Gazeta as viagens de comboio entre França e Portugal, o que demonstra bem a forte ligação entre estes dois países neste período[83].

 Outras tarifas internacionais existentes à época, envolviam caminhos de ferro portugueses, espanhóis e franceses e a Empresa Nacional de Navegação, sendo disso exemplo as de França para a América do Sul, via Lisboa e as “(…)  de França para as colónias  portuguezas,  Cabo da Boa Esperança e Natal[84].    

Em 1912, na véspera de ocorrer um eclipse total do Sol, na rubrica Viagens e Transportes num artigo denominado Eclipse do sol, o autor descreve a sua experiência na observação de um destes fenómenos ocorrida em Maio de 1900, narrando em prosa literária o que observou, os extraordinários efeitos e algumas reacções de populares. A dado momento podemos ler: “A atmosphera cobria-se successiva e rapidamente de todas as cores do Arco-Iris, passando por mil cambiantes vários”. No final do artigo vinha a divulgação de que as companhias de caminho de ferro portuguesas  tinham estabelecido bilhetes a preços reduzidos com indicação dos preços praticados desde Lisboa nas três classes existentes para a localidade onde melhor se observaria o fenómeno, que era Ovar. O artigo terminava com a interrogação “Por tão pouco dinheiro quem deixará de presenciar um espectáculo que talvez não torne a ter ocasião de observar no resto da vida?”[85], o era, sem dúvida, uma publicidade sugestiva.

 Em Agosto de 1912 é noticiado nas páginas da Gazeta[86] que a Companhia Internacional dos Vagões-Leitos iria abrir, no mês seguinte, em Buenos Aires uma agência de propaganda e venda de bilhetes para viagens em Portugal, Espanha e França via Lisboa. Esta iniciativa foi coadjuvada pelas companhias dos caminhos de ferro portuguesas, espanholas e francesas interessadas neste tráfego internacional. Esperava-se que esta iniciativa atraísse grande número de viajantes a Lisboa e contribuísse de forma notória para o desenvolvimento das relações entre a América do Sul e Portugal. O êxito esperado baseava-se nas condições mais vantajosas apresentadas pelo porto de Lisboa  relativamente aos demais portos europeus.  Segundo a Gazeta, essas vantagens assentavam na situação geográfica de Portugal e no seu bom relacionamento com a América do Sul, nas boas condições climáticas do país e na existência de uma magnífico  serviço de comboios rápidos de ligação a França. Esta ideia de Lisboa como cais da Europa foi várias vezes tema de artigos na Gazeta.

Em 1913 a Gazeta conseguiu, com base em acordos estabelecidos com todas as companhias de caminhos de ferro do país, facultar aos seus assinantes a possibilidade de obterem bilhetes para viagens circulatórias no país, sendo apresentados um total de 12 itinerários possíveis (de A a L)[87], sendo que alguns itinerários incluíam Espanha. Em 1914 foram acrescidos mais dois itinerários, o M e o N.

 No ano seguinte a Companhia de Caminhos de Ferro Portugueses estabeleceu uma tarifa para bilhetes especiais de ida e volta ligando as cidades de Lisboa e Porto às estações que serviam as principais zonas balneares ou outros destinos servidos pelas linhas suburbanas[88].

A partir de 1915 é notória a existência de poucas iniciativas de promoção às viagens, o que se justifica pela situação de conflito militar que se vivia na altura. Mantêm-se somente os bilhetes especiais nas temporadas de banhos, festas e romarias e algumas excursões. Só em 1932 volta a surgir uma iniciativa digna de registo. Nesta altura À semelhança do que se fazia no estrangeiro, nomeadamente em Inglaterra e nos Estados Unidos da América, donde esta iniciativa Comboios Mistério é originária, a Companhia Portuguesa dos Caminhos de Ferro, resolveu organizar este tipo de viagem que consistia em os viajantes desconhecerem qual o destino e o percurso da mesma, ficando assim entregues às surpresas que a companhia lhes queria proporcionar. Se, no seu artigo À Tabela, Armando Ferreira, no nº 1068 da gazeta, punha em dúvida o sucesso desta iniciativa, no número seguinte da mesma rubrica afirmava “afinal a ideia foi bem acolhida, e os reclames que anteciparam a organização do comboio, embora ainda, compactos e pouco atraentes, conseguiram despertar mais de um cento de viajantes”[89].

 Em 1933, Armando Ferreira na sua rubrica Á Tabela com o título A atracção do “mistério”,  anuncia que se vai retomar a iniciativa dos comboios mistério. Ao longo do artigo percebe-se que o mesmo tem  um sentido irónico, dado que autor considera que “O comboio-misterio só tem em Portugal um defeito. É que para o espirito irrequieto, pesquizador, investigador do portuguesinho, não é nunca um comboio-misterio. 8 dias antes de sair do Rossio, já o seu feliz passageiro sabe, ufano, para onde vai. O gosto do misterio, o ancestral apetite de marchar para o desconhecido é vencido, no século XX, pela excelsa vaidade de estar no segredo dos deuses: - Você sabe para onde vai o de sabado? Para Bragança! Disse-me um tio da mulher do primo do chefe da Estação do Rossio… Mas faça de conta que não sabe de nada…”[90].

Sobre os Comboios Mistério, na rubrica Ecos & Comentários, com o título Iniciativas Modernas, Sabel congratula-se com esta iniciativa escrevendo “Muita gente não viaja, não sae aos sabados de Lisboa porque não sebe para onde ir. E perde tempo e energia boscando nos recantos da memoria um itinerario que nunca encontra; -este «porque não», outro tambem «porque não» e todos porque ….(…) Ora os «comboios mistério» resolvem o problema da irresolução. Nada mais simples: um bilhete que elimina preocupações. O turista já sabe que tem viagem em sabado e domingo, que vae vêr terras interessantes, monumentos, que tem as suas despezas incluidas no bilhete e que – terá uma sensação nova rodando para um destino ignorado”[91]. Mais adiante, no mesmo artigo, o seu autor estabelece uma comparação entre esta forma de turismo e outros modelos, ao referir “É uma maneira nova de fazer turismo, não o turismo à ingleza, mecanico, estylo guide Jeanne, de bonecas e mulheres em fila –nos museus ou nas praias, nos teatros ou nas montanhas, -mas que já sabem de ante mão o que vão vêr, os locaes, as egrejas, os hoteis; emfim, o turismo Taylorisado, sem surpresas.” Depois deste interessante artigo de apoio, constata-se, através dos números seguintes, que a iniciativa teve sucesso, como podemos deduzir pelo artigo intitulado “O sétimo comboio mistério – Crónica de dois dias enigmáticos[92] da autoria de José da Natividade Gaspar. É de notar que esta última iniciativa teve a duração de dois dias e foi alvo de cobertura jornalística com uma reportagem de três páginas e direito a fotos. Através da Gazeta sabe-se da existência de um nono comboio mistério.

Em 1933 surgiram os "Expressos Populares", que Armando Ferreira na sua rubrica Á Tabela refere como “a novidade dêste verão – após o falecimento do D. Combóio Mistério”. Trata-se de “um comboio especial com bilhete de ida e volta, a preço reduzidissimo, numa classe única e que dirigindo-se semanalmente a vários pontos pitorescos ou cidades históricas do país, permite aos menos abastados passar um dia fora, aprender, distrair-se, sem se preocupar com a organização do programa aliás bem simplista”[93].  

Toda esta diversidade de tarifas especiais e outras promoções levadas a cabo pelas empresas de caminhos de ferro e divulgadas através desta revista, contribuíram para uma maior divulgação e utilização deste meio de transporte, o que permitiu, graças aos preços praticados, um aumento das viagens turísticas, contribuindo de forma inequívoca para a emergência do turismo, transformando-o a pouco e pouco numa indústria com cada vez maior peso económico.

A divulgação de Guias e Roteiros de Turismo

Com o desenvolvimento dos caminhos-de-ferro terão surgido, ainda na primeira metade do século XIX, os guias de turismo tal como os conhecemos hoje[94]. Estes guias tiveram um papel importante no desenvolvimento do turismo uma vez que a pouco e pouco foram-se tornando cada vez mais completos, fornecendo ao viajante toda uma série de indicações que iam desde os hotéis, sua qualidade e preço, às condições das estradas, aos meios de transportes existentes, etc[95]. Eram publicações de pequena dimensão para mais facilmente serem consultadas e transportadas, e o seu formato estaria de acordo com o que hoje chamamos “livro de bolso”.

Na Gazeta dos Caminhos de Ferro, há poucas referências a guias de viagem, só quando chegava ao conhecimento da redacção algum novo guia de Portugal publicado no estrangeiro é que este é mencionado. Assim, em 1906 referem que tiveram “conhecimento que a Empresa dos Guias Conty, de Paris, acaba de publicar um guia de Portugal” [96]. Em 1909 é referida na gazeta uma nova edição do Guide de Espagne et Portugal pertencente à biblioteca de viagens Guides Joanne da casa Hachette & C.ie. de Paris[97]. Sobre esta colecção de guias os redactores consideram que “se para os alemães e os inglezes o Baedeker é o vademecum  indispensavel, os francezes, os belgas, os italianos, a raça latina, emfim, prefere o Joanne que, mais resumido do que aquelle e obedecendo a um plano egualmente pratico, tem a vantagem das edições novas serem mais frequentes e o preço mais economico”[98]. Consideravam ainda, que “o viajante que não se quer dar a profundos estudos sobre os paizes que vae percorrer, é nestes guias de viagem que se aconselha, que se instrui sobre o que tem a vêr, sobre o caminho a seguir e os gastos a fazer, e um pouco tambem sobre a historia e as origens dos povos entre ao quais se propõe passar uns tempos”[99].     

De uma forma geral, a Gazeta não se refere muitas vezes a guias de viagem. O único que aparece referenciado mais do que uma vez num artigo[100] e também várias vezes publicitado em anúncio, é o Manual do Viajante em Portugal, o que não surpreende, já que o mesmo é da autoria de L. Mendonça e Costa. Publicado pela primeira vez em 1907, conheceu posteriormente várias edições. É de referir que o seu autor utilizou como modelo, segundo as suas próprias palavras, os guias alemães de Baedeker, uma referência nessa época e ainda hoje em publicação.


Conclusão

A diversidade de artigos e rubricas ligados, directa ou indirectamente, ao turismo que ao longo do período analisado (1888-1940) foram publicados na Gazeta permitiram-nos perceber a forma como o turismo era encarado e as várias iniciativas que foram promovidas pelas Companhias de Caminho de Ferro portuguesas e pelos editores da Gazeta para incentivarem as viagem de turismo que tinham como meio de transporte o caminho de ferro.

A importância que o turismo assumiu na Gazeta esteve directamente ligada ao facto do seu fundador e director Mendonça e Costa, ter sido não só um homem dedicado às viagens, como o mentor e fundador da Sociedade Propaganda de Portugal, criada em 1906. O seu continuador Carlos d’Ornellas, jornalista também ele ligado ao turismo, (tendo sido director de duas revistas especializadas neste sector), continuou a publicar uma série de artigos e notícias sobre o turismo, o que faz com que a Gazeta seja uma fonte privilegiada e de grande importância para o estudo da emergência e evolução do turismo em Portugal.

Através dos homens que presidiam aos seus destinos, a Gazeta dos Caminhos de Ferro esteve ligada a outras publicações ligadas com o turismo: ao Guia Oficial dos Caminhos de Ferro e Manual do Viajante em Portugal. Através de Mendonça e Costa e estabeleceram-se ligações importantes entre a Gazeta, a Revista Insular e de Turismo e a Viagem, através de Carlos d’Ornellas.

Numa primeira fase da revista, apesar das muitas referências a viagens, não se utiliza o vocábulo “turismo”. O aparecimento e a vulgarização deste termo surge a partir de 1909, sendo visto como um movimento ao mesmo tempo civilizador e lucrativo. Em 1916 o seu desenvolvimento era visto como um problema de grande importância económica para o país. Em 1927 o turismo já é referido como a grande indústria do século XX. Nesta altura a ideia de turismo veiculada pela Gazeta enquadrava-se na ideia de turismo existente na Europa, que apontava para o turismo como uma actividade económica que pretendia atingir uma franja cada vez maior da sociedade e da qual se esperavam grandes lucros. Ao mesmo tempo, promovia-se o turismo interno associado à ideologia de promoção do país defendida pelo Estado Novo.

O caminho-de-ferro tornou as viagens mais rápidas, mais seguras, mais cómodas e mais baratas. Estes aspectos, juntamente com a grande diversidade de iniciativas promocionais de redução de preços de bilhetes, bem como as campanhas publicitárias de divulgação de locais de interesse turístico, ao proporcionar o alargamento da viagem turística  às classes médias contribuíram de forma significativa para o desenvolvimento do turismo.

As Companhias de caminhos-de-ferro seguiram uma estratégia comercial de incentivo às viagens ao estabelecerem tarifas reduzidas nas épocas em que os turistas procuravam as praias, as termas ou em ocasiões especiais, como exposições e congressos, ou ainda nos períodos das festas, feiras, romarias e touradas. Tarifas igualmente usada nas viagens destinadas a conhecer determinadas localidades, os monumentos, ou simplesmente usufruir da natureza, por motivos de recreio, de saúde ou de instrução, fosse o viajante sozinho, em família ou em grupo, com um ou vários destinos ou rumo ao “misterioso” desconhecido, ou em visita de estudo. Para todas estas situações existiria sempre uma qualquer “tarifa reduzida”. A estratégia promocional do caminho-de-ferro, para além das tarifas reduzidas, passou pelo embelezamento das gares das estações com os painéis de azulejos e os ajardinamentos exteriores, pretendendo agradar ao olhar do turista. Ao promover e divulgar estas iniciativas, a Gazeta dos Caminhos de Ferro contribuía de forma efectiva para a promoção turística do país.

Outros incentivos de promoção turística presentes na Gazeta, foram as diversas rubricas relacionadas com viagens ou visitas que procuravam criar nos seus leitores o gosto pela viagem e a necessidade de viajar como forma de adquirir conhecimentos. Os editores desta revista criaram inclusive um “consultório” de aconselhamento sobre viagens e organizaram algumas viagens circulatórias destinadas exclusivamente aos assinantes da revista.

Este estudo permitiu-nos concluir que Portugal acompanhou as dinâmicas e tendências verificadas nos outros países europeus, no que respeita às políticas de desenvolvimento do sector turístico. À medida que iam sendo criadas noutros países organizações de apoio ao sector, Portugal criava organizações congéneres, fossem elas de iniciativa pública ou privada. Contudo, na prática, o desenvolvimento deste sector ficou aquém do verificado nalguns países. A causa não estava no desconhecimento das medidas que se deviam tomar para o desenvolvimento do turismo, pois sabia-se como proceder, que atitudes tomar, como fazer propaganda interna e externamente. A falha estava na falta de infra-estruturas que apoiassem o desenvolvimento desta actividade, isto é, uma boa rede de estradas e de caminhos-de-ferro e uma maior cobertura em termos de transportes e estabelecimentos hoteleiros bem equipados. Para além disso ainda se verificava a falta de mão-de-obra especializada no sector. Esta situação foi transversal aos três períodos políticos abrangidos por este trabalho, apesar das instituições que se criaram para o desenvolvimento do turismo. Na monarquia criou-se a Sociedade Propaganda de Portugal, na 1ª República institucionalizou-se o turismo com a criação da Repartição de Turismo e o Estado Novo chamou a si o turismo e utilizou-o na sua estratégia de propaganda, mas, o problema manteve-se.

A Gazeta não se esgota minimamente no âmbito deste trabalho ou mesmo deste tema. O seu longo percurso de oitenta e três anos de publicação, a qualidade dos seus colaboradores e dirigentes, e a variedade de temáticas abordadas, bem como a sua especialização no sector dos caminhos-de-ferro, não descurando outras áreas ligadas à engenharia, faz com que a Gazeta constitua uma fonte de inegável interesse para abordagens históricas diversificadas.


Notas

[1]  Direcção postal:  Apartado 239, 7000-503, Évora,  Portugal. E-mail: eloiribeiro@portugalmail.pt

[2] Este trabalho tem por base a dissertação de mestrado “A Gazeta dos Caminhos de Ferro e a Promoção do Turismo em Portugal (1888-1940)”, apresentada na Universidade de Évora e orientada pela Profª Ana Cardoso de Matos).

[3]  PINA, Paulo Cronologia do Turismo Português, 1900-1929, Secretaria de Estado do Turismo, Direcção Geral do Turismo, Delegação do Porto, vol.1, Porto 1982, [texto policopiado] p. 9.

[4] Neste âmbito o CIDEHEUS (Centro Interdisciplinar de História, Cultura e Sociedades da Universidade de Évora) desenvolve o projecto de investigação Viagens, Turismo, Lazer e Património no Sul em perspectiva histórica. Dos finais do século XVII à primeira metade do século XX.

[5]Nomeadamente o Colóquio organizado em Sion em 2001 e a sessão incluída no XIII Economic History Congress, realizado em Buenos Aires em 2002.

[6] A diversidade de abordagens é visível em obras como Laurent Tissot (dir), Construction d’une industrie touristique aux 19e et 20e siècles. Perspectives internationales. Development of a Tourist Industry in the 19th and 20th Centuries. International Perspectives, Neuchâtel, Ed. Alphil, 2003.

[7] Para o caso português veja-se Ana Cardoso de Matos e M. Luísa Santos, “Os Guias de Turismo e a emergência do turismo contemporâneo em Portugal (dos finais do século XIX às primeiras décadas do século XX)” Geo Crítica / Scripta Nova. Revista electrónica de geografía y ciencias sociales. Barcelona: Universidad de Barcelona, 15 de junio de 2004, vol. VIII, núm. 167. [ http://www.ub.es/geocrit/sn/sn-167.htm].

[8] Catherine Bertho Lavenir, La Rue et le Stylo – comment nous sommes devenus touriste, Paris: Editions Odile Jacob, 1999,  p. 9.

[9] Hasso Spode El turista in El Hombre del siglo XX, Ute Frevert,Heinz-Geratd Haupt y outros, Alianza Editorial, Madrid 2002,  p. 132

[10] Catherine Bertho Lavenir, La Rue et le Stylo – comment nous sommes devenus touriste, ob. Cit., pp. 32-34.

[11] Na verdade a publicação tinha à data  32 anos, já que a sua publicação se iniciou em 1856.

[12] Gazeta dos Caminhos de Ferro de Portugal e Hespanha, ano 1º,  nº 1 de 15 de Março de 1888, p. 2.

[13] Um número significativo de engenheiros portugueses após a formação na Escola Politécnica de Lisboa, na Escola Politécnica do Porto ou na Escola do Exército, completavam a sua formação no estrangeiro, nomeadamente na Escola de Pontes e Calçadas de Paris. Sobre o assunto veja-se DIOGO, Maria Paula e MATOS, Ana C.,Learning how to be an engineer – Technical Teaching in Nineteenth Century Portugal, ICON, 6 (2000), 67-75 e Ana Cardoso de Matos, Asserting the Portuguese civil engineering identity: the role played by the École des Ponts et Chaussées, in A. Grelon, M. Paula Diogo, Ana Cardoso de Matos Irina Gouzevitch eds., Jogos de Identidade: os Engenheiros, a Formação e a Acção (em publicação). 

[14] O convite é feito no princípio do ano através de um inspector da Companhia dos Vagões-Leitos, que se deslocou a Lisboa em trabalho. Gazeta dos Caminhos de Ferro nº 797 de 1 de Março de 1921.

[15]  Gazeta dos Caminhos de Ferro de Portugal e Hespanha, nº 1 de 15/03/1888 p. 2.

[16] Idem nº 797 de 1 de Março de 1921.

[17] Vários dos quais viriam a ser posteriormente colaboradores na gazeta portuguesa.

[18] Gazeta dos Caminhos de Ferro de Portugal e Hespanha, nº 1 de 15 de Março de 1888, p. 2.

[19] Idem

[20] A Gazeta publicava-se quinzenalmente, aos dias 1 e 16 de cada mês, custando a sua assinatura semestral 1$5000 réis e a anual 2$500 réis.

[21] Gazeta dos Caminhos de ferro de Portugal e Hespanha, nº 1 de 15 de Março de 1888, p.2.

[22] Idem,  nº 265 de 1/01/1899 p.2

[23] Idem  nº 289 de 1/01/1900 p.2

[24] Idem  nº 481 de 1/01/1908.  Nesta altura a Gazeta passa a designar-se Gazeta dos Caminhos de Ferro, Electricidade e Automobilismo. Mendonça e Costa justifica esta introdução pela importância e interesse que tinham na época o automobilismo e a electricidade e pelo facto de não existirem publicações especializadas sobre esses sectores.

[25] Idem nº 361 de 1/01/1903 p.1. Acrescentavam que “A honra que teem dispensado e dispensam à Gazeta procura ella merecê-la convidando alguns technicos para a sua redacção, dando desenvolvimento aos assumptos que se referem a viagens, occupando-se da viação em geral, do automobilismo, da navegação, da telegraphia e tratando de todos os assumptos de interesse geral, embora não sejam exclusivamente ferroviarios, mas que se referem á industria ou ao commercio portuguez.”, Ibidem.

[26] Idem nº 1, 1 de Março de 3, 1888, p.2 

[27] Idem nº 60, 1 de Janeiro de 1913.

[28] Semelhante prática era já seguida em vários países europeus

[29] Gazeta dos Caminhos de Ferro, nº 553, de 1de Janeiro de 1919, p. 1. 

[30] Ao longo dos anos foram introduzidos outros itens como automobilismo (1903) ou assuntos internacionais e aviação  (1933)

[31] Páginas duplas de fotografias de diversos locais de Portugal continental e insular, retratando o património cultural e paisagístico. A importância dos guias turísticos como indicadores da evolução do conceito de património cultural foi referida em MATOS, Ana Cardoso de, e SANTOS, Maria Luísa F.N. dos, Os Guias de Turismo da cidade de Évora no contexto do turismo contemporâneo (dos finais do século XIX às primeiras décadas do século XX) in A Cidade de Évora. Boletim da Câmara Municipal de Évora, 2001, II série, nº 5, 2001, p.381-408.

[32] Como, por exemplo, A linha do Corgo (Vila Real a Pedras Salgadas) in Gazeta dos Caminhos de Ferro nº 470 de 16 de Julho de 1907.

[33] O hábito de ir “tomar águas” como tratamento de várias doenças generaliza-se no século XIX. Sobre o assunto vejam-se, entre outros, LAVENIR, Catherine Bertho, La roue et le stylo. Comment nous sommes devenus touristes, Paris, Ed. Odile Jacib, 1999, p.24- 29 e BOYER. Marc, Histoire Géneérale du Tourisme. Du XVIe au XIXe siècle, Paris, L’Harmattan, 2005, p.202.

[34] Como o decreto sobre passaportes (nº 2 de 10 de Janeiro de 1895), que segundo a Gazeta, prejudicava o turismo

[35] Como foi o caso dos vários artigos denominados Lisboa, caes da Europa onde eram propostas várias medidas para que Lisboa fosse o porto privilegiado de entrada na Europa, com todos os benefícios que daí adviriam para o sector do turismo, logo para a economia nacional. Esta situação estava sobretudo relacionada com os viajantes que provinham do novo continente e da África do Sul. Gazeta dos Caminhos de Ferro, nº 446 de 16 de Julho de 1906, p.217 e 218.

[36] Embora o automobilismo não constasse do cabeçalho da revista no seu índice anual de 1898 já lhe era dado destaque. 

[37] Esta decisão foi também justificada pelo facto de ter surgido a revista Electricidade e Mechanica.Revista Practica de Engenharia e de Ensino Technico. Contudo, apesar da extinção desta continuaram a ser publicados artigos sobre as aplicações de electricidade, sobretudo aos caminhos-de-ferro. Sobre o assunto veja-se MATOS, Ana Cardoso de, et ali, História da Electricidade em Portugal, Lisboa, EDP., 2004, pp.71-72. O automobilismo embora desapareça também do título da Gazeta a sua importância mantém-se nos anos seguintes e no volume anual de 1910 continua em destaque.

[38] Gazeta dos Caminhos de Ferro, nº 1053 de 1 de Novembro de 1931.

[39] No ano de 1910 conta do índice de ano a secção Aviação e Aerostação. Mais tarde, em 1931 a aviação tem uma secção própria, com se pode verificar no índice desse ano.

[40] Rubrica presente na Gazeta desde o seu início até 1922. Mais tarde, em 1932, volta a surgir novamente esta rubrica, desta vez assinada por Augusto d’Esaguy.

[41] Idem, nº 128 de 16 de Abril de 1893, p.119.

[42] “Preciso recordar que ella [excursão] se dirigiu de Lisboa a Luso, Vizeu, Mangualde, Gouveia, Villar Formoso, Salamanca, Barca de Alva, Porto e Lisboa.
Temos pois:
Bilhete circular…………………………………………22$700
Hotel no Luso, 3 dias a 1$200…………………………3$600
Carros no Luso…………………………………………..1$000
Hotel em Vizeu, 1 dia…………………………………...1$200
Carro de Vizeu a Mangualde……………………………..500
Carro de Gouveia á Villa………………………………….300
Cavallo á serra, estando lá um dia…………………...2$000
Guia e gratificações…………………………………….2$000
(Sustento na serra é o que cada qual quizer levar).
Hotel em Gouveia………………………………………1$500
Jantar em Fuentes…………………………………………600
Hotel em Salamanca, dois dias……………………… 2$800
Almoço em Fregeneda………………………………….…600
Jantar no Porto…………………………………………….700
Tres dias no Porto………………………………………5$000
Diversas despezas………………………………………5$500
Total da despeza numa viagem de 15 dias………...50$000
=====
Bem entendido que não incluo extraordinários”.
 
Mendonça e Costa indica, ainda no mesmo artigo, que se o viajante for em 2ª classe, procurar hotéis mais baratos e fizer as visitas a pé, pode economizar cerca de 10$000 réis, o que representaria um pouco mais do que 30% do custo total da viagem. Gazeta dos Caminhos de Ferro, nº 128, 16 de Abril de 1893, p.119.

[43]A Agência Abreu, 1ª agência de viagens em Portugal, fundada no Porto em 1840, tratava essencialmente das viagens em paquete para o Brasil, não estando vocacionada na época para este tipo de roteiros turísticos.

[44] Companhia Real dos Caminhos-de-ferro Portugueses que em 1910 se passou a designar Companhia dos Caminhos-de-ferro Portugueses

[45] De que são exemplo as Feiras e touradas em Badajoz, semana Santa e feira anual de Sevilha, ou as feira anual de Salamanca.

[46] Esta rubrica Consultas, destinava-se a apoiar os assinantes que pretendiam viajar, os quais  se dirigiam por carta à revista colocando as suas questões e pedindo aconselhamento, sendo aqui posteriormente publicadas com as respectivas respostas.

[47] Gazeta dos Caminhos Ferro, nº 223, 1 de Abril de 1897, p. 107. As cidades italianas eram consideradas como destino obrigatório dos viajantes europeus. CAPEL, Horacio, Geografia y Arte Apodémica en el siglo de los viajes, p.13, http://www.ub.es/geocrit/geo56.htm

[48] Gazeta dos Caminhos Ferro, nº 53 de 1 de Março de 1890, p. 74.

[49] Idem , nº 463 de 1 de Abril de 1907, p. 98

[50]  Sobre a riqueza e diversidade de termas existentes na época veja-se de ORTIGÃO. Ramalho, Banhos de Caldas e Águas Minerais (1ª edição de 1875), Colares Editora s/d.

[51] Gazeta dos Caminhos de Ferro, nº 36, 21 de Julho de 1889, p. 186.

[52]Temporada de banhos do mar e águas mineraes em 1890” in Gazeta dos Caminhos de Ferro, nº 154, 16 de Maio de 1894, pp. 156 a 158.

[53] Último artigo desta secção. Gazeta dos Caminhos de Ferro, nº 162, 16 de Setembro de 1894, pp. 296 a 298.

[54] Gazeta dos Caminhos de Ferro, nº 1153 de 1 de Janeiro de 1936, p. 22 e 23.

[55] Idem, nº 492 de 16 de Junho de 1908, p. 181.

[56] Esta modalidade já existia noutros países como os Estados Unidos e Inglaterra.

[57] Gazeta dos Caminhos de Ferro,  nº 35 de 1 de Julho de 1889, p. 165.

[58] Idem nº 31 de 1 de Junho de 1889, p. 103.

[59] Idem, nº 95 de 1 de Dezembro de 1891, anexo.

[60] Idem, em anexo ao nº 155 de 1 de Julho de 1894

[61] Idem, nº 38 de 11 de Agosto de 1889, p.218

[62] Idem, nº 138 de 16 de Setembro de 1893, p. 275.

[63] Refira-se, como exemplo a Gazeta dos Caminhos de Ferro, nº 164 de 16 de Outubro de 1894, p. 327.

[64] Idem, nº 180 de 16 de Junho de 1895, p. 179.

[65] Idem, em anexo ao nº 53 de 1 de Março de 1890. Refira-se que esta tarifa vigorava desde Junho de 1887.

[66] Idem, nº 54 de 16 de Março de 1890. p. 84.

[67] Idem, nº 89 de 3 de Setembro de 1891, p. 267.

[68] Idem, nº 110 de 16 de Julho de 1892, p. 209.

[69] Idem nº 223 de 1 de Abril de 1897, p. 107.

[70] Idem.

[71] Idem, nº 234 de 16 de Setembro de 1897, p.275.

[72] Idem, nº 253 de 1 de Julho de 1898, p.196.

[73] Idem, em anexo ao nº 473 de 1 de Setembro de 1907.

[74] Idem, nº 480 de 16 de Dezembro de 1907, XI.

[75] Idem, em anexo ao nº 515 de 1 de Junho de 1909.

[76] Companhia Real dos Caminhos de Ferro Portugueses, Caminhos de Ferro do Sul e Sueste, Caminhos de Ferro do Minho e Douro, Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses da Beira Alta, Companhia dos Caminhos de Ferro do Porto à Póvoa e Famalicão e Companhia Nacional dos Caminhos de Ferro.

[77] Gazeta dos Caminhos de Ferro, nº 534  de 16 de Março de 1910, p. 88.

[78] Idem, nº 547 de 1 de Outubro de 1910, p. 296.

[79] Idem, nº 550 de 16 de Novembro de 1910, p. 344. Curiosamente podemos ainda ler mais à frente na mesma página do artigo “(…) a sua grande utilização que os povos das diversas regiões do paiz lhe estão dando para as importantes excursões á capital afim de virem saudar o actual governo pela implantação da Republica.”

[80] Designação  resultante da implantação do regime republicano,  que subtraiu a palavra  Real ao nome da Companhia Real dos Caminhos de Ferro Portugueses.

[81] Gazeta dos Caminhos de Ferro, nº 553 de 1 de Janeiro de 1911, p. 8.

[82] Ver como exemplo o nº 563, p. 168.

[83] No número 559 de 1 de Abril de 1911 é divulgada uma excursão académica a Paris, Orfeão Académico de Coimbra e outros elementos desta universidade e também da de Lisboa,  num total de duzentas e cinquenta pessoas.

[84] Gazeta dos Caminhos de Ferro, nº 559  de 1 de Janeiro de 1911, p.105.

[85] Idem, nº 584  de 16 de Abril de 1912, p. 584.

[86] Idem, nº 591 de 1 de Agosto de 1912, p. 236.

[87] Idem, nº 617 de 1 de Setembro de 1913, p. 268.

[88] Idem, nº 633 de 1 de Maio de 1914, p. 186.

[89] Idem, nº 1069 de 1 de Julho de 1932, p. 304.

[90] Idem, nº 1092, de 16 de Junho de 1933, s/n.

[91] Idem, p.315.

[92] Idem, nº 1073 de 1 de Setembro de 1932, pp. 405 a 407.

[93] Idem, nº 1095 de 1 de Agosto de 1933, s/n.

[94] Sobre este assunto, ver Ana Cardoso de Matos e Maria Luísa F.N. dos Santos, “Os Guias de Turismo e a Emergência do Turismo Contemporâneo em Portugal (Dos finais do Século XIX às Primeiras Décadas do Século XX)”, ob.cit.

[95] Como refere Maria del Mar Serrano os guias eram autênticas “viagens de papel”. SERRANO, María del Mar,Las Guías urbanas y los libros de viaje en la Espagna del siglo XIX. Repertorio bibliográfico y análisis de su estructura y contenido, Barcelona,  Universidade de Barcelona, 1993.

[96] Gazeta dos Caminhos de Ferro, nº 441 de 1 de Maio de 1906, p.142.

[97] Sobre os guias Joanne veja-se RAUCH, André, “Du Joanne au Rotard: le style des guides touristiques” in Gilles CHABAUD et alii, Les Guides Imprimés du XVI au XX Siècle. Villes, paysages, voyages, Paris,Belin,2000, pp. 95-100.

[98] Como refere Marc Boyer “La majorité des touristes romantiques apprécient la securité des voyages. Avant de partir, ils prévoient, s’informent. Ils emportent les meilleurs guides ». BOYER, Marc, Histoire de l’invention du Tourisme, s/l, Ed. l’Aube, 2000,  p. 122

[99] Gazeta dos Caminhos de Ferro, nº 516 de 16 de Junho de 1909, p. 182.

[100] Exemplos: Gazeta dos Caminhos de Ferro, nº 469 de 1 de Julho de 1907, p.202; idem, nº 472 de 16 de Agosto de 1907, p.246; idem, nº 617 de 1 de Setembro de 1913, p. 272.


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Ficha bibliográfica:

RIBEIRO, Elói de Figueiredo. A Gazeta dos Caminhos de Ferro e a Promoção do Turismo em Portugal (1888-1940). Biblio 3W. Revista Bibliográfica de Geografía y Ciencias Sociales, Universidad de Barcelona, Vol. XIII, nº 837, 30 de agosto de 2009. <http://www.ub.es/geocrit/b3w-837.htm>. [ISSN 1138-9796].


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