Biblio 3W
REVISTA BIBLIOGRÁFICA DE GEOGRAFÍA Y CIENCIAS SOCIALES
Universidad de Barcelona 
ISSN: 1138-9796. Depósito Legal: B. 21.742-98 
Vol. XV, nº 919, 15 de abril de 2011

[Serie  documental de Geo Crítica. Cuadernos Críticos de Geografía Humana]

 

FESTAS RURAIS E TURISMO EM TERRITÓRIOS EMERGENTES

Maria Geralda de Almeida 
Professora Titular do IESA/UFG
mgdealmeida@gmail.com

Recibido: 20 de junio de 2010. Aceptado: 28 de octubre de 2010.


Festas rurais e turismo em territórios emergentes (Resumo)

Trata-se de algumas reflexões sobre a importância da valorização do patrimônio imaterial, o caso das festas rurais que estão atraindo a atenção do turismo. Apesar do turismo e das festas em suas práticas serem efêmeros, elas marcam significativamente seus territórios. Essa aproximação do turismo com as festas rurais servirá de pretexto para comentar como o patrimônio cultural tem se transformado em forte atrativo para a “turistificação”. Se presentemente as festas rurais se “turistificam” isso tem implicações econômicas, culturais e sociais. Alguns exemplos de festas rurais no Nordeste, Goiás e Minas Gerais ilustram as reflexões da autora. Contudo, conclui-se que as políticas estaduais e municipais revelam pouca valorização e interesse pelas festas mais tradicionais, que não se encontrem inseridas no calendário turístico.

Palavras-chave: festas rurais, território festivo, novas ruralidades, geografia do turismo, Brasil


Fiestas rurales y turismo en territorios emergentes (Resumen)

Este artículo tiene como objetivo tratar de algunas reflexiones acerca de la importancia de la valorización inmaterial, el caso de las fiestas rurales que están atrayendo la atención del turismo. Aunque el turismo y las fiestas sean efémeros en sus prácticas, marcan significativamente sus territorios. Esa aproximación del turismo con las fiestas rurales servirá de pretexto para hablar de como el patrimonio cultural se ha transformado en un fuerte atractivo para la “turistificación”.  Si, actualmente, las fiestas rurales si “turisfican”  eso tiene implicaciones económicas, culturales y sociales. No obstante, las políticas estaduales y municipales muestran poca valorización e interés por las fiestas más tradicionales, que no están insertadas en el calendario turístico.     

Palabras-clave: fiestas rurales, territorio festivo, nuevas ruralidades, geografía del turismo, Brasil


Rural festivals and tourism and of emerging territories (Abstract)

This article is all about the reflections on the importance of valuing the immaterial heritage in face that the rural festivals themselves have become an attraction for tourism. Despite that event tourism and the festivals are regarded transient occurrences, they significantly contribute to local territories. These ties of tourism with the rural festivals will be used as a justification for making comments on how the cultural heritage has been transformed in an appealing attraction in tourism development, a type of “touristification”.  If the rural festivals have currently been under a process of “touristification”, consequently this has social, cultural and economic implications. Notwithstanding, municipal and state policies have given little attention and importance to long-established festivals which haven’t been part of the official tourism calendar.  

Keywords: rural festivals, festive territorities, new ruralities, tourism geography, Brazil


Neste artigo, pretende-se apresentar alguns argumentos sobre a importância da valorização do patrimônio cultural, enfatizar o caso das festas rurais que têm a pretensão de serem locais e estão atraindo a atenção do turismo. Tanto as festas quanto o turismo em suas práticas são efêmeros, porém, marcam significativamente seus territórios. Essa aproximação do turismo com as festas rurais servirá de pretexto para comentar como o patrimônio cultural tem se transformado em forte atrativo para a turistificação. Com este estudo, alguns exemplos evidenciarão como as práticas culturais, caso das festas rurais, existem e como elas manifestam sua existência e dinamismos sociais. Se presentemente elas se turistificam, a natureza delas muda nos territórios emergentes para o turismo.

O turismo no espaço rural é considerado um fator importante para tentar, de alguma forma, dinamizar a economia de pequenas propriedades rurais ― ao se tornar uma atividade complementar de renda entre as famílias, desacelerar o êxodo rural e proporcionar uma melhoria na qualidade de vida da população local. Mais recentemente, ao turismo tem-se agregado a qualidade de revalorizar a cultura local e de contribuir para preservar o patrimônio daquela população rurícola.

As festas, aquelas tidas como patrimônio da população, despertam o interesse dos agentes promotores do desenvolvimento e de gestores municipais. Estes atores, face à repercussão do evento, à sua capacidade de mobilizar pessoas, comércio e serviços e, em certos casos a Igreja, investem no sentido de transformá-las em um evento-vitrine do sucesso de sua gestão. A festa, para todos, é entendida como um código sociocultural e simbólico, impresso e produzido no espaço geográfico.  

Além de sua condição de bem cultural da população, existe ainda a autenticidade, um qualitativo apreciado pela atividade turística e os seus promotores, nas festas, têm vislumbrado um outro produto turístico. Turismo de emoções, turismo de memória, turismo intercultural, turismo solidário, turismo da diversidade são os novos termos que procuram espelhar a variedade de ofertas turísticas. Eles exprimem novos valores e necessidades dessa prática social e, simultaneamente, a atividade econômica.  


Festas e patrimônios na dimensão do turismo

Etimologicamente, festa dhies é um dia de celebração marcado por um contexto religioso. Em latim, le dies festus é o dia “tocado” de um signo especial. É o dia da demonstração pública pela qual se deseja “tocar” o espírito do próximo, atrair fortemente sua atenção, mostrar evidência, fazer a celebração triunfar, de manifestá-la. 

A festa testemunha as crenças coletivas, as representações do sagrado, próprias de uma comunidade ou da maioria de seus membros. A festa comunitária possui, de fato, a capacidade de produzir símbolos territoriais nos quais o uso social se prolonga além de seu acontecimento. Esse simbolismo festivo identifica e qualifica os lugares, os sítios, os monumentos, as paisagens e os lugares ordinários como uma fazenda, um povoado, uma capela.

De acordo com Piette (1988), a festa se inscreve em vários interstícios. Primeiramente, em um interstício de sentido social, entre o significado e o significante de um fenômeno distinguido pelos contentamentos que mascaram sua significação original como a natureza profunda da sociedade que o produz. Segundo, a festa imprime, também, um interstício específico e original no espaço-tempo do sistema social. Durante a festa os comportamentos humanos realizam inversões, adquirindo uma tessitura particular que, sem ser semelhantes àqueles da vida quotidiana, criam uma ruptura forçosa com aqueles comportamentos.

 Fiel à sua lógica, a festa tem um papel ambíguo com relação à alteridade. A festa cultiva os particularismos. Ela lembra, simultaneamente, o ser e a diferença de um grupo, como na prática turística. Nas festas, nas palavras de Paes (2009), as identidades culturais esquecidas emergem como objetos de consumo valorizados na mercantilização turística dos territórios e ganham novas dimensões.

Em revanche, para alguns a festa rompe com o cotidiano ao criar um espaço-tempo governado provisoriamente pela ficção, pelas reviravoltas ou inversões das situações, dos papéis e das posições seja pelo absurdo, seja pela alegria. Nesse sentido, a festa cria a novidade. Ela oferece oportunidades de mudanças que, para Duvignaud (1991), desembocam, em um mundo sem estrutura e sem código, as grandes instâncias da subversão. A festa seria metafórica do caos, portadora de incertezas, mas também de inovação escondida na fantasia criadora que caracteriza a festa. Essa interpretação se delineará na descrição das festas de vaquejadas presente neste artigo. Porém, qual que seja sua função e poder social, a festa quando um bem cultural constrói um território singular, efêmero, mas intenso na sua existência.

Além do mais, por ser um patrimônio, isto é, dotada de um valor singular qualquer para aqueles que a celebram,  representa um testemunho, um registro de ordem espiritual, moral, do qual compartilha uma sociedade ou parte dela.O bem cultural é diverso e único e torna-se uma das dimensões de uma identidade.

Uma identidade cultural possui componentes que formam um todo integrado, interrelacionado e único como a língua, a história, o território, os símbolos, as leis, os valores e as crenças e os elementos tangíveis, incluindo a tecnologia, edificações, materializações da visão de mundo de uma dada sociedade. O patrimônio cultural é, nesta perspectiva, para Vallbona e Costa (2003, p. 10), “o repertório inacabado de testemunhos materiais e imateriais que constituem as referencias da memória coletiva, o acúmulo das experiências que estas sociedades guardam em sua retina”.

Conclui-se, pois, que não é possível o entendimento de bens culturais sem considerar os valores neles investidos e o que representam - a sua dimensão material; e, da mesma forma, não se pode entender a dinâmica do patrimônio imaterial sem o conhecimento da cultura material que lhe dá suporte.

A UNESCO (2005, p.3), em uma definição mais ampla do patrimônio, o considera como “o conjunto de elementos naturais e culturais, tangíveis e intangíveis, que são herdados do passado ou criados recentemente”. Tal definição aproxima-se do que consta na Constituição brasileira de 1988, que no texto constitucional, artigo 216 diz: “constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira [...]”. Por esses elementos, os grupos sociais reconhecem sua diversidade cultural e, uma vez assumidos e materializados, são transmitidos, no presente, às gerações futuras.

Na sociedade contemporânea, renova-se o interesse pelo patrimônio cultural, face às atuais discussões sobre as identidades e alteridades no mundo globalizado. De acordo com Fabre (1994), apesar de nossas sociedades se definirem como modernas, ou seja, engajadas em um processo contínuo de transformação histórica, elas são também sociedades de conservação. A febre patrimonial crescente é a forma presente deste apego com o passado. Em outras palavras, o patrimônio constitui-se nova base de reafirmar a identidade e a patrimonialização é um recurso para a conservação de símbolos e signos culturais.

 Simultâneo a este movimento, devido ao processo de globalização atual, instiga-se as dinâmicas de procura da autenticidade e dos desejos de reencontro com o passado, com as raízes de uma cultura componente de uma identidade, com o diferente possível, sobretudo, por meio da prática turística.

O patrimônio cultural convive com a concepção de contemporaneidade e seu uso e desfrute atual está muito vinculado ao turismo. A atual turistificação do patrimônio contribui para sua mercantilização. O valor que os bens culturais possuem, por um lado, é o que a sociedade por suas práticas sociais lhe atribui e, por outro lado, é o definido pelos interesses da lógica do mercado. Assim, o turismo, na sua lógica consumista, reinventa o patrimônio cultural.

O turismo é um fenômeno social que manifesta um crescimento constante. É considerado uma importante fonte de riqueza econômica e oportunidade para impulsionar áreas deprimidas nos aspectos econômico e social, por isso, ele tem sua importância como fator econômico. Nesse cenário turistificado, ao patrimônio cultural atribui-se o papel de motor de desenvolvimento econômico e social. O valor do patrimônio cultural tem, pois, uma nova dimensão: a econômica, que subjaz a idéia de competitividade, capaz de captar um dado fluxo turístico.

Assiste-se, atualmente, conforme já disse, um manifestado interesse dos detentores de um patrimônio cultural pela sua conservação, sua proteção, sua restauração e divulgação dos elementos que lhe dão melhor credencial para se incluir no mundo globalizado. Com essa concepção, usam-se e abusam-se do patrimônio, já que ele é aliado da prática do turismo. Diante disso, considera-se que, para e pelo turismo, muitos lugares foram inventados como turísticos. Centros de peregrinagens, festas e tradições folclóricas, festivais gastronômicos, monumentos artísticos e simbólicos, lugares de romarias e de celebrações transformaram-se em atrativos turísticos. Os bens que integram esse patrimônio são utilizados como recursos que constituem ou complementam a oferta de serviços. Novas ofertas de caráter cultural, lúdico e recreativo são atrativas para a população e, portanto, a ela são oferecidas. Assim, muitos elementos patrimoniais constituem marcas identitárias de um lugar e funcionam como instrumentos de marketing orientados a darem a conhecer e atrair recursos financeiros exteriores. Nessa condição, estão as festas públicas, que possuem grande visibilidade. Elas serão comentadas posteriormente.

Villabona e Costa (2003) comentam que essa apropriação do patrimônio cultural pelo turismo é uma decisão estratégica, vinculada a um processo socioeconômico mundial que é, segundo expressão deles, a turistização: quando o turismo integra-se profundamente na economia local, convertendo-se na principal atividade do lugar, potencializa e revaloriza o patrimônio cultural. Existem, contudo, algumas controvérsias sobre esse assunto.


A construção do território simbólico

O território resulta de uma apropriação econômica, ideológica e sociológica do espaço por grupos que nele imprimem sua cultura e sua história. O território é esse espaço social e vivido.

Di Méo (2001), a esse entendimento agrega quatro significações suplementares: primeira, o território é um conceito construído com base em dados geográficos e na inserção de cada sujeito em um grupo ou mesmo vários grupos de referência. Essa relação social e espacial define o sentimento de pertencimento e de identidade coletiva. A experiência concreta do espaço social condiciona também a relação com os outros, a nossa alteridade. Segunda, o território traduz um modo de delimitação e de controle do espaço, garantindo a especificidade, a permanência e a reprodução dos grupos humanos que o ocupam. É sua dimensão política. Construído pelas sociedades que sucessivamente nele investiram, o território constitui um remarcável campo simbólico, a qual integra a  terceira significação. Alguns de seus elementos, instaurados em valores patrimoniais, contribuem para fundar ou reforçar o sentimento de identidade coletiva dos homens ali territorializados. A quarta significação é a importância do tempo longo da história, necessário para que ocorra a construção simbólica dos territórios. Di Méo (2001), para reforçar essa significação, faz remissão à consideração de Marié (1982), que pondera: “o espaço necessita de espessura do tempo, de repetições silenciosas, de maturações lentas, do trabalho do imaginário social e de norma para existir como território.”

No caso das festas, elas delimitam um espaço social, realizam-se na existência de uma identidade territorial construída na singularidade dos grupos sociais que territorializam, mediante o uso, os lugares.

Mais que uma geografia concreta, porém, a festa engendra e constitui uma geografia simbólica e o espaço é revestido de uma dimensão mítica. Nos espaços rurais, a festa contribui para forjar os espaços relacionais da localidade. Ela os constrói em torno dos universos políticos e ideológicos, tais como a cidade, o bairro, o povoado, a fazenda. Nessas configurações, a lógica econômica participa, contudo, a história e a memória contam, e com todo o seu peso. Com a festa, os bairros se esforçam para proclamar a sua cidade, os lugarejos convergem em direção aos centros, os povoados se reúnem para celebrar a unidade do lugar. A festa apaga a separação do espaço público e dos domínios privados. Ela inverte, naquela localidade, as relações de força e de poder entre as classes sociais,  ela evidencia novos atores, rompe as barreiras sociais e cria ou renova outros laços. Para o não pertencente àquela localidade, no caso do visitante ou do turista, a acolhida, o contato com o outro em um mundo festivo são excitantes e prazerosos. Eles comungam de uma identidade territorial com o território da festa enquanto esta ocorre.

 Ritos e cerimônias destacam as ações dos grupos locais sobre o espaço da festa. A territorialização da festa rural está delimitada pela ornamentação de bandeirolas e palmas ao longo dos caminhos e entradas das casas e das fazendas; pelos ranchos de palha construídos para as prendas, para os leilões e para a venda de comida; nos ranchos da festa e o trajeto decorado da procissão; pelo percurso das folias ao fazer seus “giros” e pernoites nos “pousos” das fazendas marcados pela cantoria, forrós e comida; na presença da fogueira e no local definido para as danças da quadrilha e do forró. Elementos visíveis traduzem um modo de delimitação e de controle do espaço, a especificidade da festa, a permanência e dos grupos sociais ali presentes que o ocupam na festividade.  Esses exemplos são testemunhos de que, na festa, notadamente nos desfiles e cavalgadas com seus pousos, itinerários mais ou menos fixos, há uma apropriação simbólica do espaço por uma coletividade. Essa apropriação produz o território festivo, conforme já foi dito.

A festa participa plenamente do processo de construção simbólica dos territórios da localidade. Construções simbólicas e construções políticas, porém, frequentemente estão juntas porque o território se identifica, sempre mais ou menos, a um instrumento de poder que se exerce sobre os homens, e a festa, na sua territorialidade constitui uma manifestada forma de política conduzida pela comunidade.

A festa é uma maneira de construir relações com as sociedades e com os territórios vizinhos, visto que ela mostra suas singularidades em uma relação de alteridade. Nesse processo de identificação social pela diferença com os demais, a festa configura-se como espaço e como lugar. É um lugar tornado visível. Além disso, a festa proclama um nome, momentaneamente um território festivo descolando-o do contexto geográfico.


As festas rurais e as aproximações com o turismo

As festas constituem um espaço-tempo intersticial da vida social. O que caracteriza, sem dúvida, este espaço-tempo da festa é sua delimitação perfeita, sua separação radical do espaço-tempo ordinário, rotineiro. A festa, pelo que já foi dito ate o momento, ocorre desde que haja um grupo social que comunga, ainda que temporariamente, do encantamento por algo singular ou que se deixe deslumbrar por um fato ou fenômeno dotado do especial para ele para ser celebrado, tanto  na cidade quanto no campo. 

Para a distinção entre o rural e o urbano, até recentemente considerava-se como critério as funções, os setores econômicos, a infraestrutura e serviços existentes. Contudo, Beni (2001) e Tulik (1997) alertaram sobre as transformações contemporâneas em ambos os espaços de modo que os limites entre rural e urbano não são absolutos. Neste artigo, o entendimento sobre o rural terá como base a consideração proposta por Veiga (2003), ao afirmar que o Brasil é indiscutivelmente rural, formado por 80% dos municípios que possuem menos de 20 mil habitantes e, nos quais, residem 30% dos brasileiros. Por isso, o autor entende como rural os municípios com populações inferiores a 20 mil habitantes e que possuem baixo índice de pressão antrópica, revelador do grau de urbanização dos territórios. As festas denominadas rurais situam-se pois, neste universo de aglomerados urbanos com menos de 20 mil habitantes.

Do ponto de vista socioeconômico, o processo da globalização da economia e a evolução tecnológica não promoveram, ainda, o desenvolvimento local, sobretudo em pequenos municípios que, na sua maioria, têm a agricultura em pequena escala, como principal fonte econômica. Neles, e ilustrando com o Brasil, gradualmente, emergem a multifuncionalidade e a pluriatividade com a inserção de atividades não agrícolas para agregar renda e emprego e, jovens agricultores pela adoção de atividades remuneradas nos meios rural e urbano. Em vários desses municípios, a sugestão desenvolvimentista tem sido para a atividade turística.

 A dinamicidade do turismo e os avanços dessa atividade, guiados por interesses e motivações que se espraiam em espaços independentes do rural ou do urbano, tornam-no uma nova atividade econômica propícia para desenvolver seus objetivos. Campanhola e Silva (1999) defendem a idéia de que o turismo no meio rural é uma forma de valorização do território. Essa consideração contribui para a proteção dos recursos naturais e para a conservação do patrimônio natural, histórico e cultural do espaço rural.  É o caso das festas rurais em vários locais do país como as festas juninas, as congadas, as folias rurais, as catiras, as romarias e os festejos dos santos padroeiros, as quais  atribuem aos espaços identidades territoriais e valorizam os bens culturais.

As festas rurais, pelos seus aspectos interativos e populares é sempre um importante instrumento de consolidação das identidades coletivas. Realizando a festa, considerada tradicional, os “antigos” procuram manter a tradição e, para os “jovens”, é uma excelente ocasião de fazer novos conhecimentos e efetuarem a integração às tradições religiosas.

Paes (2009) ressalta que, no processo contemporâneo de valorização turística das identidades territoriais expressas nas festas, esse patrimônio é acionado pelos políticos como bandeira de pertencimento territorial no universo simbólico, e também político, das práticas socioculturais. Em vários pequenos municípios, a festa do santo padroeiro é, sobretudo, o meio e o pretexto para reunirem-se os filhos ausentes do município em torno dos residentes.

Considera-se o caso das festas de São Sebastião e do campazulense, realizadas nos dias 20 e 21 de janeiro, respectivamente, em Campo Azul, município de 3.828 habitantes (IBGE, 2007), no Norte de Minas Gerais. A festa inicia-se, geralmente, um ano antes com a indicação dos festeiros, entre as famílias ilustres do lugar, para organizarem as atividades festivas e darem o tom da festa. Sob o comando deles, todos participam e colaboram ativamente para o sucesso da celebração. A festa funciona, assim, como uma verdadeira catarse, desmontando os conflitos. A ritualização quase sistemática do significante festivo tende a normalizar as relações sociais que o sustentam O prefeito, excluído da organização, é um dos parceiros principais no suporte de parte dos recursos financeiros.  No clímax da festa, uma semana antes da data comemorativa do santo, iniciam-se os leilões com as prendas fornecidas pelos “noiteiros”, isto é, famílias locais, indicadas para assegurarem os bens a serem leiloados. Os leilões animam as noites. Na semana de São Sebastião, intensificam-se as atividades com as vaquejadas, os forrós, as orações, culminando-se com a procissão ao referido santo. Na madrugada do dia 21 de janeiro, a alvorada do dia do campazulense ausente é feita com muita música pelas ruas, despertando as pessoas e convidando todos para a farofa com café; em seguida, tem-se a procissão dos cavaleiros e a missa campal. Neste dia, a comida típica da região, arroz com carne e pequi, é servida à vontade nas barracas montadas pelos organizadores com o apoio da prefeitura municipal. A festa encerra-se no dia 22 com um festival de cerveja. A bebida é fartamente consumida entre os presentes.

A festa dispõe-se de múltiplos meios para territorializar os espaços sociais da localidade. Os processos de unificação territorial consistem tanto em apagar as fronteiras que separam os espaços públicos dos privados quanto em “reverter a ordem das posições e das topografias no espaço social”, nas palavras de Di Méo (2001, 56). As preparações coletivas dos espaços da festa e das refeições e, quando essas são feitas em comum no ápice da festa, demonstram a intencionalidade da celebração de proclamar um território comum a todos sem barreiras privativas.

O clima de alegria, de reencontro e de solidariedade predomina com tal intensidade em Campo Azul, naqueles dias, que contagia mesmo aqueles que comparecem pela primeira vez. Nos visitantes, o desejo do retorno é imediatamente manifestado. Os “filhos da terra”, orgulhosos da hospitalidade dos conterrâneos, comparecem com amigos, conhecidos que asseguram a animação da festa. Divulga-se a acolhida calorosa dos campazulenses e a festa atrai cada vez mais pessoas que não têm uma identidade territorial com Campo Azul.

Para os campazulenses, tal festa tornou-se um sucesso que extrapolou o local, o que se confirma pelo número de visitantes vindos de São Paulo, Goiás, Rio de Janeiro e da capital Belo Horizonte entre outros locais. Para esses visitantes, o espetáculo é a festa tradicional com a grande valorização do filho ausente festejado. Sem vínculo com o significado, o visitante se espanta com tamanha demonstração de respeito e de carinho dados aos ausentes. São atrativos que o motivam a regressar ao lugar e, nessa situação, pode-se afirmar que ocorre a captura da tradição pelo turismo. Assim, reinventa-se o rural festivo fortalecido pela existência palpável das solidariedades internas e o principal: valoriza a imagem de Campo Azul aos olhos do exterior.

A presença de turistas, contudo, não conduz ao interesse em mudanças da festa e tampouco do seu território, embora essa festa tenha ganho outras escalas, conforme foi mencionado acima. Por ser uma festa de pessoas que se conhecem e querem fortalecer uma identidade territorial, mantendo os vínculos familiares, as hospedagens são feitas com parentes e amigos. A inexistência de rede hoteleira para se beneficiar do momento festivo contrapõe-se com o pequeno comercio local intensamente aquecido naquele periodo.  Simbolicamente, a festa intensifica os laços de amizade, consolida as antigas territorializações e participa ativamente daquelas em curso.

Para outra ilustração, foram consideradas as Folias, tradicionais festas que se realizam em São Paulo, Minas Gerais, Goiás, entre outros, um bem cultural de origem rural. Os ritos, nelas presentes, persistem rurais.  Dentre os estudiosos que têm documentado as Festas e Folias de Reis estão Brandão (2007) e Pessoa (1993).

Aqui o recorte é para as folias realizadas em várias localidades do estado de Goiás. Aliás, festas rurais em um meio urbano é uma característica peculiar neste estado que, a despeito de sua urbanização e modernização crescentes, mantém as raízes no rural. No caso da Região Metropolitana de Goiânia (RMG), mesmo com o peso vigoroso de Goiânia, uma metrópole de mais de um milhão de habitantes, nota-se que várias festas permanecem, ainda, com uma característica rural, visto que celebram produtos agrícolas, atividades rurais, o homem ou a mulher com sua prática cultural do meio rural, os santos e a tradicional exposição agropecuária. Como exemplos de festas com perfil rural têm-se as várias Festas de Quadrilhas, de Peão e de produtos agrícolas para alimentos na época de colheitas (Tabela 1).

 

 

Tabela 1. Festas Cíclicas (FC) e profanas (FP) da Região Metropolitana de Goiânia

MUNICÍPIO              

NOME DA FESTA

TIPO FESTA*

Aparecida de Goiânia

Rodeio-show

FP

Abadia de Goiás

Aniversário da Cidade

FC

Aragoiânia

Aniversário de Emancipação

FC

Goiânia

Exposição Agropecuária

FP

Goianápolis

Festa do Tomate de Goianápolis

FC

Inhumas**

Dia do Aniversário da cidade

FC

Guapó

Festa Junina

FC

Goianira

Festa do Peão

FP

Hidrolândia

Tradicional quadrilha

FC

Festa de Peão/Igrejinha do Bonito

FP

Festa das Fiandeiras  xxxxxxxxxxxxx

FC

Festa da Jabuticaba

FC

Nerópolis

Aniversário da Cidade

FC

Santo Antônio de Goiás

Torneio Leiteiro

FC

Festa do Milho

FC

Senador Canedo

Rodeio da Cidade

FP

Caminhada de cavalos

FC

Aniversário da Cidade

FC

Rodeio da Cidade

FP

Trindade

Aniversário da Cidade

FC

* FC = Festa Cíclica; FP = Festa Profana,
**Inhumas: Região de Desenvolvimento Integrado                                                  
Obs. Em destaque as festas de perfil rural.

Fontes: Informações de Prefeituras, de secretarias de turismo e de igrejas da RMG, 2009.

 

Se retoma as conclusões de Veiga (2003) sobre a possibilidade de o Brasil ser mais rural do que se calcula, as informações sobre a presença dessas festas ilustram que no lúdico, no trabalho ou na prática cultural, o rural ainda perdura, celebrando-se nas cidades. A incidência de festas de perfil rural, mesmo com a expressiva urbanização da RMG, destaca-se fortemente em meio aos eventos cívicos.

 No que diz respeito ao Calendário de Festas (Tabela 2), percebe-se um expressivo número de Folias de Reis em toda a Região Metropolitana.

 

Tabela 2. Calendário de Festas de Folias e de Santos Reis da Região Metropolitana de Goiânia-2009

MUNICÍPIO

NOME DA FESTA

Aparecida de Goiânia

Folia de Reis

Goiânia

Encontro de Folias de Reis / Giros de Folias

Goianápolis

Festa de Santos Reis

Guapó

Festa de Santos Reis

Inhumas*

Folia de Reis Luizinho / Folia de Reis Wilson Bispo

Hidrolândia

Festa de Santo Reis;

Nerópolis

Folia de Reis / Folia Baiana

Santo Antônio de Goiás

Folia de Reis

Senador Canedo

Folia de Reis (da Dona Roxa) / Folia na Morada do Morro

Trindade

Santos Reis e Folias

*Inhumas: Região de Desenvolvimento Integrado

 Fontes: Informações de Prefeituras, de secretarias municipais de turismo e de igrejas, 2009.


A Folia de Reis tem sua origem no ato de relembrar os relatos bíblicos da jornada dos Reis Magos a Belém para presentear e adorar o Menino Jesus. Assim como as demais festas, as folias foram implantadas pelos portugueses durante a colonização, conforme afirma Jurkevics (2005), sendo, inicialmente, uma festa urbana levada para o meio rural. Assiste-se, pois, seu retorno ao urbano.

A principal característica dessa manifestação religiosa e festiva está na dinâmica dos “giros”. Estes consistem no percurso dos foliões para o rito de adoração ao Messias com início nas vésperas do Natal e prosseguem até dia 6 de janeiro, dia de Reis. Durante os giros, os foliões visitam casas de devotos, rezam e cantam versos em adoração a Deus.

De acordo com Jurkevics (2005), o formato dos Grupos de Folias trazido para o país durante o período colonial consiste em um cortejo, em que à frente sai o alferes da bandeira carregando o estandarte. Em seguida, os palhaços, com roupas coloridas e máscaras assustadoras, saltitam, dançam e animam o grupo. Atrás, vão os demais foliões com seus instrumentos musicais. Durante as visitas às casas dos devotos, os foliões cantam músicas distintas para cada momento, que são três: a saudação, o agradecimento, a despedida. Os devotos, geralmente, servem lanches para os foliões e seus acompanhantes. No caso de pousos, prevê-se um jantar e, às vezes, um forró animado após a apresentação dos foliões caso ocorra no meio rural.

 Em Goiânia, o Encontro de Folias é comemorado há oito anos. Ele é realizado no mês de janeiro com eventual variação para o início do mês de fevereiro. Em 2009, participaram do Encontro de Folias 54 grupos, sendo 21 de Goiânia e 34 de outros municípios do estado. A participação de folias de Goiânia no evento soma um total de 39% dos grupos que se apresentam; os municípios pertencentes à RMG somavam aproximadamente 19%, e os demais 42%. A festa é promovida pela Prefeitura de Goiânia por meio da Secretaria Municipal de Cultura juntamente com Comissão Goiana de Folclore, unidos com o propósito de valorizar o patrimônio cultural imaterial e dar continuidade a essa tradição rural no estado. A folia participa tanto da reprodução espacial quanto da reprodução social dos grupos territorializados.

Isso não impede, contudo, de o Encontro de Folias atrair, além dos adeptos, os turistas. O Encontro de Folias desvela as “arquiteturas” espaciais e territoriais, de natureza social, que, forçosamente, não aparecem no cotidiano. Neste sentido, a festa confere ao território uma lisibilidade luminosa e exemplar, transparente. O que caracteriza, antes de tudo, o evento festivo, no caso as folias, é que ele se inscreve sempre nas lógicas sociais do momento e entra no processo de fabricação permanente das relações espaciais e dos territórios. Sua ritualidade, as normas precisas que regem seu acontecer, seu calendário rítmico, seu espaço mais ou menos fixo constituem um instrumento privilegiado de reprodução dos fenômenos sociais e territoriais.

Apesar de haver esse encontro anual, as Folias de Reis, assim como as demais festas consideradas como patrimônio imaterial, ainda padecem de ações efetivas amparadas por políticas públicas, em todas as esferas governamentais.

Outra festa tradicional nos sertões da caatinga é a vaquejada. Essa festa, que teve origem no sertão nordestino com a labuta na criação de gado, expressa uma representação cultural arraigada do sertanejo constituindo em uma prática lúdica rural. O surgimento das vaquejadas tem a origem com a procura dos animais bravios na caatinga. Andrade (1986, p. 122) assim a relata: o animal bravio selvagem, o “barbatão” que logo ganhava fama, atraindo os vaqueiros mais em sua perseguição. Para a sua captura convocavam-se vaqueiros das várias ribeiras que em verdadeira festa iam perseguir o animal bravio. O que o derrubava, além de grande fama recebia como prêmio, ou o animal vencido, ou uma importância em dinheiro.

Da apartação do gado, nasce uma festa que perdura ainda na pós-modernidade. As vaquejadas consistiam em rituais de sociabilidade e entretenimento, não excluindo a presença dos fazendeiros. Esta é uma festa da cultura popular organizada pelas camadas desfavorecidas da sociedade. Como cita Machado (2002, p. 344) “a festa é um dos momentos de realizar o encontro com as raízes fundantes, de estabelecer parceiros, de (re)construir uma humanização perdida”. O trabalho torna-se festa, a seriedade do trabalho como cumprimento da obrigação transforma-se em alegria. Essa alegria se reveste no encontro com os amigos, na demonstração de habilidade, de destreza, de vigor físico dos sertanejos. A festa é um jogo do qual todos participam, sendo considerada para os vaqueiros uma brincadeira. Almeida (2003) relata essa festa nos sertões de Sergipe como é apresentada a seguir.

Resistindo como a caatinga, essa tradição cultural típica do século XIX permanece no Sertão. As vaquejadas são organizadas pelas comunidades rurais. São divulgadas em panfletos ou de forma direta. Os atores são os típicos vaqueiros que vivem e sobrevivem nas áreas rurais, nos povoados e nos pequenos centros urbanos.

A partir do mês de agosto até o mês de dezembro, semanalmente, acontece uma festa de vaqueiro em uma comunidade. A concentração das festas nesse período decorre da caatinga apresentar-se mais verde, mais fechada. O local da vaquejada ganha animação e nele destacam-se os vaqueiros. Estes continuam a usar os seus trajes típicos, os conhecidos “ternos de couro”. Antes da corrida no mato, neles passam o sebo, gordura crua de boi, para que deslizem melhor no confronto com galhos e espinhos da caatinga.

Apesar da concorrência das festas reinventadas,  a vaquejada tradicional resiste e a sua resistência está relacionada com a identidade cultural, reforçada pelas relações de proximidade existentes nas comunidades rurais.  Nessas terras de homens lentos, a vida social e os reencontros múltiplos ocorrem em escalas reduzidas. O predomínio das relações de vizinhança, de proximidade na comunidade e nas circunvizinhas é uma motivação para realizar as vaquejadas e reelaborarem as relações durante as vaquejadas.

Além das vaquejadas, realizadas pelos vaqueiros no meio rural, em Sergipe, destaca-se, ainda, a Festa do Vaqueiro promovida anualmente no mês de setembro, no município de Porto da Folha, pela Sociedade Nilo dos Santos. Na primeira realização da festa, compareceram poucos vaqueiros da própria redondeza e foram soltos três bois na caatinga. Atualmente, a reputação da festa atrai vaqueiros dos demais Estados Nordestinos para a vaquejada e são soltos na caatinga mais de cem bois. Continua a ser realizada a missa do Vaqueiro e o desfile destes pelas ruas da cidade. O número de participantes é de 300 a 500 vaqueiros. A festa estende-se de sexta-feira a domingo cogitando sua ampliação. Ao tornar-se uma atração turística do município, os membros da Sociedade recebem o apoio da Prefeitura Municipal e dos órgãos públicos e privados do Estado de Sergipe.

Progressivamente, foram inseridos outros aspectos culturais na festa em virtude da sua proporção, como a apresentação de bandas country, de forró, e outros shows de artistas não regionais. Convém destacar que a Festa do Vaqueiro representa o maior evento dos vaqueiros do estado de Sergipe. Aqueles vaqueiros que se destacam nas vaquejadas realizadas nos povoados almejam participar do evento devido à visibilidade que podem adquirir na festa.

Com a inserção dos pastos plantados, há uma redução significativa de área de caatinga e das vaquejadas na região nordestina. A festa é reinventada nas áreas urbanas, onde se utiliza o mesmo nome. Devido a isso, a exemplo das folias em Goiânia, ocorre a inserção do rural no urbano e a sua discussão, da reinvenção dessa festa na Paraíba, foi realizada por Maia (2003). A festa reinventada tem o seu público, seus rituais e tradições, e o rural no urbano representa a forma moderna da festa do vaqueiro. Ela se torna um espetáculo apoiado em um marketing intenso e de forte apelo turístico. Ao mesmo tempo, torna-se um fator de exclusão social e econômica do vaqueiro tradicional.

A festa reinventada nas cidades não eliminou o vaqueiro “encourado” em Sergipe, com suas festas de vaquejadas de tradição genuína. Atraentes para o turismo, este principia a delinear seu território e avançar sobre a Festa do Vaqueiro, na qual já são inseridas novas atrações consideradas atuais, o que faz os espetáculos paralelos e o número de dias de festa crescerem. Assim, emerge-se um território turístico no sertão sergipano.


Considerações finais

O turismo ainda não constitui um instrumento para a visibilidade do patrimônio imaterial no Brasil e, apenas recentemente, começou-se a haver interesse em implementar uma política de valorização do patrimônio em parceria com os Ministérios da Cultura e do Turismo. As festas de caráter rural são marginalizadas da vida pública e das políticas culturais de modo geral. Utilizaram-se, neste estudo,  ilustrações, nas quais o turismo, em momentos distintos constrói seus territórios em níveis diferenciados. Nos calendários festivos dos municípios interioranos, apenas aquelas festas tidas como expressivas de uma identidade territorial, e serem um bem cultural, persistem devido ao interesse local de poucos. É inegável a necessidade de serem valorizadas por constituírem a memória do povo, de uma história e de um tempo da sociedade contemporânea. Isto é,ela espelha um dada identidade local.

Além dessas considerações, é evidente a preocupação econômica com o desenvolvimento do turismo. Contudo, as políticas estaduais e municipais em andamento, de modo geral, revelam pouca valorização e interesse pelas festas mais tradicionais, que não se encontrem inseridas no calendário turístico local ou estadual. Isso pode supor que tais manifestações culturais, no entender dos agentes do turismo, não se constituem, ainda, promotores econômicos. Com o acelerado interesse por novos produtos turísticos, porém, é uma questão de tempo para que ocorra a captura das festas rurais pela prática turística. Novos territórios configuram-se no horizonte turístico do espaço rural.


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[Edición electrónica del texto realizada por Manuel Sánchez Gómez y Miriam-Hermi Zaar]



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Ficha bibliográfica:

ALMEIDA, Maria Geralda. Festas rurais e turismo em territórios emergentes. Biblio 3W. Revista Bibliográfica de Geografía y Ciencias Sociales, Universidad de Barcelona, Vol. XV, nº 918, 15 de abril de 2011. <http://www.ub.es/geocrit/b3w-919.htm>. [ISSN 1138-9796].