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Scripta Nova. Revista Electrónica de Geografía y Ciencias Sociales.  Universidad de Barcelona [ISSN 1138-9788] 
Nº 87, 15 de abril de 2001. 

A ADOÇÃO DO FUTEBOL NA ESPANHA: O PAPEL DAS REDES E DA
CONFIGURAÇÃO DO TERRITÓRIO

Gilmar Mascarenhas de Jesus


A adoção do futebol na Espanha: o papel das redes e da configuração do território (Resumo)

Com inserção periférica na economia européia e dotada de vários portos, a Espanha apresentava, no final do século XIX, uma configuração territorial particularmente favorável a que as inovações "civilizadoras" fossem introduzidas no país quase simultaneamente por distintas vias ou "portas de entrada". Neste artigo, pretendemos especificamente dimensionar o peso da configuração territorial espanhola e a influência das redes internacionais (principalmente as relacionadas ao imperialismo britânico) para comprender alguns aspectos do processo de adoção do futebol neste país, identificando centros e agentes difusores (externos e internos) etapas e formas de difusão desta inovação. Trata-se de um primeiro passo no sentido de compreender a introdução do futebol na Espanha a partir de uma abordagem geográfica.

Palavras-chave: Espanha/ configuração territorial/ difusão de inovações/ adoção do futebol.


The adoption of football in Spain: the role of networks and territorial configuration (Abstract:)

At the end of the 19th century, Spain had several seaports and was a peripheral country in the European context. Therefore, Spain showed a particularly favourable territorial configuration to the introduction of civilising innovations at the same time through several gateways and by different forms. In this article, we intend to evaluate the role of Spanish territorial configuration and the influence of international networks (mainly those linked with the British imperialism) in order to comprehend some aspects of the process of football adoption in Spain. We identify diffusion centres and agents (internal and external), as well as different stages and ways in this innovation diffusion. This is the first step in order to comprehend the introduction of football in Spain in a geographical approach.

Key-words: Spain/ territorial configuration/ innovation diffusion/ football adoption.


La adopción del fútbol en España: el papel de las redes y de la configuración territorial (Resumen)

A finales del siglo XIX, España tenía varios puertos marítimos y era un país periférico en el contexto europeo.  Sin embargo presentaba una particularmente favorable configuración territorial para la innovaciones "civilizadoras" que fueron introducidas simultáneamente por diversas vías. En este artículo pretendemos evaluar el papel de la configuración territorial de España y la influencia de las redes internacionales, sobre todo, las vinculadas con el imperialismo británico, para entender algunos aspectos del proceso de la adopción del fútbol en Ëspaña.  Identificamos centros de difusión y agentes, externos e internos, así como las diferentes etapas y formas de difusión de la innovación.  Este es un primer paso para comprender la introducción del fútbol en España desde un punto de vista geográfico.

Palabras clave: España/ configuración territorial/ innovación de la difusión/ adopción del fútbol


Os estudos dedicados à história do futebol não alcançaram até o presente um consenso no que tange ao momento e lugar precisos nos quais se inaugurou a prática deste esporte na Espanha (Ramos, 1994; Robles, 1952:5; A.R.E.S.A., 1977:10). Certamente não é nosso propósito resolver tal dilema de difícil manejo, terreno minado e alvo formidável de ricas anedotas, e ademais de pouca importância para o debate científico. O que vale reter deste quadro de incertezas é justamente a complexidade do caso espanhol: diferentemente de países como Itália, França, Uruguai ou Argentina, para onde se pode apontar com razoável segurança os lugares e momentos do advento do futebol, a Espanha apresenta um panorama complexo e impreciso (1). Tal qual o Brasil (2), apresentava a Espanha no final do século XIX uma configuração territorial a permitir que uma determinada "novidade da civilização" fosse introduzida no país quase simultaneamente por distintas vias ou "portas de entrada". Neste artigo, pretendemos especificamente dimensionar o peso da configuração territorial espanhola, e nela avaliar a atuação das redes internacionais (principalmente as do imperialismo britânico) para compreender alguns aspectos do processo de adoção do futebol neste país, identificando centros e agentes difusores (externos e internos), etapas de difusão, e mapeá-los sumariamente.

A premissa básica de nossa investigação é a de que os agentes portadores de inovações não circulam livremente, mas segundo os condicionantes do contexto histórico e geográfico. Os ingleses e outros agentes difusores do futebol atuaram sob determinadas condições impostas ao mesmo tempo pela dinâmica das redes (e seus circuitos espaciais de operação) e pela configuração do território, cujo arranjo define previamente os lugares privilegiados de atuação destas redes. Certamente, existe um relação dialética no processo, de forma que não apenas a configuração do território condiciona a atuação das redes (a intensidade e direção dos fluxos), mas também estas redefinem gradativamente o território, valorizando determinados lugares e circuitos espaciais em detrimento de outros. Pressupomos também que cada lugar apresenta uma capacidade diferenciada de responder à ação das redes portadoras de inovações. A absorção de inovação, isto é, a propensão a transformar uma informação em objetos e práticas sociais concretas, varia de um lugar para o outro, e esta variação se explica, dentre outras coisas, pelo porte, pela cultura e pelo dinamismo sócio-econômico de cada lugar. Nas palavras de Milton Santos (1996:180), "a adaptação à modernidade não se submete a leis absolutas (...), é a velha materialidade que dissolve o novo tempo e são os tempos do lugar que dissolvem o tempo do mundo". Em síntese, o lugar tem papel ativo no processo de difusão espacial de inovações (3).

Sem maiores pretensões que a de oferecer uma reflexão inicial à nova problemática aqui levantada, o texto se divide em cinco breves segmentos. Primeiramente, trataremos da atuação de agentes britânicos na Espanha, numa abordagem geográfica, isto é, inseparável da configuração territorial e dos fluxos que a dinamizam. O período enfocado abrange as últimas décadas do século XIX e o início do século seguinte. Num segundo momento, procuraremos reunir e compreender um conjunto de lugares que, apesar da elevada conexão internacional, ofereceram resistência à adoção efetiva do futebol. A seguir, apresentamos o eixo primordial básico (Bilbao-Barcelona-Madrid) a partir do qual o futebol se difundiu efetivamente por todo o território espanhol, e alguns motivos para o papel de liderança exercido por estas três cidades. No quarto segmento, o objetivo é definir a zona periférica no processo de difusão do futebol, representada pelas localidades de baixa ou nula conexão internacional, que dependeram substancialmente da atuação dos agentes e pólos de difusão internos ao território para tardiamente adotar o futebol. O último segmento apresenta o conflito que se instalou inicialmente, na disputa por popularidade, entre a tradicional corrida de touros (festa nacional) e o futebol (produto importado e símbolo da modernidade), como freio à difusão deste, e o arranjo final desta contenda.
 

Agentes britânicos e configuração do território na Espanha (1870-1910)

A segunda metade do século XIX assinala na Europa um período de grande desenvolvimento econômico, impulsionado por conquistas tecnológicas relacionadas à revolução industrial e à expansão de mercados, à ascensão da burguesia e à difusão de novas formas de comunicação (a ferrovia, a navegação a vapor, etc.). Neste quadro de profundas transformações gerais, a Inglaterra vitoriana, maior potência industrial de então, foi hábil na conquista e articulação de mercados em escala mundial. A presença de capitais e agentes de origem britânica em diversos lugares do planeta favoreceu a ampla difusão das peculiaridades do modo de vida inglês, particularmente os esportes modernos, seu conteúdo simbólico e sua prática organizada em instituições do tipo "club".

A difusão do futebol está diretamente associada à extensão geográfica deste vasto império sediado em Londres, a metrópole do século XIX. São formados majoritariamente por ingleses os primeiros clubes de futebol criados na Europa Central (Murray, 1994), na Itália (Brera, 1975), na França (Delaunay et al, 1982:12), e em vários outros países. Era praticado informalmente por trabalhadores ferroviários, operários, mineiros, porém eram funcionários administrativos, professores, engenheiros e representantes comerciais os que formalizaram este lazer em clubes. Em cidades portuárias, marinheiros ingleses exibiam em suas horas de folga o novo entretenimento, e estas cidades foram as primeiras a tomar contato com o futebol, embora quase sempre o repudiassem inicialmente, tomando-o como violento, insano, "coisa de ingleses loucos". E quando jovens do lugar se atreviam a aderir à novidade, poderiam até mesmo sofrer interferência da polícia, que interpretaria a movimentação estranha e ruidosa de uma partida como um distúrbio (4). Mesmo quando os primeiros clubes eram fundados por agentes nacionais, tratava-se sem dúvida de indivíduos com "relações privilegiadas" com a Grã-Bretanha: alunos de professores ingleses, homens de negócios em viagens constantes à Inglaterra e jovens aristocráticos que lá estudaram.

O geógrafo Loïc Ravenel (1998:68-72), ao investigar a implantação do futebol na França, identificou três tipos básicos de difusão: 1) por transplante (ingleses vivendo em outros países criam clubes de futebol); 2) por relação (contatos privilegiados de nacionais com ingleses permitem a inovação) e 3) por imitação (quando nacionais aderem ao futebol após assistir ingleses praticando-o seguidamente em praias, parques etc.). Estes três tipos de difusão, todos vinculados direta ou indiretamente aos ingleses, podemos reconhecer e localizar também na Espanha.Na introdução do futebol na cidade portuária de Águilas, por exemplo, podemos notar a atuação fundamental de dois agentes que se encaixam na tipologia oferecida por Ravenel: "por transplante" através de um comerciante local escocês (Juan Grey Watson), e "por relação", através de um nativo estudante de inglês (Ginés Garcia Abellán), em retorno de Aberdeen (Escócia), portanto dotado de conexões privilegiadas com a Grã-Bretanha (5).

Sabemos que a adoção do futebol não depende apenas do acesso local à informação referente a esta novidade. A capacidade de adoção varia com o nível de desenvolvimento urbano-industrial de cada lugar. O estudioso Allen Guttmann (1978:60-62) comprova que as nações européias mais industrializadas foram justamente as mais receptivas à "invasão" do futebol e de outros esportes oriundos da Inglaterra. Na Espanha, a presença de ingleses se manifesta em distintos pontos do território, acentuadamente nos vários portos (Barcelona, Bilbao, Málaga, Valência, La Coruña, Cadiz etc). Podemos notá-los também nos diversos locais de investimentos ingleses no território espanhol: indústrias, mineração (este setor de atividades contribuirá especialmente na difusão do futebol), ferrovias, infra-estrutura urbana, entre outros. Várias localidades tiveram quase simultaneamente, portanto, a oportunidade de conhecer o futebol. A capacidade de cada uma delas em absorvê-lo como prática cotidiana é que apresenta significativas variações, e este quadro determinou afinal quais seriam os centros difusores nacionais e as zonas de adoção tardia. As vias de propagação da inovação, por sua vez, se relacionam com a hierarquia urbana e a estrutura de comunicações existentes no território.

A natureza do processo de urbanização, um dado da configuração do território, constitui fator determinante no processo de difusão de inovações. A respeito, Horacio Capel (1975:32) reconhece que no final do século XIX quase todas as cidades espanholas já haviam derrubado as muralhas medievais ("el opresivo cinturón de piedra") para promover a expansão física em "ensanches", amplas zonas de urbanismo moderno, destinadas a um modelo de uso do solo bem menos compacto, mais condizente com os princípios higienistas em voga e em especial com os interesses da burguesia em ascensão. Estas áreas, veremos mais tarde, ofereceram condições satisfatórias para a difusão de modalidades esportivas que demandam grandes áreas a céu aberto, como o futebol, o ciclismo e o turfe, para citar apenas os mais praticados na época. Nas cidades européias de então, velódromos e hipódromos, equipamentos que consomem grande superfície de terreno, ocuparam invariavelmente os espaços situados para além do cinturão que delimita o velho e compacto núcleo urbano. E se apresentam na paisagem como símbolos da modernidade e da nova ordem burguesa.

No diversificado âmbito europeu, a Península Ibérica não acompanhou plenamente o processo de modernização em curso, senão em pontos privilegiados de sua geografia, então baseada na economia rural. O desenvolvimento industrial espanhol se verificava portanto de forma incipiente e muito seletiva, afetando reduzido número de cidades. Estas, por sua vez, cumpriram importante papel no processo de adoção do futebol, pelo dinamismo social e cosmopolitismo que apresentavam, em contraposição ao tradicionalismo e relativo isolamento reinante no mundo rural e nas pequenas aglomerações urbanas. Por outro lado, repetimos, a existência de numerosos portos e outros lugares sujeitos à intensa circulação de agentes britânicos permitiu a diversas localidades de menor porte o acesso privilegiado à informação referente ao novo esporte. É destas localidades que trataremos a seguir.

Conexões internacionais e debilidade local: uma adoção lenta e incompleta

Veremos mais adiante que Barcelona, Bilbao e Madrid formaram o tripé fundamental a partir do qual o futebol efetivamente se consolidou como prática lúdica socialmente aceita e atrativa, se espalhando por toda a Espanha nas três primeiras décadas do século XX. A proeminência destas três cidades se fundamenta em fatores locacionais (proximidade e conexões com centros difusores europeus), no dinamismo próprio destes centros urbanos (capacidade de adoção) e na liderança por elas exercida sobre o conjunto da rede urbana nacional (especialmente por Madrid, e secundariamente por Barcelona), favorecendo assim a propagação de inovações. O que não significa supor que estas cidades tenham sido as primeiras a entrar em contato com o futebol, conforme demonstraremos a seguir.

Em determinadas localidades do território espanhol, a presença de pequenos portos ou de atrativos outros para investimentos ingleses propiciou o contato e a prática esporádica do futebol em período anterior àquele vivenciado pelo trio de cidades supracitado. Estas localidades, entretanto, pela ausência de um maior dinamismo econômico-social, ou pela força da tradição cultural, não absorveram plenamente a inovação, que acabou muitas vezes restrita a marinheiros em trânsito ou trabalhadores britânicos em ferrovias e fábricas, ou ainda a mineiros, como em Huelva. O caso de Huelva merece indubitavelmente a ilustração a seguir (6).

Em 1872 já existiam alguns ingleses entre os operários da Companhia Mineira de Rio Tinto, e estes já praticavam eventualmente o futebol. No ano seguinte, a exploração das minas passou ao controle de empresa inglesa, gerando incremento imediato no número de trabalhadores oriundos daquele país. Neste sentido, em 1878 foi fundado o Huelva Recreation Club, agrupando esportes ingleses diversos. O futebol foi assim adquirindo regularidade e atraindo paulatinamente o interesse nativo. Em 1893, por ocasião da comemoração do IV Centenário do Descobrimento da América, foi realizada a Copa da Diputación de Huelva, primeiro troféu disputado na Espanha por equipes de futebol e, vale frisar, com a participação de vários times formados por espanhóis. E assim a cidade de Huelva pode ser considerada como a primeira capital nacional do futebol, fato ignorado por estudiosos como Bill Murray (1994:60). Liderança provisória, pois logo seria suplantada por Bilbao, e a seguir por Madrid, Barcelona e outros centros mais dinâmicos.

O caso de Huelva mereceria um estudo pormenorizado. Ao que consta, a velha agremiação inglesa seguiu em funcionamento até tornar-se, em 1907, já completamente "nacionalizada", o Real Club Recreativo de Huelva. Há fortes indícios de que aquele campeonato realizado em 1893 (provavelmente disputado numa única tarde e por equipes constituídas informalmente, improvisadas apenas para participar das comemorações oficiais) não tenha se repetido nos anos posteriores. É bastante provável que o clube inglês tenha sido o único a praticar regularmente o futebol em Huelva durante muito tempo. Uma superficial abordagem geográfica dos fatos em questão permite sugerir que por um lado a localidade foi informada precocemente acerca da inovação "futebol" devido à sua condição portuária e ao fator excepcional de minas exploradas por ingleses. Por outro lado, o pequeno porte da cidade e suas precárias comunicações com os grandes centros urbanos da Espanha não favoreceram, em tese, a efetiva adoção do futebol.

A literatura sinaliza a possibilidade de, em outras localidades também de menor porte (Vigo, Málaga, Cadiz, etc), porém dotadas de privilegiada conexão com as redes do Império Britânico (condição portuária, sobretudo), o futebol ter sido praticado esporadicamente muito antes de se fundar a primeira agremiação estável local. Vale frisar que todas estas cidades tendem a apresentar um processo similar, marcado pela lenta aceitação do futebol e de outros esportes modernos (fator tradição cultural) e mais lenta ainda incorporação plena destes na vida cotidiana (aspecto relacionado ao fraco dinamismo local). São casos de adoção lenta ou mesmo incompleta, quando a prática esportiva é esporádica e não extrapola os fechados círculos sociais ingleses, tal qual nos lembra Pierre Lanfranchi (1994:32). Na cidade de Santa Cruz de Tenerife, por exemplo, o futebol se restringiu aos britânicos durante muito tempo. Em 1910 eram eles ainda a maioria no clube local, o Sporting Club Tenerife, e o lento processo de "nacionalização" do time se estendeu até o início dos anos vinte. O isolamento das Ilhas Canárias cumpriu ali um papel crucial, pois somente em 1928 a Federação Espanhola de Futebol veio permitir que clubes canários participem de competições nacionais (Ramos, 1994:434). Enfim, são elementos da geografia condicionando o processo de difusão.

Vale registrar que, quando a presença inglesa nestas pequenas localidades portuárias, embora reduzida, se adicionava à contribuição de agentes locais em contato direto com as Ilhas Britânicas, o processo de adoção do futebol poderia sofrer alguma aceleração. Nas praias de Águilas, por exemplo, a prática esporádica deste esporte se nota desde a última década do século XIX, e já em 1900 se funda a primeira agremiação aguilenha, o Sporting Club. A participação crescente de nativos permitiu que em poucos anos a denominação da entidade passasse a ser Club Deportivo Aguileño (7).

As conexões com ingleses se manifestaram também, obviamente, em centros urbanos maiores e mais dinâmicos. Nestes, o lugar pôde "responder" mais prontamente à possibilidade de adotar a inovação, realizando-a de forma expressiva e irreversível. São estes centros o objetivo de nosso próximo segmento.

O eixo primordial Bilbao - Barcelona - Madrid e a nova etapa de difusão

Vimos que a Espanha daquele final de século XIX, se por um lado não apresentava numerosos centros industriais, por outro oferecia às redes internacionais um amplo conjunto de portos, e este aspecto de sua configuração territorial será decisivo no processo de introdução do futebol, pois a presença de zonas portuárias assinalava maior possibilidade de contatos com a poderosa frota mercante inglesa. Quando um porto se localizava junto a atrativos outros como minas de ferro, por exemplo, a atração de capitais ingleses se fazia inevitável. Se a localidade apresenta dinamismo, a possibilidade de adotar a inovação aumenta. Foi o caso da cidade de Bilbao, centro industrial florescente no final do século XIX.

Nas palavras de Enrique Terrachet (s/d, p.13), a presença de numerosos técnicos de origem britânica na cidade possibilitou o primeiro desafio futebolístico de relevo, já em 1894, entre "animados bilbaínos" e os ingleses e escoceses que trabalhavam e já praticavam o futebol na capital vizcaína. O precoce desenvolvimento deste esporte pode ser medido pela fundação do Club Athletic de Bilbao em 1898, e por iniciativa majoritária de bilbaínos (8). Talvez por ser então uma cidade de porte demográfico bem inferior a Barcelona e Madrid, Bilbao aparentemente não apresentava uma vida esportiva tão intensa quanto aquelas, de forma que o futebol provocasse ali um certo choque cultural: "algunos se escandalizaban al ver en los descampados a unos cuantos muchachos en calzoncillos detrás de una pelota de cuero" (Ramos, 1994:8).

Segundo o urbanista Oskar Jürgens (1992:87-89), que visitou Bilbao no início do século XX, a cidade de quase cem mil habitantes apresentava grande movimento comercial, fábricas diversas, e seguia crescendo em ritmo acelerado. Neste ambiente promissor o futebol se desenvolveu rapidamente, e assim a cidade sediou, no início de 1902 o primeiro confronto futebolístico com acesso pago, algo jamais verificado em toda a Espanha (9). Tal inovação, fruto do interesse público pela qualidade dos espetáculos e sobretudo pela forte rivalidade entre agremiações inglesas e nativas em Bilbao, será rapidamente assimilada e difundida, sendo aplicada meses depois no primeiro campeonato espanhol de futebol realizado em Madrid, conforme veremos mais tarde. Supostamente, a perspectiva de vender ingressos encorajou a própria realização deste histórico evento.

Barcelona, na condição de maior centro industrial espanhol, e de cidade que "apostou de forma decidida na modernidade" a partir de 1888 (Sánchez, 1994:15), acolheu rapidamente a prática do futebol, muito antes aliás do que se divulga habitualmente (10). A condição de movimentado porto mediterrâneo ofereceu à Barcelona, sede de elites atuantes e desejosas de "europeização", uma vida social cosmopolita, ambiente propício à adesão de novas atitudes e valores, dentre eles a prática dos esportes modernos. E assim, a cidade apresentava rica vida esportiva, acionada sobretudo por estrangeiros (ingleses, suíços, escoceses, irlandeses) que, segundo Andrés Artis (1949:13), eram representantes comerciais, funcionários consulares, técnicos e engenheiros empregados nas numerosas indústrias catalãs.

Neste ambiente de inovações, em 1898 um cronista registrou na nascente imprensa esportiva local (jornal Los Deportes), que os esportes importados sobretudo por ingleses e alemães, como o futebol, o tenis e o crícket, ainda que "higiênicos e aceitáveis", não haveriam de aclimatar-se na região, por não se adequar aos costumes locais (Ramos, 1994:6). Certamente, o cronista em pauta, imbuído de extremo nacionalismo, não percebia nem o desejo local de europeização supra citado, nem a força dos esportes modernos, que haveriam de se difundir mundialmente a ponto de conformar uma instituição social de grande expressão e ubiqüidade no século XX. Naquele momento, aliás, outras modalidades importadas, como o ciclismo, já se impunham plenamente no cotidiano da mocidade catalã. Em 1903, a cidade sedia um movimentado campeonato de futebol, a Copa Barcelona, reunindo oito disputantes, incluindo alguns clubes de bairro e outros times formados por estrangeiros (irlandeses, por exemplo). Já existiam diversos campos de futebol na cidade (Artis, 1949:28; Ramos, 1994:6) expressando na paisagem o quanto este esporte vicejava naquele início de século. O mesmo sentimento nacionalista, que a princípio o negara, agora o incorporava plenamente, nas cores do FC Barcelona. Mais tarde, durante o franquismo, o clube seria o exército que a Catalunha não pôde organizar (Shaw, 1987:215). É ele até hoje uma das maiores expressões do catalanismo.

A capital Madrid não dispunha de porto, não era um grande centro industrial, nem desfrutava possivelmente do mesmo cosmopolitismo de Barcelona, mas seu porte (meio milhão de habitantes) e capitalidade lhe garantiam certas conexões com o mundo (Ramón et al, 1996:195-211). Natural que um segmento de sua elite aristocrática e fundiária estivesse ávido por consumir novidades da "civilização". Neste cenário, por volta de 1890, professores da famosa "Escuela de Gimnasia" seguiam regularmente para Oxford e Cambridge em busca de aperfeiçoamento. Ao retornar a Madrid, introduziram o futebol, esporte que já alcançava plena popularidade entre os ingleses. Nas palavras do estudioso Jainz de Robles (1952:4), os mestres soltaram a bola nas "praderitas" que Goya imortalizou em seus quadros, e esta foi muito bem acolhida, a ponto de se fundar em 1897 o Football Sky (11). Esta agremiação seria a base de fundação posterior do Real Madrid F.C., em 1902, por ampla maioria de castelhanos, ricos comerciantes, de forma que a primeira secretaria do clube foi a então famosa loja de modas "Al Capricho", no centro de Madrid.

Madrid, Barcelona e Bilbao formam o triângulo básico no processo de implantação efetiva do futebol na Espanha. Não por acaso o primeiro campeonato espanhol, realizado em maio de 1902, reuniu seis clubes, dois de cada uma destas três cidades, as únicas envolvidas no evento. Vale frisar que cada cidade valeu-se de condições peculiares, geograficamente baseadas, para se antecipar em relação ao conjunto do país no processo de adoção do futebol. Neste sentido, parece oportuno lembrar que, segundo Horacio Capel (1975:38), Madrid e Barcelona definiram para sua expansão urbana na segunda metade do século XIX "ensanches" de grande extensão física, cuja ocupação plena não se verificou antes de 1930, dada a intensa especulação e a decorrente retenção de terras. Tais cidades ofereciam portanto a seus habitantes (em especial às classes abastadas) grandes áreas disponíveis à prática do futebol e outras modalidades de lazer a céu aberto. Observe-se, neste sentido, que a primeira cancha do FC Barcelona se localizava exatamente no "eixample", já no ano seguinte à sua fundação, em terrenos então pertencentes ao Hotel Casanovas, onde se edificou mais tarde o Hospital de São Paulo. O clube foi mais tarde desalojado por força da construção deste belo monumento do modernismo catalão, e em 1905 estará utilizando um campo na calle Montaner, também no "ensanche" da cidade, (antes ocupado por outro clube de futebol, o Hispania), localizando-se aliás na proximidade de vários campos pertencentes a outros clubes (Artiz, 1949:22-34). Podemos afirmar assim que o "eixample" foi efetivamente cenário privilegiado da prática futebolística naquele tempo em Barcelona. E com o Real Madrid o processo não foi diferente: o clube praticou futebol em seus primeiros anos num campo situado "nos altos da calle Velásquez", também desfrutando dos espaços generosos do "ensanche" madrilenho, tal qual fizera o Football Sky, primeira agremiação futebolística da cidade (Robles, 1952:12). Se o tênis, a ginástica, a esgrima e outras modalidades se realizavam nos ginásios concentrados nas áreas centrais, era na amplitude das "praderitas" do ensanche que se implantavam velódromos, hipódromos e se espalhavam os campos de futebol.

Um olhar mais apurado revela que cada uma destas três cidades guarda peculiaridades na adoção do futebol, por não desfrutarem exatamente das mesmas condições locacionais e de conexão com outros lugares. Distintamente de Barcelona e Bilbao, onde o futebol foi introduzido sobretudo por estrangeiros, na capital espanhola o papel crucial coube a professores nativos. A cidade não desfrutava, supomos, do mesmo tipo e grau de conexão com as redes do Império Britânico verificado em suas rivais portuárias, mas seu poderio econômico propiciou a existência de forte mercado consumidor de práticas esportivas e fisiculturais, capaz de alimentar um fluxo regular de professores em direção à Inglaterra (12)(12). Quanto a Bilbao e Barcelona, na primeira o papel dos ingleses revestiu-se claramente de maior importância, pela intensa conexão com portos ingleses (inclusive por sua condição atlântica e pela maior proximidade da Inglaterra, em milhas marítimas), enquanto na segunda se nota a atuação de agentes de nacionalidades diversas, como os suíços por exemplo (13)(13), dado o maior dinamismo da cidade e sua condição mediterrânea, a determinar outros circuitos de interações com o exterior.

Para finalizar este segmento cumpre salientar o torneio realizado em 1902, pois ele contribuiu decisivamente para divulgar o futebol em escala nacional. Entendemos que diversos fatores colaboraram para a visibilidade e repercussão deste evento: foi realizado na capital, organizado com apoio da municipalidade, prestigiado oficialmente pelo rei Dom Alfonso XIII (criava-se a Real Federação Espanhola de Futebol) e conseqüentemente recebeu ampla cobertura da imprensa, fato incomum para a época (14). Até aquele momento, o futebol era apenas mais um esporte, dentre tantos outros, praticado em círculos sociais muito restritos à aristocracia e a alguns estrangeiros. A pelota vasca, o turfe e o ciclismo, e em menor grau os esportes náuticos, desfrutavam de popularidade muito superior a do futebol. Um cidadão comum dificilmente reconhecia tal modalidade, e provavelmente sentiria aversão ao vê-la praticada brutalmente nas praias por marinheiros ingleses em horas livres. O "concurso de futebol", como fora denominado aquele primeiro campeonato pretensamente nacional, foi realizado nas dependências do hipódromo da cidade (um ornamento da modernidade burguesa), com venda de ingressos e grande assistência (Robles, 1952:25-28). Uma façanha que ajudou a incluir o país no mapa futebolístico europeu, e a seguir participar da histórica fundação da FIFA, em 1904 (15).

As repercussões do evento, ao que parece, foram imediatas. Vimos anteriormente que já no ano seguinte Barcelona organizou com êxito um campeonato local de futebol. Zaragoza, posicionada justamente entre Madrid e Barcelona, tratou de planejar seu primeiro match, realizado em dezembro de 1903 por rapazes nobres, com surpreendente cobertura da imprensa local, através do jornal Heraldo de Aragon, que relatou com alguns detalhes o evento (Ramos, 1994:7). Nos dois anos seguintes, foram fundados os primeiros clubes em cidades diversas como Valência, Gijón, La Coruña e Sevilha. Em outros centros urbanos de menor porte ou mais isolados a adoção se realizou ainda mais tardiamente. Este movimento de difusão do futebol que contou basicamente com o apoio de pólos, agentes e eventos nacionais será desenvolvido no próximo segmento.

A "periferia" da difusão e o papel das conexões internas ao território

Ao investigar minuciosamente os primeiros passos do futebol em Valência, Jaime Hernández afirma que nada consta a respeito na imprensa local daquele início do século XX. O autor recorreu à história oral, entrevistando idosos, encontrando apenas vagas alusões a eventuais partidas de futebol realizadas antes de 1905, por rapazes valencianos que haviam estudado na Inglaterra ou viajado a cidades como Bilbao ou Barcelona. Importante notar que não há referência à atuação local de ingleses ou outras nacionalidades. É neste ano que se funda o Valencia Foot-ball Club, pioneiro na cidade, criado por Ramon Rivera e composto por elementos da elite valenciana. Em 1909, quando da realização do primeiro campeonato local, organizado pela Federação Valenciana de Futebol, vale lembrar que os regulamentos vieram de Barcelona. E naquele mesmo ano, por ocasião da Exposição Regional, o Valencia FC recebeu o Espanyol, também de Barcelona (clube que vinha participando dos campeonatos nacionais desde sua primeira edição em 1902), num duelo que atraiu atenções e contou com a presença prestigiosa da Infanta Isabel. Segundo Hernández (1974:11), aquele foi o marco fundamental para o desenvolvimento do futebol em Valência.

Deste movimento, o que nos interessa basicamente é registrar a ausência de conexões internacionais significativas, restando toda a iniciativa a cargo de elementos locais. E realçar o papel de Barcelona como principal centro difusor de inovações, exibindo o futebol a seus visitantes valencianos (como jogo em si e como símbolo da modernidade), fornecendo os regulamentos e finalmente enviando o prestigioso clube que mobilizou a cidade de Valência e a despertou definitivamente para a prática regular do novo esporte.

Em Sevilha podemos identificar um processo muito semelhante e simultâneo ao caso valenciano, pois é também em 1905 que se funda o Sevilha FC. A influência estrangeira também é muito reduzida, sendo basicamente estudantes e militares sevilhanos os que tratam de impulsionar o futebol local. Os primeiros lugares para a prática futebolística são o nobre Parque Maria Luisa e o Prado de San Sebástian, o que revela mais uma vez os vínculos da prática esportiva com a elite local, que Lanfranchi (1994:26) chamaria de "aristocracia esportiva". Somente em 1910 a cidade realizará a primeira Copa de Sevilha, e cinco anos mais tarde estará fundada a Federación Sur de Fútbol, promovendo um campeonato andaluz que reúne clubes também de Málaga, Huelva e Cádiz. (16)(16).

Na cidade vizinha de Granada verifica-se um processo de adoção ainda mais lento. Segundo Ramos (1994:242), somente a partir de 1922 é que o futebol começa a ser praticado mais regularmente, fato que podemos associar ao impulso gerado pelo grande movimento de consolidação deste esporte como o mais popular da Espanha, deflagrado a partir da conquista da medalha de prata em futebol nos Jogos Olímpicos de 1920, na Bélgica (17)(17). Percebemos Granada como uma cidade que no início do século ainda se despertava lentamente de prolongada e profunda letargia (Jürgens, 1992:46). Um cenário enfim pouco propício ao advento do futebol e de outras inovações.

Em várias outras cidades de baixa conexão internacional verificamos um processo de adoção do futebol tardio em relação às metrópoles Madrid e Barcelona. Em Alicante, a primeira notícia que se tem sobre a prática de futebol data de 1914, quando se funda o Hercules F.C. (Ramos, 1994:336). Em Murcia o primeiro clube é fundado em 1910 (o Murcia F.C.), por iniciativa dos irmãos Menoyo, que chegaram à cidade dois anos antes. O sobrenome espanhol revela mais uma vez a predominância de atuação de agentes nacionais no processo de difusão do futebol nesta zona que definimos como periférica. Em Murcia, como nas demais cidades de baixo dinamismo econômico-social, o desenvolvimento do futebol se realiza lentamente: a Federação Murciana é criada somente em 1924, aceitando a filiação do isolado Hercules FC de Alicante quatro anos mais tarde (Ramos, 1994:431). Nas Ilhas Baleares, o estado de isolamento retarda o advento do futebol, até que em 1916 se funda o primeiro clube mallorquino, o Real Sociedad Alfonso XIII, por iniciativa da mocidade local que, segundo Ramos (1994:368), ouvia dos viajantes "maravilhas" do que ocorria na Península em relação ao futebol: trata-se novamente de um movimento de difusão praticamente isento da ação de redes internacionais.

Para não nos estendermos numa imensa lista de casos, nos deteremos finalmente em Salamanca. A histórica cidade universitária aparentemente vivenciou um dos processos mais lentos de adoção do futebol em toda a Espanha. Segundo o relato de Oskar Jürgens (1992:71-75), no século XIV Salamanca era reconhecida mundialmente como poderoso centro acadêmico de 50 mil habitantes. No início do século XX, apenas 30 mil pessoas habitavam esta cidade em cuja morfologia domina o passado glorioso da catedral, dos grandes conventos e igrejas. Uma cidade de forte tradicionalismo, que recebe poucos visitantes e vive mergulhada no ostracismo refletido no ermo de seus arredores. Neste quadro de estagnação e baixíssima conexão internacional a cidade somente fundará um clube de futebol em 1923, por iniciativa dos universitários, e se chamará Unión Deportiva Española, tornando-se U.D. Salamanca em 1932. Segundo Ramos (1994:178), na "taurina" e tradicionalista Salamanca o futebol custará muito a vingar, como se a cidade estivesse alheia ao surto de popularização maciça deste esporte naqueles anos 1920.

A alusão do autor à condição "taurina" nos convida à reflexão sobre a força do tradicionalismo (em especial a cultura tauromáquica) como possível fator de resistência ao advento do futebol nos pequenos centros urbanos e nas zonas mais interioranas da Espanha. Antes de finalizar este artigo, valem umas breves palavras acerca desta reconhecida dimensão cultural espanhola.

Futebol e touradas: modernidade e tradição, conflito e conciliação

Em todos os lugares onde não havia uma vida esportiva múltipla e consolidada, o futebol encontrou óbvias barreiras sócio-culturais à sua adoção (Mascarenhas, 2000). A existência de distintos teores do nacionalismo, por exemplo, gerou constantes acusações relacionadas ao caráter alienígena deste produto importado. A suposta existência de uma violência extrema e inerente ao futebol tornou-se comum no ideário tradicionalista. Na Espanha, percebe-se que a formulação do discurso xenófobo recorre muitas vezes à tourada como esporte ou diversão nacional por excelência, e como tradição cultural perigosamente ameaçada pela invasão do futebol inglês, em particular, e pelo avanço da educação física em geral. Já em 1891, publica-se o texto abaixo, em claro tom de ironia:

"El buen gusto inglés (...) há obsequiado ahora las familias y centros aristocráticos com la invención de un juego nuevo y divertido (...) del "football"(...) una especie de juego de pelota, pero muy bárbaro y silvestre, a juzgar por la lista de desperfectos que causa. (...) Adelante, pues, com la educación física a la alta escuela, y dediquen ustedes a sus hijos al "football",que es muy ingles y muy civilizado, bien distinto por cierto de nuestras sangrientas corridas de toros, que tantas víctimas produce en la caballería desahuciada" (18).

Vinte anos mais tarde, opiniões como estas já não encontravam respaldo nos grandes centros urbanos, onde o futebol se impunha definitivamente "nacionalizado" e com força implacável. Poderia subsistir entretanto em cidades menores, como em Zaragoza, onde no ano de 1910 ainda se dizia "ya no se juega en mi pueblo a pelota com la mano, ahora juegan a patadas, y aún dicen que adelantamos!" (Ramos, 1996:7). De qualquer maneira, o futebol, simbolizando como outros esportes modernos a própria modernidade, triunfou na Espanha como em tantos outros lugares, e não necessitou de mais de três décadas para suplantar em popularidade uma tradição arraigada como a tauromaquia, considerada desde o século XVIII a verdadeira festa nacional, e tida por Ortega y Gasset como elemento básico para se compreender a Espanha a partir de 1650 (Maudet, 1999:4).

Jean Baptiste Maudet recenseou 500 arenas espalhadas por todo o país, constatando que em 325 delas a capacidade de público não ultrapassa cinco mil lugares. Comparando-as com os estádios, podemos afirmar que o futebol atrai tradicionalmente público muito superior, inclusive por que a maioria das arenas não oferecem mais que um único espetáculo a cada ano (Maudet, 1999:8). Por outro lado, as arenas estão difundidas por todos os vilarejos espanhóis, constituindo fenômeno de maior ubiqüidade que os estádios de futebol. Ainda geograficamente falando, vale notar a diferença quanto à localização no espaço intra-urbano: verificando diversos mapas de cidades espanholas, comprova-se que a praça de touros, por sua antigüidade, se insere via de regra no núcleo urbano histórico, ao passo que os modernos estádios, por sua origem mais recente, seu maior porte físico e demanda de áreas de estacionamento de veículos, se localizam geralmente mais afastados da área central. Barcelona, Sevilha e Sazagoza são alguns dos muitos exemplos. Em Sevilha, particularmente, a arena se insere em pleno núcleo medieval, bem ao contrário de seus estádios.

Acreditamos que a tauromaquia funcionou apenas em parte como freio à adoção do futebol na Espanha. E que este papel foi mais efetivo nas pequenas localidades. Por outro lado, vale refletir sobre a contribuição inequívoca das corridas de touro como elemento conformador de público espectador para eventos lúdicos populares. Das praças públicas às arenas, que começam a se difundir no final do século XVIII, o povo espanhol foi se habituando a comparecer regularmente a eventos desta natureza, estando portanto mais apto a aceitar posteriormente o futebol como espetáculo de massas de fim-de-semana. Enfim, mais um tema para futuras investigações.

O fato inconteste é que futebol foi se impondo gradativamente ao longo do século XX, mesmo não desfrutando plenamente da aceitação por parte da longa ditadura franquista (19)(19). Distintamente de quase todas as experiências totalitárias deste século, durante a vigência do regime ditatorial de Franco o futebol não contou com qualquer apoio oficial, tendo, ao contrário, de gerar recursos para financiar as demais modalidades esportivas, também desassistidas pelo governo e incapazes de gerar receita própria (Shaw, 1987). A corrida de touros, por sua vez, foi neste período incentivada, mantida como expressão autêntica da nacionalidade e canal de legitimação do regime (Maudet, 1999:16). Vale frisar enfim que o conflito entre futebol e tauromaquia foi resolvido de forma que cada um destes espetáculos passou a ocupar um lugar distinto na paisagem urbana, na cultura e no cotidiano da sociedade espanhola.
 

Conclusão

O processo de completa adoção do futebol na Espanha se realiza aproximadamente entre 1880 e 1930. Neste período, o futebol deixa de ser uma estranha e rejeitada prática eventual de "ingleses locos" para se converter não apenas no mais popular esporte, mas sobretudo em um dos elementos centrais da cultura nacional, suplantando inclusive a tradicional corrida de touros. Se na década de 1880 sua prática estava restrita a esporádicos e anônimos eventos realizados em poucos lugares dotados de privilegiada conexão internacional, no final dos anos 1920 haverão estádios em praticamente todas as cidades espanholas, e as canchas estarão espalhadas pelo país, demarcando na paisagem rural um registro regular da presença humana. Seus principais atletas serão heróis nacionais, e o futebol ocupará lugar privilegiado na vida cotidiana (20)(20).

O que pretendemos neste artigo foi precisamente chamar a atenção para a dimensão geográfica de todo este longo e fulminante processo de difusão. Tentamos demonstrar que a configuração do território espanhol e a atuação local de determinadas redes foram fatores que condicionaram em grande medida as vias e etapas de adoção do futebol. Os circuitos espaciais relacionados aos interesses britânicos incidiram sobre o território de forma seletiva e pontual, nele semeando a informação chamada "futebol". A configuração territorial, por sua vez, condicionou a espacialização destes circuitos. E cada lugar "respondeu" ao convite em circulação pelas redes de forma singular e indubitavelmente relacionada à sua geografia: localização, conexões, porte, dinamismo sócio-econômico etc. Em 1928, por exemplo, quando se institui o Campeonato Nacional da Liga, define-se o conjunto seleto de dez clubes que formaram a "divisão de honra". São eles os nove campeões de Copa de Espanha e mais uma vaga que se decidiu em torneio avulso. Esta elite do futebol espanhol está localizada em Madrid e no norte do país, regiões que sempre dominaram o cenário futebolístico nacional (Fuentes, 1969). Entendemos tal situação como expressão de um processo histórico inseparável da configuração territorial espanhola e sua evolução mais recente.

Elegemos o ano de 1902 como marco fundamental que delimita, a grosso modo, duas etapas. A primeira, caracterizada pela atuação quase exclusiva de redes internacionais como portadoras da inovação, atuando em pontos isolados do território. A segunda, inaugurando um papel crescente de centros e agentes difusores nacionais, incidindo sobre área geograficamente mais extensa, a partir da própria hierarquia urbana. A literatura, por sua vez, assinala o ano de 1920 como marco na popularização do futebol na Espanha, que preferimos considerar como início de uma fase de consolidação do futebol e de sua completa difusão espacial. Uma difusão que encontrou barreiras culturais, especialmente a tradição da tauromaquia, conforme foi assinalado e discutido no texto.

Pode-se afirmar que o futebol, a despeito de sua magnitude e ubiqüidade planetária, somente passou a despertar relativo interesse acadêmico nas últimas duas décadas. E ainda assim a investigação sistemática concentra-se em poucas universidades, sobretudo na Inglaterra e na França. Na sociedade espanhola, onde o futebol realizou uma formidável difusão espacial e ocupa lugar central, resta muito a ser pesquisado, e este artigo procurou ainda sinalizar algumas lacunas e caminhos. O futebol é sobretudo um ângulo a mais, a partir do qual se pode compreender uma determinada sociedade, sua cultura, sua política e sua paisagem. Um ângulo que entendemos como privilegiado, dado o imenso contraste entre a escassez de pesquisas e a abundante presença do futebol nas diversas instancias da vida hodierna.

Em síntese, buscamos demonstrar o peso do território e das redes na complexidade do movimento de adoção da inovação. Um percurso recheado de tropeços e contingências históricas e geográficas, pois a difusão maciça de inovação esportiva, lembra-nos Allen Guttmann (1994:171-2), jamais pode ser compreendida apenas em função de suas intrínsecas propriedades atrativas: o contexto espaço-temporal é fundamental. A definição de três zonas distintas, associadas a diferentes etapas, agentes e modalidades de difusão espacial do futebol, apresenta todas as precariedades inerentes à pesquisa histórica, em especial quando o investigador se defronta simultaneamente com problemáticas inéditas e com fontes documentais insuficientes para organizar um quadro informativo e explicativo mais completo e coerente. Carecemos de um maior suporte de dados (em parte pela própria debilidade da base documental) para estabelecer um zoneamento e uma periodização mais precisos. As etapas iniciais da história social do futebol nos lugares que o adotaram há um século atrás carecem sobremaneira de registros fidedignos, pelo caráter informal daquela atividade lúdica e pelo compreensível desprezo por parte da imprensa de época, diante de fatos sem maior expressão e relevância para a sociedade de então. Acreditamos, todavia, que este é apenas um primeiro passo no sentido de compreender a introdução do futebol na Espanha a partir de uma abordagem geográfica.
 

Notas

1.A documentação utilizada para elaboração deste artigo foi basicamente levantada em quatro acervos: Biblioteca de Geografia e História da Universidade de Barcelona; Bib. do INEFC (Institut Nacional d'Educació Física de Catalunya); Bib. Joaquin Lumes, do Instituto Nacional de Educación Física, em Madrid; Bib. do CIES (Centre International D'Études du Sport), em Neuchâtel, Suiça.

2. Sobre o caso brasileiro, ver a contribuição de Gilmar Mascarenhas (1998 e 1999).

3.  Uma reflexão sobre a difusão espacial do futebol, revisando contribuições teóricas e buscando uma metodologia mais apropriada à especificidade do fenômeno, encontra-se em Mascarenhas (1999 e 2000).

4. Allen Guttmann (1994:45) cita uma intervenção policial na Bélgica em 1880, e traz alusões à suposta "insanidade mental" dos primeiros futebolistas em diversos países. Em contexto muito distinto, contando com patrocínio das elites locais, o futebol foi apresentado em diversas localidades como elemento civilizador, atividade moderna e portadora de benefícios físicos e morais.

5. Informação gentilmente cedida por Horacio Pérez.

6. Dados extraídos da obra publicada pela A.R.E.S.A.(1977:10-12). A metodologia que considera fatores como conectividade e grau de dinamismo local se encontra melhor desenvolvida em Mascarenhas (1999).

7. Informação gentilmente cedida por Horacio Pérez.

8. Terrachet, op.cit.p.15. Segundo Ramos (1994:9), uma das peças mais importantes na fundação do Athletic foi Juan Storkia, que acabara de regressar de Manchester, Inglaterra, onde foi estudante e conheceu o futebol. Notar a importância das conexões de agentes locais com o universo inglês.

9. Naquela época, as partidas de futebol atraíam apenas o interesse dos poucos praticantes e de seus amigos e familiares. O processo de formação de um público anônimo e disposto a pagar para assistir eventos futebolísticos se deu paulatinamente, e também neste aspecto Bilbao se apresenta como pioneira no cenário espanhol.

10. A fundação do Football Club Barcelona, em 29.11.1899, é tomada vulgarmente como data que demarca o início da prática futebolística na Catalunha. De fato, nenhuma outra agremiação havia sido fundada oficialmente na cidade antes do "Barça", mas inúmeros registros apontam para a existência de grupos informais que se dedicavam ao futebol antes de 1889, sobretudo nos vários ginásios esportivos que existiam na cidade. Registre-se que a famosa decisão do suíço Hans Gamper em fundar o FC Barcelona, deveu-se justamente à recusa de um destes protoclubes em aceitar a participação de estrangeiros como ele. A respeito, consultar Artis (1949).

11. Na opinião supostamente balizada de Robles, que trabalhou na Hemeroteca Municipal, e parece ter realizado prolongada investigação sobre a história do futebol espanhol, o Football Sky inaugura oficialmente o futebol na Espanha. Entretanto, o contexto histórico (obra publicada em 1952, em pleno vigor da ditadura franquista), pode ter influenciado seu parecer, que põe Madrid como berço do futebol espanhol, cuja história ele mesmo reconhece como extremamente nebulosa em seus primeiros momentos. O caso de Huelva, aqui já mencionado, não pode ser ignorado.

12. Trata-se de um processo de difusão quase idêntico ao ocorrido em Bruxelas (descrito por Guttmann, 1994:45), curiosamente outra capital não-portuária, como Madrid.

13. A Suíça, inclusive pelo grande intercâmbio de estudantes com a Inglaterra, foi um dos primeiros países a adotar o futebol (Guttmann, 1994:44; Murray, 1994:53), e por sua eficiente rede de comunicações, tornou-se importante centro difusor. Nas cidades do leste e sudeste da França, os suíços foram os principais agentes de introdução desta inovação (Ravenel, 1998:69; Lanfranchi, 1994:28, para o caso de Marselha), cumprindo também importante papel no norte da Itália (Lanfranchi, 1995). Notar que antes de fundar o "Barça" Hans Gamper praticava regularmente o futebol com seus conterrâneos em San Gervasi (Artis, 1949).

14. O papel desempenhado pelo rei Alfonso XIII em promover o futebol aparenta ser uma grande lacuna na historiografia. Além de prestigiar este evento, assumiu a presidência de honra de diversos clubes, concedendo-lhes o direito de adotar a denominação associada à realeza. Aqui já citamos o Real C. R. Huelva, assim denominado a partir de 1907, e há o Real Sociedad Alfonso XIII, criado em Mallorca, 1916. Em muitos casos, o rei incentivou ou promoveu a fusão entre clubes rivais numa mesma localidade, criando por exemplo o Real Unión de Irún em 1915 (o próprio nome guarda a estratégia da união), o Real Club Celta de Vigo (1923), o Real Valladolid Deportivo (1928), entre outros (Ramos,1996). Aparentemente, apenas a Bélgica, no continente europeu, apresenta semelhante apoio monárquico ao desenvolvimento do futebol. Acreditamos que a Espanha foi um dos primeiros países onde o futebol recebeu explicitamente apoio oficial. Na Alemanha, na França, nos Estados Unidos e em diversos outros países o esporte inglês foi durante décadas rejeitado em nome do nacionalismo emergente (Murray, 1994; Guttmann, 1994).

15. Seguindo o bem sucedido modelo inglês, a França organizou seu primeiro campeonato de futebol em 1894, sendo disputado apenas por equipes parisienses até 1899, embora já estivesse o futebol bem desenvolvido em cidades portuárias da Bretanha e Normandia (Delaunay et al, 1982:20-9). Em 1898 a Itália, reunindo quatro clubes das cidades de Gênova (porto introdutor do futebol) e Turim (importante centro industrial), conseguiu realizar seu primeiro campeonato, com o ingresso de Milão apenas dois anos depois (Brera, 1975:20-8). Um caso extremo é o da Áustria, cujo primeiro campeonato se realiza em 1911, mas se limita aos clubes de Viena até 1949 (Murray, 1994:61). É notável que a Espanha tenha realizado seu primeiro certame futebolístico reunindo um maior número de cidades, situadas a distancia relativamente grande entre si, recobrindo portanto razoável parcela do território nacional. Tudo isto nos remete ao complexo panorama geográfico da implantação do futebol neste país, marcado por distintos pontos de penetração da inovação. Quanto à FIFA, sua fundação foi promovida por apenas sete países: França (à frente da iniciativa), Bélgica, Holanda, Dinamarca, Suíça, Suécia e Espanha, este de todos o mais distante da Inglaterra, física e economicamente falando. De fato, uma façanha que merece investigações futuras.

16. Dados extraídos da "Gran Enciclopedia de Andalucia". Valeria investigar até que ponto a criação desta federação é uma reação à liga nacional, quase totalmente confinada no norte do país.

17. Segundo Ramos (1994:35-59) e outros autores, a década de vinte assistirá na Espanha à multiplicação de estádios e à superação das tradicionais corridas de touro pelo futebol em definitivo na preferência popular.

18. Extraído de "Los horrores del fútbol", apud A.R.E.S.A.(1977:12).

19. Tal paradoxo parece permanecer pouco conhecido, a ponto de se verificar freqüentes equívocos entre cronistas e estudiosos, como por exemplo Pierre Lanfranchi (1995:127-129), que além de afirmar que o regime de Franco atribuiu importância ao futebol, aponta os estádios Santiago Bernabeu e Nou Camp como "simbolos do período franquista". Sabemos entretanto que o Nou Camp sempre foi um notório monumento à autonomia e capacidade de realização catalãs. E mesmo o Santiago Bernabeu foi erigido com recursos próprios, tendo aliás o regime vedado ao clube Real Madrid a construção de um estádio ainda maior no início dos anos setenta, ocorrendo o mesmo em relação ao Atlético de Madrid e seu projeto de construir o atual estádio Manzanares. As relações do futebol espanhol com a ditadura foram, diferentemente do que ocorreu em Portugal salazarista ou na Itália e Alemanha nazifascistas, marcadas por conflitos eventuais e tensão constante, pois o poder central negava autonomia aos digirentes dos grandes clubes, não reconhecendo a evidente liderança e apoio popular que estes desfrutavam. Quando Franco assumiu o controle do Estado, o futebol já estava plena e profundamente difundido em todo o país, e consistia portanto um incômodo poder paralelo, que o regime nem sempre foi capaz de subjugar. Um estudo conciso das conflituosas relações do regime franquista com o futebol encontra-se em Duncan Shaw (1987).

20. Há várias formas de atestar a força do futebol na vida social espanhola. Uma delas é reconhecer que o periódico esportivo MARCA foi durante muito tempo o jornal mais vendido no país, outra é verificar o futebol como forte elemento de identidade regional (Shaw, 1987:69).
 

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