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Scripta Nova
REVISTA ELECTRÓNICA DE GEOGRAFÍA Y CIENCIAS SOCIALES
Universidad de Barcelona. ISSN: 1138-9788. Depósito Legal: B. 21.741-98
Vol. VII, núm. 146(064), 1 de agosto de 2003

O HABITAR NO PROCESSO DE INTEGRAÇÃO DO IMIGRANTE

Danyelle Mota Ricardo
Valeska Mariano de Castro
Universidade de Fortaleza (UNIFOR), Brasil


O habitar no processo de integração do imigrante (Resumo)

A questão do habitar, objeto desse estudo, é essencial na configuração da dinâmica do ir e vir, da convivência, e do dia-a-dia, da mulher imigrante em sua integração na vida urbana. Esta pesquisa se realizou na cidade de Fortaleza, capital do estado do Ceará, no Nordeste do Brasil, especialmente em locais onde existiam mulheres imigrantes com até dez anos de residência na cidade.

Palavras-chave: migração, mulher, espaço urbano, trabalho.

The inhabit in the process of the immigrant's integration (Abstract)

The subject of inhabiting, object of that study, is essential in the configuration of the dynamics of the to go and to come, the coexistence and of the day by day, of the immigrant woman in its integration in the urban life. This research se realizou in Fortaleza city, capital of Ceará state, in the northeast of Brazil, especially in places where immigrant women existed with until ten years of residence in the city.

Key-words: migration, women, urban espace,  work.

Homens e mulheres migram em busca de oportunidades, de dias melhores e de sobrevivência. Detentores de força de trabalho, eles enfrentam na maioria das vezes, muitas adversidades, da sociedade local, sobretudo do mercado de trabalho. As mulheres são as mais discriminadas nas atividades produtivas. Para elas o sistema reservou postos de trabalho mais humildes e menos rentáveis.

O que as pessoas se sentem ao chegar num lugar estranho? Como se dá a relação do imigrante com o nativo? E a construção do seu habitar? A adaptação de quem veio de uma cidade para outra cidade difere consideravelmente de quem veio do interior? Como então se processa o habitar de um imigrante numa cidade?

Diante dessas indagações, colocamos o objetivo desse estudo: analisar como se dá o processo de adaptação da mulher imigrante na cidade de Fortaleza. Como elas mesmas interpretam o mundo em que elas vivem. Como é o cotidiano delas, na construção do seu habitar.

No processo produtivo de suas vidas os homens elaboram pensamentos e valores sobre seu trabalho e sobre suas relações sociais. Existiria, entretanto, uma consciência de classe dominante na sociedade que imporia às demais a sua racionalidade e os seus valores.

Para tanto, o trabalho também apresenta as falas das imigrantes que mostraram como elas se entendiam e se viam, procurando, assim, analisar os seus discursos sobre o seu trabalho e o seu cotidiano, destacando a importância das redes de ajuda, na adaptação dessas mulheres num espaço "desconhecido".

A migração urbana

O processo histórico migratório, no Brasil, segundo Matos e Baeninger (2000), caracterizou-se pelas migrações internas associadas à urbanização. Assim, esses dois grandes fenômenos sociais tanto dão sentido e forma às transformações estruturais deflagradas pelo avanço da modernidade capitalista no século XX, quanto explicam em larga medida a ocupação do território nacional e as recentes manifestações de dispersão e redistribuição da população no território.

O Brasil era uma sociedade rural, primária, constituída de ilhas regionais desconectadas, com pequenas cidades, localizadas no litoral que detinham 12% da população total. A crise de 1930 alterou consideravelmente o padrão espacial. No auge do café paulista houve uma forte atração de migrantes. Uma parcela dirigiu-se para as fronteiras internas no interior, outra parte migrou para as cidades. Esses dois movimentos iniciados naquela década de 30 perpetuaram-se e intensificaram-se durante mais de 50 anos.

Entre 1950 e 1960, o país experimentou expressivas mudanças provocadas pelo avanço da urbanização e pelos movimentos migratórios do tipo campo-cidade, mantendo ritmos de expansão elevados durante os anos 1960 e 1970, época do chamado "milagre econômico", podendo-se destacar, a cidade de São Paulo, área de "promessa" de uma vida melhor, em razão de concentrar grande parte da riqueza nacional, que na década de 70 recebeu sozinha 31,0% do total de imigrantes interestaduais [1]

No período 1981/91, segundo Fausto Brito (2002), um ponto importante a destacar foi o paradoxo de São Paulo, estado que mais recebe população ter sido o que mais expulsou, encerrando assim uma novidade interessante: "a grande migração de retorno para os grandes reservatórios de força de trabalho" (BRITO, 2002:33). De acordo com pesquisa feita por este autor, 35,5% dos egressos daquele lugar se destinavam ao Nordeste e 20,0% a Minas. Estudos recentes mostram que cerca de 60,0% dos imigrantes do Nordeste e de Minas gerais, eram retornados.

E no Ceará, como podemos analisar historicamente a migração?  Juraci Cavalcante (2002) que discorre sobre a tradição e a cultura da migração, afirma que essa tradição cultural, no Ceará, foi sendo cristalizada no decorrer do século XX e teve como marco histórico a grande seca de 1877, quando as autoridades governamentais locais forçaram o embarque de retirantes, o que inaugurou sucessivas ondas migratórias de cearenses para outras regiões do país: "(...) a migração firmou-se como tradição cultural e se constitui em processo social sobre o qual já não há mais possibilidade de controle por parte dos órgãos de planejamento governamentais" (CAVALCANTE, 2002:155).

Para falar sobre os primeiros emigrantes cearenses, podemos iniciar com os flagelados das secas que migraram para trabalhar na construção de açudes e estradas, o Ciclo da Borracha e a construção da Transamazônica nos anos setenta. E, ainda, a construção de Brasília, da industrialização do sudeste do país, que atraiu muitos nordestinos, retirando-os de sua terra.

Atualmente, mesmo que sob uma outra configuração, o processo migratório continua intenso: "O movimento de migrantes não ocorre apenas em função da secas. É perene! Mas, ele se agrava em volume e expressão a cada nova estiagem, ganhando, assim, maior visibilidade social" (op. cit. p.156).

Concordamos com Dedecca (2000) quando explicita que os imigrantes, longe de representarem uma ameaça para o mercado de trabalho local, agravando o desemprego, são importantes para a composição da estrutura ocupacional regional, sobretudo porque eles acabam sendo principalmente incorporados em ocupações menos qualificadas e mal remuneradas, muitas delas importantes para o funcionamento da sociedade.

Segundo Fausto Brito (2002), as migrações constituem-se em um processo social, portanto não são um fenômeno estritamente demográfico, nem o mero resultado do somatório de decisões individuais:

Não é um indivíduo isolado que migra, mas milhões de pessoas, conjuntos sociais com seus valores e normas, que se transferem do espaço rural para o urbano, de uma cidade para outra, de um estado para outro, de uma região para outra, ou mesmo de um país para outro (BRITO, 22:18).

O autor fez um estudo sobre as migrações internas no Brasil, nos últimos 50 anos até os anos 80, para deduzir o padrão migratório existente, e observou uma mudança na economia e na sociedade brasileira provocada pelo desenvolvimento industrial, e com isso uma alteração na intensidade da migração para os centros mais avançados economicamente: "A sociedade e a economia mobilizam grande parte dos migrantes na região de destino, hoje um grande excedente demográfico não absorvido economicamente e socialmente, para o caminho de volta" (BRITO, 2002; 39).

O autor destaca que os fundamentos da articulação entre o contexto histórico e as trajetórias migratórias foram basicamente alterados. O Brasil tem passado por uma profunda "crise de transição", que tem direcionado a um outro padrão migratório: "o esvaziamento cultural das trajetórias dominantes, principalmente o deslocamento da mobilidade espacial da mobilidade social" (BRITO, 2002:53). As transformações ocorridas em todo o mundo têm contribuído para essas modificações. Antes as pessoas migravam em busca de uma melhor posição social, hoje mesmo com altos riscos, migram em busca da sobrevivência.

Essa breve discussão sobre o processo histórico das migrações tem o objetivo de subsidiar o entendimento sobre os anos de 1990, década que interessa particularmente a esta pesquisa que visa discutir a relação entre migração e o habitar, pelo enfoque do mercado de trabalho.

Cidade, habitat e cotidiano

Hoje, viver nas cidades é a realidade de mais de 75% de todos os brasileiros e brasileiras. Segundo os números oficiais dos censos demográficos, nas grandes cidades brasileiras denominadas de megalópoles, vivem milhões de pessoas, o que torna essas cidades, verdadeiros formigueiros humanos.

Portanto, é a cidade um dos lugares que o mundo se move mais, pois as ruas da metrópole têm sido, especialmente para as camadas populares, para os pobres, os lugares mais apropriados para "correr atrás". Correr atrás do emprego, da escola, do posto de saúde, do espaço para venda de sua força de trabalho, para mudar de vida, como nos contammuitas mulheres que entrevistamos.

Milton Santos (1997:83) define a cidade como o lugar em que o mundo o se move mais, e os homens também. De acordo com essa concepção, seria a cidade um dos lugares do trabalho, pois, quanto maior a cidade, mais numeroso e significativo o movimento, mais vasta e densa a co-presença e também maiores as lições e o aprendizado (Santos, 1997:83).

A cidade espetaculariza a vida cotidiana. É principalmente no espaço urbano, onde podemos observar o cotidiano, através do modo de vida das pessoas, sejam elas migrantes ou nativas, de uma maneira geral. No lamiar do dia-a-dia, indivíduos vão construindo seu habitat - sua forma de viver e de encarar a realidade: "Como seres urbanos somos, então, permanentes autores da nossa cidade, construtores permanentes de sua rede de significação, (re) alimentando através das práticas e usos da/na cidade as nossas almas urbanas" (GOUDARD, 2003.)

Nas palavras de Almeida (2000), o ser humano, ou "o habitante do dia-a-dia" são aqueles que tem sua vida definida pela posição que ocupam no círculo produtivo, isto é, em que tipo de atividade estão ou não inseridos, quanto recebem, onde moram. O que fazem fora da atividade que lhes promove sustento, mas também como reagem aos imperativos das leis e das formas de ser dos lugares, como se colocam as questões como o desemprego, as lutas raciais, os conflitos étnicos, os movimentos separatistas, quais as razões que dão para estarem ou não atentos a isto, etc. (...) "o sentimento de habitar terá significados particulares a cada um, na mesma medida que existem infinitas possibilidades caleidoscópicas de que se constituem" (ALMEIDA, 2000:3).

Nesse sentido, esta pesquisa, com o intuito de pesquisar como se processa a integração da mulher imigrante no espaço urbano, escolhemos como lócus a cidade de Fortaleza, capital do Estado do Ceará, no Nordeste do Brasil.

O processo de integração da mulher imigrante na cidade de Fortaleza

Na década de 1990 até então a Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) tem sido o ponto de chegada para muitas pessoas, principalmente para a cidade de Fortaleza, apresentando um maior nível de urbanização entre as outras cidades do estado e principal lócus de capital público e privado.

De acordo com alguns dados oficiais, o predomínio nas imigrações na década de 90 é contínuo. Em 1996, do total de imigrantes, intra-estadual e inter-regional, vieram e movimentaram-se no estado do Ceará 1.958.480 pessoas, sendo para a RMF 1.115.899. Em três anos, houve um incremento de 948.860 imigrantes no estado do Ceará. Em 1999, 1.143.212 (57,1%) vieram para esta região. Deste contingente de imigrantes, 55,4% (633.754) eram mulheres, superiores numericamente aos homens (509.458) (IBGE/ PNADS 1996 e 1999). Diante dessa constatação estimulou o interesse em estudar o gênero feminino.

No caso estudado, as imigrantes analisadas fazem parte da classe trabalhadora, por isso, elas teriam uma compreensão do mundo específica deste agrupamento social, ao mesmo tempo em que estariam subordinadas ao pensamento dominante.

Existe uma forma de pensar o cotidiano próprio dos grupos sociais, desenvolvida historicamente, determinada pela economia ou processo de reprodução da força de trabalho. No caso das imigrantes, elas vão desenvolver uma linguagem, uma cultura, costumes e modos de fazer, sentir e pensar particulares de sua condição especial de trabalhadoras. E especialmente quais foram suas dificuldades e facilidades no que se refere à sua adaptação e integração na cidade de Fortaleza.

Neste item, então, serão apresentadas as falas das imigrantes que mostraram como elas se entendiam e se viam, procurando, assim, analisar os seus discursos sobre o seu trabalho e o seu cotidiano, buscando encontrar os significados do habitar para elas. Desta forma, completa-se a explicação sociológica sobre este fenômeno social.

O ponto fundamental para analisarmos como se dá o processo de integração, foi identificar as redes de ajuda, que fornecem apoio, trabalho, facilitando a adaptação e a integração dessas mulheres.

Redes de ajuda aos imigrantes como construções de espacialidades

Uma questão muito importante é a relação de integração das imigrantes ao seu grupo social. Verificou-se que em alguns casos o emprego se transformou em formas de inclusão diminuindo, assim, a sua diferença com os naturais:

Gosto muito do que faço. Aqui me dou bem com todo mundo. Sem contar que aqui é minha segunda casa, pois passo a maior parte do dia aqui. Ganho pelo o que eu faço, então, me acostumei a ficar muito tempo aqui trabalhando. As pessoas me tratam muito bem. Esse emprego é muito importante para mim. Eu estou muito satisfeita trabalhando aqui (Imigrante 7).

Em outros casos, a discriminação aparece nas relações sociais, dificultando a integração da imigrante no local de trabalho:

Nessa profissão, quando eu trabalhava na Aldeota, tinha muito homossexual lá, aí você trabalhar com eles é muito difícil. O patrão de lá  discriminava as mulheres e dava mais valor a eles. Você podia fazer o melhor que pudesse, mas, sempre o serviço do homossexual era melhor. Eu mesmo não entendia. Podia chegar uma cliente me procurando, e porque entrou um "veado" hoje, que veio do Sul, ou de sei lá aonde, a patroa dizia: 'vai com ele, o trabalho dele é ótimo'. Mas isso vinha dos próprios patrões. Pois eles (os homossexuais) mesmos eram super alegres. Eles não são culpados. Os próprios patrões evidenciavam eles como estrela. Então resolvi sair de lá. Aqui não existe isso, é outro ambiente (Imigrante 3).

Este depoimento evidencia uma outra discriminação decorrente da opção sexual do indivíduo, que veio agregar-se às dificuldades na adaptação da imigrante.

Nota-se, dessa forma, que existe um sentimento que é característico das pessoas não naturais: quando se chega num lugar estranho, as pessoas se sentem, inicialmente, deslocadas e diferentes. O contato com as pessoas naturais é imprescindível para que os não-naturais possam se sentir, aos poucos, fazendo parte de um mesmo grupo. O processo de adaptação funciona tranqüilamente quando as pessoas se sentem bem no grupo que participam.

Em outro caso, a entrevistada possuía uma situação financeiramente estável no seu lugar de origem, mas para manter o seu emprego, precisava de um curso superior. Passou no vestibular aqui em Fortaleza e veio para cá, sozinha. Sem conhecer ninguém, nem lugar para ficar. Ela substituiu sua família biológica por uma outra "emprestada", para que ela pudesse suportar melhor a falta dos seus pais e da sua filha, ou seja, da sua casa, do seu lar. Vejamos o depoimento dela:

Logo que cheguei aqui, foi muito difícil. Primeiro a saudade da minha família me sufocava, tanto que quase desisti de tudo para voltar. Segundo foi moradia. Um motorista do aeroporto me ajudou a encontrar um lugar para ficar. Mas, não consegui ficar lá por muito tempo. Fiquei com o telefone dele e como era a única pessoa que conhecia, resolvi ligar. Ele pediu um tempo e em dois dias entrou em contato comigo, dizendo que eu podia ficar na casa dele. Então, fui morar com ele, a esposa e mais dois filhos. Tive muita sorte. Eles me tratam bem e em troca da recepção deles, dou uma ajuda financeira (Imigrante 17).

A troca de favores entre a família natural e a hóspede imigrante encontra respaldo na cultura cearense hospitaleira, justificando, desta forma, este comportamento aparentemente despretensioso.

Cavalcante (2002) afirma que existe uma tradição cultural que incentiva a migração, que segue uma prática social institucionalizada, orientada por certos valores, expectativas e modelos de conduta: "Ela seria forçada, pois aparece como a única possibilidade de solução de problemas, individuais ou grupais, econômicos ou sociais. Esta idéia seria transmitida pela tradição e pela educação familiar" (CAVALCANTE apud CARLEIAL, 2002:182). Por isso, também, é que as pessoas migram, mesmo estando conscientes das dificuldades que podem enfrentar.

As pessoas, portanto, teriam uma liberdade relativa para migrar. Como discute Vainer (2002) a liberdade do trabalhador é negativa porque o obriga a sujeitar-se às imposições do mercado, pressionando-o a viver em outros lugares para sobreviverem.

A satisfação e a insatisfação com a vida migrante aparecem nas entrevistas de maneira interessante. Das seis funcionárias do Gabinete de Beleza Symphonie entrevistadas, chamou a atenção o contentamento delas com o trabalho que exerciam. Uma das causas apontadas, para isso, era as características de Dona Lili, a proprietária, chamada de "tia".

Eu não quero sair daqui de jeito nenhum. A D. Lili me trata como se eu fosse uma filha, melhor do que minha tia que me cria (Imigrante 5).

Carleial (2002) fez um estudo sobre redes de solidariedade tendo como exemplo o caso do Gabinete de Beleza  Symphonie, local particular de inserção no mercado de trabalho para imigrantes: "constitui-se uma rede feminina econômica e de solidariedade às imigrantes, que reforça uma ocupação tradicionalmente de mulheres, aquela de serviços de higiene e limpeza" (CARLEIAL, 2002:4).

Em contraposição às funcionárias do Gabinete de Beleza Symphonie, as outras imigrantes não encontraram uma "Dona Lili", portanto não dispuseram dessa intermediação nem dessas relações de amizade e de ajuda, sofrendo mais diretamente as pressões sociais, que, por isso, se apresentaram mais cruelmente. Essas redes de ajuda aos imigrantes funcionam facilitando a adaptação dessas pessoas na cidade grande.

Para Carleial (2002) a migração representa para o indivíduo a sua transformação em estranho, em estrangeiro onde vive: "Os migrantes são alienígenas, porque diferem dos povos locais, de seus costumes e de seus valores culturais. Portanto, as relações sociais que se estabelecerão entre os imigrantes e os naturais, em decorrência, serão baseadas em desigualdades diversas" (p.183 - 184).

A mesma autora ainda afirma que, mesmo se adaptando, os não-naturais, no dia-a-dia, vão construindo uma identidade própria em oposição ao natural, ressaltando os valores originários de sua família, dos laços de parentesco e da vizinhança que ficaram na terra natal.

Considerações finais

Na dinâmica migratória, o habitar, entendido aqui como o viver no cotidianamente foi a questão central para analisar como se deu sua integração e adaptação das imigrantes na cidade de Fortaleza.

As mulheres imigrantes entrevistadas de uma maneira geral eram jovens, solteiras, tinham um razoável nível de escolaridade e uma renda muito baixa. A maioria veio para Fortaleza em busca de emprego, exercendo atividades tradicionalmente femininas.

Ao chegar em lugar "desconhecido" os sentimentos que perpassam são os de medo, vergonha, apreensão, saudade, mas, sobretudo certas do seu objetivo. Sem dúvida para quem veio do interior o desafio se torna ainda maior, pois além da diferença cultural, a cidade possui múltiplas características, dentre elas a diversidade. Existe uma riqueza cultural, onde os imigrantes contribuem diretamente para esse enriquecimento.

Mesmo com todas as limitações e dificuldades, o universo feminino pesquisado teve uma adaptação favorável, facilitado de certa forma, pelo apoio, em especial da proprietária do Gabinete de Beleza Symphonie.

Tendo em vista que essa pesquisa se restringiu a um pequeno grupo, constitui-se em desafio para uma futura pesquisa a análise comparativa entre as imigrantes que estão no mercado e as que ainda não conseguiram, para ver se esse apoio interfere de maneira considerável no que se refere à integração da mulher imigrante no espaço urbano.

O habitar, o dia-a-dia, o cotidiano, principalmente no âmbito laboral, foram essenciais para uma integração positiva entre as imigrantes oriundas de diversos lugares e as nativas fortalezenses.
 

Nota

[1] Autores como Ralfo Matos, Rosana Baeninger e Fausto Brito podem esclarecer questões sobre a trajetória das migrações e redistribuição espacial da população. Ver na bibliografia: MATOS, Ralfo, BAENINGER, Rosana e BRITO, Fausto.
 

 

Bibliografía

ALMEIDA, Cecília Cardoso Teixeira de. Habitat e migrações. Revista Electrónica de Geografía y Ciencias Sociales. Universidade de Barcelona. ISSN: 1138-9788. Nº 94 (6), 1 de agosto de 2001.

BRITO, Fausto. Brasil, final de século: a transição para um novo padrão migratório? In:

CARLEIAL, Adelita ( Org.) Transições Migratórias. Fortaleza: Iplance 2002.

CAVALCANTE, Maria Juraci Maia. Tradição e cultura de migração na memória e educação de jovens e famílias do interior do Ceará. In: CARLEIAL, Adelita (Org.) Transições Migratórias. Fortaleza: Iplance, 2002.

DEDECA, Cláudio Salvadori. MARCOS, José Marcos Pinto da. Migração e trabalho: uma abordagem não algoz. 10/2000. ABEP. XII Encontro Nacional de Estudos Populacionais, 2000. Caxambu, MG, Brasil, Oral. 55p.

MATOS, Ralfo, BAENINGER, Rosana. Migração e urbanização no Brasil: processos de concentração e desconcentração espacial e o debate recente. ABEP. XI Encontro Nacional de Estudos Populacionais, 2000.

SANTOS, Milton. A natureza do Espaço: técnica e tempo, razão e emoção. 1997. São Paulo: Hucitec.

TAVARES, Maria Tereza Goudard. A cidade e a alfabetizações das crianças das classes populares: algumas considerações.www. apaginadaeducação.pt/arquivo/Artigoasp/ID - 1403. Acesso em 25/01/03.

VAINER, Carlos B. Deslocamentos compulsórios, restrições à livre circulação: elementos para um conhecimento teórico da violência como um fator migratório. In: CARLEIAL, Adelita (Org.) Transições Migratórias. Fortaleza: Iplance, 2002.
 

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© Copyright Scripta Nova, 2003

Ficha bibliográfica:
RICARDO, D. M. y CASTRO, V. M. O habitar no processo de integração do imigrante. Scripta Nova. Revista electrónica de geografía y ciencias sociales. Barcelona: Universidad de Barcelona, 1 de agosto de 2003, vol. VII, núm. 146(064). <http://www.ub.es/geocrit/sn/sn-146(064).htm> [ISSN: 1138-9788]

 
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