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Índice de Scripta Nova

Scripta Nova
REVISTA ELECTRÓNICA DE GEOGRAFÍA Y CIENCIAS SOCIALES
Universidad de Barcelona. ISSN: 1138-9788. Depósito Legal: B. 21.741-98
Vol. XIII, núm. 288, 15 de abril de 2009
[Nueva serie de Geo Crítica. Cuadernos Críticos de Geografía Humana]


CIDADANIA E REFORMA AGRÁRIA NO BRASIL: A HERANÇA DE MANOEL CORREIA DE ANDRADE

Wagner Costa Ribeiro e Paulo Roberto Rodrigues Soares, coordenadores

 

Índice

Wagner Costa Ribeiro, Paulo Roberto Rodrigues Soares. Manoel Correia de Andrade, o Nordeste a Geografia e a Reforma Agrária

Doralice Sátyro Maia. O pensamento de Manoel Correia de Andrade e a sua obra A Terra e o Homem no Nordeste

Álvaro López Gallero. Manoel Correia de Andrade: uno de los imprescindibles

César Augusto Ávila Martins. Notas sobre a economia da Geografia de Manoel Correia de Andrade

Rosa Maria Vieira Medeiros. Manoel Correia de Andrade e a questão agrária brasileira

 


 

MANOEL CORREIA DE ANDRADE, O NORDESTE A GEOGRAFIA E A REFORMA AGRÁRIA

Wagner Costa Ribeiro
Professor dos Programas de Pós-Graduação em Geografia Humana e em Ciência Ambiental da Universidade de São Paulo
wribeiro@usp.br

Paulo Roberto Rodrigues Soares
Professor do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
prrs.geo@uol.com.br


Manoel Correia de Andrade, o Nordeste a Geografia e a Reforma agrária (Resumo)

Este texto comenta aspectos da vida do eminente geógrafo brasileiro Manoel Correa de Andrade, como sua trajetória como professor e pesquisador em Universidades brasileiras, as premiações que recebeu e alguns de seus livros, como a Terra e o Homem no Nordeste, considerado um dos mais importantes do século XX. Além disso, apresenta os artigos que integram essa reunião de textos, que versam sobre o principal livro do professor Correa de Andrade, seu método de investigação, a Geografia Ecoômica e a situação no campo brasileiro.

Palavras-chave: Manoel Correa de Andrade, História do Pensamento Geográfico, Geografia Econômica, Brasil.


Manoel Correia de Andrade, el Nordeste la Geografia y la Reforma agraria (Resumen)

Este artículo discute los aspectos de la vida del eminente geógrafo brasileño Manoel Correa de Andrade, su trayectoria como profesor e investigador en las universidades brasileñas, los premios que han recibido y algunos de sus libros, al igual que la Tierra y el hombre en el Nordeste, considerado uno de los más importante del siglo XX. Además, presenta los artículos dentro de ese conjunto de textos, que se ocupan del principal libro del profesor Correa de Andrade, su método de investigación, la Geografía Economica y la situación en el campo brasileiro

Palabras clave: Manoel Correa de Andrade, Historia del Pensamiento de Geografía, Geografía Económica, Brasil.

Manoel Correia de Andrade, 'Nordeste', Geography and Agrarian Reform ( Abstract)

This text comments aspects of the life of the eminent Brazilian geographer Manoel Correa de Andrade, as his path like the professor and researcher in Brazilian Universities, the prize-givings that received and some of his books, as the Land and the Man in the Northeast, considered one of the most important one of the century XX.  Beyond that, presents the articles that integrate that meeting of texts, that are about the main book of the professor Correa de Andrade, his approach of inquiry, the Economic Geography and the situation in the Brazilian field. 

Keywords:  Manoel Correa de Andrade, History of the Geographical Thought, Economic Geography, Brazil.

Autor de um dos maiores clássicos do país, A Terra e o Homem do Nordeste, o geógrafo e professor da Universidade Federal de Pernambuco - UFPE, Manoel Correia de Andrade atuou, nos últimos anos, na Cátedra Gilberto Freyre daquela universidade. Também orientou trabalhos no Mestrado em Geografia da UFPE.

Formado em Geografia e História pela Universidade Católica de Pernambuco, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, obteve o título de doutor em 1967, na mesma universidade. Como costumava dizer, era um homem da terra, mas preocupado com os sem terra. Filho de tradicionais fazendeiros em Pernambuco, preferiu escrever e atuar para promover uma maior inclusão social no Brasil.

O professor Correia de Andrade ministrou aulas de Geografia Econômica na UFPE, onde ingressou em 1952. Além disso, deu aulas na Universidade Católica de Pernambuco, de 1953 a 1975. Foi professor colaborador em vários cursos de pós-graduação na Universidade de São Paulo (USP), na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), na Universidade Estadual de São Paulo (Unesp) e na Universidade de Buenos Aires, na Argentina nas décadas de 1980 e 1990.

Polêmico, teve mais de 80 livros e inúmeros artigos publicados no país e no exterior. Seu mais recente livro está no prelo, Redescobrindo o Brasil II, resultado de um dos seminários com aquele título que ele coordenou na Cátedra Gilberto Freyre, cada qual discutindo a produção de intelectuais relevantes do país, como Celso Furtado e Aziz Ab'Saber, em 2005.

Pesquisador do CNPq, foi indicado Geógrafo da América Latina, pelo qual recebeu o prêmio Milton Santos,  conferido por ocasião do IX Encontro de Geógrafos da América Latina, realizado na USP em 2005. Antes disso, em 1989, foi contemplado com o título de professor emérito da UFPE, instituição na qual se aposentou, em 1985 e, também, de Pesquisador Emérito, pela Fundação Joaquim Nabuco, em 1989, onde também atuou. Outras premiações relevantes, além das já citadas, foram a Medalha da Ordem Nacional do Mérito Científico, do Ministério da Ciência e Tecnologia, em 2003, e a Medalha Capes 50 anos, do então Ministério da Educação e Desporto, em 2001, além de outras distinções de Doutor Honoris Causa nas seguintes Universidades Federais: de Sergipe (1996), do Rio Grande do Norte (1995), de Alagoas (1956); e da Universidade Católica de Pernambuco (1979).

 

Manoel Correia de Andrade, durante o último evento em que apresentou uma palestra, em Alagoas, 2007.

 

Na década de 1980, foi professor convidado do Programa de Pós-Graduação em Geografia Humana do Departamento de Geografia da USP, ocasião em que pode expressar suas inquietações sobre a geografia produzida no Brasil em disciplina por ele ministrada. Esteve de modo recorrente na USP, em especial em bancas de avaliação de teses e de concursos. Em geral, sua arguição era serena no tom, mas objetiva e clara nos questionamentos que formulava.

Outra característica o identificava: a crítica, não apenas ao trabalho em questão, mas às condições sociais atuais. Esta marca é recorrente nas obras do professor Manoel. Em uma passagem de seu maior sucesso editorial, originalmente publicado em 1963 e atualizado em sua sétima edição pela editora Cortez em 2005, destaca-se sua preocupação com os novos rumos do Nordeste, seu principal foco de investigação: “O Nordeste sofre do que poderíamos chamar de um crescimento sem mudanças reais, apenas formais. (...) O desenvolvimento do turismo vem causando vários impactos sobre as atividades agrárias do Nordeste (...). Por outro lado, traz alguns impactos às praias (...), provocando a destruição de áreas anteriormente cultivadas com coqueirais”. O tom crítico não deixa de reconhecer que o Nordeste “apesar de seu ritmo lento de crescimento, não é uma região inviável”.

Na coletânea, Elisée Reclus, que organizou na década de 1980 sobre o geógrafo anarquista francês que viveu no século XIX, destaca-se outra passagem crítica de seus escritos: “admitindo-se a geopolítica como uma doutrina posta a serviço dos poderosos para dominar os fracos, chega-se à conclusão de que da obra de Reclus se pode retirar uma contrageopolítica dos povos tutelados em favor da libertação”.

Por fim, não se pode deixar de comentar sua defesa incondicional da reforma agrária no Brasil, afirmada em diversas obras, como A questão do território no Brasil (1995) e Lutas camponesas no Nordeste (1986). Não bastasse isso, o professor adentrou por temas teóricos em livros como Caminhos e descaminhos da Geografia (1992) e Geografia e globalização (1996).

Além desses livros, destacam-se de sua vasta produção Paisagens e problemas do Brasil, O planejamento regional e o problema agrário no Brasil, Nordeste: espaço e tempo, Latifúndio e reforma agrária no Brasil, Tradição e mudança, Poder político e produção do espaço, Agricultura e classes sociais no Nordeste, Geografia econômica do Nordeste e Geografia econômica.

Pesquisador reconhecido, esteve diretamente envolvido com a militância, seja acadêmica seja política. No primeiro caso, ocupou diversos cargos de gestão universitária, como diretor do Centro de Estudos de História Brasileira da Fundação Joaquim Nabuco de 1984 a 2003, ou ainda como coordenador do Mestrado em Geografia e Economia da Universidade Federal de Pernambuco, além de presidente da Associação dos Geógrafos Brasileiros entre 1961 e 1962. Na política, atuou em diversas funções públicas, em especial no governo de Miguel Arraes, na época claramente identificado com os ideais da esquerda.

Trabalhador incansável, faleceu em 22 de junho de 2007, após retornar de mais uma de suas conferências, depois de complicações cardíacas, aos 84 anos.

A série de artigos reunidos nessa coletânea expressa alguns dos pontos acima. Foram convidados pesquisadores de diversas matrizes da geografia de modo a expressar a amplitude das questões presentes na produção de Manoel Correia de Andrade.

Estudar o Nordeste brasileiro é impossível sem conhecer A Terra e o Homem no Nordeste, de 1963. Esse clássico do autor pernambucano é analisado na contribuição da professora Doralice Sátyro Maia, da Universidade Federal da Paraíba. Ela destaca a influência do historicismo e dos estudos sobre a paisagem nessa obra de Manoel Correia de Andrade. Para ela, a obra se fundamenta em outra noção clássica da Geografia: região, tema de debate durante anos entre geógrafos. Para alguns, se trata de um objeto de estudo, mas outros, entre os quais ela inclui o professor Correia de Andrade, a pautam como uma metodologia de pesquisa, como expressa o principal sucesso editorial do autor.

O texto de Álvaro López Gallero, do Departamento de Geografía da Universidad de la República, Uruguai, destaca a inserção que Manoel Correia de Andrade alcançou na América Latina. Para tal, parte da análise da obra do professor pernambucano e discute seu método, o materialista dialético, para compreender a realidade brasileira. Além disso, destaca a posição de militante que encontrou no geógrafo brasileiro, defensor de uma melhor distribuição da riqueza. Por fim, comenta temas que surgiram no horizonte do pesquisador que o insere na qualidade de latinoamericanista.

Por sua vez, César Augusto Ávila Martins, professor do Departamento de Geociências da Universidade Federal do Rio Grande (FURG) analisa o livro Geografia econômica de 1972. Trata-se de um dos maiores sucessos editoriais do professor Correia de Andrade, uma vez que foi adotado como manual em diversos cursos de economia e administração de empresas no Brasil. Inicialmente o autor contextualiza a obra do professor Manoel. Depois, passa a comentar o livro em questão apontando o que seria, em seu entender, seu maior destaque: a inserção de um diálogo entre a economia e a análise geográfica. Outro aspecto apontado no texto de Martins é a presença da temática agrária no livro, que ocupou cinco capítulos entre os vinte do total.

A reforma agrária, uma das paixões do professor pernambucano, é o enfoque central do artigo de Rosa Maria Vieira Medeiros, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Ela indica como o tema percorreu diversos livros do geógrafo brasileiro. Porém, demonstra também o rigor conceitual que era comum ao autor, apontando como ele definiu conceitos como o de camponês, parceiro, arrendatário, modo de produção capitalista e estrutura fundiária. Ou seja, para Manoel Correia de Andrade reforma agrária era uma demanda social que tinha que ser executada à luz da reflexão teórica.

Manoel Correia de Andrade foi um exemplo ao perseguir seus ideais por meio de uma produção consistente, engajamento político e um diálogo interdisciplinar agudo. Deixa um legado relevante tanto do ponto de vista acadêmico quanto político. Mas, mais que tudo, uma enorme contribuição para os que, como ele demonstrou em sua trajetória, estão dispostos a alterar o curso do país e do mundo.

 

 


 

O PENSAMENTO DE MANOEL CORREIA DE ANDRADE E A SUA OBRA A TERRA E O HOMEM NO NORDESTE

Doralice Sátyro Maia
Doutora em Geografia Humana. Universidade Federal da Paraíba – Brasil


O pensamento de Manoel Correia de Andrade e a sua obra A Terra e o Homem no Nordeste (Resumo)

As notas apresentam a contribuição do pensador, geógrafo e autor Manoel Correia de Andrade para a geografia brasileira, em especial para a construção da geografia agrária e mostra a sua importância para o entendimento da realidade do nordeste brasileiro. Esboça ainda algumas idéias sobre o pensamento do autor na história do pensamento geográfico.

Palavras-chaves: geografia, história do pensamento geográfico, nordeste brasileiro.

Thought of Manoel Correia de Andrade and his book   The Land and the Man in the  Northeast (Abstract)

The notes show the contribution of the thinker, geographer   and author Manoel Correia de Andrade for the Brazilian geography,   particularly for the construction of agrarian geography and shows its   importance for understanding the reality of the Brazilian Northeast.   Also outlines some ideas on the thinking of the author in the history   of geographic thought.

Keywords : geography - history of geographic thought - Northeast Brazil.

Uma pequena biografia

Geógrafo e historiador, Manoel Correia de Oliveira Andrade, nasceu em Vicência, a 03 de agosto de 1922 no Engenho Jundiá[1]. Fez o curso primário em escola pública na sua terra natal e o curso secundário no Liceu Pernambucano e no Instituto Carneiro Leão, no Recife-PE- Brasil. Formou-se em Direito na Faculdade de Direito do Recife, atual Universidade Federal de Pernambuco - UFPE (1941-1945) e fez o curso de Licenciatura em História e Geografia na Faculdade de Filosofia Manoel da Nóbrega, atual Universidade Católica de Pernambuco (1944-1947). Entre 1956 e 1965, realizou cursos de pós-graduação nas universidades do Brasil e de Paris. Era doutor em Economia por concurso de Cátedra da UFPE. Também realizou viagens de estudos à Itália, Bélgica, Grécia e Israel.

No período de 1963-1964 dirigiu o Grupo Executivo de Produção de Alimentos (GEPA) e foi membro do Conselho Estadual de Educação, no estado de Pernambuco no governo de Miguel Arraes. Foi exilado, momento quando realizou curso de pós-graduação em Paris. Em 1969 exerceu a Presidência do Grupo de Trabalho para elaboração de Sugestões para a Reforma Agrária.

Foi presidente da Associação dos Geógrafos Brasileiros (1961-1962) e Vice-presidente (1970-1972). Foi membro do Conselho Científico do International Council for Research in Cooperative Development, com sede em Genebra, Suíça. Coordenou vários estudos à frente do Departamento de História da Fundação Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, do Recife. É considerado um grande estudioso da realidade do nordeste brasileiro, sendo comparado por alguns a Euclides da Cunha por tão bem ter retratado aquela região. Foi professor do Departamento de Ciências Geográficas da Universidade Federal de Pernambuco, onde ministrou várias disciplinas e orientou várias dissertações de mestrado. Coordenou o curso de mestrado em Geografia e Economia e ainda integrou a comissão para criação dos mestrados em Sociologia e Desenvolvimento Urbano da mesma instituição. Já na qualidade de professor titular colaborador continuou atuando na pós-graduação, ministrando cursos e orientando no mestrado e no recém criado doutorado. Tem diversos livros e capítulos de livros publicados, entre os quais destaca-se "A Terra e o Homem do Nordeste" (1963), além de artigos e textos em revistas e anais de eventos científicos. É considerado por alguns geógrafos como sendo o primeiro autor a publicar trabalhos geográficos voltados para o planejamento. Sobre o tema, destacam-se: “Geografia, Região e Desenvolvimento”; Espaço, polarização e desenvolvimento” e “Agricultura e Regionalização do Nordeste”. Publicou, constantemente, artigos através da imprensa pernambucana.

Atuou até seu falecimento na Fundação Joaquim Nabuco (Pernambuco - Brasil) onde além de permanecer pesquisando e publicando, coordenou a realização de eventos nacionais e internacionais.

Os temas publicados por Manoel Correia, muito embora tenham priorizado a Região Nordeste e em particular, a questão agrária, não se resumem a estas temáticas. Escreveu livros a respeito da relação do Brasil com os continentes: O Brasil e a África e O Brasil e a América Latina e Geopolítica Mundial: Imperialismo e fragmentação do espaço; Geografia Econômica e História do Pensamento Geográfico.

Manoel Correia de Andrade integrou um grupo de pesquisadores pernambucanos, ao lado de Gilberto Osório de Andrade de quem foi aluno e assistente em diversas pesquisas e trabalhos de campo, Hilto Sette e Mario Lacerda de Melo. A grande contribuição à Geografia Brasileira dada pelo professor Manoel Correia de Andrade já foi tema de dois eventos: O X Encontro Nacional de Geógrafos que o homenageou, ocorrido na cidade do Recife em 1996 e a Jornada Manoel Correia de Andrade ocorrida em Natal no ano de 1995[2]. Nestes dois momentos, vários pensadores da Geografia Brasileira apresentaram comunicações a respeito das idéias, das obras e ainda da importância do referido autor para a Geografia.

O trabalho e o pensamento do professor Manoel Correia de Andrade tiveram forte influência na formação dos acadêmicos de Geografia da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Influência esta que se deu seja através dos seus livros, seja pela sua participação pessoal em debates, conferências e palestras que realizava sempre quando convidado, seja ainda através da orientação de dissertações ou da realização de pesquisas com professores da referida instituição. Recebia os professores e alunos da UFPB com muita satisfação, estando sempre disposto a contribuir.

Assim como muitos graduando em Geografia da década de 1980, conheci primeiramente as idéias, o pensamento e as obras do professor Manoel Correia de Andrade nos primeiros anos do curso. Entre aquelas que marcaram a minha trajetória acadêmica destaco: A Terra e o Homem do Nordeste e Geografia Econômica.

Ainda como estudante de graduação, ao começar a participar dos Encontros de Geografia e em especial os Encontros Nacionais de Geógrafos organizados pela Associação de Geógrafos Brasileiros (AGB), tive a oportunidade de conhecer pessoalmente o professor Manoel Correia. Esta ilustre figura que se fazia sempre presente nestas reunões acadêmicas, nas suas mais diversas atividades, desde as apresentações dos alunos de graduação, mestrado e doutorado aos debates e conferências seja como palestrante, seja como participante nas discussões. Nesses momentos costumava literalmente “vestir” a camisa do evento. Era portanto um geógrafo que não somente gostava da Geografia, de ensinar Geografia, mas também de estimular os jovens que estavam no início da sua trajetória acadêmica.

O autor e o pensamento geográfico

Manoel Correia de Andrade é sem dúvida um autor que marcou a Geografia Brasileira, configurando-se em uma referência nacional. A sua obra “A Terra e o Homem no Nordeste” (1963), representa um dos clássicos da Geografia, em especial da Geografia Agrária Brasileira.

O autor integra um grupo clássico de geógrafos que inicialmente construíram a Geografia Agrária Brasileira, entre eles: Orlando Valverde, Pasquale Petrone, Manoel Seabra e Maria do Carmo Galvão. Estes autores são os responsáveis pelo início da construção do pensamento agrário brasileiro. A recuperação das suas contribuições permitiu que uma outra geração de estudiosos - Ariovaldo Umbelino de Oliveira, Sílvio Carlos Bray, Bernardo Mançano, Emília de Rodat Moreira, Lenyra Rique da Silva, Antônio Thomaz Júnior, Paulo Alentejano, Guiomar Germani, Maria de Fátima Rodrigues, Manoel Calaça, entre outros -  da questão agrária avançassem nas suas análises.

A “Terra e o Homem no Nordeste” imprime na Geografia Agrária Brasileira o início de uma fonte de análise para estudos posteriores: a estrutura fundiária e as relações de trabalho no campo. Importante salientar que esta obra antecede o movimento da Geografia Crítica no Brasil, marcado pelo grande acontecimento geográfico nacional: O Encontro Nacional de Geógrafos – a segunda maior reunião científica nacional – ocorrido em Fortaleza em 1978. Assim, a publicação da obra citada antecede a inserção maior do pensamento marxista na Geografia.

Neste mesmo ano de 1978, realizou-se na cidade de Salgado (SE) o I Encontro Nacional de Geografia Agrária, tendo como um dos seus principais criadores, o professor Manoel Correia de Andrade. Desde então, este evento acontece a cada dois anos, tendo sempre como uma de suas figuras marcantes, o referido professor. Esta reunião científica tem como principal preocupação a compreensão do espaço agrário brasileiro

Sabe-se que o final da década de 1970 e o início da década de 1980 são caracterizados pelo momento, como alguns denominam, de formação de uma "nova consciência social" no Brasil. Greves, passeatas, lutas particulares, constituição de centrais sindicais e de partidos políticos de vários matizes ideológicos, exigiram que as ciências sociais tomassem outra posição; já não mais se podia ignorar estes acontecimentos. E a Geografia também não podia continuar alheia a estes movimentos, sendo forçada a procurar explicar as grandes contradições sociais.

Manoel Correia, a partir da sua obra “A Terra e o Homem no Nordeste”, na década de 1960 vem se dedicando à análise da sociedade agrária brasileira. Como disse Lenyra Rique da Silva:

Não conheço nenhum outro geógrafo como ele, que tenha dedicado tanto tempo do seu trabalho aos problemas nordestinos, em especial àqueles voltados para o campo, o que se deve, sem dúvida alguma, a um maior conhecimento da região pelo autor.

Manoel abordou as lutas empreendidas entre os grandes senhores de terra e seus comparsas (as milícias particulares ou militares) durante o período colonial, regencial imperial, na primeira, na nova e na novíssima República do massacre dos índios nos séculos XVI e XVII, principalmente; aos negros escravos entre o século XVI e o século passado. Enfocou a resistência dos negros organizados em quilombos e os confrontos isolados ou em grupos que se deram entre os escravos, feitores e capatazes, representantes dos senhores das terras, quando aqueles se embrenhavam nas matas numa busca alucinada de liberdade [...] (Silva, 1995, p.154).

Desta forma, “A Terra e o Homem no Nordeste” dá uma contribuição ímpar ao estudo da geografia agrária brasileira. Para alguns geógrafos, este trabalho é um dos primeiros registros da influência do pensamento marxista na geografia agrária brasileira, ao lado dos trabalhos de Orlando Valverde – “Estudos de Geografia Agrária Brasileira” -, Pasquale Petrone – A Baixada do Ribeira (1966) -, Léa Goldenstein – A industrialização da baixada santista (1972)-, Manoel Seabra – “Vargem Grande: organização e transformação de um setor do cinturão verde paulistano” (1971) e “As cooperativas mistas do estado de São Paulo” (1977). (Oliveira, 1999, p.69).

Dizer que o livro “A Terra e o Homem no Nordeste” apresenta influência do pensamento marxista, não significa afirmar que o mesmo é uma obra marxista, ou fundamentada no materialismo histórico dialético. Nem que se trata de uma obra da Geografia Crítica. Este estudo contém alguns elementos fundamentais da análise marxiana, como preferem alguns denominá-la. Contudo, não pode ser considerado um exemplar da geografia marxista. A inserção em forma de anexo do subcapítulo “As tentativas de organização das massas rurais – As ligas camponesas e a Sindicalização dos Trabalhadores do Campo”, representa um marco político na produção geográfica sobre a questão agrária brasileira. (Oliveira, 1980, apud Lins, 1995, p.37).

Lenyra R. da Silva (1995) já revelou que o método de interpretação dos fatos adotado por Manoel Correia de Andrade em suas obras, é uma descrição reflexiva, “o qual reflete um empirismo racionalista, comum na geografia, mas que tem no autor em pauta a sua maior expressão no Brasil.”  E complementa:

Manoel Correia, apesar de ter recebido, como qualquer outro geógrafo da sua época, a influência dessas escolas, soube proceder a uma leitura dos fatos sociais em que associa um pouco de historicismo e de fenomenologia racionalista, quando, com competência, parte de um fenômeno social para outro. (Silva, 1995, p.156).

Sobre esta corrente do pensamento, o Historicismo, sabe-se que a mesma corresponde ao entendimento da história como

[...] sucessão de mudanças nos sistemas sociais e como história do desenvolvimento dos esforços do homem para dominar a natureza, o esforço para identificar a estrutura social de cada época histórica concreta, e a idéia de uma evolução histórica como progresso, como finalidade[3] (Capel, 1981, pp.439-440).

Essa escola de pensamento nasce na Europa entre o final do século XIX e início do século XX, no contexto de uma forte crise das concepções positivistas, visando elaborar uma crítica ao modelo naturalista de cientificidade e na afirmação da especificidade das ciências humanas, derivada, por sua vez, da dicotomia natureza-história (Capel, 1981). Esta divisão entre natureza e história propiciou a divisão das ciências em dois grandes grupos: ciências humanas ou do espírito e ciências naturais. Estas são portadoras de objetos e de métodos que as diferenciam. Explica o autor supracitado:

A originalidade das ciências humanas deriva do fato de que o investigador não estuda um objeto exterior a ele, mas uma realidade na qual o mesmo está imerso. Esta realidade pode ser abordada por uma pluralidade de métodos, sem excluir os da natureza, porém não aceitando-se um reducionismo naturalista (Capel, 1981, p.314).

Nesse pensamento, a realidade humana apresenta como característica essencial a sua historicidade,

[...] a existência de um desenvolvimento histórico no qual os indivíduos e os grupos sociais atuam movidos por uma intencionalidade e aceitando certos valores. Esta exaltação da história alcança tal dimensão que a expressão “Historicismo” chega a designar uma das caracterizadas correntes de criação antipositivista (Capel, 1981, p.315).

Para essa corrente de pensamento, todo fenômeno cultural, social ou político é histórico e não poderia ser compreendido senão através da historicidade. (Oliveira, 1999, p. 67).

A condução a uma separação entre a natureza e o espírito, ou como melhor se difundiu, entre as ciências naturais e ciências humanas, implantou na Geografia um problema que se mantém em pauta: a separação geografia física versus geografia humana. Para enfrentar este dualismo, surge a geografia regional fundamentada nas concepções teóricas do historicismo. Nessa corrente constroem-se as categorias[4] fundamentais da Geografia: região e paisagem.

A respeito dessa constante busca por uma unidade, explica Horacio Capel,

[...] esta unidade tão procurada se encontrou, sobretudo, concentrando os esforços de investigação na região e na elaboração de uma síntese regional. É na região, de fato, onde coincidem e se combinam fenômenos de caráter físico e humano, e onde podem estudar-se as interrelações entre uns e outros (Capel, 1981, p.338).

Neste sentido, a região geográfica diferencia-se da região natural, ela passa a abranger “uma paisagem e sua extensão territorial, onde se entrelaçam de modo harmonioso componentes humanos e natureza.” (Corrêa, 1987, p.28). Há aí uma correspondência entre o conceito de região e o de paisagem, podendo muitas vezes igualar-se:

A região geográfica assim concebida é considerada uma entidade concreta, palpável, um dado com vida, supondo portanto uma evolução e um estágio de equilíbrio. [...].

A concretude e individualidade de cada região são ainda reconhecidas pela sua população e as das regiões vizinhas; isto se explica pelo fato de cada região possuir um nome próprio único, que todos conhecem a aprtir de uma vivência plenamente integrada à região: pays de Caux, pays de la Brie, Agreste, Brejo, Campanha Gaúcha, etc. (Corrêa, 1987, p.28).

Outra categoria geográfica que desde o século XIX tornou-se fundamental na pesquisa geográfica e que também ganha forças com o Historicismo é a paisagem. Esta tem uma definição do senso comum que corresponde à área que se abrange num lance de vista ou uma representação artística em desenho, pintura ou gravura de uma dada localidade. Tal significação está na formulação da categoria geográfica paisagem: “representa o aspecto visível diretamente perceptível do espaço” (Dolfuss, 1973, p.13) e ainda: “Tudo aquilo que nós vemos, o que nossa visão alcança, é a paisagem. Esta pode ser definida como o domínio do visível, aquilo que a vista abarca.” (Santos, 1988, p.61).

Desse modo, a paisagem traduziria, de alguma forma, as interações entre os diversos elementos físicos e entre estes e o grupo. Por outro lado, cada região traduzia-se em uma paisagem, refletindo a diferenciação espacial. Desde então, os conceitos geográficos de paisagem e região aparecem como sinônimos, confundindo-se um com o outro. (Maia, 2002, p. 61).

A reunião destas duas categorias – região e paisagem – constituiu a base dos estudos geográficos. Pois, cada região “traduz-se em uma paisagem, e esta é um reflexo da diferenciação espacial.” (Capel, 1981, p.345).

Em “A Terra e o Homem no Nordeste”, é bastante perceptível a influência do Historicismo. Logo na sua introdução, o autor afirma: “utilizando o método histórico, analisamos sumariamente a evolução econômica de cada uma das regiões geográficas desta evolução sobre o problema da mão-de-obra.” (Andrade, 1998, p.20). Da mesma forma, a pesquisa fundamenta-se principalmente a partir dos dois conceitos: região e paisagem. Esta obra trata profundamente de uma região brasileira, conhecida muito como sendo uma “região-problema”. Com a preocupação de mostrar não só para geógrafos, mas para “os leitores dos vários pontos do território nacional”, a realidade nordestina, “como se processam as relações entre o homem e a terra, entre os trabalhadores e os proprietários” e “as condições de vida da grande massa que moureja no campo” é que Manoel Correia de Andrade escreve esta importante obra.

“A Terra e o Homem no Nordeste” está dividia em 8 capítulos: 1) Introdução; 2) O Nordeste: região e contrastes; 3) A propriedade da terra e a mão-de-obra na Região da Mata e do Litoral Oriental; 4) Propriedade, policultura e mão-de-obra no Agreste; 5) O latifúndio, a divisão da propriedade e as relações de trabalho no Sertão e no Litoral Setentrional; 6) O Meio Norte e a Guiana Maranhense; 7) O Capitalismo e a evolução recente da agricultura nordestina; 8) O Nordeste e o Impacto da Globalização; além de um Anexo, intitulado “As tentativas de solução da questão agrária”. Vale destacar que os capítulos 7 e 8 foram inseridos na edição mais recente.

Como já afirmamos anteriormente, a referida obra representa, sem dúvida, a uma grande contribuição à geografia brasileira, mas também ao pensamento brasileiro e ainda à construção de um país que deixasse de ser marcado pelo domínio do latifúndio e pela exploração do trabalhador.

 

Notas

[1] Texto originalmente elaborado para o curso Realidade Brasileira a partir dos Grandes Pensadores Brasileiros – Região Nordeste – promovido pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST e Núcleo de Documentação e Informação Histórica Regional – UFPB em abril de 2003.

[2] As comunicações deste evento estão publicadas no livro “Manoel Correia de Andrade – o geógrafo e o cidadão, organizado por José Lacerda Felipe, 1995.

[3] Tradução livre da autora deste texto.

[4] Entendemos categoria como conceito fundamental para o conhecimento, sendo, portanto, indispensável na construção do pensamento científico.  Como bem explicou Armando Corrêa da Silva, “as categorias são, inicialmente, universais abstratos que se transformam em universais concretos pela práxis.” (SILVA, 1986, p.26). Ainda, de acordo com o referido autor, o conjunto de categorias de uma ciência está relacionado ao objeto de conhecimento dessa ciência. Seguindo esse raciocínio, Corrêa elenca as categorias fundamentais do conhecimento geográfico que diz serem entre outras: espaço, lugar, área, região, território, habitat, paisagem e população. (SILVA, 1986, p.28 seq.).

 

Bibliografia

ANDRADE, Manoel Correia de. A Terra e o homem no Nordeste: contribuição ao estudo da questão agrária no Nordeste. 6.ed. Recife: Editora Universitária da UFPE, 1998.

ANDRADE, Manoel Correia de . A Terra e o homem no Nordeste. 4 ed. São Paulo: Livraria Editora Ciências Humana, 1980.

CAPEL, Horacio. Filosofía y ciencia en la Geografía contemporánea – una introducción a la Geografía. Barcelona (ES): Barcanova, 1981.

CORRÊA, Roberto Lobato. Região e organização espacial. 2.ed. São Paulo: Ática, 1987.

DOLFUSS, Olivier. A análise geográfica. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1973.

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MANOEL  CORREIA  DE  ANDRADE: UNO  DE  LOS  IMPRESCINDIBLES

Álvaro López Gallero
Departamento de Geografía, Facultad de Ciencias. Universidad de la República, Uruguay
lopezga@fcien.edu.uy


Manoel Correia de Andrade: uno de los imprescindibles (Resumen)

Uno de los geógrafos más destacados de Brasil que tuvo la particularidad de observar el mundo y los lugares desde la región Nordeste,  uniendo la labor de investigación -sustentada en una metodología materialista dialéctica- con una actitud militante en la búsqueda de la transformación social en su región, en su país, pero también en su continente. Por su firmeza, su ética y la continuidad de su acción es que lo consideramos –a la manera brechtiana-,  un imprescindible. Fue un geógrafo económico con una sólida formación de base histórica que le permitía vincular temporalmente los hechos y los lugares, siempre atento a las contradicciones sociales y territoriales, buscando salidas a las problemáticas desde una Geografía que consideró siempre entre las ciencias sociales y con una interrelación permanente con las ciencias que también alcanzan una visión humanística.

Palabras claves: Brasil, Nordeste, investigador, materialismo dialéctico, Geografía.

Manoel Correia de Andrade: one of the essential (Abstract)

One of the most prominent geographers from Brazil that had   the particularity to observe the world and the seats from the   Northeast region, with your labor- backed research in a   dialectical-materialistic methodology , and with a militant attitude   in the search for the social transformation in their region, in their   country, but also in their continent. For their steadfastness, their   ethics and the continuity of their action is that you feel it the   way-Brechtian, an essential. He was an economic geographer with a   solid formation of historical basis that can link the time, the facts   and the places, always attentive to the social and territorial   inequalities, seeking the way to problematic from a humanistic vision.

Key words: Brazil, Northeastern Region, researcher, dialectic materialism, Geography.

La desaparición del Prof. Manoel Correia de Andrade constituyó un impacto para quienes compartimos con él muchas jornadas académicas, en particular, desde el Primer Encuentro de Geógrafos de América Latina realizado en Aguas de Sâo Pedro, en 1987. Vivir realmente un evento -como todos sabemos-, supone no solo las sesiones formales sino las oportunidades de desplegar el pensamiento en torno de una mesa que posibilite llegar hasta la raíz de las ideas y de los procederes, de manera de poder ahondar en la integridad del investigador. Y eso fue posible con el Prof. Andrade porque,  si bien constituía una figura físicamente imponente, de voz grave y seño adusto, su sensibilidad, su cristalinidad y su ética facilitaban la rápida comprensión de su manera de pensar y actuar.

Andrade desarrolló siempre una geografía crítica, materialista dialéctica, latinoamericanista, profunda, prolífica en producción bibliográfica orientadora y no ajena a una militancia social acorde con su pensamiento científico. Entendemos que ha sido un ejemplo –para toda América Latina-, por el valor intelectual pero también por haber estado siempre acompañado de la coherencia permanente en la acción. Por ello, fue justificado que se le otorgara el  Premio Milton Santos al Mérito Geográfico, en el X Encuentro de Geógrafos de A. Latina realizado en la ciudad de Sâo Paulo el año 2005..

Andrade incursionó en temas que siempre consideró con solvencia, era un profundo estudioso de la historia contemporánea, con ella explicó la geografía económica, en primera instancia Agraria, pero también Industrial, dándole prioridad a los espacios regionales. Buscando desentrañar el significado de los territorios en el concierto internacional escribió sobre la Geopolítica de Brasil. Del punto de vista metodológico, en diversas publicaciones ha hecho referencia a la evolución de la Geografía como ciencia en relación con las otras ciencias sociales. Se destacó tanto como investigador como por su capacidad de divulgación. Entre los estudios agrarios, recientemente había efectuado un artículo acerca de la gestación del Movimiento de los Sin Tierra en el que se valoró, entre otros, desde el origen de la inequidad provocado por la concesión de sesmarías, pasando por la acción de los movimientos políticos hasta la influencia de  Iglesia brasileña progresista.

Intentamos observar al geógrafo con su propia metodología de análisis biográfico como cuando Andrade, refiriéndose al colega francés señalaba:

"Para mejor comprender la importancia de la obra geográfica de Elisée Reclus, se torna necesario situar el autor en el espacio y el tiempo, y luego la valoración: Actuando o escribiendo, utilizó siempre las dos vertientes: la del ciudadano, revolucionario y libertario, y la del cientista, conciente y competente." (1)

En la misma publicación Andrade asume el destaque de los valores  a los que él, interiormente, adhería:

"El análisis de su vida, indispensable para la comprensión de su obra, se torna muy interesante por el hecho de no haber jamás separado la acción política de la acción científica, pudiendo ser considerado el profesional-ciudadano…" (2)

De modo que él no separa el rigor del investigador de la militancia  por el logro de transformaciones a favor de la equidad social.

La Geografía, ciencia social

Si bien considera a la Geografía como ciencia autónoma desde los trabajos de Humboldt y Ritter no subestimaba los antecedentes de Herodoto, Estrabón, Ptolomeo y los viajeros de la Edad Media, Marco Polo, Ibn Batuta e Ibn Khaldun, considerando al último como uno de los predecesores de la geografía humana.  A los científicos alemanes del Siglo XIX  los relacionó claramente con el desarrollo del capitalismo de aquel país, en el que no desaparecen los grandes terratenientes mientras se produce la aparición de una industria pujante.

En el caso de Ratzel, destaca el marco de la transformación de Alemania en un Estado industrial que busca expandirse como  territorio imperial, luego que alcanzara la unificación política. Diferencia a Reclus porque adoptó posiciones diferentes que su maestro Ratzel ya que no se constituyó en un aliado de la burguesía francesa ni de sus representantes gubernamentales.  Sin embargo, profundizando el análisis, entiende que como francés llega a ser influido por la política exterior de su país y señala, el caso particular de su justificación de la ocupación de Argelia al mismo tiempo que, en situaciones similares, condenaba el colonialismo inglés en la India o el de Holanda en la Insulindia.

Luego, no eludirá el registro las críticas políticas más agrias sobre Reclus provenientes del movimiento obrero cuando señala que:

"Su participación en las disputas entre Marx y Bakunin contrarió mucho al primero, que en carta a Bracke, de 30 de noviembre de 1876

“Lo que piensan los socialistas de lengua francesa me desagrada profundamente. Ellos están representados, bien entendido, por la triste figura de los hermanos Reclus...

Tampoco Engels tiene piedad con el geógrafo francés, cuando en carta a Liebknecht, de 31 de julio de 1877, afirma que “Elisée es un copiador y nada más”"(3)

Andrade considera una contradicción en Reclus el hecho que, por un lado aceptaba el análisis de la sociedad en clases sociales a la lucha de clases como factor de evolución y transformación social pero no aceptaba que la clase obrera tuviese la misión de destruir la burguesía y de establecer un Estado sin clase dominante. En esa crítica contrapone su visión marxista con la visión libertaria del geógrafo al que admiró por sus aportes a la disciplina, independientemente de sus discrepancias..

Destaca que, si bien Reclus analiza la naturaleza, se distingue de las tendencias dominantes en la escuela clásica francesa porque, además de lo físico-natural se preocupa por la organización del poblamiento, la utilización del espacio, las formas de explotación económica, las relaciones de clase, los sistemas de transporte y la organización de la red urbana. Quizás en este punto no llegó a subrayar la relación entre el pensamiento anarquista  y la admiración y respeto por la Naturaleza, característicos en los pensadores ácratas hacia el final del siglo XIX y primera mitad del siglo XX, en ideas que parecen influidas por los escritos de Rousseau.

El método

La posición personal la define a través del contraste con lo que no acepta o no pretende, por ejemplo, en el caso del estudio acerca de la industria del Nordeste:

"Al planear este trabajo nos comprometemos a no limitarnos a la descripción y la localización de los establecimientos industriales y mucho menos a establecer modelos y utilizar a gran escala tablas que indiquen el mayor o menor crecimiento industrial, sino que, por el contrario, procurar responder, dentro de una visión dialéctica, las preguntas que siguen: ¿cómo se distribuyen las industrias?; ¿por qué se distribuyen de la forma que las describimos?; ¿a quién sirve ese tipo de distribución?; ¿cuáles y por qué ciertos factores son estimulados a realizar el tipo de distribución implantada?; ¿cuáles son las consecuencias del desarrollo industrial sobre las condiciones ecológicas y sociales?. Conviene destacar que al analizar el problema económico, no lo hacemos desvinculándolo de lo social como si se resumiese a una relación hombre/naturaleza. Esto porque, en los días que transcurren, hay de defender medidas y directrices político-económicas que tratan de conservar el sistema social dominante y no procuran abrir oportunidades para transformaciones sociales que permitan el crecimiento sin la degradación de la naturaleza." (4)

Ratificando sus ejes de atención expresará en “O Nordeste e la Nova República”:

"tomando en cuenta tanto las relaciones hombre/tierra como las relaciones entre los hombres, divididos en clases cuyos intereses están en conflicto, así como a los choques en las relaciones entre ciudad y campo y entre varias regiones brasileñas." (6)

Es decir, partiendo de un análisis materialista dialéctico pero asumiendo que las contradicciones de clase también se reflejan en las relaciones campo ciudad y en las desigualdades regionales. Estudiar desde una visión proletaria pero también desde las regiones que son desplazadas por las clases poderosas de las regiones dominantes.

El geógrafo profesional

Andrade escribió y expuso sobre la historia de la Geografía Brasileña -en particular sobre las diferentes fases de la Asociación de Geógrafos Brasileños-, y sobre el proceso de formación del geógrafo profesional, vinculando la aparición y multiplicación de las carreras universitarias con la realidad del mercado de trabajo. Relata que los estudios geográficos a nivel terciario comenzaron luego de la instalación del Estado Novo liderado por la preparación de docentes en Geografía destinados a la enseñanza media e investigadores vocacionales. En los albores, los estudios de índole geográfico eran cubiertos por destacados historiadores, economistas y sociólogos.

En esos años ´30 se destacan los maestros franceses,  Pierre Deffontaines, Pierre Monbeig y Francis Ruellan y los brasileños Victor Leuzinger y Josué de Castro. Andrade entiende que la fundación del Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, en 1939, en Río de Janeiro, entonces capital del país, impulsará el desarrollo de una Geografía que, en el primer momento atiende al perfeccionamiento de las divisiones territoriales del país, comenzando por una cartografía de las regiones naturales e influido por los aportes de quienes hacían postgrados en Francia y Estados Unidos apuntaban a realizar relevamientos regionales que, en el caso de San Pablo dieron mayor lugar a los aspectos humanos y económicos.

Paralelamente, se desarrolló a partir de 1945, la AGB que, en opinión de Andrade funcionó como verdadera escuela de formación de geógrafos en un momento en que la importancia de la Geografía ya obtuviera un mayor reconocimiento del poder público.

En los ´60, el Estado estimula la creación de cursos de postgrado. El mercado de trabajo demanda, en primera instancia manejo de cartografía, imágenes remotas o degradación medioambiental, campos en los que encuentra posibilidades el profesional geógrafo. .

Para Andrade,

"la Geografía es una ciencia eminentemente social y al estudiar la producción y la reproducción del espacio  tiene que encarar la relación entre la sociedad y la naturaleza, la especialización, en el nivel en que está exigido, puede perjudicar al geógrafo como cientista y como profesional de la Geografía, haciendo que adopte una visión falsa, distorsionada de la realidad con la que actúa " (5).

No era partidario de delimitaciones rigurosas de las profesiones, sobre todo entre las ciencias sociales,

"es imposible delimitar el campo de actuación de profesionales que aplican estas ciencias. De ahí que pensemos que la reglamentación de las profesiones en general no deba delimitar rigurosamente en áreas de acción, de las mismas, no siendo un problema en ciertas áreas y actividades que confluyan profesionales de calificaciones diferentes."

Fue muy crítico respecto a los términos de la Ley del geógrafo profesional, aprobada en tiempos dictatoriales porque ignoraba toda la formación humanista que caracteriza a la Geografía tomando en consideración solamente los aspectos referidos al análisis cuantitativo, en tanto que piensa en geógrafos que podrán dar o que darán una gran contribución a la formulación del futuro del país como estado y como nación, reparando en las desigualdades regionales y sociales en él existentes (6).

Eran  tiempos de apogeo de la Geografía Analítica y Teorética que constuye una práctica neopositivista sustentada en la confianza en los instrumentos de la matemática y la física y a la cual se enfrentaría una Geografía Radical liderada por Milton Santos.

Geografía y ambiente

Luego de la caída de la Unión Soviética, en un artículo de la Revista “Caderno Prudentino” juzga que, en definitiva los dos sistemas económicos en clara contradicción en la Guerra Fría, con sus preocupaciones militares dejaron de lado el respeto al ambiente. Pero entiende que las posiciones ecologistas, deben ser superadas por una Ecología científica que permita el manejo de la naturaleza sin destruirla.

Cuando hace referencia a las grandes destrucciones ambientales acaecidas en la historia de su país. La correspondiente a la vegetación natural, en primer lugar, la desaparición de la mata atlántica desde Río Grande del Norte hasta Río Grande del Sur, área ocupada por cañaverales, empleada también  en combustible, luego por la explotación ganadera y el cultivo del café. La desaparición de la caatinga arbórea en el Nordeste a manos de la extensión de pasturas. En la destrucción se han sumado las explotaciones mineras. Señala el profesor

"cómo el Brasil, al convertirse en el mayor productor de casiterita se transformó en uno de los países del mundo campeón de bosques naturales destruidos y de suelos degradados, debiéndose agregar a esto la explotación hecha por las madereras y la degradación y destrucción de las tribus indígenas".

Cuando se instaló el Plan PROÁLCOOL se apoyó a los empresarios en la instalación de destilerías pero no se le exigieron normas ambientales (7). Las ciudades volcando sus detritos a los ríos o directamente a las playas. Los bosques subtropicales del sur desplazados por el algodón y el café , luego por el trigo y la soja.

b) La degradación de las aguas unida a los acelerados procesos de urbanización, principalmente en las áreas de pobreza con los procesos industriales pero también la degradación de ríos de la cuenca amazónica y hasta del propio Pantanal.

c)  Destrucción de los suelos tanto del punto de vista físico como químico, los primeros que facilitan la dinamización del transporte de partículas y el segundo en base al empleo de insumos químicos.

La variable económica y social es expresada como decisiva:

"...preocupados con el crecimiento económico, confundieron crecimiento con industrialización y desarrollaron una política en ese sentido sin mayores preocupaciones por los daños causados en el  medio ambiente..." (8)

El geógrafo pernambucano no comete el error de llevar hasta un límite discursivo la contradicción no antagónica entre naturaleza y sociedad pero su planteo supone que la defensa de la primera no debe sacrificar el desarrollo social.

Dos grandes nordestinos

Es conocido el gran paralelismo histórico con la vida del Prof. Milton Santos, con dos estilos diferentes en lo personal y lo profesional pero con ejes sustanciales comunes. Como se trataba de un hombre íntegro, cuando destaca los rasgos del amigo está afirmando qué es lo que a él le importa:

"En los libros y artículos de Milton Santos se observa siempre la preocupación entre el ser y el deber ser, esto es, entre la realidad y la utopía. Y, en efecto, realidad y utopía tanto se confrontan como, al mismo tiempo, dialécticamente, se complementan " (9).

Sin lugar a dudas, éste ha sido uno de los grandes desvelos del Prof. Manoel, cumplir una práctica acorde con las grandes líneas de sus objetivos sociales.

En algunos congresos, la mera presentación de Milton Santos previa a una de sus conferencias constituía un verdadero testimonio de quien había compartido o estaba muy próximo a los hechos. Nacidos ambos en el Nordeste de los años ´20, en plena crisis de la Primera República brasileña, crecieron en tiempos del Estado Novo de Getulio Vargas, sus estudios universitarios partieron del Derecho, una enseñanza impregnada de filosofía de las ciencias sociales. Jóvenes se encontrarán en la Asociación de Geógrafos Brasileños en tiempos de debate entre los planteos de la Geografía Vidaliana y los albores de la Geografía Crítica. Andrade fue presidente de AGB en 1961-62 y Santos en el ejercicio siguiente.

El Golpe Militar que inauguró en 1964 el gran ciclo de gobiernos dictatoriales en América del Sur, los encuentra a ambos como protagonistas políticos de primera línea en cargos de confianza de gobiernos locales progresistas, el Prof. Manoel del Gobernador Arraes de Pernambuco y Milton del Gobernador de Bahía. Como consecuencia de ello, ambos fueron perseguidos y debieron cumplir su primer exilio en Francia. Recordemos que el régimen brasileño se caracterizó, entre otras cosas, por el desarrollo de una represión selectiva sobre quienes consideraba sus enemigos más peligrosos pero mantuvo en manos del Estado aquellas áreas de la economía que consideraba fundamentales para el desarrollo de un sistema en el que dio acceso a los capitales extranjeros.

Más adelante, también juntos llevarán adelante el viraje radical de la AGB que estallara con la repatriación del geógrafo de Bahía. .

Pensador del mundo al tiempo que ciudadano de Recife

El Brasil se descubre y puebla, por proximidad geográfica de los países colonizadores, desde el Noreste. Los recursos forestales primero luego la caña de azúcar y más tarde también el cacao y el algodón interesaron a un mercado mundial que fue pautando la prosperidad y las crisis regionales. Un ganado de bajos rendimientos ubicado hacia el interior, aportaba el transporte y los cueros para diversas necesidades. Del punto de vista humano, la expansión económica de la región significó el desplazamiento de los indígenas y la explotación básicamente de mano de obra esclava.

Si bien en 1763, la capital dejó el Nordeste para instalarse en Río de Janeiro, todavía en 1872, Recife era la tercera ciudad de Brasil por el número de habitantes, luego de Río de Janeiro y Salvador. Con el tiempo, el Nordeste pasó a ser el aprovisionador de mano de obra sufrida y barata para el desarrollo de los principales centros capitalistas del Sureste.

Por ello, la proporción de la población nordestina en Brasil pasó de 38,7% en 1900 a 24,7 en 2000. En el siglo XX, el Nordeste se convirtió en el mejor ejemplo de subdesarrollo social de América Latina denunciado por trabajos como los de Josué de Castro.

Los empleos más esforzados de esa área han sido tradicionalmente sobrellevados por los nordestinos, entre los cuales muchos viajan agarrados del denominado “pau de arará”, camionetas abiertas, atestadas de individuos que deben sufrir durante miles de quilómetros los rigores de la atmósfera.

Andrade no es el geógrafo localista, ni siquiera local, el observa la realidad próxima a su existencia con una visión del mundo, un método y una ideología global que ancla en el comentario de situaciones que observa y vive; marcando, además la importancia de la dinámica de la inequidad espacial, expresada en el desarrollo desigual y combinado.

El historiador Fausto sostiene que la conciencia nacional de Brasil se construyó a partir de los movimientos que consolidaron la conciencia regional. Entre esos acontecimientos ubica, en primer lugar, a la denominada Guerra dos Mascates, en Pernambuco en 1710 y más adelante, a la revolución de Recife, 1817, en la que intervinieron militares, un numeroso grupo de sacerdotes, comerciantes, jueces, propietarios rurales. Un típico movimiento de criollos esclarecidos que reaccionan ante la inequidad imperial en el terreno económico y social, en tiempos en que la corona se encuentra en territorio brasileño. El de 1817 fue un movimiento  controlado luego de una lucha de dos meses pero que trascendió a la ciudad en la que tuvo su punto de partida porque se extendió al sertón, a Alagoas, Paraíba y Río Grande do Norte.

El diseño de una producción de azúcar con el objetivo de exportación,

"de ahí que los primeros ingenios se localizaran generalmente en los estuarios de los ríos, poseyendo trapiches en donde el azúcar era embarcado; posteriormente, cuando esos puntos favorables ya no eran encontrados, se localizaban a alguna distancia de los ríos a fin de que el azúcar pudiese tener acceso al puerto fluvial en lomos de animales, mulares sobre todo. Algunos de esos pequeños puertos formaron núcleos que dieron origen a villas, poblaciones y posteriormente a ciudades. (...) Los propietarios de tierras y de industrias formaban con los comerciantes la clase dominante, teniendo el segundo grupo mayor poder y mayor participación en la plusvalía obtenida. A esos dos grupos se agregarían, después de la creación del Gobierno  General, los funcionarios de alta categoría, dependientes directamente de la autoridad del gobernador general e indirectamente de la Corona. Casi siempre esos grupos sociales se interpenetraban, siendo común que comerciantes y funcionarios adquirieran tierras para cultivar y señores de ingenios se convirtieran en autoridades. (...) Contraponiéndose a esa clase alta había también una clase baja, menos dotada de recursos y de poder la que estaba representada sobre todo por los esclavos, indios y negros, y por personas que trabajaban en las propiedades como dependientes, o como trabajadores braceros, en las ciudades y en las villas. Durante la Guerra de los Mascates hubo una participación, del lado de los comerciantes, de grupos pobres que habitaban en Recife.

 Entre esas dos clases encontrábamos aún elementos que pueden ser considerados de clase media, que a su vez vivían de la agricultura como labradores de caña –plantaban la caña de azúcar para moler en el ingenio del propietario de la fábrica –o como medianeros (foreiro)- cultivadores de productos alimenticios- o también como empleados en los ingenios y en las haciendas de ganado, implantadas en el litoral a partir del siglo XVI..." (10). 

Incluimos este fragmento para apreciar de manera concreta cómo Andrade integraba el análisis  a la vez, espacial, histórico, de la lucha de clases y sus consecuencias en el plano natural. 

Al finalizar la dictadura militar, incursiona nuevamente en la temática del Nordeste, quizás con la expectativa de incidir con los argumentos del investigador en la que podía constituirse en una nueva política agraria, entonces reúne una serie de ensayos escritos de 1982 a 1985, sobre aspectos diversos de la realidad nordestina, escritos en momentos de reflexión y de intento de alternativas para la solución de los grandes problemas que afligen a la Región e impiden su desarrollo (11),

En esa publicación realiza una caracterización sintética de los problemas del Nordeste:

"el predominio del latifundio, la baja utilización de la tierra, la dificultad de acceso del productor a la propiedad y a la posesión de la tierra, los bajos niveles de producción agrícola, y la orientación de la política gubernamental, estimulando la producción para la exportación y la asistencia a los grandes y a los agricultores medianos en detrimento de los pequeños productores".

Habla incluso de la frecuencia de latifundios de más de 500.000 hectáreas.

Es muy crítico en cuanto a las políticas del Estado porque, por ejemplo, estimula la compra de maquinaria agrícola que reduce la demanda de mano de obra. Años después, la CEPAL luego de analizar los procesos de modernización de la agricultura de Brasil titulará Una agricultura sin mano de obra, lo cual supone una reproducción de los problemas sociales y espaciales. Es el mismo Estado que estimula, a través del Programa PROALCOOL la sustitución de las áreas de cultivos para la alimentación por la apuesta a la sustitución parcial del petróleo o, en otros casos, el estímulo a la producción pecuaria. También hace referencia a que las grandes inversiones en irrigación, como aconteció con el Río San Francisco benefició a grandes grupos económicos que expulsan a medianeros y aparceros, creando una conflictividad violenta. Al mismo tiempo, esas acciones se llevan adelante con una falta total de conciencia conservacionista.

Andrade plantea –las sintetizamos- lo que podría ser un conjunto de medidas concretas para atacar el problema de propiedad de la tierra:

a) expropiación del latifundio mediante pago de títulos de deuda pública para destinar los cultivos prioritariamente al mercado interno y, secundariamente, a la exportación;

b) la regularización de la posesión de la tierra de millares de familias que en todo el Nordeste están ocupando áreas no impugnadas;

c) la demarcación de tierras desocupadas en las áreas en poblamiento y la implantación de núcleos de colonización donde deben ser localizados los agricultores sin tierra y os minifundiarios que estén dispuestos a la transferencia;

d) el desaliento a las grandes extensiones de cultivos dirigidos a la exportación y el estímulo al cultivo de alimentos;

e) la eliminación de las milicias privadas y la represión de los guardias que, al servicio de los grandes propietarios llegan hasta el asesinato de pequeños propietarios;

f) la seguridad de los sindicatos rurales y las cooperativas de pequeños productores. (12)

Un latinoamericanista

En varias oportunidades, en presentaciones públicas o en diálogo coloquial, Andrade expresaba, como pocos brasileños su conciencia de la “Patria Grande”. Alguna vez, Caetano Veloso ha dicho que Brasil estuvo históricamente a la defensiva porque se trata de un territorio cercado por la cultura hispánica, lo cual ha conducido a una actitud predominantemente defensiva ante los países fronterizos. Por otra parte, un país continente tiende naturalmente a accionar hacia adentro en el plano del poblamiento, la cultura, la inversión o el turismo. De ahí que valoramos sobremanera la visión continental solidaria del Prof. Manoel.

Quizás por tener la visión de un geógrafo que no desarrolló su formación y su actuación en los grandes centros de poder de Brasil, partía de un punto de vista crítico en cuanto a la estructuración territorial y eso le permitía una amplitud de análisis, desde el distanciamiento regional, manifestaba claramente su interés en la lectura y la trayectoria histórica de los personajes que como José Artigas han unido el arraigo en las masas populares con un pensamiento social avanzado para sus tiempos.

Las nuevas generaciones lo van a echar de menos porque durante años fue quien llamó la atención sobre los hechos de la política internacional que afectaban la geopolítica de su país y del continente.

Notas

(1)     Andrade. 1985, Elisée Reclus, p.7.

(2)     Ibidem, p. 11.

(3)     Ibidem, p. 15.

(4)     Andrade, 1987, O Nordeste..., p. 8

(5)     Andrade, 1987, Perspectivas... p. 148.

(6)     Andrade, 1987, O Nordeste..., p. 10

(7)    Andrade, 1987, Perspectivas...

(8)     Andrade, 1993

(9)     Ibidem,  p.95

(10)  Andrade, 1981, pp. 14-16.

(11)   Andrade, 1987, O Nordeste, P.7

(12) Ibidem, pp. 30-31

 

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FAUSTO, Boris.Historia concisa de Brasil. México: Fondo de Cultura Económica, 2003.

 

 


 

NOTAS SOBRE A ECONOMIA NA GEOGRAFIA DE MANOEL CORREIA DE ANDRADE

César Augusto Ávila Martins
Departamento de Geociências, Programa de Pós-Graduação em Geografia. Núcleo de Análises Urbanas. Universidade Federal do Rio Grande (FURG), Brasil
cavilamartins@yahoo.com.br


Notas sobre a economia da Geografia de Manoel Correia de Andrade (Resumo)

O geógrafo brasileiro Manoel Correia de Andrade foi um pesquisador rigoroso, um escritor prolífico e um cidadão com ativa participação política, mantendo uma postura coerente ao longo de sua vida. Reconhecido pelo conhecimento e busca de soluções para os problemas da região Nordeste brasileira, baseou-se no conceito de formação econômico e social para contribuir para a epistemologia da Geografia e manter a interlocução com outros campos do conhecimento como a Economia.

Palavras chave: Manoel Correia de Andrade, Geografia, Economia.

Remarks about the Economics in the Geography of Manoel Correia de Andrade  (Abstract)

The Brazilian geographer Manual Correia de Andrade was a meticulous researcher, a prolific writer and a citizen with active political involvement, maintaining a coherent posture throughout his life. Recognized by his knowledge and search for solutions to the problems in Brazil's Northeast region, he was grounded in the concept of economic and social formation to contribute to the epistemology of Geography and to maintain the communication with other fields of knowledge, such as Economy.

Keywords: Manoel Correia de Andrade, Geography, Economy.

O artigo objetiva apresentar a contribuição de Manoel Correia de Andrade (1922-2007) em um recorte definido pelo enfoque oferecido no livroGeografia Econômica” publicado em 1972.  Para atingir o objetivo, o artigo está dividido em duas partes. A primeira realiza um breve relato de sua trajetória intelectual procurando identificar elementos que o posicionam como um dos grandes geógrafos brasileiros.   Na segunda parte busca-se o encontro das possibilidades abertas na leitura do livro. Evita-se a pretensão de dissecar as bases teóricas desta obra, pois ela está inserida em quase uma centena livros publicados desde o final dos anos de 1950 e centenas de artigos e plaquetes. Objetiva-se identificar na obra e numa parte da trajetória do mestre pernambucano a afirmação de uma formulação analítica: a formação econômica e social. 

Um contexto para o texto

A “Geografia Econômica” é o vigésimo livro de Manoel Correia de Andrade (MCA) com várias reedições. É uma obra que foi produzida como texto base para a disciplina do mesmo nome e presente em cursos de graduação como os de Geografia, Economia, Administração, História e Ciências Sociais e foi reeditado várias vezes por uma grande editora brasileira[1].

MCA tem em sua formação os alicerces do que foi chamado de “comunidade pernambucana de geógrafos” que não se “empolgava unicamente pelo econômico da questão geográfica” (MONTEIRO, 1980, p. 20). Reconhecido como o geógrafo de maior conhecimento da região Nordeste do Brasil (SILVA, 1995), produziu uma das obras mais relevantes para o seu estudo: “A terra e o homem no Nordeste”, seu oitavo livro, publicado em 1963, conta com várias edições em diferentes línguas e países. Este livro representará pelo menos duas marcas de seu trabalho. Em primeiro lugar o reconhecimento de sua importância nas Ciências Sociais brasileiras e em segundo lugar a coerência com a sua formação marxista[2].

O relevo nas Ciências Sociais brasileiras foi apontado por MONTEIRO (1980) ao referi-la como a única obra geográfica mencionada na avaliação da “Ideologia da cultura brasileira” elaborado por Carlos Guilherme Mota em 1977. No mesmo ano, Francisco de Oliveira, um dos formuladores da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) com Celso Furtado, em “Elegia para uma re(li)gião- Sudene, Nordeste, planejamento e conflito de classes”, refere-se ao livro “como uma boa descrição do Nordeste”, mas que “parece-nos, entretanto que Correia de Andrade partiu do Nordeste físico para o econômico-político, que não é o andamento privilegiado por nossa opção metodológica” (1987, nota 13 na p. 41).

Na formulação de Francisco de Oliveira, está um dos alicerces do pensamento de MCA e a coerência com a sua leitura das obras de Karl Marx e de marxistas: o entendimento da indispensabilidade de que a leitura geográfica não deve prescindir da base material combinada com as relações sociais de produção: “os geógrafos ditos marxistas chegaram até a tentar eliminar a natureza dos estudos geográficos (...) lendo supostos marxistas como Bunge e Harvey, não se detiveram no estudo e análise do pensamento dos primeiros discípulos de Marx e nas obras fundamentais de Gramsci” (ANDRADE, 1993: 20). A exposição de MCA é minimamente instigante, pois serviu como pretexto para que alguns críticos se referissem a sua análise como carregada de elementos do marxismo e de um certo economicismo. Um exemplo é DINIZ FILHO (2002) quando afirma que a perspectiva de MCA apresenta “mais elementos de ortodoxia do que as visões que ele rejeita“ (p. 84). A crítica da crítica realizada por DINIZ FILHO (2002) é encontrada, por exemplo, em Ana Fani A. Carlos (2007) que pode ser sintetizada em “A crítica superficial da ‘geografia crítica' desembocou num preconceito que impede qualquer perspectiva de diálogo. Assim, o que poderíamos chamar de uma crise do marxismo (na Geografia) chegou mesmo produzir o preconceito contra o pensamento teórico e a negação de qualquer contribuição deste pensamento na construção do pensamento geográfico” (p. 5)[3]. Ora, na introdução de “O Desafio ecológico- utopia e realidade” de 1993, o autor escrevia sobre a intenção dessa coletânea: “a publicação do livro visa chamar a atenção das autoridades e estudiosos para uma série de interconexões entre os problemas ecológicos, econômicos e políticos” (p. 12). A potência da formulação pode ser avaliada quando da manutenção de suas idéias em textos que mantêm o debate sobre os limites e possibilidades de uma Geografia unitária e diversa. Assim, é referência em trabalhos de geógrafos que podem ser considerados “físicos” com Mendonça (1989 e 2002) e Camargo e Guerra (2007).

MCA produziu textos relevantes para a avaliação da Geografia no concerto das ciências. Como observou MONTEIRO (1980) em seu balanço, avaliação e indicação de tendências da Geografia, M. C. de Andrade, no artigo “O pensamento geográfico e a realidade brasileira” de 1977, inaugura com Nelson Werneck Sodré (1976), “as primeiras tentativas de repensar a geografia que tem sido feita por nós no Brasil” (p. 7). O referido artigo está publicado no número 54 do Boletim Paulista de Geografia de 1977 e foi reeditado em 1981 na coletânea “Novos rumos da Geografia brasileira” da editora HUCITEC organizada por Milton Santos. Este artigo apresenta uma das preocupações constantes na obra do autor: a articulação entre a História, a história da ciência geográfica e a história da sociedade brasileira. Com base em rica pesquisa bibliográfica, o mesmo é citado como fonte de geógrafos brasileiros que construíram e constroem a renovação da Geografia brasileira a partir do final da década de 1970.  Em uma pesquisa não exaustiva anotam-se alguns registros de citações do artigo em trabalhos com objetivos e aportes diferenciados:

1. está referenciado no capítulo dedicado a “Geografia Humana” escrito por Paquale PETRONE (1979) para a coletânea “História das Ciências no Brasil”;

2. foi citado na dissertação de mestrado de Ana Fani Alessandri CARLOS (1979) no debate sobre a predominância dos estudos das condições naturais na Geografia produzida no Brasil nas décadas de 1940 e 1950 (p. 10) e na crítica a utilização da metodologia quantitativa por alguns geógrafos brasileiros (p. 14);

3. foi considerado “clássico” (p.211) por Milton SANTOS (1981) num balanço da Geografia brasileira no começo da década de 1980;

4. está presente na reflexão crítica sobre o ensino de Geografia realizado por MOREIRA (1987);

5. é apontado por OLIVEIRA (1999) como o pioneiro no Brasil em indicar uma geografia libertária com E.Reclus e P. Kropotkin no debate que deve incluir o historicismo com o positivismo e a dialética nas matrizes do pensamento geográfico moderno. 

A manutenção da preocupação com as ligações da ciência geográfica com a sociedade e com a formação dos profissionais em Geografia emerge na providencial organização da seleção de textos de Eliseé Réclus em coleção dirigida pelo professor Florestan Fernandes em 1985, em “Geografia – ciência da sociedade” em 1987 e em “Caminhos e Descaminhos da Geografia” de 1989. Esta preocupação também esteve presente no livro “Geografia Geral” publicado com Hilton Sette pela editora do Brasil com várias edições nas décadas de 1960 e 1970. O livro é dedicado para os estudantes dos cursos colegial, científico-clássico, técnico e para a formação de professores primários. Dividido em duas partes intituladas “Geografia Física” e “Geografia Humana” é aberto pelo capítulo chamado de “A ciência geográfica”, onde os autores apresentam uma pequena síntese da história do pensamento geográfico com imagens de Alexandre Humboldt e de André Cholley de onde adotam a divisão da Geografia em Geral ou Sistemática, que seria composta pela Geografia Física e pela Geografia Humana e a Geografia Regional. 

Outra temática constante na obra de MCA é o campo brasileiro. Juntam-se a “A terra e o homem no Nordeste” e outras obras como “Cidade e campo no Brasil” de 1974 e “Planejamento regional e o problema agrário brasileiro” de 1976, “Capitalismo e agricultura” de 1979 e “Latifúndio e reforma agrária no Brasil” de 1980. Consideradas como exemplos da preocupação com a questão agrária, são publicados ainda na década de 1970, antes da derrocada final da ditadura militar (1964-1985) e da eclosão e visibilidade dos movimentos sociais do campo. São suas as palavras em artigo recente: “o problema premente do Brasil é o da realização da reforma agrária, visando tanto diversificar a produção e comprometê-la com o mercado interno como garantir a fixação do homem no campo (...) deve ser voltada tanto para a democratização ao acesso á terra (...) como o da orientação do que produzir, de como produzir e do destino que deve ser dada à produção” (2002: 19). Nestes trabalhos há uma marca permanente de seus estudos: as descrições. Este encaminhamento pode ter conduzido RIQUE (1995) a considerar seu método de interpretação dos fatos como “empirista racionalista, comum na geografia, mas que tem no autor em pauta a sua maior expressão no Brasil” (p. 155-156). Sem embargo, considera-se que os esforços de geógrafos em se apropriar de teorias de outras ciências e de formular teorias, podem conduzir a um esvaziamento da capacidade explicativa dos arranjos espaciais. Ou seja, esforça-se para produzir explicações “geografizantes” com base em debates não aprofundados, como aqueles realizados em outras ciências e assume-se o esvaziamento da disciplina.  

Para concluir este item e apresentar a obra escolhida, registre-se que sua trajetória foi analisada comparativamente com o trabalho do geógrafo Ruy Moreira no I Encontro Nacional de História do Pensamento Geográfico realizado na UNESP de Rio Claro-SP (EVANGELISTA, 1999), mantêm-se como uma das referências em textos que analisam por diferentes abordagens a história do pensamento geográfico, como Spósito (2004) e Moreira (2007) e que foi saudado por José Messias Bastos e Armen Mamigonian, editores da “Geografia econômica- Anais de Geografia econômica e social”, como um dos mestres da Geografia ao lado de nomes como J.Chardonnet, J.Gottman, Y.Sauschkin, Orlando Valverde, Josué de Castro e Dirceu Lino de Mattos[4].

Para além do econômico na Geografia Econômica

Uma das características da produção geográfica no começo do século é a pluralidade de conceitos, temas e metodologias. A pluralidade está marcada pelo aprofundamento dos diálogos com diferentes ciências e áreas do conhecimento. Este diálogo e o crescimento do número dos Programas de Pós-Graduação no Brasil e de estudantes brasileiros realizando mestrado e de doutorado no exterior traz o aumento da diversidade dos temas, das abordagens realizadas e das escalas de análise. Tal característica indica uma tendência na diminuição relativa de alguns temas entre os estudos geográficos. Entre os temas que diminuem relativamente sua presença, estão aqueles relacionados com a Geografia Econômica e aqueles realizados em escala nacional[5]. Sobre as ligações entre a Geografia e as diferentes ciências sociais, Capel (1984), no capítulo que discute as relações entre Geografia e Economia, apresenta o significado destas na ascensão do trabalho de geógrafos com formação marxista como Pierre George a partir de 1945, sua consolidação com os enfoques baseados nas teorias do desenvolvimento e seu afastamento das questões sociais com a hegemonia da concepção do homo oeconomicus na Geografia Quantitativa. Capel encerra sua analise defendendo a dificuldade em determinar a origem disciplinar de alguns trabalhos que poderiam ser de geografia econômica ou economia geográfica. Estudos  como os de Martin (1996) e Mendez (1997), realizam  resgates das relações entre a  Geografia e a Economia buscando novas pautas.  É neste contexto que pode-se começar a retomada de uma formulação de MCA: a objetivação da Economia como uma interlocutora privilegiada na análise geográfica da escala nacional.

Com sua trajetória intelectual e de vida no Brasil interrompida com o exílio logo após o golpe militar de 1964, MCA, na França toma contato com as possibilidades abertas pelo corolário do planejamento. Abriu-se a possibilidade de articular sua preocupação com o rigor das fontes com a busca da gênese das explicações na História e nas histórias e com os instrumentos para pensar e propor possibilidades para os problemas detectados, sendo reconhecido como o autor que relacionou pela primeira vez Geografia e planejamento no Brasil (FELIPE, 1995). Tais preocupações aparecem em textos como “Estado, polarização e desenvolvimento” de 1967 e “Geografia, região e desenvolvimento” e “Agentes aceleradores e de freio do desenvolvimento da economia brasileira”, ambos de 1969.  É logo após o aparecimento dessas obras que vem ao público a primeira edição da “Geografia econômica” em 1973.

 

Lançamento do livro Cinco séculos de colonização, no Palácio do Governo de Pernambuco, em Recife, em 2001.

 

A obra que tem como objetivo ser um livro-texto para a disciplina de Geografia Econômica em diversos cursos de graduação mantém um padrão das elaborações do autor: na apresentação, há um esforço em sintetizar a história do pensamento geográfico, apresentando seus principais interlocutores (geógrafos ou não) e delimitando conceitos e operacionalizações:

“Na verdade, esta dualidade – Geografia Física-Geografia Humana – já se encontra ultrapassada, de vez que, em relação à produção do espaço geográfico, temos de estudar a ação do homem apropriando-se dos recursos existentes, de acordo com as estruturas econômicas, sociais e políticas como estão organizadas. Daí a influência do modo de produção e das formações econômicas e sociais dominantes o espaço e no tempo e concluirmos que existe apenas uma Geografia que é chamada de uma ou outra maneira conforme o enfoque que se dá à mesma nos estudos em realização” (1985: p. 16)[6].

A perspectiva adotada é que as categorias analíticas modo de produção e formações econômicas e sociais que devem ser as centrais para a unidade da Geografia e as portas de entrada para a investigação permitem pelo menos duas observações. A primeira é que esta perspectiva marcou o trabalho de outros geógrafos brasileiros como Milton Santos (Espaço e Método), Ruy Moreira (O movimento operário e a questão cidade-campo no Brasil: estudo sobre sociedade espaço) e, sobretudo nas pesquisas realizadas e coordenadas por Armen Mamigonian na UFSC, na UNESP de Presidente Prudente e na USP. A segunda é que leitores apressados poderiam encontrar aí a eliminação da chamada “Geografia Física”, a supremacia do econômico e a liquidação de outras categorias analíticas. Trata-se de uma porta de entrada e MCA considerava que a Geografia “não é um departamento isolado o conhecimento científico” (p. 17) e admitia a existência de “uma série disciplinas intermediárias entre a Geografia e as outras ciências naturais e sociais” (p. 17) e apresenta uma lista: geomorfologia, geofísica, geoquímica, geopolítica...

Uma perspectiva que pode considerar a liquidação dos estudos do chamado meio natural em Geografia é eliminada no segundo capítulo. Recorrendo a André Cholley (1885-1968), MCA ao diferenciar o espaço geográfico do natural pela sua artificialização pelo trabalho, sintetiza analiticamente os geossistemas em escala planetária.  Esta preocupação esteve presentes em trabalhos mais recentes como no primeiro capítulo de “O sentido da colonização” de 1994 intitulado “A colonização e seus impactos sobre o meio ambiente”  e especialmente na coletânea  “O desafio ecológico- utopia e realidade”.

A análise da dimensão econômica na análise geográfica pode ser entendida na delimitação tomada de Paul Claval (Le pensée Géographique): ”quando se dá maior atenção às relações homem-meio e quando se analisa gêneros de vida faz-se Geografia Humana, mas quando se analisa a organização do espaço em função da apropriação dos recursos naturais e da transformação dos bens em mercadorias, em uma sociedade avançada, faz-se Geografia Econômica” (p. 16).

Em “Geografia- ciência da sociedade” de 1987 a delimitação e as possibilidades de sua proposição está assim definida: “a Geografia pode ser definida como a ciência que estuda as relações entre a sociedade e a natureza, ou melhor, a forma como a sociedade organiza o espaço terrestre, visando melhor explorar e dispor os recursos da natureza. (...) no processo de produção e reprodução do espaço, cada formação econômico-social procura organizar o espaço à sua maneira (...) de acordo com os grupos dominantes e de acordo também com as suas disponibilidades de técnicas e de capital” (p. 14).

A organização da “Geografia econômica” apresenta a coerência do entendimento e da proposta.   Em cada capítulo as escalas de análise, sobretudo o global e o nacional, com fartos exemplos regionais brasileiros estão imbricadas, complementando-se e contraditando-se ao longo do tempo. Daí o significado da análise dos sistemas econômicos (naquele momento histórico formado por um sistema central bipolarizado pelas hegemonias estadunidense e soviética e um sistema periférico) no capítulo quatro, com base na história da colonização e da descolonização e das metamorfoses da divisão territorial do trabalho[7].

Quais os agentes considerados hegemônicos pela consolidação e metamorfoses dessa análise?

A empresa e o Estado. MCA dedica dois capítulos da “Geografia Econômica” para a análise das relações combinadas e contraditórias entre esses dois agentes naquilo que chama de “integração espacial”.  Apresentando as marcas de sua experiência na academia francesa no período do exílio e de sua atuação em órgãos de planejamento do Estado brasileiro, Andrade demonstra o papel do planejamento estatal como um dos instrumentos fundamentais “na tentativa de racionalizar a exploração do mesmo [o espaço geográfico]” (1985: 90).  Ao apresentar a trajetória do planejamento na União Soviética, nos Estados Unidos da América, na França e no Brasil, afirma outra característica de sua trajetória de cidadão e de intelectual: a permanente preocupação com as desigualdades sociais e suas relações com ambiente. Em suas palavras, sobre o planejamento nos países capitalistas: “aceitam a racionalidade da acumulação de capital a curto prazo, não dando contribuições à solução dos problemas sociais nem à preservação do meio ambiente” (1985: 96). Trata-se de outra característica de seu trabalho: a indissociabilidade da política e da economia na Geografia[8].

O plano de redação da obra apresenta uma seqüência capítulos sobre “os mercados e os problemas de centralização e descentralização econômica” discutindo as condições de reprodução do trabalho e da terra e o papel dos transportes e comunicações na organização do espaço. A seguir analisa separadamente o conjunto de atividades da divisão social e territorial do trabalho: a produção de energia, de matérias-primas industriais,  extrativismo vegetal e o política florestal, caça e pesca, agricultura e pecuária. O que dá unidade as sínteses? Para as formações econômico e sociais capitalistas é o processo de concentração econômica e a produção industrial.    Sem receio da escala nacional, MCA, busca a gênese dos processos e os resultados do desenvolvimento desigual e combinado do modo de produção capitalista. Com a tradicional abundância e rigor das fontes apresenta exemplos onde o imbricamento das escalas permite a compreensão dos processos.

Como uma marca de sua formação de cidadão e profissional ativo nas discussões das questões agrárias, MCA, dedica cinco capítulos (do décimo quarto ao décimo oitavo) ao espaço agrário. O que há de comum entre eles? A abordagem histórica para a  construção de tipologias, a apresentação de dados e a preocupação com a acesso e permanência dos agricultores na terra. Assim, por exemplo, classifica os sistemas de culturas (agricultura itinerante, roça tropical, plantation, agricultura mediterrânea, agricultura moderna de países novos e de povoamento antigo e agricultura irrigada do Extremo Oriente e dos desertos quentes) e escreve capítulos separados sobre “a utilização do espaço” para: a produção de alimentos (agricultura e pecuária) e a produção de matérias-primas vegetais[9].

O fechamento da “Geografia Econômica” é com dois capítulos dedicados ao estudo do urbano e da cidade. Destaque para dois aspectos: o primeiro, a perspectiva histórica da cidade como um locus privilegiado da organização as sociedades nos diferentes modos de produção e da referência as relações da cidade com o campo e as relações intra-urbanas, bem como a tipologia de suas magnitudes das metrópoles no mundo (Nova Iorque, Londres, Paris e Tóquio são consideradas internacionais; como exemplos de metrópoles nacionais cita Madrid e  Barcelona na Espanha, Sidney e Melbourne na Austrália ou São Paulo e Rio de Janeiro no Brasil; entre as metrópoles regionais cita por exemplo Belém e Porto Alegre no Brasil, Córdoba e Rosário na Argentina ou Guadalajara e Monterrey no México). Um segundo aspecto são as referências a Lewis Munford (A cidade na História) e a Henri Lefebvre (La pensée marxiste et la ville).  Ora, em um livro com características de manual e na edição aqui utilizada (de 1985), MCA, apresentava mais um elemento da importância de seu trabalho: o conhecimento e apropriação de formulações que alguns anos depois se tornariam quase unanimidades nos estudos sobre a cidade e o urbano. MCA conhecia e se apropriava de teorias e  metodologias para formular suas explicações. Autores como Henri Lefebvre, demorariam alguns anos para serem debatidos e apropriados nos estudos geográficos como, por exemplo, observe-se que entre os autores de língua inglesa a presença de sua obra é constante somente depois da tradução de “La production de l´espace” em 1991. Na última década a obra lefebvriana é usada como uma “espada de um cavaleiro Jedi” em cruzadas acadêmicas para legitimar discursos sobre a chamada produção do espaço e a sociedade urbano-industrial. Tentando apresentar um verniz científico são corriqueiros estudos que carecem de rigor com as fontes, com a metodologia e tentam encontrar em cada pedaço do planeta categorias como vivido-concebido-percebido, espaço de representação-representação do espaço-prática social, espaço absoluto-abstrato-contraditório-diferencial. Parte desses estudos ignora a indispensabilidade proposta por Henri Lefebvre da análise do Estado, das insurgências e de sua base em autores como Marx, Lênin e Nietsche. O rigor, os cuidados com as fontes e a simplicidade do professor Manoel Correia de Andrade são exemplos a seguir.

Conclusões

O artigo apresentou uma trajetória possível em um recorte determinado da obra de um dos mais fecundos cientistas sociais brasileiros. Manoel Correia de Andrade foi ao longo de sua vida um cidadão que manteve a unidade de sua atividade profissional, acadêmica, partidária e de homem de governo. Foi advogado de sindicatos, professor em todos os níveis, organizador de programa de pós-graduação, autor prolífico, militante por pequeno período de tempo no Partido Comunista, passando pelo Socialista até o Partido do Movimento Democrático Brasileiro e foi um homem de governos comprometidos com o desenvolvimento econômico e a eliminação das desigualdades sociais e territoriais (como no governo de Miguel Arraes em Pernambuco sua terra natal).

Como apresentar um recorte na vida e obra de um homem, cidadão e intelectual integral?

Com o pano de fundo baseado em sua insistência em entender a unicidade da ciência social em função de sua formação marxista e em sua opção em considerar a Geografia como parte da unidade da ciência social. Parte indistinta, porém parte. Como? Pelo recurso metodológico de distinguir as formações econômico e sociais na História. Ou seja, a história do capitalismo na História territorializada pelo desenvolvimento desigual e combinado (considerava L. Trotski um grande intelectual e escritor).

A perspectiva de totalidade, aliada ao rigor com as fontes e a capacidade e insistência em descrever, podem ter afastado parte da comunidade de geógrafos de sua obra. A revisão de estudos que vão da história do pensamento geográfico à discussões contemporâneas como aquelas vinculadas aos problemas ambientais (era leitor atento da “Dialética da Natureza” de F. Engels e dos Manuscritos Econômico-Filosóficos de 1844 de Karl Marx)  e ao retorno as questões relacionadas com a crise econômica da década de 1990 com as tentativas de fortalecimento do planejamento estatal no começo do século XXI podem obrigar a leitura de seus trabalhos escritos desde a década de 1960.

Respeitando a coerência e os engajamentos filosóficos, metodológicos e políticos de Manoel C. de Andrade, afirma-se que antes de uma geografia econômica, há em sua obra um esforço em explicar o mundo em suas múltiplas dimensões, onde os recortes assumidos carregam tanto os limites e como as possibilidades.

 

Notas

[1] A editora Atlas, fundada em 1944, é especializada em publicações nas áreas do Direito, da Economia e da Administração. O catálogo em 2007, conta com cerca de 3.000 títulos. A informação obtida é que o livro encontra-se na décima primeira edição. Neste artigo utiliza-se a 8ª edição publicada em 1985. Com base no apêndice apresentado no livro “Uma Geografia para o século XXI” de 1993, considera-se a “Geografia econômica” como o vigésimo livro do autor. MCA atribuiu a sua relativa facilidade em publicar por editoras sediadas em São Paulo, ao fato que a publicação em 1963 pela editora Brasiliense de “A terra e  homem no Nordeste” ter sido prefaciada por Caio Prado Jr. e que havia um projeto da publicação de um título escrito por geógrafos para cada região brasileira. O projeto não foi realizado e MCA não soube identificar quem seriam os geógrafos responsáveis pelos livros de cada região. Esta e outra informações sobre a vida e a obra são extraídas da entrevista concedida a José Correia Leite e publicada na Revista Teoria e Debate, n. 45, julho-setembro de 2002. As referências da trajetória pessoal apresentadas no texto são desta entrevista disponível em: www.direitos.org.br. [acessada em 30-08-2007].

[2]  “Eu tenho uma formação marxista e, como tal, não entendo uma separação rígida entre várias ciências sociais. Para mim, há uma ciência social que tem enfoques diferentes. Mas a ciência é a mesma. Eu estudei Marx desde os 18 anos de idade, despertado por um professor integralista, mas que dizia que a crítica feita por Marx à sociedade capitalista tinha validade. Para ele, as soluções que Marx apresentava é que não tinham”. Entrevista disponível em: www.direitos.org.br. [acessada em 30-08-2007].

[3] Em função do objetivo do artigo e do limite de páginas os argumentos do debate não serão expandidos. Com trajetória semelhante ao de DINIZ FILHO (2002), há trabalhos de análise e busca das insuficiências do que poderia ser considerado como o “econômico” na Geografia. Tentando enquadrar estudos realizados com forte base empírica articulada à história do pensamento econômico, estudantes de mestrado e de doutorado, realizam dissertações e teses que pretendem montar esquemas interpretativos das obras analisados e demonstrar possíveis insuficiências. Por exemplo, veja-se NUNES (2005) que em artigo baseado em sua dissertação de mestrado na UNESP de Presidente Prudente analisa as teses de doutorado consideradas como Geografia Econômica defendidas na USP entre 1970-2001. Nunes afirma que “o excesso de ‘economicismo' apresentado nessas análises, desconsidera critérios e elementos não estritamente determinados pelas relações de produção com etnia, gênero, cultura e indivíduo” (p. 88). Ora, a autora tenta e objetiva encontrar “critérios e elementos” que não são objeto de análise dos estudos que possuem outros critérios e elementos. Trata-se de estabelecer perguntas que não tem respostas nas respostas dadas para outras perguntas.

[4] A publicação foi criada em 2007 e editada pelo Departamento de Geociências e pelo Núcleo de Estudos Asiáticos da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

[5] Veja-se o levantamento realizado pela professora Dirce Maria Suertegaray da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) em apresentação oral no I Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UFRGS em Porto Alegre nos dias 20 e 21 de março de 2007.  

[6] Em itálico no original.

[7] Esta perspectiva está presente em dois pequenos livros escritos no período que marcará o desmonte do sistema soviético e a afirmação dos discursos sobre a hegemonia da chamada globalização. Com erudição e síntese Manoel Correia de Andrade publica “O Brasil e a América Latina” e “O Brasil e a África” pela editora Contexto em 1989. Em ambos, há uma perspectiva que permite analisar as características que aproximam e afastam as regiões, bem como as especificidades de cada formação econômico-social.

[8] Em seus estudos sobre a história do pensamento geográfico estão presentes capítulos sobre articulações possíveis entre o trabalho do profissional da Geografia e a sociedade. Suas preocupações mais específicas sobre as dimensões políticas da Geografia em suas múltiplas escalas de análise podem ser observadas em trabalhos como: Imperialismo e fragmentação do espaço. S.Paulo: Contexto, 1988; Geopolítica do Brasil. S.Paulo: Ática, 1989; A questão do território no Brasil. S.Paulo: IPESPE-HUCITEC, 1995. Em pelo menos dois outros trabalhos dedicou-se a analisar questões internas da federação brasileira: As razões do separatismo no Brasil. S.Paulo: EDUNESP-EDUSC, 1999; e em co-autoria com Sandra Maria Correia de Andrade: A federação brasileira: uma análise geopolítica e geo-social. S.Paulo: Contexto, 1999.

[9] No dia de seu falecimento, 22 de junho de 2007, a direção estadual de Pernambuco do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST) lançou nota referindo-se a MCA como: “grande amigo e intelectual (...) intelectual comprometido com o seu povo, manteve ao longo de seus 84 anos, coerência com suas idéias e ideais” (Disponível em: www.direitos.org.br).

 

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MANOEL CORREIA DE ANDRADE E A QUESTÃO AGRÁRIA BRASILEIRA

Rosa Maria Vieira Medeiros
Departamento de Geografia e Programa de Pós-graduação em Geografia .Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil
rmvmedeiros@yahoo.com.br


Manoel Correia de Andrade e a questão agrária brasileira (Resumo)

Intelectual voltado aos temas sociais de seu país, Manoel  Correia de Andrade dedicou parte de sua obra a analisar a questão   agrária no Brasil. O artigo discute passagens em que afirma sua   necessidade, baseada em uma visão de geografia focada na luta política   para a transformação social.

Palavras-Chave : Reforma Agrária, Brasil, Manoel Correa de Andrade.

Manoel Correia de Andrade and the agrarian issue in Brazil (Abstract)

Intellectual focused on social issues of his country, Manoel   Correia de Andrade devoted part of his work to examine the agrarian   question in Brazil. The article discusses passages in which states their need, based on a vision of political geography focused on the   struggle for social transformation.

Keywords : Agrarian Reform, Brazil, Manoel Correa de Andrade.

Escrever sobre Manoel Correia de Andrade é em primeiro lugar trazer para o debate o seu comprometimento com a Reforma Agrária, com o Brasil e com o Nordeste em particular. Afirmava ele ser necessário a implantação de diferentes projetos de Reforma Agrária no Brasil, onde fosse pensada cada uma das regiões brasileiras com suas especificidades culturais, principalmente no que se refere às diferenças culturais dos homens e das mulheres do campo brasileiro.

Em segundo lugar, não é possível deixar de salientar  sua paixão pelo Nordeste e o quanto reiterava de que não era esta a região responsável pelo atraso econômico brasileiro. Afirmava ser ela rica em recursos naturais e que

"o grande problema do semi-árido não é de ordem física. Ele é social. No dia em que for adotada uma política que beneficie toda a população e não apenas os grupos econômicos externos à região e à oligarquia local, o problema será solucionado".

E a solução para este problema social sem dúvida passava pela realização da Reforma Agrária, ou seja, combater a fome. Era esta sua bandeira de luta que se expressou através de suas idéias publicadas em livros e artigos ao longo de sua vida.

Sua caminhada sofreu fortes influências de grandes pensadores, principalmente Gilberto Freyre no início de sua trajetória, Caio Prado Junior, Josué de Castro, Nelson Werneck Sodré  e Pierre Monbeig.

Manoel Correia de Andrade sempre foi enfático ao afirmar que a questão agrária era um problema fundamental no Brasil e que sua necessidade se faz presente desde o século XIX.  Afirmou que,

"O Brasil deveria ter realizado uma série de reformas estruturais que já eram defendidas no século passado e que até hoje não foram concretizadas. A principal delas é a reforma agrária. Joaquim Nabuco, em 1884, defendeu a sua necessidade. Depois, o Imperador, feita a abolição, ainda quando o gabinete era chefiado por João Alfredo, propôs que se estudasse a possibilidade de desapropriação de terras situadas às margens dos rios navegáveis e das estradas de ferro, para instalação de colonos. Com a República e o crescimento da população, se fez a marcha para o Oeste, ocupando a Amazônia. Mas se transferiu para a área as instituições fundiárias existentes no resto do país. Não houve mudança" (2000).

O enfoque social da Reforma Agrária e a necessária diversidade da mesma são elementos  fundamentais que, segundo Manoel Correia de Andrade, deveriam   também ser considerados pelos movimentos sociais de luta pela terra, em especial pelo MST. 

"Por ocasião dessa homenagem eu fui jantar com o João Pedro  acompanhado do Bernardo Mançano, professor da Unesp, do meu filho Joaquim Correia e do Jaime Amorim, coordenador do MST em Pernambuco. E num bate-papo muito amigável, eu disse que eles tinham de enfrentar dois problemas. Primeiro, se livrar um pouco da formação econômica, porque ela é muito útil, mas tem de deixar se influenciar pelo problema social. O segundo, é lembrar que não existe um Brasil, mas vários brasis. As aspirações dos sem-terra do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, que são essencialmente pequenos proprietários, podem ser muito diferentes das aspirações dos rabalhadores rurais assalariados do Nordeste, ou dos extrativistas da Amazônia" (2000).

A Reforma Agrária nas obras de Manoel Correia de Andrade

 Em 1963 é lançado o livro A terra e o homem no Nordeste que tinha como objetivo esclarecer políticos e estudiosos sobre não só da necessidade de uma Reforma Agrária no Brasil, mas sim de como fazê-la. Na época esta obra foi classificada como subversiva e consequentemente apreendida pela ditadura. Atualmente está em sua a 6ª edição republicada pela UFPE e é considerada como sua produção  de maior divulgação e visibilidade. É um marco na Geografia Agrária brasileira pois traz para o debate geográfico questões relativas à propriedade da terra, às relações de trabalho, às condições de trabalho e de vida dos trabalhadores rurais, às intervenções e às ações políticas. Nesta obra, de forte impacto político, a questão agrária brasileira é despida de suas vestes falsas para ser vista de forma clara e transparente.

Para Manoel Correia de Andrade sua obra é mais militante, tinha como premência a denúncia científica e foi construída a partir do conhecimento de um professor universitário que aprofundava seus estudos sobre a Reforma Agrária.

Ele não o considerava como um livro acadêmico, é um livro de luta e afirmava que a metodologia era um  meio e não um fim em si e por essa razão coloca que:

"Procurei parâmetros que indicassem a relação entre o meio natural e a ação do homem. Não fui rígido em metodologia porque acho que se você for muito rígido em metodologia, pode matar o ponto central de um livro. ... Eu queria servir à necessidade da Reforma Agrária" (1963).

É importante destacar que em todas as suas obras, onde a Reforma Agrária é o tema central,  em sua análise se faz presente o processo histórico considerado como fundamental para a compreensão do espaço agrário e das diferentes relações sociais de trabalho e de produção ali desenvolvidas.

Também é possível perceber uma busca pela relação com a natureza mas sempre associada às questões sociais diretamente relacionadas à busca pela Reforma Agrária. Esta relação é fundamentalmente evidenciada na proposição regional de Reforma Agrária.

Quanto a questão cultural, esta é marcadamente acentuada ao pensar uma Reforma Agrária adaptada as especificidades culturais dos homens e das mulheres trabalhadoras rurais de cada uma das diferentes regiões brasileiras marcadas na paisagem. Vê nessas marcas da paisagem o passado, o presente e o futuro.

"As paisagens para que sejam autênticas e dinâmicas necessitam projetar os resquícios do passado, assim como a percepção da antecipação do futuro. Nelas se espelham harmonia e contraditoriamente, o passado, o presente e o futuro, lembrando o que forma, o que são e o que virão a ser" (1996).

 

São Internacional do Livro, em São Paulo, em 1999, quando a obra A Terra e o Homem no Nordeste foi indicada como uma das principais do século XX do Brasil.

 

Mas sua contribuição, através de suas obras, nos lega o acesso a conceitos e a definições fundamentais para a melhor compreendermos a questão agrária brasileira e a necessidade premente de Reforma Agrária. Manoel Correia  de Andrade define e conceitua:

- Nordeste, na obra A Terra e o Homem no Nordeste;

- Estrutura fundiária, em Latifúndio e Reforma Agrária no Brasil;

- Modo de produção capitalista, em Agricultura e Capitalismo;

- Camponês, também em Agricultura e Capitalismo ;

- Parceiro e arrendatário, em Tradição e e Mudança;

- Agricultura de «chuva», também em Tradição e Mudança.

Para ele,

"uma reforma agrária deve estar deve estar voltada tanto para a democratização do acesso à terra, por parte do trabalhador rural, como o da orientação do que produzir, de como produzir e do destino que deve ser dado à produção. Ela deve atingir tanto as formas quanto as funções da produção" (2002).

Portanto, no seu entendimento a Reforma Agrária perpassa a mera distribuição de terras ficando claro o quanto se faz necessário o acompanhamento, em todas as fases do processo, daqueles que por ela são beneficiados.

Em 1963, em A Terra e o Homem no Nordeste ele já destacava a necessidade de uma tecnologia para a agricultura que impactasse minimamente o meio ambiente, mas para tanto ele via a necessidade de outras mudanças:

"Tanto quanto a reforma de uma estrutura, torna-se premente a reforma de uma mentalidade, é preciso dar educação ao povo para que aprenda a tratar a terra de forma mais adequada, permitindo que ela produza o máximo com o mínimo desgaste" (1963).

Ainda naquele momento reforça a importância do cooperativismo como forma de melhorar a qualidade de vida dos agricultores. Além disso estabelece uma relação entre o rural e o urbano já demostrando a indissociação do rural e do urbano ou seja, políticas voltadas ao espaço rural atingiriam também o espaço urbano.

"Um sistema cooperativista com apoio oficial poderia melhorar as culturas e as condições de vida dos agricultores, contribuindo assim com a elevação do nível de vida e da capacidade de consumo dos mesmos, assim como para melhorar o abastecimento dos centros urbanos" (1963).

Para Manoel Correia de Andrade, em 1979, já estava muito claro que só  a Reforma Agrária poderia fortalecer a pequena e a média propriedade, principalmente desenvolvendo uma tecnologia adequada às condições naturais e às necessidades básicas da população rural brasileira.

"Se torna urgente a necessidade  de uma modificação substancial na política agrária do Brasil, visando-se ao fortalecimento da pequena e média propriedades e ao desenvolvimento de uma tecnologia autóctone, voltada para a problemática do país, utilizadora do fator trabalho – absorvedor de mão-de-obra em larga escala – e de recursos produzidos no território nacional" (1979).

Também tinha ele consciência de que o Brasil deveria ser ágil, rápido e objetivo na implantação de uma Reforma Agrária considerada fundamental para o desenvolvimento econômico do país.

"Daí  acreditamos que uma reforma agrária efetiva e a curto prazo constitui o primeiro passo para eliminar e encaminhar o país para uma aceleração do processo de desenvolvimento" (1980).

As manifestações dos agricultores sem terra que começaram a eclodir em diferentes regiões do país reforçaram o pensamento de Manoel Correia de Andrade com relação à necessidade de se fazer Reforma Agrária no Brasil:

"Estes fatos conscientizam os estudiosos do problema agrário brasileiro de que uma reforma agrária torna-se necessária a curto prazo, pois o problema da terra, a questão agrária, é o principal problema que entrava o desenvolvimento do país, embora não seja o único. Sem solução da questão agrária as outras questões não podem ser resolvidas" (1980).

Mas o processo de modernização, já instalado no campo brasileiro, provocava transformações que foram objetos de análise  em A questão do território no Brasil. O camponês excluído desse processo, mas sofrendo as conseqüências do mesmo, segundo Manoel Correia deve se transformar em sujeito ativo e não passivo.

"Modernizar não é apenas transformar, como querem alguns grupos que se beneficiam da modernização, mas transformar para melhor. E na transformação para melhor o camponês deve ser não apenas objeto, mas também sujeito dessa modernização" (1995).

Também se refere a um tema intocável pelos nosso legisladores: taxação  sobre os latifúndios, índices de produtividade.

"É necessário que o país modifique sua legislação, taxando com rigor propriedades de grande extensão –latifúndios por extensão, sobretudo – e obrigando seus proprietários a pagar impostos" (1995).

Novamente retorna a sua obra a sua grande preocupação com a fome, associada à necessidade de políticas públicas, que atinge a população brasileira e em especial a nordestina, e aqui se percebe a forte influência de Josué de Castro,:

"Então a pobreza do sertanejo não vem unicamente da seca, mas sim das estruturas sociais" (1994).

"Atribuímos especial importância à necessidade de uma reforma agrária, porque as estruturas agrárias constituem, em algumas regiões semi-áridas, sérios obstáculos ao acesso das populações aos recursos necessários à sua subsistência" (1994).

"Deveria haver uma política agrícola voltada a produção de alimentos, sabendo-se que o país é um dos maiores produtores de grãos do mundo mas que nele vive mais de 30% de sua população atingida por fome aguda" (1995).

Deixa claro que todo o processo não ocorre de forma retilínea e que há momentos em que tudo para e parece retroceder e a Reforma Agrária no Brasil avança desta forma.

"nenhum processo é linear, ele caminha através de avanços e recuos... (2001).

Embora o movimento camponês – não damos à palavra a tradicional  conotação européia, mas a nossa, de trabalhador rural, não assalariado, ou apenas parcialmente assalariado – venha se mostrando forte e destemido. A reação contra o mesmo, das forças conservadoras, impede que o processo de reforma agrária se realize com maior intensidade" (2002).

Mas é evidente sua consciência e seu comprometimento com a Reforma Agrária quando afirma que,

"O meu compromisso é com a reforma agrária. E é claro que todos aqueles que estão lutando pela reforma agrária tem o meu apoio" (2002).

E da mesma forma, a clareza de que os camponeses, conscientes de sua cidadania, de seus direitos serão os agentes do processo de Reforma Agrária.

"Mas o fato de o camponês estar convicto dos seus direitos e de que a reforma agrária não será uma dádiva da classe dominante, mas uma conquista sua, indica que tende a se acentuar uma melhor distribuição da terra no Brasil" (2002).

Seu forte caráter de pesquisador marcado por suas idéias firmes, claras e precisas não lhe permitiria deixar de se posicionar sobre a transposição do rio São Francisco.

"Sou contra. A transposição do São Francisco tem dois problemas sérios: primeiro, a sua água não é sequer suficiente para irrigar a área próxima a ele na Bahia e em Pernambuco. E ela tem de ser usada em irrigação e em produção de energia. Em segundo lugar, a construção de um canal de transposição seria caríssima num país onde há poucos recursos. Além disso, não sabemos os impactos ecológicos que ocorreriam com a construção desses canais" (2000).

Reflexão final

Esta breve reflexão sobre a Reforma Agrária na obra de Manoel Correia de Andrade nos permite perceber o quanto e quã profundamente suas idéias, seu conhecimento, sua tenacidade em defender seu pensamento marcaram a Geografia Agrária brasileira. Alunos que fomos, mestres e pesquisadores que somos levaremos não só o conhecimento que nos foi legado mas também o exemplo de vida.

"um professor nunca é o dono da verdade: é um guia, um indicador da verdade que cada estudante deve encontrar por si mesmo. Um bom professor é apenas um catalisador. Manoel Correia de Andrade" (1922-2007).

 

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O homem do Nordeste - Entrevista com Manuel Correia de Andrade. Revista Teoria e Debate, São Paulo, No. 45. jul/set 2000.

 

© Copyright Wagner Costa Ribeiro, Paulo Roberto Rodrigues Soares, Doralice Sátyro Maia, Álvaro López Gallero, César Augusto Ávila Martins, Rosa Maria Vieira Medeiros, 2009.
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Ficha bibliográfica:
RIBEIRO, W. C.; SOARES, P. R.R.; MAIA, D. S.; LÓPEZ GALLERO,A.; MARTINS, C. A. A.; MEDEIROS, R. M. V. Cidadania e reforma agrária no Brasil: a herança de Manoel Correia de Andrade. Scripta Nova. Revista Electrónica de Geografía y Ciencias sociales. Barcelona: Universidad de Barcelona, 15 de abril de 2009, vol. XIII, núm. 288<http://www.ub.es/geocrit/sn/sn-288.htm>. [ISSN: 1138-9788].

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