REVISTA ELECTRÓNICA DE GEOGRAFÍA Y CIENCIAS SOCIALES Universidad de Barcelona. ISSN: 1138-9788. Depósito Legal: B. 21.741-98 Vol. VI, núm. 119 (86), 1 de agosto de 2002 |
EL TRABAJO
Número extraordinario dedicado al IV Coloquio Internacional
de Geocrítica (Actas del Coloquio)
COMPLEXIFICAÇÃO E SIMPLIFICAÇÃO DO TRABALHO
EM FACE DO PROCESSO DE REESTRUTURAÇÃO
PRODUTIVA NA INDÚSTRIA BRASILEIRA: FORMAÇÃO
OU EDUCAÇÃO PARA O TRABALHO?
Donaldo Bello de Souza
Professor Adjunto da área de Economia da Educação
Coordenador do Núcleo de Projetos Especiais
Faculdade de Educação.
Universidade do Estado do Rio de Janeiro- UERJ, Brasil.
Complexificação e simplificação do trabalho em face do processo de reestruturação produtiva na indústria brasileira: formação ou educação para o trabalho? (Resumo)
A pesquisa buscou investigar determinados aspectos que vêm servindo à demarcação e caracterização do processo de reestruturação produtiva no Brasil, pautada na busca de possíveis diferenciações existentes em torno da adoção de inovações em plantas industriais mais expostas às exigências dos mercados internacionais e aquelas mais voltadas ao mercado local. Como conclusão mais geral é possível afirmar que em ambos os setores focalizados o processo de reestruturação produtiva se caracteriza mais pela adoção massiva de inovações organizacionais do que tecnológicas, notadas em maior grau e intensidade no setor que dirige seus produtos aos mercados internacionais. Enquanto as inovações tecnológicas estariam acarretando, sobremaneira, a simplificação do trabalho, as de natureza organizacional imprimiriam nele maior complexificação.
Palavras chaves: taylorismo, fordismo, novas tecnologias
Complex structure and simplification of the work in face of the process of productive restructuring in the Brazilian industry: formation or education for the work? (Abstract)
The research sought to investigate aspects that are helping to achieve the demarcation and portrayal of the Brazilian production restructuring process, based on the search of a possible differentiation existing in connection with the adoption of innovations by industrial plants most exposed to the international market requirements and those largely committed to the domestic market. Generally speaking, it is possible to say that the productive restructuring process in both focused sectors is singled out more for its massive adoption of organizational than technological innovations, witnessed in a larger degree and intensity at the sector sending its products out to the international markets. While the technological innovations would be causing the work to be simplified in a larger scale, those of an organizational nature would be causing it to grow into a more complex structure.
Key words: taylorism, fordism, new technologies
O presente trabalho deriva de parte dos resultados obtidos com a efetivação de um estudo de caso, pautado em uma empresa multinacional localizada da cidade de Itatiaia, município do Estado do Rio de Janeiro, Brasil (SOUZA, 2001). Busca refletir sobre a demarcação e caracterização do processo de reestruturação produtiva no Brasil, pautado na análise das diferenciações existentes em torno da adoção de inovações em plantas industriais mais expostas às exigências dos mercados internacionais e aquelas mais voltadas ao mercado local, de tal maneira que venha a contribuir para a compreensão acerca de suas repercussões no processo de trabalho e, conseqüentemente, na qualificação e formação do trabalhador individual e coletivo brasileiro.
Inicialmente, o artigo traça um panorama geral sobre o processo
de reestruturação produtiva no Brasil, apoiando-se nos principais
marcos teóricos de áreas como: sociologia do trabalho, economia
do trabalho, engenharia de produção e educação.
Prossegue discorrendo acerca da relação trabalho-educação
face ao processo de reestruturação produtiva no País,
no qual se indicam alguns dos consensos existentes em torno de seus impactos
globais na educação geral e profissional do trabalhador,
levando-se ainda em conta as reformas educacionais governamentais levadas
a efeito a partir da segunda metade da década de 90. Em seguida,
procura traçar um perfil geral da empresa alvo da pesquisa, com
ênfase em sua organização fabril, produtos e, ainda,
considerando o momento em que esta inicia seu processo de reestruturação.
O artigo evolui para a descrição do processo de adoção
de inovações tecnológicas e organizacionais pela empresa
pesquisada, através da qual se busca caracterizar suas principais
dificuldades e impactos na gestão e no processo de trabalho. Finalmente,
analisa os efeitos em questão no âmbito do perfil da mão-de-obra
demandada pela empresa, com foco em exigências relacionadas, de um
lado, ao maior tempo de escolarização do funcionário
e, de outro, à valorização dos conteúdos científicos
gerais da educação regular, em detrimento, portanto, de saberes
técnicos específicos. Na conclusão são traçada
algumas considerações finais, visando estabelecer relações
entre as análises até então efetivadas.
Aspectos gerais do processo de reestruturação produtiva no Brasil
Inovação tecnológica, novas tecnologias, inovação técnico-científica, inovação científico-tecnológica, 2a ou 3a revolução industrial são expressões que, corriqueiramente, vêm sendo utilizadas para definir a natureza de determinadas transformações que se encontram em curso na base social e técnica do processo de produção capitalista dos últimos 30 anos. O eixo comum para onde convergem as diversas teses existentes sobre estas transformações é o reconhecimento de que o desenvolvimento da ciência, sua aplicação na forma de tecnologia, e a materialização desta última enquanto meio de produção impactam, sob diversos ângulos, os processos de trabalho, as relações sociais e técnicas de produção e a qualificação do trabalhador. De forma mais ampla, interferem na formação social, política, econômica e cultural das sociedades (cf. Harvey, 1993; Lévy, 1993; Schaff, 1990; Castells, 1996; Lojknine, 1995; Gorz, 1982; entre outros).
Em paralelo às discussões travadas acerca dos impactos do desenvolvimento científico-tecnológico no mundo produtivo contemporâneo, não tardou para que se viesse incorporar ao debate os problemas resultantes da adoção de novas formas de organização da produção e de gestão do trabalho, de modo a dar conta do conjunto amplo de transformações identificadas por diversas pesquisas, inicialmente no âmbito fabril e, logo após, no setor terciário da economia. Conforme já abordado em outro estudo nosso (Souza, Santana e Deluiz, 1999), e igualmente analisado por Antunes (1995), Kumar (1997), entre outros, o conjunto de mudanças em questão foi conceituado por Piore & Sabel (1984) de especialização flexível e por Kern & Schumann (1989) de novo conceito de produção, tendo ainda sido abordadas pela "teoria da regulação francesa" (cf. Boyer, 1990) e pelos teóricos do "pós-fordismo" (cf. Hirst & Zeitlin, 1991). Com direções distintas e algumas vezes convergentes, a polêmica entre estes autores toma por base a noção de ruptura ou continuidade do sistema de produção pautado no paradigma taylorista-fordista de produção, considerando, ainda, o surgimento de uma nova forma produtiva, dita integrada e flexível, quase que sempre associada ao chamado "toyotismo" ou "modelo japonês".
No Brasil, é somente no início da década de 90 que, em função da abertura comercial e da adoção de uma política industrial voltada para a ampliação da capacidade de inovação, o setor industrial passa a apresentar um perfil de reestruturação mais nítido (Araujo et al., 2001; Gorender, 1997; Mattoso, 1995; PaivaA et al., 1997; Neto, 1999), gerando, em concomitância, uma atividade com importância relativamente menor na economia, e que emprega hoje, em termos absolutos, menos trabalhadores. Tal fato, conforme enfatizado por Pochmann (1999), corresponde a um comportamento já há algum tempo generalizado entre economias de mercado como a Inglaterra, Estados Unidos, Japão, Itália, França e Alemanha.
Retrospectivamente, é possível afirmar que a partir do início dos anos 70, as diretrizes industriais da economia brasileira consolidaram um modelo de desenvolvimento marcado pela associação dos capitais nacional e internacional, aprofundando o processo de internacionalização econômica iniciado em décadas anteriores (Ianni, 1981). Em termos mundiais, este período é marcado por instabilidades motivadas por dois grandes choques do petróleo (1973 e 1979) e também por mudanças na ordem financeira internacional.
Nos idos de 80, o crescimento do sistema industrial brasileiro ficou limitado pela redução dos investimentos públicos e privados internos, decorrente da crise de financiamento internacional, deparando-se com o aprofundamento do processo inflacionário, iniciado anos atrás. Neste contexto, o modelo substituidor de importações, vigente desde a década de 40, sofreu progressivo esgotamento (Lacerda, 1998) e, mais exposta aos elevados níveis de competitividade dos mercados externos, a economia nacional teria iniciado, mesmo que timidamente, sua trajetória rumo à reestruturação. O objetivo seria o de competir internacionalmente com níveis de produtividade, qualidade e diversidade de produtos compatíveis com os padrões de consumo dos países estrangeiros.
Ao longo da década de 90, o setor industrial no Brasil, apesar do enfrentar de um leque amplo de dificuldades estruturais e conjunturais, veio apresentando indícios de reestruturação, marcados por fortes diferenciações nos padrões de inovações empregados entre os seus vários segmentos, entre empresas de um mesmo ramo de atividades e, ainda, entre áreas pontuais de uma mesma unidade fabril, levando à constatação de que não há homogeneidade no emprego de inovações, tampouco sua efetiva disseminação (Leite, 1994; Leite & Silva, 1994; Abramo, 1990; Carvalho, 1993). A um só tempo, se verificou que a difusão de novas tecnologias é maior nas empresas que dirigem ao mercado externo parte significativa de sua produção (Abramo, 1990), se irradiando a partir deste para segmentos produtores de maquinarias, insumos ou componentes para as grandes indústrias exportadoras.(1) Contudo, a caracterização do processo de reestruturação produtiva no Brasil vem se dando menos em virtude daquelas inovações, consideradas de baixa intensidade, e mais em conseqüência da adoção de inovações organizacionais (Leite, 1994; Salerno, 1994, 1995; Mourthé, 1999; Oliveira, 1999; Neto, 1999; Rachid & Gitahy, 1995; Humphrey, 1994, 1995). Dentre o conjunto de fatores que servem a explicação de tal fato, destaca-se o baixo dinamismo tecnológico do País – capacidade das empresas de acumularem conhecimento tecnológico comprometido, principalmente, com a geração endógena de tecnologia (Carvalho, 1993) e, ainda, a ausência de uma estratégia de industrialização de longo prazo, que prioritariamente se pautasse em investimentos no âmbito dos recursos humanos existentes no País (Romero, 1998).
Assim, as firmas no Brasil, predominantemente, estariam direcionando seus esforços modernizantes em torno do formato organizacional do trabalho, uma vez que se atingiu a compreensão de que as novas tecnologias não garantem, isoladamente, a rapidez e a flexibilidade requerida ao sistema produtivo moderno (Leite, 1994), sendo estas mais dependentes de aspectos relativos à organização do trabalho, à organização social, às condições institucionais, culturais e sindicais, entre outros aspectos (Salerno, 1995). Em função de um balanço realizado a partir dos resultados de uma gama ampla de estudos empíricos realizados no País, Salerno (1994) chega, inclusive, a afirmar que é relativamente baixa a difusão de equipamentos e sistemas de base microeletrônica nas empresas, em paralelo a uma difusão muito mais expressiva de mudanças organizacionais, aspectos também confirmados recentemente por Mourthé (1999), Oliveira (1999), Neto (1999), Rachid & Gitahy (1995), entre outros. Em seus primórdios, as inovações organizacionais teriam sido adotadas no Brasil desarticuladamente a um conjunto mais amplo de estratégias empresariais, descontextualizadas de aspectos relativos às relações de trabalho e à qualificação da mão-de-obra, sem que ocorressem, portanto, mudanças expressivas na estrutura e cultura organizacional. De modo genérico, os anos 70 foram marcados pelas experiências em torno dos Círculos de Controle de Qualidade (CCQs), enquanto que a década de 80 pela introdução do Controle Estatístico de Processos (CEP). Apenas nos anos 90 é que se tornou mais visível um movimento estrutural das empresas em torno de diversas práticas de racionalização da produção, voltadas para a cultura de Controle de Qualidade Total (CQT), incluindo-se a busca pela Certificação da série de normas de qualidade ISO 9000, e de outras técnicas, como por exemplo: terceirização, Total Preventive Maintenance (TPM), Sistema de Produção em Células (SPC), just-in-time, kan-ban, kaisen entre outras (Araújo et al., 2001; Arahújo & Gitahy, 1998; Rachid & Gitahy, 1995; Leite, 1995; Fleury, 1993, 1995).
Mesmo em face do elevado grau de diferenciação, o processo
de reestruturação das empresas no Brasil veio suscitando
debates em torno de uma repentina valorização e de novas
exigências pelo empresariado em torno: do nível de educação
formal apresentado pelo trabalhador, agora não mais a de cunho específico,
mas genérica; de seus conhecimentos tácitos, adquiridos ao
longo da vida social e profissional; e, ainda, de determinadas qualidades
pessoais, marcadas pela própria subjetividade do trabalhador. Passe-se,
com isto, a se questionar se o novo paradigma de produção,
marcado pelos impactos, por um lado, das inovações tecnológicas,
e, por outro, das inovações organizacionais, estas últimas
inspiradas em técnicas japonesas de organização da
produção e de gestão do trabalho, estariam implicando
novos patamares de qualificação do trabalhador, contrariando
teses pautadas na desqualificação tendencial do trabalho
no capitalismo, como a sustentada, entre outros, por Braverman (1987),
Gorz (1976), Marglin (1976) e Brighton (1991). De acordo com aquela linha
de argumentação, estaria em curso uma possível crise
e esgotamento do paradigma taylorista/fordista, no qual a divisão
do trabalho viria a assumiria menor nitidez, apresentando uma maior tendência
a junções de funções até então
parceladas, enfraquecendo a divisão técnica do trabalho,
impondo novas exigências pautadas numa maior cooperação
entre o empregado e a empresa, mais dependente do trabalho em equipe, prescindindo,
por fim, da clássica prescrição de tarefas atrelada
à rigidez dos postos de trabalho. Neste contexto, as qualificações
formais, típicas das tradicionais descrições de cargos,
estariam gradativamente se tornando mais genéricas, apoiadas, conforme
assinalado por Hirata (1994), em componentes tanto implícitos e
não organizados da qualificação (saberes tácitos
e qualidades pessoais), quanto organizados e explícitos (educação/formação
profissional). Em outras palavras, estaria em curso o deslocamento de demandas
antes alicerçadas no sistema tradicional de Qualificações
para o sistema de Competências, no qual a polivalência do trabalhador,
ou sua multifuncionalidade ou multiqualificação, passa a
assumir valor estratégico para as empresas.
Breves considerações acerca da relação trabalho-educação face ao processo de reestruturação produtiva no Brasil
Um dos impactos mais imediatos do cenário acima traçado no âmbito da educação brasileira remete ao discurso corrente do empresariado em torno da melhoria da Educação Básica (Educação Infantil, Ensino Fundamental e Médio) e da formação profissional dos trabalhadores. Em decorrência deste quadro, Kuenzer (1999, p. 20) aponta para a existência de uma nova contradição entre trabalho e educação no Brasil, na medida em que "quanto mais se simplificam as tarefas, mais se exige conhecimento", o que levou, durante algum tempo, à unificação dos discursos entre trabalhadores, empresários e Estado em torno da importância estratégica da Educação Básica face aos desafios postos pelo processo de reestruturação produtiva no País. No entanto, esta demanda é vista por Pochmann (1999) como um possível resultado da utilização pelos setores produtivos da economia de trabalhadores de maior qualificação em ocupações que, em certos casos, não apresentem, necessariamente, maiores exigências profissionais, acompanhado da conseqüente exclusão daqueles menos qualificados o que, para Salm (1997) passa a significar menos a expressão de uma demanda real por trabalhadores mais qualificados, e muito mais o produto da oferta de mão-de-obra de maior qualificação pelo mercado de trabalho.
No bojo destas discussões, novos rumos são traçados para a reforma do Ensino Técnico-profissionalizante no Brasil, efetivada, do ponto de vista de sua regulamentação, cerca de dois anos após o surgimento da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) brasileira, Lei no 9.394/96, aprovada pelo Congresso Nacional em 17 de dezembro de 1996, e promulgada no dia 23 daquele mesmo mês. Por volta deste mesmo ano, o governo brasileiro já havia elaborado sua proposta de reforma para o Ensino Técnico e Profissional, mediante o Projeto de Lei (PL) no 1.603/96 (2) que, em seguida, veio a ser substituído pelo Decreto Lei no 2.208, de 14.04.1997. Para Frigotto (1997), ao frustrar a discussão em torno do PL no 1.603/96, se abandonou os princípios que estavam na pauta de negociações com setores da sociedade civil em torno da defesa de uma escola pública, gratuita, laica, universal, unitária e politécnica. Esses princípios demarcavam, entre outros aspectos, a busca pela superação da dualidade do Ensino Médio, a quebra de privilégios do "Sistema S" (3) no controle financeiro e na gestão da formação técnico-profissional e a redução da jornada de trabalho – sem redução salarial – de jovens e adultos em processo de Formação Profissional. De acordo com Frigotto (1997, 1999), Moraes (1998), Militão (1998), Kuenzer (1997, 1999), Cunha (1997, 1998), Souza (1999, 2000); Ferretti (1997), Soares, R. et al. (1999), entre outros, o Decreto Lei no 2.208/97, principal instrumento jurídico-normativo das reformas do Ensino Técnico-profissional em curso, estaria nitidamente influenciado pelas diretrizes do Banco Mundial (BM) e assegurado pelo financiamento conjunto Ministério da Educação / Ministério do Trabalho / Banco Interamericano de Desenvolvimento (MEC/MTb/BID), reestruturando o Ensino Técnico em três níveis: Básico, Técnico e Tecnológico. O Nível Básico, destinado à qualificação, requalificação e reprofissionalização de jovens e adultos, independentemente de escolarização prévia adquirida. O Nível Técnico, dirigido aos alunos matriculados ou egressos do Ensino Médio, objetivando proporcionar habilitação profissional concomitante ou seqüencial a ele, possuindo, ainda, organização curricular específica e independente daquele ensino. Por fim, o Nível Tecnológico, considerado por Cunha (1998, p. 25) "o mais imprecisamente definido de todos", correspondendo à clientela egressa do Ensino Médio e Técnico, visando a formação de tecnólogos em cursos superiores da área tecnológica, segundo diferentes especialidades.
Evidenciando a desarticulação do Ensino Técnico,
ou seja, a radicalização da separação entre
o Ensino Médio e o Ensino Profissional, esse último denominado
na nova LDB por Educação Profissional, Cunha (1997, 1998)
defende que o processo em curso representa um retrocesso sobre os esforços
históricos há muito depreendidos em torno da unificação
da estrutura educacional expressando, por um lado, o reforço da
dualidade escolar e, por outro, a cimentação das diferenças
de classes no país. Nesta mesma linha de argumentação,
Moraes (1998) afirma que o governo vem desqualificando o ensino da rede
pública, deixando de ampliar as condições de funcionamento
e a função social das escolas federais, invertendo a concepção
de educação para a cidadania e reduzindo "a formação
tecnológica a treinamento fragmentado, demarcado pelas necessidades
mais estreitas do capital. Em outros termos, (...) transpõe-se a
experiência das agências de preparação de mão-de-obra
(SENAI, SENAC) para a rede pública..." (op. cit., p. 114).
Cenários da empresa Beta
Com base no que foi até aqui exposto, julgou-se oportuno desenvolver uma pesquisa que viesse a investigar determinados aspectos que vêm servindo à demarcação e caracterização do processo de reestruturação produtiva no Brasil, pautada na busca de possíveis diferenciações existentes em torno da adoção de inovações em plantas industriais mais expostas às exigências dos mercados internacionais e aquelas mais voltadas ao mercado local, de tal maneira que venha a contribuir para a compreensão acerca de suas repercussões no processo de trabalho e, conseqüentemente, na qualificação do trabalhador individual e coletivo brasileiro, levando-se ainda em conta sua formação/educação profissional. De modo específico, coube, portanto, indagar se haveriam dissensões em torno das motivações e obstáculos ao emprego de inovações entre aqueles dois tipos de plantas industriais, se a difusão e intensidade de utilização de inovações tecnológicas e organizacionais se apresentaria a mesma entre elas, se seriam distintas as repercussões que ocorrem no interior do processo de trabalho e na qualificação do trabalhador, se ocorreriam divergências em relação à valorização da educação geral do trabalhador em face de uma possível perda de importância da sua formação específica e, por fim, como estes dois tipos de plantas perceberiam a formação profissional oferecida pelas Escolas Técnicas, especialmente em face da atual reforma do Ensino Técnico-profissionalizante no Brasil. Em se tratando de um estudo de natureza empírica, se assumiu como pressuposto central e inicial de investigação que as empresas mais expostas aos mercados internacionais seriam justamente aquelas que apresentariam maior grau e intensidade de emprego de inovações tecnológicas e organizacionais e, ainda, igualmente mais marcantes seriam as repercussões no processo de trabalho e, por conseqüência, na qualificação do trabalhador individual e coletivo.(4) Para dar respostas a estas e a outras questões, assim como verificar suas respectivas hipóteses, vislumbrou-se como estratégia metodológica de construção do conhecimento o Estudo de Caso Múltiplo envolvendo, no mínimo, duas empresas que viessem a atender os requisitos fundamentais da investigação (entre outros, consideradas líderes nos mercados em que atuam, vivenciando processo de reestruturação, uma voltada para o mercado local e outra aos mercados internacionais). Contudo, ao invés de se considerar a pesquisa como, necessariamente, apoiada em duas empresas em separado, vislumbrou-se a possibilidade de se estudar uma única corporação que viesse a expor vinculações de produção a mercados tanto estrangeiros, quanto locais. Escolheu-se com isto, a fábrica Beta, filial brasileira de uma corporação multinacional norte-americana, que tem por atividade basal a produção de máquinas copiadoras e duplicadoras, em paralelo à produção de fac-símiles e impressoras, localizada à Via Dutra, no município de Itatiaia, próxima à cidade de Resende, Região Sul do Estado do Rio de Janeiro, eqüidistante cerca de 200 km das cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo.
Possuindo dois grandes Setores relativamente distintos, um voltado para o atendimento das demandas dos clientes corporativos internacionais (Setor A), e outro aderido à esfera das necessidades locais (Setor B), a empresa veio a perfazer o conjunto de requisitos acima postos para a pesquisa. Enquanto que o Setor A se dedica à produção de peças, acessórios e conjuntos pertencentes à máquinas copiadoras e duplicadoras, voltado para o atendimento dos mercados internacionais, o Setor B atua na recuperação de equipamentos (máquinas copiadoras e duplicadoras, fac-símiles e impressoras) e na remanufatura de peças, acessórios e conjuntos diversos, de modo a atender ao mercado local. Além de Engenheiros e Supervisores, ambos os Setores possuem, majoritariamente, mão-de-obra atuante em montagem e testes, a primeira desempenhada pelos chamados Operadores de Linha, enquanto que a segunda por Técnicos de nível médio pertencentes às áreas de mecânica, eletrotécnica e, em espacial, eletrônica. Apesar do Setor A possuir maior quantidade de funcionários operacionais do que o Setor B, proporcionalmente, no tocante às suas Unidades produtivas centrais, guardam relativas semelhanças em termos do perfil de escolaridade de suas respectivas mãos-de-obra: poucos são aqueles que não possuem o Ensino Fundamental completo; mais da metade apresenta nível de escolaridade relativo ao Ensino Médio; os Operadores de Linha expõem maior heterogeneidade em relação ao tempo de escolaridade, contudo, havendo prevalência do Ensino Médio; apesar dos incentivos declarados pela empresa à educação continuada de seus funcionários, se observou que o percentual daqueles que se encontravam cursando o Ensino Fundamental, Médio ou Superior era relativamente baixo, em paralelo a uma maior concentração de empregados que haviam interrompido seus estudos.(5)
Do ponto de vista econômico, a década de 90 se mostrou decisiva para o aprofundamento pela empresa Beta de seu processo de reestruturação produtiva, apesar de tê-lo iniciado, embora de modo ainda tímido, na primeira metade dos anos 80, em especial pela via dos movimentos internos de qualidade e de outros tipos de inovações organizacionais daí derivadas. Neste contexto, a companhia enfrentava, de um lado, a perda de suas patentes na área de máquinas copiadoras e, de outro, a abertura comercial do Brasil à concorrência internacional, fatores que a levaram, defensivamente, à intensificação da adoção de inovações com vistas ao revigoramento de sua capacidade competitiva em mercados internacionais e local, este último fonte do maior percentual de sua receita. Refletindo, neste período, o comportamento manifesto por outras corporações do País, a empresa Beta passa a tentar equilibrar sua balança comercial, marcada pelo aumento das importações em descompasso ao volume de produtos exportados. Em paralelo, passa a se beneficiar de algumas das políticas governamentais articuladas à ampliação da capacidade de inovação e de competitividade do setor industrial brasileiro.(6) É neste cenário que a empresa acrescenta às suas estratégias de competitividade ações em torno da diversificação de produtos, passando a atuar também nos mercados de equipamentos dedicados ao processamento de documentos, como impressoras, fac-símiles e máquinas copiadoras com capacidade de operação em rede de telecomunicações. De cerca de 2 produtos, o Setor A passou, então, a operar com a quantidade média de 15 itens para exportação e o Setor B, que até aquele momento recuperava não mais do que 10 modelos de máquinas copiadoras, passou a operar com cerca de 160 tipos de equipamentos distintos, expondo a taxa média anual de 30 lançamentos de modelos diferentes de máquinas copiadoras, além de fac-símiles e impressoras, devendo-se ainda considerar a remanufatura de peças, acessórios e conjuntos vinculados a todos estes equipamentos que, juntos, somam mais de 600 itens.
Em ambos os Setores (A e B) se constatou que as inovações
tecnológicas incorporadas aos produtos com que operam afetaram sobremaneira
a produção (7), implicando, de modo imediato,
necessidades de adoção de inovações tecnológicas
nas linhas de produção ou de testes: "Há uma forte
relação entre inovações em produto e em processos,
ocorrendo um paralelismo entre elas. Quando se inova em produto, isso gera,
imediatamente, impasses no processo" (Gerência de Eletrônica
do Setor A). No caso do Setor A, as inovações em produto
decorrem das prescrições feitas pelos clientes corporativos
internacionais, enquanto que no Setor B encontram-se incluídas aos
novos modelos de máquinas importadas para a comercialização
no mercado nacional. Não sendo estes Setores responsáveis
pelo projeto dos produtos que operam, pois o Setor A, de modo geral, se
porta como executora de projetos definidos internacionalmente, enquanto
que o Setor B recupera equipamentos importados e remanufatura alguns de
seus componentes, os esforços de modernização tecnológica
da empresa, em seu cômputo geral, se concentram no desenvolvimento
de projetos voltados para o emprego de novas tecnologias de processos e
de testes, segundo criteriosos estudos de viabilidade, pautados em fatores
como qualidade, custo, tempo e volume. Ao que tudo indica, estas inovações
vieram ocorrendo num cenário de crescimento dos negócios
da corporação, em níveis local e internacional, no
qual, em paralelo, se sucederam novas contratações de funcionários
o que, possivelmente, tenha contribuído para que não houvesse
demissões (downsizing), pelo menos até a época
em que se encerrou a coleta de dados na empresa: "...o que tem acontecido
é, talvez, uma diminuição no número de pessoas
que a gente estaria contratando. Mas nunca demissão. (...) quando
a automação chega, ela está chegando num momento em
que o volume [de produção] está em crescimento. Agora,
é claro que nós deixamos de contratar pessoas por causa disso."
(Gerência de Operações de Produção
do Setor A).
Adoção de inovações na empresa Beta
Conforme assinalado acima, a exemplo do que vem se dando em outras empresas dos mais variados segmentos industriais do Brasil, a fábrica, em seu conjunto, apresenta baixa intensidade de utilização de inovações tecnológicas em processos (percentagem de atividades produtivas controladas por sistemas de microeletrônica), isto em decorrência de uma série de obstáculos (baixo volume de produção, elevado custo de equipamentos, alta dependência de informações e de componentes estrangeiros). A um só tempo, se constatou não haver homogeneidade quanto à difusão das inovações, sendo estas parciais e seletivas. São grandes as diferenciações entre os padrões adotados pelos dois Setores de produção em estudo (A e B) e, ainda, entre Unidades e áreas pontuais do processo produtivo de cada um deles, corroborando o consenso atual em relação ao grau de disseminação das inovações tecnológicas entre as empresas no Brasil, mesmo as líderes de seus segmentos. Em seu conjunto, estes aspectos confirmam a tendência observada, em âmbito também nacional, de que a difusão de novas tecnologias é maior nas firmas que dirigem ao mercado externo parte significativa de sua produção, como no caso do Setor A. No Setor B, responsável pelo atendimento do mercado local, é relativamente reduzida a predominância de inovações tecnológicas, se fazendo presente nas fases de testes dos produtos recuperados ou remanufaturados, mesmo assim com baixa intensidade de emprego.
Se evidenciou, portanto, que os maiores esforços de ambos os Setores da empresa em foco concentram-se em torno do formato organizacional da produção e do trabalho, corroborando, mais uma vez, tendências notadas em âmbito nacional por diversas outras investigações empíricas. Assim, é possível afirmar que a disseminação de inovações organizacionais, na sua quase totalidade inspiradas no modelo de produção conceituado como toyotista, apresenta, em ambos os Setores da fábrica, maior visibilidade e intensidade de utilização, sendo seus impactos igualmente mais profundos, quer em termos da organização da produção e da gestão do trabalho, quer no tocante às relações de trabalho e, por conseguinte, no que concerne às novas exigências que passam a incidir sobre o perfil da mão-de-obra. Todavia, a disseminação de inovações organizacionais entre os Setores A e B não se deu em concomitância, havendo diferenciações quantitativas e qualitativas em relação às técnicas e processos adotados. Foi verificado que no Setor A, mais exposto aos efeitos da competitividade internacional, as inovações organizacionais ocorrem com maior intensidade e com maior grau de difusão entre suas várias Unidades e áreas, enquanto que no Setor B, mais impactado pelo comportamento do mercado local, estas inovações se disseminam em níveis mais discretos, de modo heterogêneo, com menor intensidade, elevada inércia de implantação e maior resistência por parte dos empregados, muitas das vezes sob indução das transformações ocorridas no âmbito do Setor A. De modo específico, as diferenças em questão situam o Setor A como um espaço que apresenta maior compatibilidade ao emprego de inovações organizacionais, onde a produção se realiza de modo balanceado, padronizado e com maior previsibilidade e estabilidade; com base em peças e componentes novos; expondo clara definição dos vários processos a serem seguidos; apresentando ainda variáveis que permitem mensurações, entre outros aspectos. Enquanto isto, o Setor B refletiria realidade oposta, menos conciliável em relação ao emprego das inovações em pauta, caracterizada pela existência de uma gama extensa, diferenciada e instável de produtos nas linhas; com origens e históricos de vida útil distintos; com menor padronização e previsibilidade de produção; com poucas variáveis de processos passíveis de controle; alimentada com peças, em sua grande maioria, recondicionadas; apresentando, ainda, maiores dificuldades de acesso a componentes para substituição e a informações técnicas e tecnológicas acerca dos produtos operados. Em síntese, os processos do Setor A podem ser considerados como mais estáveis e rígidos, enquanto que no Setor B mais instáveis e dependentes de uma maior flexibilidade.
De modo comum, os Setores A e B apresentam convergência em relação ao grau de emprego e difusão de técnicas como o SPC e TPM, às ações de terceirização e, em especial, à consolidação dos movimentos internos em torno da qualidade e à implantação do trabalho polivalente. Diferem, no entanto, no tocante ao emprego da norma ISO 9002, do kan-ban, do just-in-time, e do CEP. Em ambos, se verifica ainda a existência de plantas de produção híbridas, estruturadas por intermédio da conjugação de linhas temporais (em série), típicas do fordismo, quanto espaciais (em paralelo), características do modelo toyotista, estas últimas configuradas na forma de SPCs de testes, de embalagem, de entrega final do produto ou mesmo como Células de processo. Independentemente do padrão de suas prescrições, o emprego do formato de produção, se fordista ou toyotista, aparenta decorrer menos da prevalência de um suposto novo paradigma de produção a ser paradigmaticamente seguido pelas empresas modernas, resultado de uma efetiva ruptura em relação ao modelo de produção taylorista-fordista, e muito mais a partir dos benefícios que por ventura podem trazer para a corporação, considerando-se aí a necessidade de a empresa obter maior anuência dos trabalhadores em relação às suas estratégias e metas de produção: "Os critérios adotados como prioritários se constituem, assim, em custo, qualidade e satisfação do nosso empregado. (...) Para chegar nisso aí a gente usa qualquer ferramenta que seja importante" (Gerência de Eletrônica do Setor A).
Em se tratando da qualidade, cumpre reiterar que, entre o conjunto de inovações organizacionais empregadas pela empresa Beta, esta é considerada aquela que mais afetou em profundidade a estrutura da produção e as relações de trabalho nos Setores A e B, em que pese os diferenciais de disseminação e de intensidade de emprego entre eles. Dando-se aqui destaque para o seu Programa de Qualidade, se observa que este, entre outros aspectos, se portou como promotor e irradiador da lógica "cliente-fornecedor interno":
Essa estratégia foi disseminada em toda empresa, não só pela corporação, mas por toda a companhia, passando pela área industrial e comercial e ali, basicamente, o objetivo era: criar uma forma disciplinada para que cada um fizesse o seu papel e evitássemos haver supervisão de atividades feitas em paralelo; que se procurasse uma organização básica em todos os seus processos de trabalho e na forma de abordar os problemas; onde se procurasse trabalhar em equipe, buscando soluções rápidas e eficazes para a melhoria e desempenho da companhia e também dos seus produtos. (Gerência das Engenharias de Projetos e Produção de Peças e de Programas e de Produção de Máquinas do Setor B)
Em termos do que foi declarado nas entrevistas e observado no "chão
de fábrica", o Programa de Qualidade da empresa Beta visou estabelecer
uma maior cooperação do funcionário com a empresa,
de modo a superar os entraves resultantes das injunções internas,
seja em termos das relações interpessoais, seja no que respeita
às disputas entre Unidades e entre áreas de um mesmo setor
produtivo. É possível então inferir que, para lograr
êxito em suas propostas, o Programa em questão procurou atuar
diretamente na ruptura dos vínculos de contigüidade e de interatividade
entre os trabalhadores, historicamente demarcados pela solidariedade e
coalizão de classe, deslocando-o para a esfera da cooperação
entre o trabalhador individual e a empresa. Promovendo profunda metamorfose
nas relações de trabalho e, sobretudo, no plano da identidade
individual e coletiva de cada funcionário, a empresa buscou fazer
com que estes – Gerentes, Engenheiros, Supervisores, Operadores, entre
outros – passassem a se comportar segundo uma lógica na qual, dependendo
da posição relativa de cada um frente aos contextos de trabalho,
ora se vissem como "clientes", ora como "fornecedores". Com isto, se verifica
a ocorrência de fenômenos relacionados: ao aumento da disciplina
entre os empregados da empresa, agora de autodisciplina e de disciplina
mutuamente vigiada; ao aprofundamento do controle, agora não apenas
vertical (das Gerências para as hierarquias mais baixas), mas horizontal
(de trabalhador para trabalhador); à maximização da
subordinação real do trabalho à empresa, agora pela
via da apropriação e do controle sobre a identidade do empregado;
de uma mudança sem precedentes, na qual o empregado deixa de se
ver como tal para se sentir parceiro da empresa, paradoxalmente,
sem usufruir seus lucros, a não ser buscando assegurar a manutenção
de seu emprego pela via de sua contribuição ao incremento
da competitividade da corporação.(8)
A demanda por novos perfis profissionais na empresa Beta
Ao que tudo indica, cabe reafirmar que em ambos os Setores (A e B) da empresa alvo do presente estudo, o processo de reestruturação produtiva se caracteriza mais pela adoção massiva de inovações organizacionais do que tecnológicas, notadas com maior freqüência e intensidade no Setor A do que no B. Os impactos daí resultantes no processo de trabalho (menos monótono, de difícil organização, de maior intensidade e ritmo, sustentado por novos conteúdos técnicos, entre outros) e, sobretudo, nas relações de trabalho (mais competitivas, de menor coesão intraclasse e de forte cooperação com a empresa) encontram-se, portanto, fortemente condicionados por novas formas de organização da produção e de gestão do trabalho. Assim, enquanto as inovações tecnológicas acarretam sobremaneira a simplificação do trabalho, as de natureza organizacional imprimem maior complexificação. Os movimentos internos de Qualidade Total, em conjunto com a adoção de outras inovações organizacionais dela derivadas, se portariam, preponderantemente, como propulsores de novas exigências cognitivas e comportamentais, consideradas pela empresa passíveis de serem satisfeitas através de funcionários que possuam maior tempo de escolaridade, em que pese a importância também atribuída às qualidades pessoais e aos saberes tácitos.
Do maior nível de educação formal é esperado pela empresa trabalhadores que tenham desenvolvido a capacidade de: acompanhar as mutações e quebras de paradigmas científico-tecnológicos, apresentando maior facilidade para a assimilação de novos saberes, entre conceitos e técnicas, a serem apreendidos on the job ou através da participação em cursos de treinamento; relacionar-se interpessoalmente de acordo com a lógica "cliente-fornecedor", de modo a garantir maior cooperação e adesão às metas da empresa; planejar e encontrar soluções frente a novos problemas e realidades, sendo ainda capaz de documentá-las em face do aprofundamento da objetivação do saber operário pela empresa; elaborar raciocínios lógicos e dedutivos refinados; adquirir comportamentos mais interativos e menos autocentrados; ler, interpretar e produzir textos e procedimentos técnicos e, sobretudo, internalizar novas culturas organizacionais, a ponto de o empregado poder por em prática atitudes relacionadas à vontade de "conhecer", ao "saber aprender" e ao "saber-ser", aspectos que denotam para a empresa versatilidade e flexibilidade, em especial frente à demanda por trabalho polivalência (qualificador e rotineiro):
...quanto mais, digamos assim, oportunidades você teve na vida de adquirir conhecimentos de maneira formal, na sala de aula, mais fácil será o dia a dia do funcionário em nossa empresa. O relacionamento interpessoal e a postura diante de um problema fazem com que ele tenha que pensar, tenha que planejar antes. Quer dizer, eu vejo que contribui de uma maneira positiva pra ele. Quanto mais escolaridade o sujeito tem mais facilidade de trabalhar aqui. (Gerência de Qualidade Assegurada, de Manutenção e de Auditoria de Produto do Setor A)
Por estes motivos, a corporação justifica: ter elevado para o nível médio completo o patamar mínimo de escolaridade para a admissão de novos empregados; chamar para si a tarefa de aferição dos saberes deste nível de educação entre os candidatos, dada a pouca credibilidade da certificação escolar; destinar ao trabalho com novas tecnologias os funcionários com maior tempo de escolaridade; incentivar a educação continuada dos mesmos, seja buscando a equalização dos mais antigos em torno daquele nível, seja criando condições para que prossigam os estudos no âmbito do ensino superior, em qualquer área do conhecimento. Conhecimentos técnicos e tecnológicos específicos, tanto para os Operadores, quanto para os Técnicos, são satisfeitos pela via de treinamentos de curta e média duração, ministrados por instituições como o SENAI, SENAC e congêneres, caracterizados pela condensação e modularização de cursos regulares, sob estreita vinculação com as necessidades pontuais de Unidades e áreas dos dois Setores alvo da empresa. Nestes termos, a dependência e o interesse da empresa em relação às Escolas Técnicas é maior no que se refere ao ensino dos conhecimentos científicos genéricos do que propriamente no que concerne ao ensino de conhecimentos específicos:
O que nós sabemos que existe em comum é o conhecimento básico. É aquele conhecimento baseado em ciência que vem desde a existência do ser humano, desde o primeiro registro gráfico do conhecimento do homem, das primeiras gravuras. Isso é que tem que ensinar. E o que tem que ser ensinado é matemática, física, química, língua portuguesa. Tem que ensinar para acumular. A partir daí é que o indivíduo se desenvolve. (Gerência Programas de Produtividade Industria do Setor A)
É, eu acho que o conhecimento específico é até mais fácil você adquirir depois, mas o conhecimento básico, aquela base mais sólida de educação, até mesmo geral, em física, em química, etc. cria uma estrutura para que você depois adquira qualquer conhecimento que necessite e que seja mais específico de uma determinada área. (...) Se ele [o Técnico] só tiver aquele conhecimento específico, típico de quem não sabe o porque do que está fazendo, ele, na minha opinião, é quem vai ter, com certeza, maiores dificuldades de acompanhar o processo de desenvolvimento. (Engenheiro da Gerência de Operações de Produção do Setor A)
Apesar da empresa ter demonstrado desconhecimento acerca das reformas governamentais em curso no plano da formação técnica de nível médio, é possível afirmar que esta reforma, ao invés de exprimir contradição em relação às novas demandas da produção moderna, conforme propugnado por alguns autores, aparenta estar plenamente adequada ao novo contexto produtivo, pelo menos no que tange às demandas percebidas no âmbito da empresa estudada. Desarticulando a formação científica em relação à técnica e tecnológica, a reforma em questão passa a proporcionar um tipo de formação na qual os saberes genéricos são postos como basais, enquanto que os saberes específicos, agora fragmentados e organizados a partir dos princípios da modularização curricular, passam a representar a constituição de elos estreitos entre a escola e as demandas específicas das empresas. Este tipo de vinculação, aparentemente novo no Brasil em virtude do prestígio atribuído à educação geral, sugere denotar, portanto, correlação em termos da expectativa de ambos os Setores da empresa estudada em torno de um tipo de formação técnico-profissionalizante que, em comum, lhes interessam: uma formação resultante da efetiva integração entre ela, a empresa, e a escola, pela via da flexibilização da estrutura curricular dos Cursos Técnicos e ainda proporcionada pela modularização dos saberes entendidos como específicos (técnicos, tecnológicos, organizacionais, informacionais, etc.). A minoração do tempo de formação específica e sua complementação pela firma seriam então, ao lado da formação geral, uma forma de a empresa buscar suprir suas necessidades fundamentais de formação de mão-de-obra técnica, de modo plenamente coerente com o cenário mais amplo e atual da reestruturação produtiva no Brasil. A fragmentação do saber técnico e tecnológico no âmbito da nova formação do Técnico, portanto, não seria incompatível aos novos perfis profissionais demandados pelas empresas reestruturadas, em particular no que tange ao trabalho polivalente. Embora dependente de uma sólida formação genérica do trabalhador, a polivalência é atingida e assegurada, quer por cursos de treinamentos, quer empiricamente, neste último caso no chão de fábrica por intermédio da rotatividade de tarefas, do controle e da certificação interna do trabalhador por sua passagem pelos diversos postos de trabalho. A partir deste cenário, a empresa desloca para o trabalhador a responsabilidade pelo seu fracasso ou sucesso na corporação, propugnando que todos possuem as mesmas possibilidades e condições de desenvolvimento e de "empregabilidade":
A versatilidade é uma coisa muito importante. Nós
procuramos fazer com que cada Operador conheça, no mínimo,
três postos de trabalho e, também, no mínimo, dois
produtos. (...) O que a gente procura fazer não é uma coisa
muito fácil porque o Operador passa por todo um processo de qualificação
e certificação (9) que demandam um tempo
de trabalho naquele posto. (...) Olha! o processo de treinamento dura uns
dois anos. Um ano é pouco. O problema é que, depois de qualificado
para aquele posto, ele tem que ser qualificado para outro. (Gerência
de Operações de Produção do Setor A).
Considerações Finais
Inicialmente cabe enunciar que a hipótese central desta pesquisa se confirmou apenas de modo parcial. Se por um lado, se constatou que há uma tendência de que plantas industriais mais expostas aos mercados internacionais adotem em maior grau e intensidade inovações tecnológicas, por outro, se verificou que do ponto de vista das inovações organizacionais estas se difundem com nível similar de importância em plantas também voltadas para as atividades industriais locais, embora em menor escala. De forma global, o estudo evidenciou que as inovações organizacionais, em especial os movimentos em torno da Qualidade Total e suas derivadas, comuns aos Setores A e B, se apresentam como importantes propulsores de novas exigências de qualificação do trabalhador, com vistas, sobretudo, a uma maior anuência destes em relação às estratégias e metas empresariais, entendidos pela corporação como capazes de serem majoritariamente satisfeitos pelo aumento do tempo de escolarização genérica e não específica. Em paralelo, o estudo revelou que as reformas do Ensino Técnico-profissionalizante no Brasil, em particular as que diretamente afetam as Escolas Técnicas, não exprimem contradições em relação ao processo de reestruturação produtiva contemporâneo, conforme versa a maior parte da literatura na área de trabalho-educação, já que determinado conjunto de saberes científicos e genéricos acabam por ser mais valorizados pelas empresas do que, a exemplo de épocas pretéritas, os conhecimentos tecnológicos e específicos. Se estas escolas são ou não o espaço propício à aquisição destas novas demandas, ou ético-politicamente inadequado a esta finalidade, se trata de um outro problema que, por ora, foge ao objeto das análises até aqui levadas a efeito.
Feitas as observações acima, é possível
ainda destacar que, se por um lado, o espaço da educação
genérica é visto pela empresa como fonte de solução
dos novos desafios postos à qualificação do trabalhador
pelo processo de adoção de inovações, sobretudo
as de base organizacionais, de outro, sugere que se reflita sobre distintas
esferas de formação não tão sistematizadas
e intencionais quanto a escolar como, por exemplo, a cultural em seu sentido
amplo e o conjunto das diversas práticas sociais que servem à
constituição do homem enquanto ser social, questões
que vêm sobremaneira marcando os debates críticos mais recentes
acerca da Competências. Sem querer fazer desta questão um
novo tema aqui a ser aprofundado sob mais análises, mesmo por que
é também nela que se definem os limites da pesquisa realizada,
vale destacar que, quando comparado à força de trabalho de
países como México, Estados Unidos, Canadá, Japão
e a de algumas nações européias, em especial a Inglaterra
e a Holanda, onde a corporação também se faz presente,
o trabalhador brasileiro é posto como possuidor de uma maior: capacidade
de envolvimento e participação frente aos objetivos da empresa,
predisposição e adaptação a mudanças,
ou seja, maior flexibilidade, e potencial de inovação e de
criatividade, isto não em decorrência de uma improvável
superioridade de saberes científico-tecnológicos derivados
do sistema escolar, mas em conseqüência, além da debilidade
do movimento sindical, de aspectos primordialmente culturais mais amplos.
Tal fato sugere que a esfera da cultura e das diversas práticas
sociais nas quais o trabalhador se encontra inserido atuam incisivamente
na constituição das novas exigências colocadas pelo
empresariado e que sistemas educacionais, muitas das vezes considerados
de excelência, ao invés de contribuírem para conferir
a flexibilidade acabam por minorá-la. Assim, antes de serem instrumentais,
articuladas a determinados saberes, mesmos científicos e, neste
sentido, genéricos, estas novas demandas se afiguram atreladas a
um conjunto amplo de relações sociais, através das
quais a educação é, a um só tempo, determinante
e determinada.
Notas
(1) Considerando alguns estudos empíricos
acerca da década de 90 (Leite, 1994; Mourthé, 1999; Oliveira,
1999), realizados com foco em empresas pertencentes aos mais diversos segmentos
industriais que vinham introduzindo inovações tecnológicas,
é possível afirmar que os equipamentos que mais têm
se difundido nas plantas industriais brasileiras são: Controle Numérico
Computadorizado (CNCs) – também conhecido como Máquina-Ferramenta
de Controle Numérico (MFCN), Computer Aided Design (CADs),
Computer
Aided Manufaturing (CAMs), Controlador Lógico Programável
(CLP), Robôs, entre outros, apresentando maior visibilidade de emprego
em áreas consideradas prioritárias para a automação,
como, por exemplo, projeto, produção, planejamento da produção,
controle da qualidade, etc.
(2) Apesar do PL no 1.603/96
ter sido considerado dissonante em relação aos interesses
da sociedade brasileira em seu conjunto, sua tramitação na
Comissão de Educação da Câmara dos Deputados
chegou a espelhar o exercício da democracia, mesmo que circunstancialmente,
na medida em que suscitou inúmeras críticas e, do ponto de
vista formal, mais de 300 emendas, pelo menos até que o governo
encerrasse a discussão das emendas retirando o referido PL e transformando-o
no Decreto Lei no 2.208, de 14.04.1997, decreto este que acentua
justamente os aspectos mais criticáveis daquele PL (MORAES, 1998),
regulamentando o Parágrafo no 2 do Artigo no
36 e os Artigos no 39 a no 42 da Lei no
9.394/96.
(3) A designação "Sistema
S" refere-se ao conjunto de instituições de formação
de mão-de-obra mantido no Brasil pelo empresariado, com atuação
nos setores primário, secundário e terciário da economia:
Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), Serviço
Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC), Serviço Nacional de
Aprendizagem Rural (SENAR), Serviço Social da Indústria (SESI),
Serviço Social do Comércio (SESC), entre outros.
(4) Secundariamente, operou-se com as
hipóteses de que: a) as motivações para a introdução
de inovações seriam maiores nas empresas que dirigem seus
produtos aos mercados externos, isto por estarem mais vulneráveis
aos padrões de competitividade ali praticados; b) os obstáculos
enfrentados por estas empresas ao emprego das inovações seriam
menores se comparado às empresas voltadas ao mercado nacional; c)
em decorrência, se poderia afirmar que tanto as inovações
tecnológicas, quanto as organizacionais apresentariam maior difusão
e intensidade de utilização no primeiro tipo de empresas;
d) por isto, nestas haveria de se observar repercussões mais profundas
no processo de trabalho e na qualificação do trabalhador;
e) e, finalmente, que as reformas do Ensino Técnico-profissionalizante
no País, em particular as que diretamente afetam as Escolas Técnicas,
não refletiriam contradições em relação
ao processo de reestruturação produtiva contemporâneo,
conforme versa a maior parte da literatura na área, já que
poderia estar ocorrendo uma maior valorização pelas empresas
de conhecimentos científicos e genéricos, do que propriamente
tecnológicos e específicos, como no passado.
(5) A coleta de dados esteve concentrado
na realização de entrevistas junto aos extratos gerenciais
de ambos os Setores (Gerências, Engenharias e Supervisões)
deixando-se, portanto, os trabalhadores mais próximos ao "chão
de fábrica" (Operadores de Linha e Técnicos) ou para uma
fase imediatamente seguinte, caso aqueles depoimentos se mostrassem insuficientes
em face dos objetivos da investigação, ou para momentos posteriores,
em que a mesma venha a ser desdobrada e a empresa Beta acompanhada em suas
outras mudanças. Assim, ao longo de 1998 e 1999, foram entrevistados
25 sujeitos, implicando cerca de 32 horas de registro de áudio.
Foram realizadas, ainda, observações no "chão de fábrica"
e análise de documentos da empresa, porém em menor escala.
(6) "A Política de Industrialização
e de Comércio Exterior (PICE) estabeleceu um cronograma de redução
progressiva das alíquotas de importação, a Política
de Competitividade industrial identificou os setores estrategicamente relevantes,
a Política de defesa do Consumidor foi implantada em seus mecanismos
básicos e o Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade (PBQP)
foi criado para apoiar empresas (individualmente e em grupo). Todos os
subsídios diretos foram cancelados do dia para a noite. Esse conjunto
de políticas, implantado num momento de profunda recessão
econômica, consolidou as condições para uma abrupta
e profunda mudança nas condições de operação
de todas as empresas brasileiras" (Fleury, 1995, p. 97).
(7) Um dos aspectos de maior relevo no
conjunto de inovações tecnológicas em produtos que
veio a afetar a fábrica como um todo consiste na quebra de paradigma
tecnológico relativo à captura e ao processamento de imagens
das máquinas copiadoras e duplicadoras, seu principal produto, nos
quais cilindros e sistemas de iluminação e lentes passaram
a dar lugar a tecnologias digitais e a laser que varrem e capturam,
foto-eletronicamente, as imagens dos originais. A um só tempo, o
aprofundamento das inovações organizacionais se portou como
fundamental para que a empresa perseguisse suas metas de qualidade e produtividade,
sendo a implementação de seus Programas de Qualidade vistos
como as mudanças que mais impactaram a estrutura da corporação
como um todo: "Hoje, a palavra número um é nossa qualidade,
e a segunda é produtividade. (...) cada vez mais agressivamente
os concorrentes, aí até concorrentes de produtos finais,
estão fazendo isso. Então, a nossa empresa tem que fazer
também, pois estamos sendo constantemente desafiados tanto por concorrentes
internos aqui no Brasil, quanto por concorrentes internacionais" (Gerência
de Operações de Produção do Setor A).
(8) No quadro das metamorfoses em questão,
o sindicato dos Metalúrgicos da região, filiado à
Central Sindical denominada Força Sindical (FS), não estabeleceu
quaisquer confrontos ou intervenções, confirmando sua disposição
de convivência pacífica e de colaboração com
a empresa, contribuindo, com isto, para a quebra dos vínculos de
coalizão e de identidade entre os trabalhadores e seu conseqüente
deslocamento para a esfera das metas empresariais. De modo unânime,
todos os entrevistados qualificaram as relações sindicais
na empresa como amistosas e harmônicas, destacando, ainda, que a
presença sindical se faz notar mais junto ao Setor de Recursos Humanos,
do que no "chão de fábrica" propriamente dito. Reproduzindo
as mesmas estratégias identificadas em um leque amplo de outras
pesquisas na área de sindicalismo e reestruturação
produtiva, nacionais e internacionais, a empresa busca se antecipar às
reivindicações sindicais (salários, benéficos
sociais diretos e indiretos, investimentos em treinamento, entre outros),
muitas das vezes inflacionado-as ou negociando-as diretamente com os seus
empregados, de modo a neutralizar as atividades sindicais entre os funcionários
e, com isto, obter a anuência destes em relação às
metas empresariais. Os empregados, já desmobilizados internamente
pela via da ruptura de sua identificação de classe, promovida
pela instituição da relação "cliente-fornecedor
interno", e, ainda, "satisfeitos" em relação aos benefícios
oferecidos pela corporação, passam a vivenciar a perda do
espírito de militância, contribuindo para a tendência
a uma "dessindicalização" progressiva da fábrica.
Conforme já identificado por Humphrey (1994, 1995), uma vez que
as inovações organizacionais impõem forte dependência
da empresa em relação aos trabalhadores, o conjunto destas
estratégias tende a dar impulso à inversão desta relação,
onde o empregado passa, agora, a se ver mais dependente da empresa, aprofundando
sua subordinação à mesma.
(9) Segundo a Gerência de Eletrônica
do Setor A, essa certificação se dá, no caso do
Técnico, com base no número de falhas que ele poderia ter
identificado e não que conseguiu. A certificação do
Operador, considerada mais difícil por causa da natureza de seu
trabalho – a montagem de conjuntos –, é conferida pelo Técnico
a partir das condições apresentadas pela máquina que
ele irá testar, recém-montada pelo Operador em processo de
certificação.
Referências Bibliográficas
ABRAMO, Laís. Novas tecnologias, difusão setorial, emprego e trabalho no Brasil: um balanço. BIB, Rio de Janeiro, RJ, n.30, p.19-65, 20 sem, 1990.
ANTUNES, Ricardo. Adeus ao trabalho? Ensaio sobre as metamorfoses e a centralidade do mundo do trabalho. 2. ed. São Paulo, SP: Cortez; Campinas, SP: Unicamp, 1995.
ARAÚJO, Angela Maria Carneiro; CARTONI, Daniela Maria; JUSTO, Carolina Raquel D. Mello. Reestruturação produtiva e negociação coletiva nos anos 90. Revista Brasileira de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, RJ, v. 16, n. 45, p. 85-112, fev. 2001.
ARAÚJO, Angela Maria Carneiro; GITAHY, Leda. Reestruturação produtiva e negociações coletivas entre os metalúrgicos paulistas. Trabalho apresentado no XXI Congresso Internacional da Latin American Studies Association. EUA, Chicago, 1998.
BOYER, Robert. A teoria da regulação: uma análise crítica. São Paulo, SP: Nobel, 1990.
BRAVERMAN, Harry. Trabalho e capital monopolista: a degradação do trabalho no século XX, 3. ed. Rio de Janeiro, RJ: Guanabara, 1987.
BRIGHTON LABOUR PROCESS GROUP. O processo de trabalho capitalista. In: SILVA, Tomaz Tadeu da (org.). Trabalho, educação e prática social: por uma teoria da formação humana. Porto Alegre, RS: Artes Médicas, 1991, p. 15-43.
CARVALHO, Ruy de Quadros. Projeto de primeiro mundo com conhecimento e trabalho de terceiro? Estudos Avançados – USP, São Paulo, SP, v. 7, n. 17, p. 35-79, jan./abr. 1993.
CARVALHO, Ruy de Quadros. Capacitação tecnológica, revalorização do trabalho e educação. In: FERRETTI, Celso João et al. (orgs.) Novas tecnologias, trabalho e educação: um debate multidisciplinar. 2. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1994, p. 93-127.
CASTELLS, Manuel. The rise of the network society. Malden: Blackwell, v. 1: Information age, 1996.
CUNHA, Luis Antonio. Ensino médio e ensino profissional: da fusão à exclusão. (mimeo). Trabalho apresentado na 20a Reunião Anual da ANPEd, Caxambu, MG, 1997.
CUNHA, Luis Antonio. Ensino médio e ensino profissional: da fusão à exclusão. Tecnologia e Cultura, Rio de Janeiro, RJ, ano 2, n..2, p., 10-29, jul./dez. 1998.
FERRETTI, Celso João. Formação profissional e reforma do ensino técnico no Brasil: anos 90. Educação & Sociedade, Campinas, SP, ano XVIII, n. 59, p. 225-269, ago. 1997.
FLEURY, Afonso. Qualidade e produtividade na estratégia competitiva das empresas e do trabalho. São Paulo, SP, DEP/USP (mimeo), 1993.
FLEURY, Afonso. Qualidade e produtividade na estratégia competitiva das empresas industriais brasileiras. In: CASTRO, Nadya Araújo. A máquina e o equilibrista. Rio de Janeiro, RJ: Paz e Terra, 1995, p. 85-111.
FRIGOTTO, Gaudêncio. Mudanças na política de formação técnico-profissional: regressão ao dualismo, fragmentação e produtivismo (mimeo). Trabalho apresentado no II CONED, Belo Horizonte, MG, 1997.
FRIGOTTO, Gaudêncio. Globalização e crise do emprego: mistificações e perspectivas da formação técnico-profissional. Boletim Técnico do SENAC, Rio de Janeiro, RJ, v. 25, n. 2, p. 31-45, maio/ago. 1999.
GORENDER, G. Globalização, tecnologia e relações de trabalho. Estudos Avançados da USP, São Paulo, SP, v. 11, n. 29, p. 311-348, 1997.
GORZ, André. Adeus ao proletariado: para além do socialismo. Rio de Janeiro, RJ: Forense, 1982.
HARVEY, David. Condição pós-moderna. 3. ed. São Paulo, SP: Edições Loyola, 1993.
HIRATA, Helena. Da polarização das qualificações ao modelo da competência. In: FERRETTI, Celso João et al. (orgs.) Novas tecnologias, trabalho e educação: um debate multidisciplinar. 2. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, p. 124-142, 1994.
HIRST, Paul; ZEITLIN, Jonathan. Flexible specialization versus post-fordism: theory, evidence and policy implications. Economy and Society, London, v. 20, n. 1, p. 4-59, 1991.
HUMPHREY, John. O impacto das técnicas "japonesas" de administração na indústria brasileira. Novos Estudos CEBRAP, São Paulo, SP, n. 38, p.148-167, mar. 1994.
HUMPHREY, John. O impacto das técnicas "japonesas" de administração sobre o trabalho industrial no Brasil. In: CASTRO, Nadya Araújo de Castro. A máquina e o equilibrista: inovações na indústria automobilística brasileira. São Paulo, SP: Paz e Terra, p. 113-143, 1995.
IANNI, Octavio. A ditadura do grande capital. Civilização Brasileira: Rio de Janeiro, RJ, 1981.
KERN, Horst; SCHUMANN, Michael. La fin de la division du travail? la rationalisation dans la production industrielle. Paris: Maison des Sciences del’Homme, 1989.
KUENZER, Acácia Zeneida. O ensino médio no contexto das políticas públicas de educação no Brasil. Revista Brasileira de Educação, São Paulo, SP, n. 4, p. 77-95, jan./abr. 1997.
KUENZER, Acácia Zeneida. Educação profissional: categorias para uma nova pedagogia do trabalho. Boletim Técnico do SENAC, Rio de Janeiro, RJ, v. 25, n. 2, p. 19-29, maio/ago. 1999.
KUMAR, Krishan. Da sociedade pós-industrial à pós-moderna: novas teorias sobre o mundo contemporâneo. Rio de Janeiro, RJ: Jorge Zahar, 1997.
LACERDA, Antônio Corrêa de. O impacto da globalização na economia brasileira. São Paulo, SP: Contexto, 1998.
LEITE, Márcia de Paula; SILVA, Roque Aparecido. A sociologia do trabalho frente a reestruturação produtiva: uma discussão teórica (mimeo). Trabalho apresentado no GT Trabalho e Sociedade: Reestruturação Produtiva e Transformações Sociais, na 18o Encontro Anual da ANPOCS, Caxambu, MG, 1994.
LEITE, Marcia de Paula. O futuro do trabalho: novas tecnologias e subjetividade operária. São Paulo, SP: Scritta, 1994.
LEITE, Marcia de Paula. Inovação tecnológica e relações de trabalho: a experiência brasileira à luz do quadro internacional. In: CASTRO, Nadya Araújo. (org.) A máquina e o equilibrista: inovações na indústria automobilística brasileira. São Paulo, SP: Paz e Terra, 1995, p. 335-360.
LÉVY, Pierre. As tecnologias da inteligência: o futuro do pensamento na era da informática. São Paulo, SP: Ed. 34, 1993.
LOJKINE, Jean. A revolução informacional. São Paulo: Cortez, 1995.
MARGLIN, S. Origens e funções do parcelamento das tarefas: para que servem os patrões? In: GORZ, André (org.) Divisão social do trabalho e modo de produção capitalista. Lisboa, Portugal: Publicações Escorpião, 1976.
MATTOSO, Jorge Eduardo. A desordem do trabalho. São Paulo, SP: Scritta, 1995.
MILITÃO, Maria Nadir de Sales do Amaral. Flexibilização da educação profissional. Trabalho & Educação, Belo Horizonte, MG, n. 3, p. 95-105, jan./jul. 1998.
MORAES, Carmem Sylvia V. A reforma do ensino médio e a educação profissional. Trabalho & Educação, Belo Horizonte, MG, n. 3, p. 107-117, jan./jul. 1998.
MOURTHÉ, André. Impacto da automação sobre o emprego e as relações de trabalho em empresas de autopeças em Minas Gerais. In: NABUCO, Maria Regina; NETO, Antônio Carvalho. Relações de trabalho contemporâneas. Belo Horizonte, MG: IRT.PUC, 1999, p. 87-102.
NETO, Antônio Moreira de Carvalho. A reestruturação produtiva negociada entre empresários e trabalhadores brasileiros, de 1992 a 1998. In: VI Encontro Nacional de Estudos do Trabalho. Belo Horizonte, MG, Anais... São Paulo, SP, Associação Brasileira de Estudos do Trabalho (ABET), 1999, p. 501-535.
OLIVEIRA, André Mourthé de. Impacto da automação sobre o emprego e sobre as relações de trabalho em dez empresas autopeças em Minas Gerais. In: VI Encontro Nacional de Estudos do Trabalho. 1999, Belo Horizonte, MG, Anais... São Paulo, SP, Associação Brasileira de Estudos do Trabalho (ABET), 1999, p. 1157-1172.
PAIVA, Vanilda Pereira; POTENGY, Gisélia; CHINELLI, Filippina. Qualificação e inserção alternativa no mundo do trabalho: a sociologia do trabalho para além da indústria. Novos Estudos CEBRAP, São Paulo, SP, n. 48, p. 121-142, jul. 1997.
PIORE, Michael; SABEL, Charles. The second industrial divide: possibilities for prosperity. New York: Basic Books, 1984.
POCHMANN, Marcio. Mudanças na ocupação e a formação profissional In: VI Encontro Nacional de Estudos do Trabalho. 1999, Belo Horizonte, MG, Anais... São Paulo, SP, Associação Brasileira de Estudos do Trabalho (ABET), 1999, p. 765-790.
RACHID, Alessandra; GITAHY, Leda. Programas de qualidade, trabalho e educação. Em Aberto. Brasília, DF, ano 15, n. 65, p. 63-93, jan./mar. 1995.
ROMERO, Carlos Cortez. Educação, inovação, (in)competitividade. Rio de Janeiro, RJ. Tese de Doutorado em Educação, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, 1998.
SALERNO, Mário Sérgio. Trabalho e organização na empresa industrial integrada e flexível. In: FERRETTI, Celso João et al. (org.) Novas tecnologias, trabalho e educação: um debate multidisciplinar. 2. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1994, p. 54-76.
SALERNO, Mário Sérgio. A tragetória histórica e as perspectivas de desenvolvimento da Autolatina no Brasil. In: CASTRO, Nadya Araújo. (org.) A máquina e o equilibrista: inovações na indústria automobilística brasileira. São Paulo, SP: Paz e Terra, 1995, p. 199-275.
SALM, Cláudio. Educação e formação profissional. Boletim de Conjuntura. Rio de Janeiro, RJ: UFRJ/IE, v. 17, n. 2, 1997.
SCHAFF, Adam. A sociedade informática. 1. ed. São Paulo, SP: Brasiliense/UNESPA, 1990.
SOARES, Rosemary Dore; ROMERO, Carlos Cortez; CARVALHO, Antônio Machado de; LÜSCHER, Ana Zuleima de Castro. Política de formação profissional em Minas Gerais. Boletim Técnico do SENAC, Rio de Janeiro, RJ, v. 25, n. 2, p. 67-72, set./dez. 1999.
SOUZA, Donaldo Bello de; SANTANA, Marco Aurélio; DELUIZ, Neise. Trabalho e educação: centrais sindicais e reestruturação produtiva no Brasil. Rio de Janeiro, RJ: Quartet, 1999.
SOUZA, Donaldo Bello de. Reforma do ensino técnico-profissional no Brasil: o aprofundamento da dicotomia entre educação geral e formação profissional. Espaço: Informativo Técnico-Científico do INES, Rio de Janeiro, RJ, n. 12, p. 58-64, jul./dez. 1999.
SOUZA, Donaldo Bello de. Educação à distância e sistema modular: flexibilização ou engessamento do ensino técnico-profissional no Brasil? Tecnologia e Cultura, Rio de Janeiro, RJ, ano 3, n. 3, p. 16-23, dez./jul. 2000.
SOUZA, Donaldo Bello de. Reestruturação
produtiva e educação do trabalhador: um estudo de caso comparado
em uma empresa do complexo eletrônico atuante nos mercados internacionais
e local. Rio de Janeiro, RJ, 188 p. Tese de Doutorado em Educação,
Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2001.
© Copyright Donaldo Bello de Souza, 2002
© Copyright Scripta Nova, 2002
Ficha bibliográfica
SOUZA, D.B.de. Complexificação e simplificação do trabalho em face do processo de reestruturação produtiva na indústria brasileira: formação ou educação para o trabalho?. Scripta Nova, Revista Electrónica de Geografía y Ciencias Sociales, Universidad de Barcelona, Vol. VI, nº 119 (86), 2002. [ISSN: 1138-9788] http://www.ub.es/geocrit/sn/sn119-86.htm