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Índice de Scripta Nova

Scripta Nova
REVISTA ELECTRÓNICA DE GEOGRAFÍA Y CIENCIAS SOCIALES
Universidad de Barcelona. ISSN: 1138-9788. Depósito Legal: B. 21.741-98
Vol. VI, núm. 119 (95), 1 de agosto de 2002

EL TRABAJO

Número extraordinario dedicado al IV Coloquio Internacional de Geocrítica (Actas del Coloquio)
 

O TRABALHO DO ATLETA E A PRODUÇÃO DO ESPETÁCULO ESPORTIVO

Profª Drª Katia Rubio
Universidade de São Paulo


O trabalho do atleta e a produção do espetáculo esportivo (Resumo)

O esporte é uma prática cultural associada diretamente ao lazer e ao uso do tempo livre. Entretanto, diante das transformações ocorridas com esse fenômeno nos últimos 30 anos, tendo o amadorismo, um dos pilares fundamentais do Olimpismo, sido suplantado pelo profissionalismo, uma nova condição de exercício profissional é apresentada àqueles que possuem habilidades físicas específicas e optaram pela prática esportiva como profissão. O atleta profissional do esporte contemporâneo tem sido, graças ao poder e influência que os meios de comunicação de massa têm sobre o espetáculo esportivo, tratado e reconhecido como personalidade pública, ídolo, herói e ideal de ego de grande parte da juventude e dos adultos, porque à sua figura estão associados o sucesso, a fama e uma vida vitoriosa, valores cultivados e desejados pela sociedade atual. No entanto, como retrato fiel da pós-modernidade, essas entidades fulgurantes têm seu brilho alimentado por um período de no máximo 20 anos para depois experimentar a dureza do esquecimento, ainda que poucos consigam chegar a esse estágio com reservas financeiras suficientes para seu sustento e das próximas gerações. Nesse trabalho procuramos discutir como se dá a construção do esporte moderno, sua transformação em espetáculo e a assimilação do profissionalismo dentro desse contexto.

Palavras-chave: trabalho, olimpismo, espetáculo


Works athletes and the sportive spectacle production (Abstract)

The sport is a cultural practice related to leisure and free time. Nevertheless, in the face of the great changes that occurred within the past 30 years, amateurism, which is Olympic’s base, was supplanted by professionalism and this established a new professional status to those have specific physical abilities and chose sports practice as a profession. The professional athlete of contemporary sport has been thanks to the mass media’s influential power over the sportive spectacle, recognized as a public personality, idol, hero and ego’s ideal of the majority of the young and adults because of the associations to success, fame and victorious life, which are desirable values by today’s society members. However, as a faithful post modern’s picture, these sparkling figures have their light increased for about 20 years to be then forgotten, not mentioning those who can’t even make ends meet when they are at this point. In this article, we discussed building of modern sport, its transformation into a spectacle and the assimilation of professionalism within this context.

Key words: sport; olympics; spectacle.


O esporte é para A. Guttmann (1978) uma forma genuína de adaptação a vida moderna e pode ser entendido como um tipo de trabalho disfarçado e desmoralizante. Apresenta, ainda, características como disciplina, autoridade, iniciativa, perfeição, destreza, racionalidade, organização e burocracia, provas do mimetismo e da dependência existentes entre o esporte e o capitalismo industrial.

Não se pode estudar e analisar o fenômeno esportivo alheio ao movimento e organização sociais presente ou sem considerar a influência dos meios de comunicação de massa na produção desse espetáculo. O esporte é um fenômeno cultural complexo e de grande importância para a sociedade contemporânea, capaz de anunciar e denunciar inúmeras manifestações latentes nos diversos grupos sociais.

Conforme P. Bourdieu (1993) algumas chaves constitutivas do dispositivo esportivo, esboçadas no século XIX, não se transformaram plenamente até meados do presente século. Uma das mudanças mais significativas teve relação com a crescente intervenção do Estado, isso porque a esportivização da sociedade constitui uma parte importante da intervenção e do desdobramento de distintas agências que, durante sua atuação, se autodefiniam e recriavam. Além disso, a filosofia do amadorismo, que dominou o Olimpismo praticamente até a chegada de Juan Samaranch à presidência do Comitê Olímpico Internacional, tratou sempre de apresentar as práticas esportivas independentes dos poderes públicos, como produto da iniciativa individual e do associacionismo voluntário.

A crescente intervenção estatal, no entanto, é apenas uma das questões em jogo. A outra leitura possível, complementar e paralela a essa, não pode ignorar que, desde suas origens, toda atividade esportiva de alguma envergadura supõe sempre uma atividade industrial e comercial, que indica que o espaço esportivo foi transformado em um setor da vida econômica e em uma área de consumo muito importante e dinâmica.

Essa condição foi alcançada graças à construção espetacular da narrativa esportiva em que a competição é uma metáfora das batalhas de então, em que adversários reais ou simbólicos serão sempre o alvo de superação. Isso quer dizer que a espetacularização do esporte foi construída relacionada ao desenvolvimento da própria prática esportiva e com as intervenções e alterações propostas pelos distintos atores envolvidos. Essa narrativa, preocupada em reforçar os aspectos competitivos como igualdade e equilíbrio entre os oponentes, tem reforçado o imaginário da batalha justa, emocionante, de resultado imprevisível, facilitando a emergência de consciências coletivas, identidades nacionais e protagonistas carismáticos, transformando o campo da competição em cenário de representação de atitudes heróicas de atletas que defendem uma equipe, cidade ou país (Rubio, 2001).

J. M. Brohm (1993) afirma em suas 20 tesis sobre el deporte que o esporte como instituição é produto de uma ruptura histórica, que surge no ‘espaço clássico’ do modo de produção capitalista, na Inglaterra, não como uma instituição homogênea, mas como uma prática de classes. Se por um lado a burguesia concebia o esporte como ócio, como um forma de passatempo, o proletariado prescindia-o como um meio de recuperação física. Assim se pode explicar que o movimento sindical, desde seu início, reivindicasse o direito ao esporte juntamente com o direito ao trabalho, e tenha lutado por esta reivindicação ao mesmo tempo que pela redução da jornada laboral.

Dentro dessa mesma perspectiva o esporte é visto como conseqüência do desenvolvimento das forças produtivas capitalistas, produto da diminuição da jornada de trabalho, da urbanização e da modernização dos transportes. Sua existência transforma o corpo em instrumento e o integra dentro do complexo sistema de forças produtivas. O atleta profissional é um novo tipo de trabalhador que vende a um patrão sua força de trabalho (capaz de produzir um espetáculo que atrai multidões); é valor de troca de sua força de trabalho, regulado pelas leis de oferta e procura do mercado. O amadorismo deixou de existir desde que o atleta profissional se tornou um profissional do espetáculo muscular.

Entende Brohm (1993) que o esporte se apresenta como uma preparação da força de trabalho para o trabalho industrial capitalista, uma vez que difunde para os indivíduos, desde muito cedo, o princípio do rendimento e produtividade, fazendo funcionar o corpo de acordo com os princípios tayloristas, implantando uma moral do esforço e do trabalho, contribuindo para a manutenção da exploração de classes. Apesar disso, o esporte se apresenta como politicamente neutro, favorecendo a colaboração de classes uma vez que expressa a possibilidade do diálogo leal entre os interlocutores (sociais) sob a supervisão de um árbitro imparcial (o Estado).
 

O esporte e a sociedade moderna

O esporte contemporâneo nasceu, cresceu e tem se desenvolvido no seio da sociedade urbana e industrial sujeito às adaptações particulares da vida política, econômica e social moderna. Sua prática atual surge pela primeira vez na Inglaterra, no mesmo momento, e não por casualidade, em que se inicia a Revolução Industrial. Essa caracterização tem implicações importantes tanto naquilo que se refere à prática esportiva como com a organização do esporte em geral.

O nascimento do esporte responde, considera Foucault (1993), a consciência que a burguesia adquiriu ao longo do século XIX da necessidade de controlar as populações para assegurar sua produtividade. O amontoamento de corpos que ocorria nas fábricas e nas cidades, a duração da jornada de trabalho, a poluição, as enfermidades e a falta de saneamento urbano e as condições de moradia foram sendo percebidos como focos de perigo para a saúde da população ou para a saúde da nação. Entretanto, a extrema preocupação com a saúde da população dissimulava outras intenções.

Diria González (1993) que essa preocupação deveria sua força, não especificamente pelo temor à doença dos trabalhadores em si, mas por suas repercussões econômicas (produz mais um operário são e bem alimentado), militares (o poder e segurança do império dependem de soldados fortes e robustos) e sociais (a sujeira e a doença são a fonte de todos os vícios e favorecem o surgimento de todos os tipos de contestadores). As soluções encontradas para a superação desse quadro, inscritas em um contexto de crescente consciência e regulação do social, buscaram um ideal de operário-soldado-esportista. Para esse sujeito foram promovidos hábitos higiênicos, realizadas campanhas difundindo os valores do exercício físico, regulamentaram as recreações populares, planejaram a necessidade de espaços ao ar livre, defenderam a implantação obrigatória do exercício ginástico, criaram movimentos juvenis... e inventaram-ensinaram-impuseram uma nova forma de jogar ao modo esportivo.

Mas não era apenas a saúde da população trabalhadora que preocupava as autoridades e demandava ações-soluções das autoridades. Era preciso atuar também sobre a saúde dos jovens filhos da burguesia, e principalmente desenvolver bons hábitos de disciplina e de liderança entre aqueles viriam a ser os novos colonizadores do mundo.

A configuração do espaço esportivo implicava uma concepção diferente do âmbito da recreação. Acrescenta González (1993) que a crescente transformação da educação das classes ascendentes, realizada nas Public Schools, ao longo do século XIX chamou a atenção sobre a necessidade de uma reforma dessas instituições. O esporte surgiu, então, como uma parte da estratégia de controle do tempo livre dos adolescentes das classes dominantes e, em um período muito curto de tempo, acabou por converter-se em um elemento central, no conteúdo formativo mais importante, dos currículos dessas escolas. Em pouco tempo, campos e quadras foram convertidos em um verdadeiro meio educativo e o esporte ganhou importância sobre disciplinas como línguas ou cultura clássica. Esse procedimento era defendido com o argumento de que o esporte formava o caráter dos futuros dirigentes sociais. Os homens que levariam adiante o liberalismo precisavam ser solidários na ação e ter iniciativa dentro das regras que regia o mercado. O esporte passou a ser uma metáfora do jogo capitalista.

Mas o privilégio esportivo não estava destinado a todos, uma vez que diante da formação de lideranças é presumível que haja liderados. A partir do Ato de Educação de 1870 foi estabelecido um acordo entre o Departamento de Educação e o Gabinete Militar para que sargentos ministrassem educação física nas escolas primárias. O modelo seguido foi o da ginástica sueca, gerando uma dualidade de sistemas na educação física inglesa: jogos organizados nas Escolas Públicas e ginástica nas Escolas Primárias, ou seja, nas primeiras tem-se a formação de líderes empreendedores e bons oficiais, e nas segundas bons operários e soldados, talhados na disciplina e nos efeitos fisiológicos do exercício sistemático (K. Rubio, 2001).

Juntamente com a indústria têxtil, as ferrovias, as companhias de energia elétrica e tudo o que a Inglaterra pôde exportar, estavam o esporte, sua organização e regras. E assim o modelo inglês converteu-se no paradigma do esporte moderno.
 

Amadorismo e profissionalização

Apresentado e defendido como uma prática de tempo livre, o esporte moderno teve até a década de 1970 o amadorismo como um de seus principais pilares. Essa condição pode ser justificada pela origem aristocrática do esporte e pela necessidade de sua classe dirigente, não menos aristocrática, manter o controle de sua organização e institucionalização. As restrições à prática esportiva a todos aqueles que exerciam algum tipo de atividade remunerada não se baseavam apenas na nobreza do esporte e de seus praticantes simplesmente.

Cardoso (1996) aponta para a questão latente posta na prática popularizada do esporte:

Os inventores do amadorismo queriam, em primeiro lugar, afastar da arena os trabalhadores. O esporte estava reservado a quem pudesse se dedicar a ele em tempo integral e desinteressadamente, enquanto o comum dos mortais suava para garantir o pão de cada dia. Este era o motivo oculto. Abertamente se temia que o dinheiro transformasse a competição esportiva em espetáculo de ‘show-business’. (p. 06)

O ideal do amadorismo é para Donnely (apud Gomes & Tavares, 1999) a base do Olimpismo. Seu desenvolvimento se deu dentro de um contexto bastante específico que era a moral vitoriana e veio a sofrer verdadeira mutação com o estabelecimento de uma relação causal entre dinheiro e desempenho esportivo. Por isso, o Olimpismo é para esse autor, uma atitude em extinção no mundo olímpico. Mais do que solidariedade e respeito mútuo, o principal referencial para a realização do esporte de alta competição atualmente é a capacidade de gerar remuneração financeira para todos os envolvidos nela, direta ou indiretamente.

Como conseqüência desse processo e do esforço de muitos, o amadorismo foi sendo esquecido como um dos elementos fundantes e fundamentais do Olimpismo no final da década de 1970, emergindo um movimento de disfarce de atletas em funcionários de empresas para que escapassem à condição de profissionais do esporte. Esse esforço foi substituído definitivamente e com sucesso pelos contratos com patrocinadores e empresas interessadas em investir no esporte, surgindo a partir daí outros tipos de problema.

Se arma do bem ou do mal, a profissionalização acabou por desencadear uma grande transformação na organização do esporte tanto do ponto de vista institucional como na atividade competitiva em si, levando o esporte a se tornar uma carreira profissional cobiçada e uma opção de vida para jovens habilidosos e talentosos. Esse é o esporte do século XXI.
 

O trabalho esportivo

As dificuldades crescentes por alcançar êxito esportivo em um contexto social cada vez mais competitivo, têm forçado uma iniciação esportiva cada vez mais precoce nas diversas modalidades.

De acordo com M. G. Ferrando (1996) esse recrutamento precoce é mais evidente nas modalidades coletivas que nas individuais, e diferentemente de outros períodos em que a iniciação à prática esportiva era feita em espaços públicos, hoje há também uma institucionalização precoce, na medida em que as áreas livres são cada vez mais escassas. A maneira como hoje se produz a iniciação aponta para um modelo cada vez mais institucionalizado de esporte competitivo que vai sendo implantado, condicionando de maneira poderosa a trajetória pessoal até a excelência esportiva.

Em um estudo realizado com atletas espanhóis de elite, Ferrando (1979) destaca que a conversão da prática esportiva recreativa em uma competição de alto nível técnico e de especialização vem denunciar uma das maiores contradições do esporte olímpico: o amadorismo.

Recorda o autor que é definido como atleta amador aquele que nunca tenha tido treinadores nem treinamento em sua atuação esportiva. A ênfase dada a prática esportiva não remunerada das burguesias européias de finais do século XIX e início do século XX foi mantida pela maioria dos dirigentes dos movimento olímpico contemporâneo, quase todos eles membros de grupos sociais privilegiados social, econômica e politicamente. Entretanto, o esporte de alto rendimento se converteu em algo tão qualificado do ponto de vista técnico que seus praticantes mais destacados e dedicados estão mais próximos, por sua extração social, da classe trabalhadora, que se pretendia manter alijada do esporte, que a burguesia dirigente.

Daí a denominação de Ferrando aos atletas de alto rendimento de ‘trabalhadores do esporte’, por ter como contrapartida à sua prática profissional, contratos publicitários generosos, exigência de segurança profissional, médica e social, e um distanciamento do chamado ideal olímpico.

Os atletas com este perfil apesar de apresentarem uma variada extração social, são quase sempre originários de classes sociais média-baixas, e apontam o esporte como um impedimento ao exercício de outra ocupação, o que os faz buscar a profissionalização.
 

Considerações finais

A espetacularização do esporte moderno e super-valorização dos feitos e resultados alcançados pelo atleta têm sugerido uma relação entre o protagonista do espetáculo esportivo e figura espetacular do herói.

Um dos principais elementos dessa identificação extemporânea, pode ser creditado à capacidade de enfrentamento do perigo e do desconhecido, do destemor ao combate e da busca incessante dos objetivos propostos a essa figura mítica. Não bastasse isso, na associação feita entre o atleta e o herói uma outra característica vem a ser agregada a esse conjunto de valores, e que de certa forma acabou se constituindo como um dos marcos definidores do esporte: seu caráter agonístico (Rubio, 2001).

A condição pós-moderna conferida ao esporte atual pode ser justificada pela relação de dependência estabelecida com os meios de comunicação de massa e o conseqüente ajustamento de sua prática em função das exigências e necessidades desses meios. A televisão transformou a audiência do esporte em todo o mundo, e na medida que começou a perder a capacidade de subsistir enquanto espetáculo ao vivo, tornou-se dependente de patrocínios gerados pela abrangência das transmissões televisivas. Essa situação provocou o incremento do profissionalismo no esporte, tanto no que se refere à possessão do espetáculo pela televisão como em relação àquele que protagoniza o espetáculo, o atleta.

É a partir desse momento que os dois elementos fundantes do esporte moderno, o amadorismo e o fair play passaram a sofrer seu grande revés. Considerados a base do Olimpismo, esses conceitos foram norteadores do esporte ao longo do século XX, até aproximadamente os anos 1970, quando a relação causal dinheiro e desempenho esportivo passaram a compor uma dupla inseparável, levando o esporte a se tornar uma carreira profissional e uma opção de vida para crianças e jovens possuidores de um nível de habilidade desejada para o desempenho esportivo.

Apesar do pragmatismo observado na relação esporte-mídia-patrocinador há ainda outros elementos implicados na escolha do esporte competitivo como atividade profissional tão determinantes, que já não seria possível dizer que apenas os lucros obtidos com essa prática seriam capazes de motivar um atleta a permanecer na carreira.

Existem vários aspectos que compõem esse universo, responsáveis por caracterizar tanto o fenômeno como o protagonista do espetáculo. As expectativas geradas em torno da prática esportiva levam a determinados padrões de comportamento que irão, de certa forma, influenciar, e por vezes determinar, a conduta daqueles que escolheram o esporte como profissão e opção de vida.

Afirmaríamos que essa é a razão porque em torno de uma modalidade específica e, do esporte como um todo, desenvolve-se um conjunto de práticas coletivas e comportamentos individuais chamados pelo senso comum de cultura esportiva. Esses comportamentos e procedimentos levam à criação e multiplicação de um imaginário esportivo, pautado, principalmente na história de vida de atletas ativos, que ainda fazem o espetáculo esportivo, e inativos, que já realizaram grandes feitos, registrando seu nome para a posteridade.

A partir do início da atividade esportiva e competitiva regular, essa condição é reforçada pelo argumento de que atleta vencedor é aquele que ganha torneios e se consagra com medalhas. A interpretação dessa situação aponta para uma inclinação desses atletas para a luta, e consequentemente à agonística. Apesar de uma disposição individual inicial para a prática esportiva que pode levar à profissionalização é possível perceber, ao longo a trajetória de vários atletas, a influência exercida por elementos externos, como por exemplo a história de vida de outros esportistas e a exposição sistemática pela mídia de carreiras e situações vitoriosas, interferindo diretamente na construção do conceito de vencedor e na constituição do imaginário e do repertório esportivo, onde o derrotado é premiado com o consolo.

Indicações como essas apontam que a carreira de um atleta não é fruto apenas de uma disposição e talento individuais, da afirmação de uma vontade latente ou da determinação em perseguir objetivos. Fatores externos como a influência parental, políticas institucionais e papel dos formadores podem influenciar e mesmo determinar a transformação de um aspirante em atleta.

Depois de iniciada a trajetória outros elementos se somam a estes e alocam o atleta entre os que adquirem fama e status, e se tornam a referência presente da modalidade, ou àqueles que buscam pela ação e pelo gesto o prestígio, condição que em certa medida favorece a duração e a permanência.
 

Bibliografia

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GUTTMANN, A. From ritual to record. New York: Columbia University Press, 1978.

RUBIO, K. O atleta e o mito do herói. O imaginário esportivo contemporâneo. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2001.
 

© Copyright Katia Rubio, 2002
© Copyright Scripta Nova, 2002
 

Ficha bibliográfica

RUBIO, K. O trabalho do atleta e a produção do espetáculo esportivo.  Scripta Nova, Revista Electrónica de Geografía y Ciencias Sociales, Universidad de Barcelona, Vol. VI, nº 119 (95), 2002.  [ISSN: 1138-9788]  http://www.ub.es/geocrit/sn/sn119-95.htm


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