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Índice de Scripta Nova

Scripta Nova
REVISTA ELECTRÓNICA DE GEOGRAFÍA Y CIENCIAS SOCIALES
Universidad de Barcelona. ISSN: 1138-9788. Depósito Legal: B. 21.741-98
Vol. VI, núm. 119 (124), 1 de agosto de 2002

EL TRABAJO

Número extraordinario dedicado al IV Coloquio Internacional de Geocrítica (Actas del Coloquio)
 

TRABALHO E REDES DE SOLIDARIEDADE AOS MIGRANTES

Adelita Carleial
Professora Doutora da Universidade de Fortaleza
Técnica da Fundação Instituto de Pesquisa e Informação do Ceará, Fortaleza, Brasil.


Trabalho e redes de solidariedade aos migrantes. Resumo

As redes de solidariedade aos imigrantes são tipos de estratégias econômicas e sociais, que permitem oportunidades de emprego e de convivência, amenizam os conflitos decorrentes das adversidades encontradas no lugar de destino, viabilizando o processo migratório. Esta pesquisa estuda este fenômeno na cidade de Fortaleza, capital do estado do Ceará, no nordeste do Brasil; onde foram encontradas experiências de organizações familiares, e de conterrâneos, que atraíam pessoas do interior do estado e forneciam a eles ajuda, treinamento profissional e postos de trabalho, facilitando a sua adaptação, diminuindo os riscos e tornando a migração eficiente para estas pessoas.

Palavras- chave: migração, trabalho, redes solidárias


The work and the solidarity nets for migrants. Abstract

Solidarity nets for immigrants are some kinds of economic and social strategies, that permits job and socializing opportunities to emerge, render pleasant conflits caused by adversities found in the immigrant’s place of desting, which makes true the viability of the migrant process. This research studies the phenomenom in Fortaleza city, capital of Ceará state, in the northeast of Brazil; where were been found experiences of family organizations and also fellow-townsmen, that had attracted people from the interior of the state, providing help, professional training and job, making their adaptation casier, decreasing the risks and turning migration sucessfur for those people.

Key words: immigration,work, solidarity nets


Este trabalho estuda as redes de solidariedade aos imigrantes, inseridas no processo produtivo da economia e da existência social. Essas articulações de ajuda são estratégias sociais e econômicas de sobrevivência e de sustentabilidade, desenvolvidas para migrantes, promovidas por organismos governamentais ou por iniciativas da sociedade civil, movidas por interesses políticos, laços de parentesco, de vizinhança, ou amizade.

Essas redes formam organizações que atraem, assistem e mantém os imigrantes com moradia, treinamento profissional e ofertas de oportunidades de emprego, servindo para facilitar a adaptação dessas pessoas no local de destino; amenizando, assim, os conflitos decorrentes das adversidades encontradas, diminuindo os riscos possíveis e, portanto, viabilizando e solidificando o processo migratório, ao torná-lo eficiente para quem participa dele.

Esta pesquisa está sendo realizada na cidade de Fortaleza, capital do estado do Ceará, no nordeste do Brasil; e, especialmente, em duas redes solidárias de apoio aos migrantes: o restaurante Cantina do Faustino e o Gabinete de Beleza Symphonie. Ambas experiências, no setor de serviços, estão consolidadas há uma ou mais décadas, mostrando que este tipo de atividade tem sido eficiente economicamente. Pretende-se, portanto, demonstrar que essas redes solidárias têm por função social aperfeiçoar o processo migratório, controlando-o, disciplinando-o à economia, de acordo com as instituições sociais e com os valores culturais dominantes em uma sociedade determinada.

Este artigo está dividido em três partes: primeiro, uma caracterização geral do quadro de redes de solidariedade aos migrantes existentes na cidade de Fortaleza; segundo, uma descrição de duas experiências particulares de redes mostrando suas características comuns, as relações sociais de trabalho específicas, os comportamentos criados, e os traços culturais decorrentes; e terceiro, uma análise crítica destas redes, identificando os seus efeitos e as suas implicações para a economia e para a sociedade.
 

Eu ajudo, tu ajudas, nós nos sustentamos

Há uma multiplicidades de redes de solidariedade aos imigrantes em Fortaleza. Algumas são nitidamente políticas, outras comerciais, poucas são promovidas pelo Estado. Nem sempre reúnem uma só característica, podendo ter mais de uma ao mesmo tempo. Mas o que é geral, em todas elas, é sua natureza alternativa e complementar à economia da migração. Essas organizações não são estritamente econômicas, mas envolvem sentimentos de solidariedade, fraternidade e humanismo.

Outra característica comum à todas as experiências solidárias aos imigrantes, em Fortaleza, é o fato de serem atividades constituídas por e para migrantes, ligando velhos e novos forasteiros, experientes e novatos, conhecedores de códigos e regras urbanas e aprendizes.

As especificidades encontradas são relativas ao modo como essa ajuda mútua vai ser desenvolvida e formalizada. A criatividade produz diversas experiências, maneiras de fazer e de pensar a migração.

Existem as redes governamentais municipais, de natureza político-partidária, concretizadas em casas de referência para os imigrantes, para acompanhar os conterrâneos em sua passagem pela Capital do estado, quando vêm para resolver questões particulares, tratamentos médicos, causas judiciais, e outros negócios. As prefeituras funcionam como assistentes sociais fora do município, auxiliando e orientando os imigrantes temporários, pois eles não têm a intenção de permanecer no local, mas apenas de usufruírem os serviços e bens mais elaborados e de melhor qualidade, disponíveis em Fortaleza. São redes de troca de favores eleitorais e políticos estabelecidas entre a Prefeitura e os seus munícipes, visando fortalecer e manter o sistema de gestão administrativa dominante de grupos políticos que detém o Poder Executivo. A Casa de Apoio do Governo de Morada Nova é um exemplo disso.

Ainda, com conotações políticas, existem as "colônias" de imigrantes, de determinado, município na Capital do estado, que estimulam elos entre os imigrantes conterrâneos sob a influência da política eleitoral. Essas pessoas mantém o título de eleitor no lugar de sua origem para exercer o poder do voto e pressionar as instituições políticas dos municípios onde nasceram. As Prefeituras, então, disponibilizam, informalmente, assessores para prestar assistência aos imigrantes, recentes ou antigos, fornecendo ajudas das mais diferentes espécies, e com isso, vinculando-os por compromisso político atrelando o voto à ajuda prestada. Esses atos de ajuda estão vinculados ao compromisso do voto. Isto ocorre com parte dos imigrantes de inúmeros municípios cearenses.

Outras "colônias", menos sistemáticas, mas não menos efetivas, são aquelas de convivência social entre conterrâneos imigrantes. Esses agrupamentos informais promovem festas em Fortaleza e viagens para outras festividades tradicionais no município de origem, sustentam laços de fraternidade movidos pela identidade e pelo apego à terra natal. Este exemplo é aplicável aos imigrantes do município de Barbalha.

A Pastoral do Imigrante seria, igualmente, uma prática solidária. No caso de Fortaleza ela é coordenada por religiosas cristãs imigrantes, que assistem às pessoas vindas do interior cearense, orientando-as espiritualmente, ensinando-as certas condutas, discutindo os problemas delas, mantendo um espaço para a reflexão e para encontros de estudos e de religiosidade. Independente de laços de parentesco, vínculos de interesse econômico ou político, a ação religiosa é descompromissada e voluntária, respondendo à crença de que teriam uma missão aqui na Terra, designada por Deus, em favor do necessitado, do oprimido, como é caracterizado o pobre imigrante. A Pastoral, portanto, não incentivaria a migração, nem resolveria a questão do trabalho para os imigrantes, mas complementaria a produção econômica dessas pessoas com o desenvolvimento da espiritualidade pela evangelização, pelo doutrinamento contraditório entre a resignação e a compreensão crítica da condição de imigrante, e, assim, contribuiria, em parte, para a permanência dele no local de destino.

A Casa do Estudante é outro exemplo de espaço para a solidariedade com o imigrante. Ela é uma instituição do Governo estadual, vinculada ao setor educacional público, que serve para acomodar os estudantes carentes vindos do interior para estudar na rede de ensino estadual. É uma república onde habitam jovens secundaristas, permitindo o intercâmbio entre imigrantes de diferentes municípios, incentivando atitudes de cooperação ou acirrando as contradições entre os veteranos e os novos residentes, facilitando o aprendizado sobre os códigos de convivência e de sobrevivência no novo lugar de moradia, na escolar e em outros espaços sociais. Centro de treinamento para a vida, essa habitação constitui-se, portanto, em lugar de solidariedade que facilita a permanência do estudante imigrante, no lugar de destino.

Algumas empresas comerciais, com marcados traços familiares, atuam como instituições absorvedoras de mão de obra imigrante, como são exemplos a Cantina do Faustino e o Gabinete de Beleza Symphonie, que serão analisados, em seguida, detalhadamente, porque constituem o objeto específico desta investigação sociológica.
 

Caso 1: Cantina do Faustino

A pesquisa foi realizada em 2001, na Cantina do Faustino, um restaurante que funciona, também, como uma escola de garçons e de cozinheiros imigrantes, que emprega em torno de 25 pessoas, todas elas, vindas de um mesmo lugar: do município de Reriutaba, no interior do Ceará, para a Capital. Foram feitas entrevistas semi-abertas com alguns empregados e com o empregador que empresta seu nome ao estabelecimento comercial. O objetivo da coleta de informações era registrar as impressões dos imigrantes, despreocupado com a quantidade da amostra, se esta era, ou não, representativa do universo, pois as representações desses indivíduos viriam acrescentar aspectos relativos ao modo como pensavam e faziam as suas vidas de imigrantes.

As informações obtidas, nas entrevistas, diziam que há 11 anos começaram a vir pessoas desse município, que é o mesmo da origem do proprietário. Por lá já passaram cerca de 30 imigrantes, parentes diretos e indiretos do dono do restaurante. Eles vêm aprender e trabalhar. Dois já saíram para colocar o seu próprio negócio e outros dois migraram: um, para o Rio de Janeiro, e o outro, para Recife.

O dono, também, tem uma história de imigrante, pois ele saiu do Ceará, foi para o Rio de Janeiro, trabalhou no Hotel Glória, onde inclusive morava, e lá, aprendeu o ofício de cozinheiro. Veio para Fortaleza para trabalhar no ramo hoteleiro, e, em 1991, montou seu próprio negócio. Ele "sonhava em retornar, mas a história de seca, miséria, não deixava". Sua experiência profissional é de 30 anos, mas ele diz que "está sempre aprendendo".

Os imigrantes constituem relações de amizade cerradas entre si, passeiam juntos, namoram com parentes ou com pessoas do mesmo local de origem, chegando a ocorrer casamentos entre eles, mostrando um relativo fechamento social dessas pessoas com relação aos de fora do grupo. Em momentos de lazer, a empresa aluga um transporte grande, do tipo Topic, e leva os trabalhadores para sítios na Serra de Guaramiranga, cedidos por clientes ricos, onde podem desfrutar de feriados e finais de semana. Em alguns domingos, moças de Reriutaba, também imigrantes, vão até lá em busca de passeios e namoros com os garçons e cozinheiros da Cantina. A preferência afetiva por pessoas conterrâneas é explicada assim: "Eles preferem as mulheres de lá, pois são conhecidas, trabalhadoras, e as daqui, eles não sabem como são".

Os reriutabenses têm diversas motivações para saírem de seu local de origem e buscarem emprego na maior cidade do estado: "Deu vontade de conhecer"; "Não era meu destino me dedicar a roça"; "Não tinha trabalho por lá".

Depois de chegarem em Fortaleza, eles são capacitados para o trabalho ocupando diferentes funções. Iniciam pelas tarefas mais simples e desqualificadas para alcançar os postos que exigem maiores habilidades, conhecimentos e destrezas. A sistemática do treinamento é a seguinte: eles começam pela limpeza do local, depois vão para a lavagem dos pratos, em seguida para a elaboração de saladas e sobremesas, logo depois para a cozinha, bar e, por fim, o atendimento no salão.

A estratégia do dono é a auto-sustentabilidade do empreendimento, pois eles fabricam o sabão, o sorvete, plantam horta, e criam pequenos animais.

Essa rede é basicamente masculina, pois "a jornada é puxada". A divisão sexual do trabalho é estabelecida do seguinte modo: "Não mistura os homens com as mulheres porque dá problemas, eles namoram, têm ciúmes e engravidam". Por isso só tem duas mulheres trabalhando no local: a esposa do proprietário, como Caixa, e uma moça lavando prato.

As relações de trabalho, nessa experiência, são uma mistura de formalidade e informalidade, existindo uma estreita ligação entre patrão e empregado; pelos laços de parentesco, e pelo protecionismo patronal, resultando em um modo de trabalho com caraterísticas familiares, onde os empregados sentem-se, de fato, como parte integrante da empresa; mas, de direito, eles não são. "Eles não faltam, nem chegam atrasados", diz o entrevistado. Os beneficiados são poucos, e quase não existe rotatividade de trabalhadores, pois eles ficam, não são despedidos, nem querem sair, por isso existe uma fila de 20 pessoas esperando uma oportunidade. Há premiações "para quem trabalha sério e inventa novas receitas culinárias", incentivando a melhoria na qualidade do serviço; ao mesmo tempo, em que desenvolve a satisfação do empregado com o reconhecimento, pelo patrão de seu desempenho profissional. Essa forma mista de impessoalidade e de tratamento personalizado resulta em um sistema diferente, complexo e plural, gerando um paternalismo do empregador e uma maior dependência do empregado ao patrão.

Além disso, o empregador presta ajuda financeira, como por exemplo: ele aluga apartamento para hospedar os chegantes, fornece as roupas para o trabalho e a alimentação, os encargos sociais não são descontados dos salários, e inclusive "permite" que alguns estudem. Quando adoece, o trabalhador é encaminhado ao hospital. Além disso, segundo o informante, os trabalhadores "são obrigados a mandar 1/3 do salário para a família que ficou no interior. Pense em um cabra ruim para a família. Ele não vai dar nada. Quando damos ao pai e à mãe ganhamos o dobro".
 

Caso 2: Gabinete de Beleza Symphonie

A segunda investigação realizada foi no Gabinete de Beleza Symphonie, em Fortaleza, no ano de 2001. Trata-se de uma empresa familiar que surgiu há 40 anos atrás, quando uma mulher interiorana se casou com um primo e, juntos, migraram para a Capital do estado a procura de melhores condições de trabalho. Com dificuldades financeiras, ela resolveu fazer pequenos serviços de tratamento de beleza para as mulheres vizinhas, para ajudar na renda da casa. O negócio foi crescendo e ela, para aprimorar seu negócio, participou de alguns cursos profissionalizantes. Assim, foi atraindo novas imigrantes de sua terra natal, de sua família, absorvendo-as em seu pequeno negócio, hospedando-as em sua própria casa que era dividida em residência e local de trabalho.

A princípio, o costume de trazer primas, sobrinhas, e outras jovens mulheres, todas parentes próximas ou distantes da proprietária do empreendimento, foi para que elas estudassem em Fortaleza, porque no lugar onde viviam não tinha escola perto. Elas trabalhavam no Gabinete de Beleza enquanto estudavam. As moças iam capacitando-se para o trabalho; e com isso, estabeleceu-se uma rede consolidada de atração e absorção da força de trabalho.

A produção econômica dessas mulheres permitiram que se sustentassem e pudessem permanecer na cidade. Algumas contraíram matrimônio com pessoas nativas, e, outras, saíram desta situação para instalar seus próprios negócios.

A experiência analisada constitui-se em uma rede feminina econômica e de solidariedade às imigrantes, que reforça uma ocupação tradicionalmente de mulheres, aquela do ramo de serviços de higiene e limpeza.

Como no caso anterior, da Cantina do Faustino, as relações de trabalho no Gabinete Symphonie respeitam as leis gerais, e outras regras são construídas pelos integrantes dessas redes, relativas aos laços de fraternidade. Por exemplo, a proprietária é respeitada como pessoa e como patroa. As empregadas a tratam pelo parentesco de "Tia Lili". Outras relações são de assistência e de paternalismo, fugindo-se do padrão impessoal do mercado de trabalho formal.
 

Migração como forma de negócios sustentáveis

Os dois casos analisados de redes de solidariedade ao migrante mostram uma alternativa de trabalho e de desenvolvimento de negócios rentáveis. Pela via da migração produz-se uma oferta e uma demanda por estes tipos de trabalho, úteis, economicamente, para patrões e empregados migrantes, tanto pelo acesso ao trabalho, quanto pela formação de um quadro de trabalhadores de conhecidas referências.

Nas duas experiências analisadas, os patrões sabem, a priori, quem são os candidatos aos empregos, quais são as suas habilidades e qualificações profissionais. Essas informações são obtidas na convivência prática cotidiana, ou por laços de parentesco ou por conversas de amigos; possibilitando, assim, uma maior segurança e satisfação patronal em relação ao tipo de desempenho do trabalhador.

Essas redes de solidariedade aos imigrantes podem ser, numericamente insignificantes, tendo em vista o volume total de imigrantes em Fortaleza(1), mas apontam para soluções geradas no seio da sociedade, o que têm implicações sociais importantes.

As imagens sobre os imigrantes, geralmente, são construídas ligando-os à condição de lutadores pela sobrevivência pela via do trabalho. A reprodução da vida social impõe tipos de conduta e de aceitação de situações adversas. Essa necessidade de continuar vivendo vai gerar diferentes estratégias que podem ser individuais ou coletivas. A migração é uma dessas possibilidades de sobrevivência, em outro território, e em condições novas. Essas mudanças de lugar e de trabalho vão exigir do forasteiro maior esforço do que para o nativo. Alguns migrantes contam com o apoio e o socorro da família, e, assim, se adaptam de forma diferente daqueles que não possuem essas facilidades.

O processo migratório faz parte da reprodução da base material da sociedade, pois influencia o mercado de trabalho, e a produção da riqueza local. Os imigrantes relacionam-se com os não-migrantes, e, estabelecem elos contraditórios, de competição e de solidariedade. Esse processo, também, produz idéias, discursos e representações sobre os homens migrantes, resignificando seu modo de pensar e de viver o mundo.

A categoria analítica migrantes seria abstrata, se pensássemos em uma totalidade única, uma unidade absoluta, pois, se retiraria dessa relação social as suas múltiplas determinações, a pluralidade que a compõe. Os imigrantes estão, diferentemente, inseridos na esfera produtiva da sociedade; estabelecendo relações econômicas, contraditórias e mutáveis, de acordo com o nível de desenvolvimento local. Assim, têm-se imigrantes patrões e empregados; imigrantes antigos e recentes; imigrantes homens e mulheres; enfim, pessoas em relações sociais e desiguais.

Os imigrantes estudados, trazem em comum, o fato de terem vindo da zona rural para o meio urbano, motivados pela busca de trabalho e de melhores condições de vida. As relações sociais, produzidas nessas redes, são específicas de pessoas influenciadas pelo processo migratório. Tanto o empregador quanto os empregados são imigrantes, e, por isso, compartilham representações semelhantes, pois fazem parte de um segmento social que se sente diferente do morador nascido no local. Essa diferença do não-natural em relação ao natural frente ao território é uma situação permanente, que vai sendo amenizada à medida em que aumentam os anos de permanência na cidade de destino.

Essa ocupação oposta, dos dois pólos da produção, empregador e empregados, vai reproduzir as relações de poder e de mando predominantes no sistema econômico mais geral. Os direitos e os deveres estão submetidos à lógica do capital, à mentalidade de eficiência produtiva, e à competitividade. Pelos elos da migração, as relações são impregnadas de laços paternalistas e protecionistas, com características de ajuda, assistência e solidariedade.
 

Notas

(1) Os dados do IBGE/Contagem de 1996 apontam para 87.787 imigrantes na Capital do Ceará, sendo 38.018 de outros estados e 48.190 vindos de outros municípios cearenses.
 

Bibliografia

BRITO, Fausto. Brasil, final de século; a transição para um novo padrão migratório? Belo Horizonte: UFMG, 2000.

FAIAL, Edite, KONINGS, Johan, et alii. Migrantes cidadãos. Coordenação de Rosita Milesi e Maria Luiza Schimano. São Paulo: Loyola, 2001.

MATOS, Ralfo. Movimentos migratórios e difusão da pobreza nas microrregiões demográficas. Belo Horizonte: UFMG, 2000.

ROCHA, Maria Isabel Baltar da (Org.) Trabalho e gênero; mudanças , permanências e desafios. São Paulo: Ed. 34/Abep/Nepo/Unicamp; Belo Horizonte: Cedeplar/UFMG, 2000.

SALIM, Celso Amorim. Migração: o fato e a controvérsia teórica, Brasília: Abep, 1992.
 

© Copyright Adelita Carleial, 2002
© Copyright Scripta Nova, 2002
 

Ficha bibliográfica

CARLEIAL, A. Trabalho e redes de solidariedade aos migrantes. Scripta Nova, Revista Electrónica de Geografía y Ciencias Sociales, Universidad de Barcelona, vol. VI, nº 119 (124), 2002. [ISSN: 1138-9788]  http://www.ub.es/geocrit/sn/sn119124.htm


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