X Coloquio Internacional de Geocrítica
DIEZ AÑOS DE CAMBIOS EN EL MUNDO, EN LA GEOGRAFÍA Y EN LAS CIENCIAS SOCIALES, 1999-2008 Barcelona, 26 - 30 de mayo de 2008 |
EDUCAÇÃO AMBIENTAL: MAIS UMA EXPRESSÃO DE INTERESSES?
Kenia Diógenes
Especialista em Geografia
Pós Graduação em Geografia - UNICAMP
GEOURBANA - Grupo de Estudos em Geografia Urbana
keniadiogenes@gmail.com
Cristiano Rocha
Doutorando em Geografia – Professor Estagiário do Curso de Geografia da UNICAMP
Pós Graduação em Geografia - UNICAMP
Grupo de Estudos em Geografia Urbana (GEOURBANA)
criscrisrocha@yahoo.com.br
Educação ambiental: mais uma expressão de interesses? (Resumo)
O planeta vem presenciando uma série de mudanças que afetam as vidas das pessoas e são inerentes, de uma forma geral, ao modo de produção capitalista. Elas vêm sendo denominadas de crise ambiental. Como tentativa para reverter essa crise, a educação ambiental se tornou um caminho. A Educação ganhou a adjetivação de Ambiental devido a característica cartesiana de ensino de divisão dos saberes em contrapartida ao pensamento complexo. Logo, o que vem sendo chamado de “educação ambiental” mais se aproxima de um adestramento ambiental, que também é produzido dentro da ideologia capitalista. A responsabilidade da dita crise ambiental está espraiada, mas o adestramento ambiental está majoritariamente destinado à parcela da sociedade que causa menos danos ambientais. Isso é mais um reflexo das contradições que permeiam o movimento ambientalista e o sistema capitalista. Assim, observaremos aqui a Educação Ambiental e a contribuição da geografia sob uma perspectiva crítica. Diante desse quadro de degradação ambiental, a educação – entendida complexamente – pode ser o caminho mais viável na busca de uma sociedade de convivência saudável com o ambiente e com maior equidade sócio-econômica.
Environmental education: new expression of interests? (Abstract)
Planet comes witnessing a series of changes that affect the lives of the people and are inherent, in a general form, to the way of capitalist production. They come being called of "environmental crisis". As attempt to revert this crisis, the “environmental education” became a way. Education gained the “environmental” adjective of due the positivism characteristic of education and division of on the other hand knowing them to the complex thought. Soon, what it comes more being called "environment education" to approaches to an “environmental training”, that also is produced inside of the capitalist ideology. The responsibility of this crisis is spread, but the environmental training mainly is destined to the parcel of the society that cause little environmental damages. We will observe here the Ambient Education and the contribution of geography under a critical perspective. Ahead of environment degradation, the education - understood like complex mode - can be the way most viable in the search of a society of healthful with the environment and bigger partner-economic equity.
Key words : Environmental Education; Environmental Crisis; Environmental Training; Complexity
Historicamente, a relação da sociedade com a natureza, como indica Foladori (2001), é uma relação técnica que consiste na utilização destes recursos para satisfazer suas necessidades, a transformação da natureza mediante o trabalho. O que vem mudando desde então com o avanço dos sistemas econômicos, intensificado no modo de produção capitalista, é a modificação das formas de uso dos recursos, a criação de novos produtos para serem consumidos pelas pessoas e mais ainda a criação das necessidades desses novos produtos.
O problema, portanto, não é a utilização da natureza, visto que ela sempre houve no sentido de atender as necessidades básicas da vida. Mas a intensificação da sua transformação, ocorrendo aí uma mudança de valores que estão pautados nos interesses do modo de produção (capitalista), baseado na acumulação de capital. A acumulação de capital é possível através da exploração, seja ela da natureza e/ou de uma parcela da sociedade (proletariado), em benefício de uma determinada classe social (minoritária). Como afirma Foladori, “uma vez surgidas as sociedades de classes, a dominação e a exploração de uma classe sobre outras se traduzem simultaneamente, num comportamento de exploração e dominação da natureza.” (FOLADORI, 2001:108).
Historicamente contextualizada, essa relação sociedade x elementos naturais se intensificou desde a Revolução Industrial do século XVIII, momento em que a exploração da natureza passou por transformações, de escala artesanal para escala industrial. Isso coincide com os primórdios do capitalismo, que, como indica Foladori (2001), cada vez mais consolidado, transformou a relação da sociedade com o entorno a partir de classes sociais, com interesses diferentes e muitas vezes opostos, intensificando a D.I.T. (Divisão Internacional do Trabalho) e as lutas de classes. Logo, a história da degradação dos elementos naturais (incluindo a humanidade e suas relações) é a história da evolução do capitalismo, com todas as relações sociais que são inerentes a ele.
A D.I.T nos mostra que, mesmo que todas as sociedades tenham transformado a natureza, apenas as que faziam parte dos países industrializados se beneficiaram largamente com essa transformação, desenvolvendo uma relação de exploração da mesma no seu sentido mais amplo, cabendo aos países pobres uma ação também exploratória, mas agora para atender as necessidades desses países industrializados (na tentativa de atender as suas) com fornecimento de matéria prima por exemplo, associada a falta de meios para se industrializarem. Sendo a exploração uma ação inerente ao capitalismo e esse se consolidou com a R.I., coube a Brügger constatar que “Se a nossa sociedade industrial e não ambiental se caracteriza por uma desigualdade social provavelmente inédita em toda a história, uma sociedade ambiental pode ser definida, em grande parte, pelo bem-estar da maioria da população.” (Brügger, 1994:62). (Grifos nossos).
Mas o que sempre se escuta ou vê através da mídia é que estamos atravessando uma “crise ambiental” sem precedentes. Manchetes como “O planeta terra nunca esteve tão quente” ou “Já ultrapassa a quantidade de queimadas nas florestas brasileiras em relação ao ano anterior”, ou ainda “Derramamento de óleo na bacia Guanabara compromete biodiversidade” são o tipo de matéria que se divulga em revistas ambientais ou em quadros de jornais televisionados quando se referem às notícias sobre o ambiente.
Esses são fatos realmente importantes de serem divulgadas para maior reflexão/ação da população, mas quadros muito mais alarmantes como o aumento da quantidade de miseráveis no mundo, ou o aumento da violência em grande parte das cidades, que também são divulgadas, não são vinculadas ou identificadas como problemas ambientais.
Entender o ambiente nas suas múltiplas facetas é entender o homem como sujeito transformador e transformado, e entender que os problemas da sociedade são também problemas ambientais. Então, se tanto as primeiras como as últimas manchetes abordam problemas da sociedade (e entendemos a sociedade como parte integrante do ambiente), note-se que umas são entendidas como reflexo da crise ambiental e outras não. Vejamos afinal, que crise “ambiental” é essa.
“Crise Ambiental”, que crise é essa?Quando se fala de “questão ambiental” ou “crise ambiental”, logo vem à cabeça problemas como a poluição das águas, os referentes ao lixo (falta de aterro sanitário, produção exagerada) ou, saindo de escalas locais, o aquecimento global, a camada de ozônio, entre outros.
Se observarmos bem todos os problemas citados, mais do que problemas da natureza são problemas da sociedade. Estes, explicitados na luta de classes, estão cada vez mais evidentes e graves, isso é conseqüência “das contradições do modo industrial de produzir mercadorias”, conforme Rodrigues 1994, modo de produção que tem como base uma sociedade de consumo e alienação e como principal objetivo a acumulação do capital.
Para garantir a sobrevivência do modo de produção capitalista utilizou-se e modificou-se a natureza tanto quanto foi necessário, para atender as necessidades de acumulação de capital de uma minoria. Essa acumulação, que é a responsável pela desigualdade econômica e social, é inerente e condição “sine qua non” para a perpetuação do capitalismo. Essas ações tiveram como conseqüência uma série de outros problemas que não se limitam a animais em extinção, aquecimento global ou baixa na reserva de petróleo. Mas, também, em divisão da sociedade em classes sociais (e todas as conseqüências disso), fome, falta de moradia, e outras necessidades básicas à sobrevivência. Problemas esses, que por serem problemas da sociedade, se refletem no ambiente. Como comenta Foladori, “os problemas ambientais da sociedade humana surgem como resultado da sua organização econômica e social e que qualquer problema aparentemente externo se apresenta, primeiro, como um conflito no interior da sociedade humana.” (Foladori, 2001:102)
Foladori confirma no seu comentário que a depredação da natureza, assunto que virou tema nas discussões internacionais como a ONU, por exemplo, não são problemas externos que devem ser resolvidos a parte, que deve ter um plano de ação direcionado para a sua solução, mas são conseqüências de conflitos internos da sociedade, do modo de produção ou da cultura industrial/capitalista. Como afirma Brügger, “a questão ambiental não e apenas a história da degradação da natureza, mas também da exploração do homem (que também é natureza!) pelo homem.” (Brügger, 1994:109).
De qualquer forma, mesmo que para nós a “questão ambiental” deva ser admitida dessa maneira, para quem tem o “poder”, seja ele financeiro ou político, os problemas referentes à depredação da natureza são analisados, estudados e divulgados como tema exclusivo, não como único tema abordado, mas sendo visto separadamente dos outros, desenvolvendo mundialmente e de relevante importância e reconhecimento programas e/ou políticas exclusivas para essas questões, como o PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) em âmbito internacional, e a PNMA (Política Nacional do Meio Ambiente) e outros como a PNEA (Política Nacional de Educação Ambiental) e ProNEA (Programa Nacional de Educação Ambiental) no Brasil.
Especificando esse último, o MMA (Ministério do Meio Ambiente) brasileiro considera a Educação Ambiental como sendo fundamental na gestão ambiental, onde o ProNEA tem um papel significativo na orientação de agentes públicos e privados visando a reflexão e construção de alternativas que almejem a Sustentabilidade. Com o objetivo final de ressaltar as boas práticas de êxito no contexto ambiental.
O ProNEA, um dos principais programas governamentais de educação ambiental, é considerado pelo MMA um dos elementos fundamentais de gestão ambiental e tem como anseio a sustentabilidade. Uma das buscas do ProNEA é por um “Brasil sustentável, entendido como um país socialmente justo e ambientalmente seguro.” (Brasil, 2005).
Admitir a busca por um Brasil socialmente justo e seguro é entender que ele não se encontra dessa forma. A “crise ambiental” pela qual estamos passando é reflexo desse “Brasil socialmente injusto e inseguro” que a E.A. busca ajudar modificar. Agora vale questionar se o caminho para reverter a crise, não importa de qual adjetivo ela venha acompanhada, é a criação de uma leva de políticas/programas que tenham como elemento fundamental a Educação Ambiental. E se é educando “ambientalmente” a sociedade que a crise será dizimada.
“Educação Ambiental” – caminho para reverter a crise?A “Educação Ambiental” vem sendo paulatinamente implantada e defendida como resposta para a minimização dos problemas ambientais. Políticas e programas governamentais, inclusive o MEC, ONG’s, instituições de ensino, vários setores públicos e privados, partidos políticos e alguns civis levantam a “bandeira” da E.A.
A “crise ambiental” que, através da mídia e outros meios, vem sendo divulgada como um dos grandes temas da atualidade, potencializou a “Educação Ambiental”, em meados da década de 1970, como sensibilizadora da população em relação a crise. Como marco desse caminho, a Conferência de Estolcomo que teve como principais enfoques o crescimento econômico em detrimento do meio ambiente e o esgotamento dos recursos naturais, e em seguida a Conferência de Belgrado e a Conferência de Tbilisi[[1]] consolidaram a E.A. como meio fundamental na tentativa de mudanças de relacionamento da sociedade com a natureza.
Note-se que a visão proclamada de “crise ambiental” está mais intimamente relacionada a problemas de limites de recursos naturais e poluição desses recursos (água, solo, vegetação). Logo, as relações da sociedade com a natureza são de exploração intensa, seja ela dos elementos naturais ou dos homens. O modo de produção capitalista tem sua base nesse tipo de relação de exploração[[2]] e a crise, do modo como ela vem sendo entendida ambientalmente, também tem sua base nesse tipo de exploração.
Cabe à educação “ambiental”, como uma das tentativas de dissolver a crise, combater o modo de produção explorador, mas, uma das contradições que permeiam essa questão é a divulgação, por parte dos próprios educadores ambientais, de consumo de produtos que sejam ambientalmente corretos.
Os valores que regem nossa sociedade são historicamente os de consumo de massa, e o interessante agora é ter como logomarca a “sustentabilidade”, grandes capitalistas vestem uma roupagem verde de produção “ecologicamente correta” e incentivam a população para consumo do seu produto baseado nessa prerrogativa. Embora essa roupagem não signifique, necessariamente, uma redução global da emissão de poluentes ou mesmo uma mudança na forma de produzir, o que ocorre, principalmente, é que esse interesse das grandes empresas em se promover como “amiga da natureza” busca, acima de tudo, um aumento nos lucros baseados nesse novo produto: a “preservação ambiental”.
Apesar da responsabilidade pela produção de poluição e do desperdício estar concentrada em setores da sociedade a sua responsabilização está espraiada. Assim a população é chamada a contribuir com a “preservação” e as indústrias, por exemplo, faturam cada vez mais com a fabricação de seus produtos utilizando a mídia e a própria “E.A.” para alcançar os mesmos objetivos de antes da percepção da crise: o lucro. E a exploração dos elementos naturais continua igual ou talvez maior que antes, visto que a população consome cada vez mais produtos acreditando na sua contribuição quando consome produtos com selos como o da PROCEL[[3]] entre outros.
Vendo dessa maneira a educação ambiental tem atendido a dois propósitos do modo de produção: o da ilusão e o da alienação, sendo que nenhum dos dois têm conseguido, efetivamente, combater a depredação do planeta. O primeiro que apresenta uma visão romantizada, é destinado aos que acreditam nessa forma de educação (ambiental) para ajudar na eliminação da crise, e o segundo é destinado aos que se beneficiam por essa forma segmentada de educação a partir da justificação de suas ações/produtos, inclusive de forma compensatória pela depredação do ambiente (entendido aqui no seu sentido amplo).
Se observamos o destino dessa “educação” ambiental para a sociedade, podemos ver que ela está cada vez mais cercada pelo adestramento ambiental, que se distância da educação, onde “O adestramento toma o lugar da educação começando pela compartimentalização do que não deveria ser compartimentalizado.” (Brügger, 1994: 37).
A educação se distingue do adestramento por ser esse último um processo que conduz à reprodução de conceitos ou habilidades técnicas, permanecendo ausente o aspecto de integração do conhecimento, condição sine qua non para a formação de uma visão crítica e criativa da realidade. (Brügger, 1994: 40).
Esse adestramento ambiental reproduz o modo de produção, visto aqui de forma inseparável da exploração da natureza. Logo, a Educação Ambiental, sozinha e com as diretrizes que a permeiam, não é capaz de aplacar uma crise tão complexa e de raízes tão contraditórias. Primeiro por a Educação ter, depois de muitos anos, ganhado esse adjetivo ambiental, pressupondo que antes ela não estava destinada a abordar assuntos referentes ao ambiente. Segundo por ter sido admitido que a crise fosse ambiental e não social, e fazendo planejamentos baseados nessa (incompleta) crise de exploração dos elementos naturais.
Educaçãoambiental ou simplesmente educação?A Educação adquiriu essa adjetivação “ambiental” quando da observação de que alguns elementos naturais não teriam capacidade de reprodução igual a de utilização pela população e instalou-se nas universidades, jornais, televisão, etc. a discussão sobre uma “crise ambiental”. Para tentar aplacar ou reverter essa crise estudou-se meios, avaliou-se formas e implantou-se ações que acreditou-se ser possível para tal reversão. A Educação “Ambiental” é concebida, desde o início de seu conceito, como uma dessas ações.
O Brasil, através do portal do Ministério do Meio Ambiente, adotou o conceito de educação ambiental utilizado na Conferência Sub-regional de Educação Ambiental para a Educação Secundária - Chosica/Peru (1976)[[4]], onde diz que a educação ambiental é a ação educativa permanente pela qual a comunidade educativa têm a tomada de consciência de sua realidade global, do tipo de relações que os homens estabelecem entre si e com a natureza, dos problemas derivados de ditas relações e suas causas profundas. Ela desenvolve, mediante uma prática que vincula o educando com a comunidade, valores e atitudes que promovem um comportamento dirigido a transformação superadora dessa realidade, tanto em seus aspectos naturais como sociais, desenvolvendo no educando as habilidades e atitudes necessárias para dita transformação.
Se observarmos o conceito definido nessa conferência, poderemos ver que há um estreito caminho entre o que seria “Educação Ambiental” e o que deveria ser a Educação no seu contexto amplo. A ação educativa, dentro da Tendência Progressista Libertadora, inspirada em Paulo Freire, tem como pressuposto uma educação problematizadora, que se dá a partir da codificação da situação problema, do conhecimento da realidade e tem um processo de reflexão e crítica[[5]].
Dentre os problemas da sociedade estão os referentes à degradação do ambiente, e na tentativa de redimir esses problemas a Educação ganhou uma ramificação que espera-se estar a contento dessas perspectivas. Essa ramificação é uma das características do ensino cartesiano/tradicional tecnicista de fragmentação dos saberes.
Por outro lado, a complexidade de Morin propõe, entre outras discussões, a religação dos saberes que vai de encontro ao parcelamento proposto pelo ensino tecnicista, entendendo assim, que a Educação deve ser vista como um todo complexo atendendo a objetivos comuns à sociedade. Então, cabe agora tentar entender um pouco sobre o que quer a educação.
O que quer a educação?O ensino no Brasil tem adotado tendências educacionais que seguem padrões e interesses relativos à política e a economia de seu tempo, os interesses da burguesia. A partir da década de 1960, com a implantação do Regime Militar, os interesses estavam voltados para uma educação centrada nas massas, visando um ensino tecnicista pautado na eficiência, na produtividade e na neutralidade científica, que fosse capaz de suprir as ofertas no trabalho industrial e técnico e que ficasse clara a posição de dominação dos capitalistas. Essa tendência pedagógica denominada de Tendência Liberal Tecnicista foi responsável também pela fragmentação dos saberes e pelo sistema de “ensino bancário” de depósito de informação: a educação tradicional/cartesiana[[6]]. Que pode ser considerada como o espelho da própria organização da sociedade, como explica Brügger: “A divisão do saber em compartimentos estanques tornou-se prática e “necessária” para atingir os objetivos educacionais de um sistema de ensino que nada mais é do que uma faceta de uma determinada visão de mundo, também fragmentada.” (Brügger, 1994:37).
A Educação “Ambiental” segue os parâmetros da educação cartesiana, mais parecendo um adestramento para conservação e preservação da natureza e tendo como principais lemas nos seus cursos de especialização ou de qualquer modalidade de ensino, ações como gestão, manejo, etc. Faltando o teor crítico, a problematização da realidade sócioambiental.
Nesses atribulados tempos de crise de vários adjetivos, crise ambiental, crise da saúde, da segurança, entre outros, a educação tem um papel fundamental como início da caminhada para a mudança, mas somente quando ela conseguir religar os saberes fragmentados na visão capitalista da educação. Quando ela for entendida de forma complexa.
À educação “ambiental” cabe ser compreendida como sendo inerente à própria educação, sem separação, como intento da religação dos saberes, como explica Morin: “A inteligência parcelada, compartimentada, mecanicista, disjuntiva e reducionista rompe o complexo do mundo em fragmentos disjuntos, fraciona os problemas, separa o que está unido, torna unidimensional o multidimensional.” (Morin, 2001:43).
Até que a Educação “Ambiental” seja entendida como parte da educação, esta última, no âmbito nacional, tem um longo caminho a percorrer. É necessário que os responsáveis por promovê-las, tanto a E.A. como a Educação, as entenda como inseparáveis.
Para o ProNEA “a população em geral” é responsável pela preservação do planeta e pela divulgação de meios para essa preservação ou pela “Educação Ambiental”.
As campanhas que de alguma forma contemplam os temas ambientais, como separação de lixo ou economia de energia, geralmente vêm acompanhadas de frases que convidam a população a colaborar. Usa-se como estratégia essa divulgação do adestramento por intermédio dos próprios adestrados, que são treinados por instituições educacionais ou não para preservação dos elementos naturais. São indicações cabais de intimação da sociedade para “fazer a sua parte” fazendo-a entender que é ela (toda ela) a responsável pelos danos ambientais.
Como já vimos, a educação no Brasil segue padrões neoliberais de ensino, de saberes fragmentados e com ideais tradicionais que atendem os anseios do modo de produção capitalista.
A contradição está em empresas como a Souza Cruz[[7]], por exemplo, que é por natureza degradadora da saúde humana e tem em um de seus programas de “defesa da natureza” o de “Educação ambiental”, que funciona desde 1982. A empresa assegura que mais de 1000 escolas da Região Sul estão recebendo, através de ações, promoções e materiais didáticos do Clube da arvora, lições para proteger a água em nosso planeta (Alexandre, 2003). No entanto, a empresa em questão leva danos, conseqüências drásticas para muitas famílias e não divulga nas suas campanhas de “Educação Ambiental” esse tipo de assunto.
Com isso pudemos ver que as empresas contribuem com o adestramento ambiental como tentativa de compensar a imagem degradante que está associada ao tipo de produto fabricado por ela, inclusive bem divulgado pela mídia. Mas é através dela também, da mídia, que as empresas mostram a sua preocupação com o ambiente, divulgando seus programas e se inserindo na imagem que o consumidor busca ter delas agora.
Então, se há interesses mercadológicos, a responsabilidade social está pendente a eles. Além de que, historicamente vêm demonstrando que esses interesses se negam mutuamente. Logo a educação não pode estar subordinada ao mercado, pelo menos não como é entendida pelo MEC.
A sociedade, como alvo, é responsável pela sua educação. Não para viabilizá-la, mas para cobrar e exigi-la como direito garantido. Não somente a educação, mas um ambiente saudável, justo e igualitário. Conquistas que têm na educação seu caminho, por hora, mais viável.
Os estudiosos das áreas da educação e das questões ambientais, vêm em grande maioria, juntamente com o sistema econômico, desenvolvendo atividades que se justificam pela finalidade, mas que mais reproduzem o sistema do que o repelem, sistema que, como já visto, não busca qualidade de vida para a maioria ou uma igualdade social.
Com a separação (inclusive institucional) entre educação e educação ambiental, as ações e planos voltados para o ambiente estão sendo tratados cada um na sua esfera, com sua secretaria, conselhos, e salvo em diretrizes da educação ambiental[[8]] ou até mesmo da educação, estão sendo abordadas, desenvolvidas e implantadas separadamente.
Mas as ações nacionais, além de ações locais para cada realidade, seguem roteiros que são elaborados mundialmente. Na Conferência da Biosfera[[9]] em 1968 em Paris, conferência promovida por vários organismos da ONU e outros, foi criado um comitê que agiria nos países membros. Entre outros objetivos do comitê, estava incluso promover a educação ambiental. Essa foi uma das primeiras vezes que a E.A. entrou nos planos de metas dos governos (Ribeiro, 2001:64), entendendo desde o início que ela deve estar entre as ações de principal responsabilidade das políticas públicas.
Várias ONG’s também trouxeram para si a responsabilidade da Educação Ambiental. Elas são reconhecidas pelo governo como importantes colaboradores para esse fim. O que acontece é que elas, pedagogicamente falando e na maioria das vezes, também se perdem quanto à abordagem crítica da problemática ambiental, se limitando muitas vezes, como nos outros grupos de E.A. e na própria ação nacional de E.A., em elaborar cartilhas, distribuir panfletos, encomendar palestrantes e outras ações de conservação/preservação da natureza.
Mas, cada vez mais comentada, esta Educação “Ambiental” vêm adquirindo status de linha de pesquisa em mestrado, documentos, fóruns, congressos sobre o tema. Assim, ao passo que ela vem “tomando corpo”, ela vem também desenvolvendo ações dentro dessa temática.
O adestramento ambiental, mesmo vendo aqui quão pode ser incompleto, vem cada vez mais ganhando forças e sendo entendido e aceito como meio para reverter a crise “ambiental”. Em conseqüência disso, acontecimentos com essa roupagem ganham lugar de destaque em campanhas cada vez mais divulgadas para a sociedade.
Mas o foco do que é identificado como problemas ambientais na maioria dos casos, são problemas ligados ao clima (aquecimento global), ao lixo (armazenamento, etc.) e à quantidade disponível para uso dos elementos da natureza (água, solo, florestas), evidenciando a visão de natureza separada do homem, se opondo a da complexidade proposta por Morin. Entendidas dessa forma, as ações estão na maioria das vezes voltadas para evitar ou minimizar esse tipo de problema.
No ensino fundamental e médio, bem como no ensino superior os temas ambientais vêm ganhando espaço. A Faculdade de Educação Ambiental do SENAC (Serviço Nacional do Comercio), os inúmeros cursos de especialização e mesmo o Mestrado de Educação Ambiental na Universidade de Rio Grande – RS mostram como o tema está sendo discutido e da sua importância no campo político e educacional.
O que vale questionar é se existe nesses espaços uma Educação ou um Adestramento Ambiental. E sob qual perspectiva eles vêm atuando. Para Brügger, “grande parte dos cursos de especialização, formação ou capacitação ambiental têm como base filosófica uma visão instrumental de mundo. Prova disso é a presença, junto aos temas ecológico-naturais, de verbos ou substantivos do tipo “gestão, manejo, administração” etc., todos altamente utilitaristas.” (BRÜGGER, 1994:44).
As conseqüências mais evidentes desse tipo de visão são os dados que mostram que quanto mais lixo é reciclado, maior é o aumento da produção do lixo e maior é o número de pessoas que vive de forma subumana dependendo dos lixões. O adestramento ambiental fala de reciclagem, de separação de lixo, de uso sustentável e não discute Direitos Humanos, igualdade social ou problemas ambientais mais relevantes.
Vendo a forma como a E.A. é abordada e implantada no Brasil torna-se necessário entender se ela é levada a toda população, e as contradições entre quem é adestrado e quem são os principais causadores dos problemas ambientais, entendido aqui na sua complexidade.
As contradições do adestramento ambiental
Os motivos que causaram as modificações planetárias, que foram consideradas prejudiciais à vida humana, são vários, mas ainda incertos. Dentro da academia há cientistas que defendem que os fenômenos que vêm se desencadeando, como o aquecimento global, podem estar vinculados a processos naturais. Outros cientistas afirmam, que a causa é antrópica (provocada pelo homem – pelo seu modo de vida). Independente dos responsáveis o adestramento ambiental é destinado a toda a população.
Além de o adestramento ambiental ser comumente voltado para práticas conservacionistas ou preservacionistas, estas são feitas de forma controvérsias, sem uma conexão com os demais setores responsáveis pela conservação/preservação do ambiente.
A separação do lixo, por exemplo, se apresenta como um dos temas principais abordados na escola. São feitas campanhas, consegue-se verba para aquisição de cestos para armazenamento adequado do lixo. São dados para os alunos palestras, oficinas de reciclagem e insistentemente é mencionada a importância da separação do lixo como contribuição individual e importante para ajudar a “salvar o planeta”. Entretanto, mesmo que toda a população de uma determinada cidade entenda e colabore nesse sentido, as prefeituras na grande maioria, não têm sistema de coleta seletiva, não têm galpões de reciclagem, nem destinação para o produto da reciclagem. Tais medidas acabam servindo apenas para justificar um discurso ambiental vazio.
Ainda assim, uma maior quantidade de pessoas está bastante interessada em temas como o aquecimento global, o desmatamento, a emissão de gases que podem interferir na destruição da camada de ozônio, o destino do lixo, etc. E essas pessoas estão buscando essas informações. No entanto elas se deparam com uma enxurrada de más notícias (em grande parte verdadeiras, embora sejam, em geral, divulgadas à forma da mídia) e levadas a crer que são também responsáveis em potencial pelo que está acontecendo.
A mídia, juntamente com e atendendo a interesses capitalistas (até por que grande parte dela pertence à grandes corporações capitalistas), é uma das grandes divulgadoras dessa visão limitada e alienadora da relação sociedade x ambiente. Não seria interessante divulgar meios realmente relevantes para a convivência saudável com ele, como a distribuição da riqueza e frear a sociedade do consumo e da acumulação, que só gera riquezas para as minorias que a fazem? Sobre isso Kehl observa:
A estreita ligação entre o mercado e os meios de comunicação de massa é evidente, e necessária. Nesta “sociedade do espetáculo (...) a mídia estrutura antecipadamente nossa percepção da realidade, e a torna indiscernível de sua imagem esteticizada” (Sader, 2000:85). A mídia produz os sujeitos de que o mercado necessita, prontos para responder a seus apelos de consumo sem nenhum conflito, pois o consumo – e, antecipando-se a ele, os efeitos fetichistas das mercadorias – é que estrutura subjetivamente o modo de estar no mundo dos sujeitos..
Esses sujeitos produzidos pelo mercado e adestrados ambientalmente são identificados em todas as classes sociais. São atores que vão aos supermercados comprar mais itens do que precisam e carregam em sacolas recicláveis, ou que compram um carro para cada integrante de uma família que venham com filtros antipoluentes. São contradições inerentes ao capitalismo, como a da criação de necessidades, expressas na forma de vida da sociedade.
Assim pode ser afirmado que a crise, sendo vivida e supostamente causada por todos, não está sendo tratada por uma educação eficiente em revertê-la. Tampouco está sendo abordada pela educação na sua essência, que é complexa e contraditória. Para entendermos um pouco mais sobre as contradições que permeiam as questões ambientais, vamos nos aprofundar um pouco na relação entre adestramento ambiental e sistema capitalista.
Adestramento Ambiental “X” Sistema capitalistaO adestramento ambiental e o sistema capitalista não se confrontam, o primeiro na verdade tem se tornado cada vez mais produto do segundo. Não de forma objetiva, visto que o capitalismo se utiliza do discurso ambientalista para encontrar um meio de se beneficiar com ele. O adestramento ambiental então, é usado pelos capitalistas como mais um produto a ser vendido e como mais um meio de obter lucro e prestígio com o consumidor.
Não somente o adestramento ambiental, mas todo o contexto ambiental é alvo do mercado, como na Eco 92 no Rio de Janeiro ou a segunda Conferência Mundial para o Meio Ambiente e Desenvolvimento. Essa importante conferência no contexto ambiental mundial presenciou, no pátio do local onde acontecera o evento, uma espécie de workshop com produtos tecnologicamente desenvolvidos, como filtros de resíduos para fábricas, entre outros do tipo.
O exemplo acima mostra a adequação (e interesse) do mercado para com as tendências ambientais. A multi-setorização dos temas ambientais facilita o “discurso competente”[[10]] por parte da mídia, dos empresários e dos governos. As campanhas publicitárias mostram o quanto a “preocupação” com o ambiente é intensa por parte desses setores (principalmente pelas corporações), mas com interesses bem particulares.
Visto dessa forma, as ações voltadas para convivência saudável com o ambiente seguem padrões neoliberais, onde os capitalistas conseguem, utilizando o discurso ecológico, obterem lucros e prestígio com o consumidor e o governo.
O modelo capitalista é o principal responsável pelo agravamento acelerado dos problemas ambientais. Sua essência degradadora e mais preocupada com o lucro pode ser exemplificada nos leilões de crédito de carbono (Créditos de Carbono são certificados que autorizam o direito de poluir[[11]]), em reflorestamentos (empresas que dizem fazer o reflorestamento quando fazem é um plantio de uma única espécie). A briga das empresas pela licitação da hidrelétrica no Rio Madeira – Rondônia e outras, demonstram mais uma vez que a suposta preocupação ambiental é mais uma maneira de se beneficiar com o retorno do capital, seja em divulgação ou em economia.
Essa suposta preocupação ambiental pode estar associada, por vezes, aos interesses de corporações farmacêuticas, genéticas e outras a um contrabando de biodiversidade, uma acirrada competição pelas patentes biológicas que associada a alta tecnologia pode gerar bilhões em dinheiro “em prol” da evolução da sociedade.
O investimento e posterior lucro advindo da biodiversidade, principalmente na biotecnologia e engenharia genética, leva os capitalistas ao “discurso competente” dos benefícios para a sociedade calcado na possibilidade de curas de graves doenças ou produção de alimentos mais protéicos. Vale salientar que esses investimentos são altos, para produzir mercadorias caras, que estão nas mãos de poucas corporações e que são as mesmas que se beneficiam.
Então, os interesses nesse setor ambiental, a exemplo de outros, também estão alinhados com quem os financia. Proporcionando mais uma forma de monopólio financeiro/econômico que põe em risco (caso não haja ética) a saúde das pessoas. E questionando sobre quem vai ganhar e quem vai perder com uma inovaçãibeiro completa, questionando quem vai ganhar e quem vai perder com uma inovaço tecnológica tão importante como a biotecnologia. Essa é uma disputa que leva a uma guerra desarmada entre países (principalmente por parte dos países periféricos) pela apropriação documental e financeira da sua própria biodiversidade, o que muitas vezes não acontece.
Isso representa a lógica do capitalismo que determina até mesmo as diretrizes internacionais para o ambiente. Um mercado aberto e sem barreiras como condição motor da sustentabilidade, que é o que foi aceito por “ecocapitalismo – que postula a necessidade da correção das imperfeições do mercado para enfrentar a questão ambiental [...] – ou por ambientalismo moderado – que postula a possibilidade de corrigir alguns elementos do capitalismo, enfatizando a viabilidade de as inovações tecnológicas mitigarem a problemática ambiental“ (Layrargues, 2000:87).
Várias foram as medidas mitigadoras em relação ao ambiente dentro da perspectiva ecocapitalista ou ambientalista moderadora. Dentre elas podemos citar duas bastante relevantes para este trabalho.
A primeira é a ISO 14000, que estabeleceu metas de qualidade ambiental objetivando que as empresas se utilizassem da chamada tecnologia limpa, “com a ISO 14000, o controle ambiental passa para o âmbito da sociedade, que teria no consumidor verde o efeito regulador da mão invisível, funcionando por meio da lei da oferta e procura” (Laurargues, 2000:85). Assim sendo, os consumidores teriam o papel de só consumir produtos verdes, obrigando indiretamente as empresas a se adequarem a essa nova exigência do mercado, e as empresas lucrariam com isso.
A segunda se refere ao adestramento ambiental, que ao invés de medida transformadora, é usado como mitigadora, se expressando no próprio incentivo ao consumo dos produtos das empresas citadas há pouco.
Ambas as medidas, além de outras, vêm corroborar com a idéia controversa de que o sistema capitalista e a convivência saudável com o ambiente ou a qualidade de vida para toda a sociedade podem se desenvolver juntas, sem prejudicar suas finalidades. Dão a entender também que o avanço da tecnologia é o principal caminho para se conceber a reversão dos problemas ambientais.
No entanto, ambas as medidas são exemplos cabais de que, na verdade, elas são os mais modernos e aceitáveis (ingenuamente pela maioria da população) meios de apropriação das questões ambientais pelo capitalismo. Produzindo “alienação em série”.
Podemos ver assim que não existe a falta do reconhecimento de que a ideologia neoliberal também está expressa nas questões ambientais, mas a conivência e a busca da convivência equilibrada com ela. Todavia, essa convivência equilibrada vem sendo negada nas situações que o planeta presencia nos mais diversos setores do mercado.
Assim, se a Educação “Ambiental” está atuante, o que faz existir a compra anual cada vez maior de automóveis? Seria a atraente propaganda dos fabricantes de filtros antipoluentes?. Em um contexto geral, essa chamada “Educação Ambiental” é capaz de atender aos anseios de uma sociedade que precisa e têm direito a um ambiente saudável, justo e equilibrado?
Considerações finaisA crise da sociedade, representada aqui com mais ênfase pela tão divulgada crise ambiental, representa o modo de produção capitalista expresso nas relações da sociedade com a natureza, que se acentuou nas sociedades industriais. As conseqüências dessa relação degradadora foram sentidas de forma desigual pela população, tanto nas riquezas advindas dessa exploração do ambiente (incluindo aqui exploração de pessoas), como dos problemas ocasionados por ela.
A sociedade, mesmo sendo vítima da alienação dominada pelo consumismo, está “sentindo na pele” o efeito de todos esses anos de degradação ambiental e está buscando minimizar esses efeitos através das mais variadas formas. Com ações individuais, coletivas, nos âmbitos nacionais e internacionais.
No entanto, essa busca pelas soluções cabíveis também estão sendo ditadas (embora por vezes de forma indireta) pelo capitalismo. O sistema econômico vigente é a mola propulsora desse tipo de relação de exploração, de fetiche e principalmente de alienação. Assim as tentativas, por mais importantes que sejam, por mais modificações boas que elas já tenham conseguido, se tornam frustradas numa perspectiva mais ampla (que abranja a sociedade como um todo), pois o mercado se adapta e consegue driblá-las para atender aos seus interesses.
Há bastante tempo se percebeu da impossibilidade do desenvolvimento do capitalismo e da qualidade de vida para toda a população. Mas essa percepção além de ser restrita, é combatida com muita veemência por setores que, dentro do sistema, detêm poder, seja político, econômico ou de influência de opinião.
Se os problemas ambientais são identificados também por situações como a fome, desigualdade social, exploração, além de utilização desenfreada dos elementos da natureza, entre outros, e estas são situações inerentes ao capitalismo e que se intensificam com ele, desenvolver uma nova visão de mundo que tente acabar com esses problemas, se torna uma luta para acabar com o capitalismo.
Essa é uma luta difícil que não se sabe se chegará ao fim. Mas existem caminhos para que ela aconteça, e como vimos ao longo desse trabalho uma “Educação Ambiental” ou um adestramento ambiental não está entre eles.
Primeiro pela característica tradicional/cartesiana de ensino que é desenvolvida dentro da lógica capitalista, e depois pela fragmentação do saber imposta por essa forma educacional, que os divide, especializa e os torna cada vez mais independentes. Isso ocorre em todos os níveis de ensino, inclusive no nível superior, onde tornou-se comum achar que é onde está o ápice do conhecimento.
Visto que essa forma tradicional da educação não oferece uma saída para a resolução dos problemas ambientais, a proposta inicial aqui também está na Educação, mas desde que esta se atente para uma Religação dos Saberes, dentro de uma visão da complexidade proposta por Morin. Em outras palavras, ir de encontro ao modelo educacional vigente.
Historicamente comprovada, numa hierarquia econômica, as mudanças sociais não ocorrem de cima para baixo, é da base da sociedade, até por que é ela que sofre as piores conseqüências das desigualdades econômicas, que devem começar as mudanças. A educação é um dos poucos meios de atingir uma grande parte da sociedade. Além do que é uma das únicas que por ideologia, embora já bastante corrompida, leva o conhecimento, o esclarecimento, é um dos poucos caminhos para a revolução social.
Pensar a religação dos saberes nos leva a pensar não mais uma “educação ambiental”, mas uma educação que subsidiará, também, o saber ambiental, baseada no conhecimento complexo, tornando possível atender as novas demandas do mundo atual.
Notas
[3] O selo PROCEL (Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica) é afixado em equipamentos eletrônicos para indicar que é um produto que consome menos energia elétrica.
[4] Ministério do Meio Ambiente:
<http://www.mma.gov.br/index.php?ido=conteudo.monta&idEstrutura=20&idMenu=464.>. [20 de agosto de 2007].
[5] Constatar em: <http://members.tripod.com/pedagogia/democratizacao.htm>. [30 de agosto de 2007].
[9] Ou Conferência Intergovernamental de Especialistas sobre as Bases Científicas para Uso e Conservação Racionais dos Recursos da Biosfera.
[11] Para saber mais sobre Créditos de Carbono no Brasil ver em:
<http://www.ambientebrasil.com.br/composer.php3?base=./noticias/index.php3&conteudo=./noticias/amyra/creditos.html>. [11 de outubro 2007]
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