IX Coloquio Internacional de Geocrítica LOS PROBLEMAS DEL MUNDO ACTUAL. Porto Alegre, 28 de mayo - 1 de junio de 2007. Universidade Federal do Rio Grande do Sul |
TURISMO ÉTICO E INCLUSIVO:
CONSTRUÇÕES CULTURAIS, CONFLITOS E TENSÕES
NA GESTÃO DE
UMA REDE DE AGROTURISMO EM SANTA ROSA DE LIMA – SC/BRASIL
Yolanda Flores e Silva
Universidade do Vale do Itajaí
Marcos Arnhold Junior
Universidade do Contestado (UnC)
Turismo Ético y Inclusión: construcciones culturales, conflictos y
tensiones en la gerencia de una red del agroturismo de Santa Rosa de Lima –
SC/Brasil. (Resumen)
El actual trabajo se resulta de la
investigación sobre el turismo sostenible organizado por los agrónomos
familiares de Santa Rosa de Lima – SC/Brasil, fundadores de la Associação dos Agricultores Ecológicos das Encostas da Serra Geral
(Asociación de los Agrónomos Ecológicos de las Encostas
de la Sierra General) - AGRECO y la Associação de
Agroturismo Acolhida na Colônia (Asociación de Agroturismo Recebida
en la Colonia) – AAAC, que habían optado por la organización de un turismo
ético y inclusivo, en una región de plantadores de la madera y del tabaco. La
oferta, considerada hoy como referencia en Brasil para las experiencias del
turismo sostenible, asocia el turismo familiar agrícola a la producción
agrícola orgánica y el desarollo de ecovillas. En nuestra investigación, por colección
etnográfica, podríamos conocer esta realidad, observando los aspectos éticos de
la organización del movimiento, sus construcciones culturales, conflictos y
tensiones en la región.
Palabras Clave – Turismo; Turismo Sostenible;
Ética; Inclusión.
Ethical
and inclusive tourism: cultural constructions, conflicts and tensions in the
management of an Agrotourism net in
This study is result of a
research about organized sustainable tourism by familiar farmers of Santa Rosa de Lima, in the State of Santa
Catarina, Brasil, founders of
the Associação de
Agricultores Ecológicos
das Encostas
da Serra Geral (Association
of Ecological Farmers of the Slopes of the Serra Geral)
- AGRECO, and the Associação de Agroturismo
Acolhida na
Colônia (Acolhida
na Colônia
Agrotourism Association) – AAAC, that
organized an ethical and inclusive tourism, in a region of lumbers, and
smoke planters. This proposal, regarded as a role model for other
sustainable agrotourism experiments
in Brazil and worldwide, associates the familiar agrotourism with
the organic production and the development of ecovillages. In our investigation, using
ethnographic collection, we understood this reality by observing the ethical
aspects of the movement organization, it´s cultural constructions, conflicts
and tensions on this region.
Key Words – Tourism;
Sustainable Tourism; Ethics; Inclusion.
O turismo e ética: algumas considerações
O estudo dos aspectos éticos no desenvolvimento do formato de agroturismo adotado em Santa Rosa de Lima – SC / Brasil, se dá pelo fato do turismo ser uma atividade extremamente negativa se no seu planejamento não forem levadas em consideração todas as particularidades do local, e de seus aspectos sociais, econômicos, culturais e ambientais. A intensa presença do fenômeno turístico no cotidiano humano atual, assim como todas as suas transformações sócio-culturais, tanto positivas como negativas evidenciam bons e maus exemplos de como a atividade pode desenvolver-se, além dos diversos fatores que a influenciam e que determinam o sucesso ou o fracasso da experiência turística, seja entre visitantes e / ou visitados.
Com o desenvolvimento da atividade turística no município de Santa Rosa de Lima, o andamento do cotidiano sofreu alterações de acordo com a evolução do turismo, mexendo com características sociais e econômicas da população local. Essa alteração na vida dos residentes pode ter gerado uma série de benefícios associados a tensões e conflitos.
Sobre esta proposta e a configuração e forma que ela assume
entre 1998 até os dias atuais, é que faremos nosso recorte. Para tanto,
investigaremos o que foi escrito a respeito (documentos oficiais e acadêmicos),
e o que é oralmente incorporado nos discursos dos agricultores que se tornaram
donos de pousadas e depois ajudaram a fundar a Associação de Agricultores Acolhida
na Colônia (AAAC). A partir desta realidade sobre um município que tem sua base
na agricultura familiar, e que atualmente é modelo para mais 31 outros
municípios de Santa Catarina e de outras regiões do Brasil, atraindo visitantes
para conhecer sua experiência, é que emergiram as reflexões deste artigo.
Nosso objetivo geral na pesquisa realizada foi o de analisar e comparar o discurso e a prática do agroturismo em Santa Rosa de Lima, observando os aspectos éticos de organização do movimento na região, a partir da análise de discursos orais e escritos.
Com o intuito de analisar os discursos documentais escritos e orais sobre o agroturismo praticado no município de Santa Rosa de Lima e os aspectos éticos que permeiam estes discursos, a metodologia utilizada na pesquisa realizada foi à qualitativa, através de um estudo de caso, tendo como universo este município. As pessoas que foram entrevistadas eram membros da Associação de Agricultores Ecológicos das Encostas da Serra Geral - AGRECO e da Associação de Agroturismo Acolhida na Colônia – AAAC.
Ao pesquisarmos nesta comunidade, levantamos os dados já existentes e decodificamos os discursos, entendendo que este discurso é coletivo e uma organização das falas da coletividade. Estes discursos, denominado de discurso do sujeito coletivo (DSC) é composto de algumas figuras metodológicas, tais como as expressões-chave, as idéias centrais e a ancoragem. Estas figuras organizam as falas e seus discursos, permitindo que façamos sínteses para discussão.
Ética: algumas
definições
A ética é um objeto de estudo extremamente subjetivo pelo simples fato de tratar sobre aspectos relativos ao comportamento humano. Porém, antes de falarmos de ética, é necessário falar sobre moral. Moral pode ser considerado um conjunto de valores e de regras de comportamento, ou um código de conduta que as sociedades adotam independentemente de seu tamanho. A moral, então, pode ser encarada como a forma em que os grupos diversos da sociedade atuam perante os outros e de si mesmo. Cada agrupamento humano pode contar com uma moral diferente, mas nem por isso considerada certa ou errada, e sim típica ou comum àquele grupo.
Para compreendermos a ligação entre a ética e a moral é importante conhecermos o conceito de ética, nos dado por Sánchez Vásquez (p.21): “A ética é teoria, investigação ou explicação de um tipo de experiência humana ou forma de comportamento dos homens, o da moral, considerado porém na sua totalidade, diversidade e variedade”, ou seja, é uma ciência que toma como objeto de estudo a maneira com que os seres humanos se comportam perante a sociedade, em um determinado espaço de tempo, ou local. Srour concorda com Sánchez Vasquez quando afirma que a ética serve para refletir e indagar sobre os costumes e as diferentes morais que surgem nas coletividades. Pode ainda ser entendida como um estudo científico, filosófico e até teológico sobre como as pessoas se comportam em sociedade.
Etimologicamente falando, ética é uma palavra de origem grega, que conta com duas possíveis origens. A primeira vem da palavra grega ethos, com som do “e” curto, e pode ser traduzida por costume. A outra conta com a mesma grafia, porém com diferença na pronúncia e no significado, porém com som do “e” longo, que significa propriedade do caráter. Esta última interpretação serviu de base para a tradução latina, que de alguma forma, orienta a utilização atual que damos a palavra ética.
Existem, basicamente, duas teorias éticas, discutidas por
Max Weber, e com diferenças bastante grandes. A
primeira teoria ética é chamada de ética da convicção, ou deontologia,
e é conhecida como a ética dos valores do indivíduo, que tem seu comportamento
guiado por estes valores originários das mais diversas fontes. A segunda teoria
é denominada de ética da responsabilidade, ou Teleologia, e tem como impulso
motivador o estudo das ações das pessoas, considerando-as sempre em luta com
suas próprias incertezas com relação ao que consideram como correto ou errado.
Neste sentido, observando as ações humanas, qualquer que seja o enfoque teórico
adotado, percebe-se que o estudo da ética tem suas dificuldades, em função de
sua subjetividade, generalidade, além da dificuldade de sua comprovação.
Ética e
turismo
Os aspectos éticos envolvidos na atividade turística
podem estar relacionados a uma série de questões oriundas dos mais variados
aspectos que a constituem, levando em consideração o ambiente em que a
atividade turística se desenvolve e a interferência sobre o ambiente, à
qualidade dos serviços e equipamentos oferecidos, o bom e o mau atendimento
prestado ao cliente, entre várias outras particularidades estudadas e
comentadas por autores do turismo. Swarbrooke (p. 108) destaca em sua obra uma série de questões éticas
que considera como primordiais: honestidade ao oferecer serviços e produtos,
equilíbrio econômico, uso da mão de obra local nos empreendimentos turísticos,
não monopolização de serviços e produtos, segurança, preservação dos
patrimônios culturais, ambientais, sociais, entre outras possibilidades.
Não poderia estar ausente nesta
discussão o fato de a atividade turística ser fruto direto do sistema
capitalista, baseado na produção e no consumo. O turismo como produto, também é
produzido e consumido, de forma que a ética nele contida revela o
relacionamento do turista com este produto turístico, afetando tanto as
paisagens visitadas como os habitantes e seu estilo de vida. Torna-se
necessário que este turismo possa ser desenvolvido harmonicamente neste espaço,
conforme nos coloca Coriolano (p. 119) quando diz que “O turismo precisa
encontrar alternativas para uma relação harmoniosa com a natureza, mas,
sobretudo para uma relação harmoniosa com as sociedades visitadas”. A relação
do turismo com a população poderá ser o efeito causador tanto do sucesso como
do fracasso da atividade turística nas localidades.
A consciência sobre as
transformações que o turismo traz faz parte de discussões recentes que se
iniciaram em outras áreas. O turismo ainda hoje incentiva o máximo de lucro
possível, em detrimento de outros fatores inerentes à atividade. O
desenvolvimento do turismo é encarado como o desenvolvimento do capital aplicado
no turismo. As questões ambientais e sociais muitas vezes ficam em segundo
plano, sem que se avalie que o verdadeiro desenvolvimento só poderá aparecer
com a melhoria da qualidade de vida das populações receptoras.
Santa Rosa de Lima: algumas informações do
município
Santa Rosa de Lima foi colonizada a partir do ano de 1905, quando chegaram os primeiros alemães na localidade. Esta forte ocupação européia é vivenciada através da cultura local evidenciada pelo folclore através de pratos típicos e costumes, além de uma arquitetura tipicamente alemã. Mas o fluxo migratório mais intenso só teve início a partir de 1920, com a chegada de outras etnias como a italiana e a açoriana, representada por famílias de imigrantes que já estavam estabelecidos nos municípios da região, com o intuito de proteger os carregamentos de carne de sol que procediam do Rio Grande do Sul para São Paulo. Essa rota era ameaçada pela presença de índios [1], e a ocupação dos imigrantes fez com que a maioria da população indígena fosse dizimada pelos conflitos com os colonos.
Como município independente, Santa Rosa de Lima foi fundado
em
O agroturismo em
Santa Rosa de Lima
O agroturismo teve início no final
do ano de 1998, mas, bem antes, na década de 90 se iniciaram as discussões
sobre a necessidade do plantio orgânico, e de acordo com Guzzatti
esta proposta nasceu com (p. 87) “um grupo de pequenos agricultores e técnicos
interessados na promoção da agricultura de grupo, como forma de viabilização
das pequenas propriedades rurais”. Quando o agroturismo
passou a ser parte da pauta de discussões, os agricultores conseguiram
parcerias com várias entidades francesas, entre elas a Associação de
Agroturismo “Accueil Paysan”
[2].
É
importante lembrar que antes do movimento orgânico, o êxodo rural era comum na região das Encostas da Serra Geral devido a pouca
movimentação econômica e social e do isolamento dos municípios da região,
ocasionando a saída dos jovens, que iam para as grandes cidades atrás de
educação e emprego. Além da criação de
oportunidades de trabalho e de renda, este projeto se inseriu em um objetivo
maior na região, que foi de superar a prática do uso de agrotóxicos,
predominante entre boa parte dos produtores.
Para que houvesse a implementação do agroturismo, foram necessários encontros para a sensibilização da população e das lideranças locais, pois para eles era difícil acreditar que esses pequenos municípios pudessem atrair turistas. Esta sensibilização se iniciou com palestras nas comunidades municipais e houve de início grande confusão com o termo “turismo rural”, pois os agricultores imaginaram que teriam que construir hotéis fazenda. Para melhor esclarecer estes agricultores quanto ao tipo de turismo adotado, realizaram-se reuniões em que se optou pelo segmento agroturismo como formato da atividade, com debates de esclarecimentos e viagens para que os agricultores conhecessem algumas experiências de agroturismo em Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Em outro momento, os agricultores se organizaram em grupos de trabalho, para a elaboração de um consórcio entre as propriedades, a fim de evitar a concorrência e a oferta dos mesmos serviços. Para tanto, foi realizado um diagnóstico rápido participativo (DRP) que revelou as vocações das propriedades e auxiliou na formatação do circuito de agroturismo na região.
Após o diagnóstico, o passo seguinte foi à constituição de uma associação de Agroturismo, a “Associação de Agroturismo Acolhida na Colônia”, em 1989, tendo por objetivo o planejamento das atividades turísticas e a definição das normas da entidade [3] para organização da infra-estrutura de hospedagem e recepção. Essa associação garantiu para as famílias a capacitação através de cartilhas, cursos de curta e longa duração, além da inclusão dos municípios no Programa Nacional de Municipalização do Turismo (PNMT), além da contratação de consultorias especializadas. A princípio os serviços foram divididos em quatro categorias: Hospedagem na Colônia; Alimentação Colonial; Lazer na Colônia e Conhecendo a Colônia.
Os discursos:
transformações, conflitos e tensões
A associação francesa de Agroturismo Accueil Paysan [4] teve o início de suas
atividades em 1987, com o objetivo de criar uma alternativa de renda, na busca
pela qualidade de vida dos agricultores familiares através do desenvolvimento
de atividades relacionadas à hospedagem rural. Este tipo de serviço, além de
oferecer possibilidades econômicas e inclusivas aos agricultores e suas
famílias, auxiliam na preservação ambiental e na oferta de produtos sem uso de
insumos químicos. Hoje, a associação está presente em 18 países da Europa
Central, Leste Europeu, África e América do Sul, entre eles o Brasil, através
da Associação de Agroturismo Acolhida na Colônia (AAAC), auxiliando na
estruturação de associações locais que tenham os mesmos objetivos. A Accueil Paysan possui
seu estatuto, um documento normalizador das
atividades desenvolvidas pela associação, regendo as ações e atitudes dos
envolvidos. Como este documento serve de modelo ao estado da AAAC de SRL,
fizemos leituras sistematizadas do mesmo, para a análise do Discurso do Sujeito
Coletivo – DSC (retirada das expressões chave significativas e organização das
idéias concebidas no documento analisado).
Nesta análise, se percebeu que os problemas relativos ao
meio rural francês são muito semelhantes no Brasil, guardadas as diferenças
históricas, culturais e econômicas de ambos os países. É perceptível nos mesmos
a preocupação com o futuro dos agricultores, frente à modernização da
agricultura e as crises financeiras.
No documento também fica claro que as novas tecnologias
criaram algumas redes sociais que colocaram de lado o agricultor, tornando a
propriedade mais importante do que ele próprio. Neste sentido, lembrando Fritjof Capra e seu conceito
sobre redes, percebe-se que as redes formadas entre os agricultores franceses
na década de 70, não eram redes “vivas”, ou seja, não eram redes que pudessem
gerar para um “corpo coletivo” conhecimentos e uma identidade coletiva capaz de
fazer com que o crescimento dos agricultores inseridos naquela realidade fosse
coletivo, com direitos e deveres iguais para todos.
Com a Accueil Paysan, a idéia destes agricultores franceses foi a de transformar o movimento dos mesmos em uma organização com redes formais e informais de parceiros. Nas palavras de Wenger esta forma de organização de trabalhadores para ter o direito de realizar seu trabalho, auxilia na auto-imagem, cria laços identitários com seu ofício, e num certo sentido, ensina-os a agir e a reagir criativamente às circunstâncias inesperadas e difíceis. Para o autor, este tipo de rede auxilia nas mudanças e na evolução dessas comunidades porque sugere continuamente a participação ativa dos envolvidos em todas as ações realizadas. O Discurso do Sujeito Coletivo (DSC) que emerge, na soma das idéias organizadas pela somas das expressões chave do documento norteador está no quadro abaixo:
Quadro 01
DSC da Accueil Paysan |
A concepção e o projeto de formação da Accueil Paysan
envolve a participação ativa dos agricultores na criação de uma nova lógica
de organização e funções da agricultura familiar; esta permite de forma
democrática e participativa a formação de redes e parcerias rurais e não
rurais, que incentiva o plantio natural e a oferta de hospedagem rural, como
uma forma de desenvolvimento local, criação de novos empregos, laços sociais
e compartilhamento de valores e conhecimentos. |
Fonte: elaborado pelos
autores
Considerando os aspectos éticos, tema deste estudo, é
possível afirmar, seguindo o pensamento de Boff, que o maior desafio da Accueil Paysan é
colocar em prática este modelo holístico de fazer agricultura familiar. Do
ponto de vista ético, pensando em uma ética universal de todos e para
todos, esta é uma ética coletiva que vai além dos papéis que assumimos para uma
sobrevivência individual. É uma ética do cuidado de si e do cuidado do outro, é
o assumir de que precisamos do coletivo. O respeito por cada ser humano se
revela como um princípio ético na Accueil Paysan quando afirmam a sua responsabilidade em
oferecer produtos de qualidade e uma hospedagem para todas as classes
sociais, com objetivos claros de repartir e compartilhar com outros o
cuidado, o respeito e a veneração pelo meio ambiente, representado aqui pelo
agricultor, sua terra, sua casa e seus produtos.
Entendendo que a Associação Accueil Paysan serviu e serve de modelo para a Associação de Agroturismo Acolhida na Colônia, a análise do estatuto desta última também foi realizada, uma vez que a ética presente nas ações dos envolvidos na atividade turística é influenciada pelas diretrizes que estão nos documentos formadores. Percebe-se no estatuto da AAAC um forte comprometimento com a sustentabilidade. Essa percepção é fortalecida nas referências ao agroturismo como base para a valorização dos agricultores, melhoria na qualidade de vida, através de uma renda extra para os mesmos, possibilitando assim a sua fixação no campo. É também perceptível à postura ética no gerenciamento dos recursos e da autenticidade daquilo que oferecem como serviços e produtos. Com essas considerações, foi construído o seguinte Discurso do Sujeito Coletivo.
Quadro 02
DSC –
Estatuto AAAC |
A AAAC surge para o agricultor
familiar de SRL como uma entidade que atua como operadora no agroturismo,
organizando os agricultores com princípios semelhantes aos da Accueil Paysan.
Nas novas atividades, os agricultores conseguem uma fonte de renda
complementar, possibilitando que continuem no campo e promovam um resgate
histórico e cultural de suas raízes étnicas, além da preservação do meio
ambiente através da agroecologia. O modelo adotado
desta proposta promove a integração do rural e do urbano, é um fator de
desenvolvimento local que garantirá o futuro dos jovens e com o auxílio de
outras associações, gerenciará um agroturismo com produtos de qualidade,
higiene, segurança e conforto. |
Fonte:
elaborado pelos autores
As falas das pessoas que participaram do processo de elaboração da proposta do agroturismo de SRL levam a um entendimento mais completo sobre as transformações ocorridas em uma realidade rural de descendentes de alemães e italianos tradicionais e conservadores. Não se trata aqui de um julgamento, mas de uma tentativa de compreender que apesar de “tradicionais” e “conservadores”, este grupo tem uma força que é a de acreditar (embora com os medos e inseguranças normais), que é possível reverter um processo de baixa auto – estima, de pobreza e de exclusão.
Na fala dos envolvidos, as atividades turísticas na comunidade têm várias características positivas, tais como: as melhorias na infra-estrutura existente na cidade; a reorganização do espaço rural; renda extra; oportunidades novas de aprendizado; novos objetivos de vida; uma maior união familiar; garantia de futuro para os jovens; valorização do conhecimento rural (artesanato, gastronomia e plantio); valorização e preservação do meio ambiente; e novas redes de relações através da hospedagem rural familiar.
Embora alguns dos entrevistados considerem a atividade
turística apenas como mais uma forma de ganhar dinheiro individualmente (este é
também um dos elementos de tensão), este não é o pensamento unânime dos que
participam do projeto. Para eles, as transformações, inclusive relacionadas à
adaptação da infra-estrutura para uma maior capacidade de hospedagem, oferece a
possibilidade de resgatar a beleza, o respeito e a confiança. Estas sensações
são referidas também quando falam das vendas dos produtos, da reorganização da
produção ou da comercialização dos produtos aos
turistas e hóspedes.
Na ancoragem dos
documentos e nas entrevistas realizadas, percebem-se várias influências
positivas, que embora nascidas em momentos diferentes têm como objetivo à busca pela inclusão e
pela cidadania. Considerando a soma do pensamento discursivo do grupo
entrevistado, o Discurso do Sujeito Coletivo (DSC) que emerge é o descrito no
quadro abaixo:
Quadro 03
DSC –
Transformações com o Agroturismo |
O agroturismo nos
possibilitou um novo aproveitamento dos espaços, gerando uma nova fonte de
renda através da reorganização da propriedade. O desenvolvimento da atividade
é um investimento para o nosso futuro, mas que trouxe preocupações com o
saneamento, com as infra-estruturas e o gerenciamento da atividade, com
créditos, custos e dívidas, mas trouxe também valorização e conhecimento
unindo a família e possibilitando uma melhor condição financeira. Os turistas
passam a ser nossos amigos e trocam experiências de vida conosco. |
Fonte: Elaborado pelos autores
Mesmo com um DSC bastante positivo, é possível perceber que
as transformações trazidas pela atividade turística causaram uma enorme mudança
no estilo de vida dos agricultores que optaram por
fazer parte da AAAC. Em diversos momentos fala-se da reorganização da vida como
se a vida anterior fosse “errada”, e isto não é verdade na sua totalidade, uma
vez que este novo momento pode ainda trazer dissabores, além de um novo
cotidiano muitas vezes invadido pelo visitante, mesmo que este encontro seja
uma maneira de intercambiar modelos de vida e respeito pela alteridade do outro.
Apesar de todos os benefícios que o turismo trouxe para a comunidade, percebe-se que as transformações negativas também vieram, e que pontos de desgaste e tensão no modelo da atividade estão sendo sentidos. Exemplo disso é a preocupação do agricultor com as dívidas adquiridas na montagem do seu equipamento turístico e a perda significativa da privacidade e também dos dias de “folga”, fazendo com que as famílias tenham que negociar seus momentos juntos.
Considerando os documentos norteadores do movimento, a
criação das associações e instituições que compõe um sistema de redes entre os
municípios já nos confirma que o comprometimento ético,
enquanto parte das atividades rurais, é uma realidade. A ética nestas falas
revela por vezes as dimensões de uma experiência coletiva que tenta acolher,
escutar, dialogar, negociar, renunciar e responsabilizar-se por si e pelo
“outro”, seja ele o agricultor, vizinho, seja ele o homem da cidade, o turista.
Para chegar neste nível de compreensão, foi necessário cortar os laços de
submissão com as empresas fumicultoras e o início da produção orgânica.
Neste quadro de transformações a mulher agricultora se
destaca em vários níveis de participação, conciliando suas funções e papéis, que sem a atividade turística já é
exaustivo, conforme coloca Silva & Almeida (p. 182) ao afirmarem que “no
âmbito rural tradicional, a ocupação feminina divide-se entre as esferas
doméstica e produtiva. As mulheres são incumbidas do cuidado com o lar, as
crianças e a saúde da família, assim como da horta e pequenas criações”. Vale
ressaltar que no caso estudado, além dos papéis citados pelos autores, a mulher
de Santa Rosa de Lima assume muitas vezes a função de gerente das propriedades
e dos empreendimentos, trazendo mais um componente às suas vidas diárias e que
ao mesmo tempo em que gera satisfação, gera dificuldades, conflitos e tensões
principalmente quando vai negociar a não plantação de fumo, eucalipto e pinus entre os vizinhos, para que a sua produção não seja
contaminada ou os leitos dos rios sequem pelo consumo de água em função das
fazendas para plantio de madeira. Isto significa entre outras coisas: arrendar
o terreno do vizinho e plantar em consórcio [5], negociar a vinda do vizinho
para a AGRECO e auxiliá-lo na “limpeza” da terra [6], participar ativamente
das reuniões de orientação sobre os riscos do plantio do fumo e o uso de
defensivos químicos. Também tem sido papel das mulheres, mostrar as esposas dos
agricultores indecisos, como o turismo passa a ser uma nova oportunidade de
ganhos para as famílias agricultoras, em conjunto com as atividades originais.
Quando questionados
em relação à ética das atividades, os informantes, e em particular as mulheres,
apontaram uma preocupação com a autenticidade dos padrões de certificação dos
produtos orgânicos, um dos fatores de atração turística local, através de uma
ética normativa, seguida à risca. Para eles, o fato de existir uma
certificação, que fiscaliza as propriedades com objetivo de regular e garantir
que os agrotóxicos não estão sendo usados, é a maior garantia de que os
produtos realmente são éticos. No discurso abaixo a síntese de todas estas
idéias.
Quadro 04 – Discurso do Sujeito Coletivo
Aspectos Éticos do Agroturismo:
o olhar feminino
DSC – Ética no Agroturismo |
As atividades do agroturismo sobrecarregaram minhas atividades, mas
esta sobrecarga de trabalho não tirou a satisfação de estar vivendo uma
realidade em que percebo a melhoria de minha qualidade de vida, de renda, a
possibilidade de um futuro para meus filhos e a valorização de minhas
atividades e de quem eu sou. O intercâmbio com o homem da cidade possibilitou
conhecimento e respeito mútuo. Somos éticos, quando seguirmos as regras e
normas e garantimos uma integração entre homens e meio ambiente, visando uma
melhoria contínua na condição de vivermos. Os novos projetos trarão segurança
quanto ao futuro do agroturismo se continuarmos seguindo os princípios da
AGRECO e da AAAC, e se os conflitos forem bem gerenciados para que não
atrapalhem esta evolução. |
Considerações finais
O crescimento do indivíduo como ser humano, buscando e explicitando aquilo que é bom pra ele é algo comum nos afazeres diários dos agricultores de SRL. A qualidade do que oferecem aos visitantes, através de uma hospitalidade rural autêntica aliada ao conhecimento intercambiado, reforça os laços e o comprometimento de todos para a busca de uma sustentabilidade não só da terra, mas da atividade turística e dos relacionamentos. Ao se preocuparem não só com o bem de cada pessoa, mas também com o bem comum, da comunidade, os envolvidos na atividade de agroturismo em SRL vivem algo maior do que a amizade, ou seja, comprometem-se com a qualidade de vida de todos, buscando sempre um meio de vida mais pleno e justo.
Além do já exposto,
foi percebido que no cotidiano privado da família, seus membros passaram a
unir-se em atividades comuns, tanto durante o expediente de trabalho, ao longo dos momentos em que recebe o turista, como também
durante os períodos de folga, que são gerenciados por eles de acordo com as
necessidades. A família, apesar de sobrecarregada, passou a gerenciar também o
seu tempo junto e as suas metas para o grupo, tornando-se mais integrada.
A busca pela
qualidade de vida foi citada por todos durante as falas, e essa qualidade está
vinculada não somente ao ganho financeiro, bastante importante, mas também na valorização
pessoal que os envolvidos afirmam experimentar após o convívio com os turistas.
Isto se faz sentir na preservação do meio ambiente, na preservação da cultura,
com suas histórias, construções que estão sendo restauradas, possibilitando aos
futuros moradores do município um forte comprometimento com suas raízes,
através da valorização do seu meio de vida. Apesar da atividade turística ter
trazido dinheiro para os envolvidos, há entre os agricultores o sentimento que Nalini considera como uma vitória da ética sobre o
dinheiro, que é o não deixar que o mundo econômico os afaste do mundo moral que
acreditam.
O principal ponto de interrogação na forma como o agroturismo irá ser conduzido no município nos próximos anos, é a inserção de novos empreendimentos turísticos na região. Estes empreendimentos podem não querer participar das ações incentivadas pela AAAC, como por exemplo, se preocupar com o fato de ter um vizinho fumilcutor poluindo o rio, ou de receber um visitante de perfil indesejado (poluidor, barulhento, alheio à cultura local, etc), ou ainda, de oferecer em parceria com os vizinhos os produtos e serviços que possuem na região, considerando mais importante do que a venda individual o crescimento e a inclusão coletiva de todos os membros da comunidade.
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Notas Explicativas
[1] É importante lembrar que as rotas de tropeiros realizadas atravessavam as terras indígenas sem que o governo na época se preocupasse ou visse esta passagem como uma invasão.
[2] A “Accueil Paysan” é uma
associação de agricultores familiares criada em 1987 em Grenoble,
na França, com o objetivo de integrar as propriedades rurais e seus associados
no intuito de promover um tipo de turismo que favoreça a solidariedade entre o
campo e a cidade.
[3] As normas estabelecidas seguem as da associação francesa “Accueil Paysan”,
entidade que hoje tem na Associação de Agroturismo
Acolhida na Colônia uma filial que a representa na América Latina.
[4] Informações retiradas do site
http://www.accueil-paysan.com/Pages/presentation.html.
[5] Os terrenos que são arrendados, em sua maioria, são aqueles que estão
fronteiriços com as plantações orgânicas, ou que possuem um relevo em declive,
passível de levar em períodos de chuva os defensivos químicos até a propriedade
vizinha. A plantação em consórcio pode ser realizada considerando duas
possibilidades: a primeira é com a associação de plantas que podem substituir
os defensivos químicos no controle das pragas; a segunda é na plantação de
culturas associadas, que quando juntas criam uma proteção no terreno capaz de evitar
a erosão dos terrenos próximos a rios.
[6] A limpeza de uma área de terra que se utilizou durante anos de
defensivos químicos não é fácil e pode levar anos. Em função desta realidade,
agricultores que já possuem sua terra limpa, “emprestam” e / ou arrendam terras
aos vizinhos até que a terra deste esteja inserida nos padrões considerados
viáveis ao início de um plantio considerado orgânico. Isto não significa dizer
que ele não planta na sua própria terra. O plantio realizado nestas áreas não utiliza agrotóxicos e só é utilizado pela família ou na cota
permitida pelo agroturismo de inserir na alimentação
dos turistas 30% de uso de cultivos plantados organicamente em terras em
processo de limpeza.